terça-feira, 31 de dezembro de 2013

1400 - Soneto das pessoas simples

Sem descrição, basta ser.

Simplicidade, é a virtude que se pede,
Se exige e todo mundo por aí diz ter.
Ora ser simples é bem mais que dizer
Que é simples. O simples não mede,

Não coloca esse diploma na parede,
Não arroga a simplicidade a parecer
Um bobo que mais é simples a lazer
Porque a ele, essa sanha, essa sede

De ser simples não existe, ele só o é,
Sem dar testemunho para obter a fé.
O simples sabe quanto falar demais

E simplicidade são coisas opostas,
Por isso virtudes nada são expostas!
A palavra as trinca e elas são cristais.

Francisco Libânio,
31/12/13, 1:59 PM

1399 - Soneto aos anti-topless

Qualé, nunca viu um peito livre antes? Nem dois! Me deixa!

Se elas põe os peitos de fora,
Assim igual a vocês, na praia
Vocês caem de pau e na vaia
Tratam-nas, mandam embora,

Na dignidade delas dão espora
E juntam os iguais da sua laia
Gritando em duvidosa gandaia
Contra a liberdade que aflora

Dos biquínis seios oprimidos,
Mas que vocês de reprimidos
Em tantas morais antiquadas

Resolvem criticar e não curtir,
Correm e outorgam a cobrir
E por suas vendas apertadas.

Francisco Libânio,
31/12/13, 12:02 PM

1398 - Soneto aos ecochatos

Pelo bem do planeta, elimine-se

Nada maior que o meio ambiente,
Preocupação com o nosso futuro,
Busca por um mundo mais seguro
E uma existência mais consciente.

Queremos incutir em nossa mente
Noções ecológicas, um trato duro
Contra quem nos rouba o ar puro
E prejudica a nossa própria gente,

Mas exagerar e ir ao destempero
Transgredindo o próprio exagero
Não é ser ecologicamente correto,

É ser chato e ir contra a natureza,
Mas o discurso, esse vai à mesa
E o negócio é arrebentar o coreto.

Francisco Libânio,
30/12/13, 5:10 PM

1397 - Soneto aos brigões musicais

E dane-se o resto.

Gosta de funk ou gosta de rock?
Gostou de um, mandou à merda
O outro gosto, desonra, deserda
E vocifera todo o vasto estoque

De nome, usa a boca a bodoque,
Mas não vê em seu lado a perda
De qualidade ou nota quão lerda
É sua cabeça e que esse choque

Não faz seu ídolo o ser supremo
Da música, mas o faz o extremo
Idiota e que até mesmo o ídolo ri

Disso tudo. O funkeiro leva o seu,
O rocker toca junto e você, plebeu,
Se acha o fodão com seu mimimi.

Francisco Libânio,
30/12/13, 4:05 PM

1396 - Soneto aos necrófilos post-mortem

agora você chora a morte deles e virou fã... Sei.

Muito antes da celebridade partir
Dessa pra uma outra bem melhor,
Ela já era magnânima, um primor
Em seu mister. Deu em coincidir

A passagem com esse seu florir
Admirado. Ela o criou, é melhor
Dizer assim. Você sabe de cor
Tudo do de cujus só após curtir

A notícia da morte e ver a reação
De todos após a ida. A comoção
Que você acha que nos engoda

É ensaiada, um ki-suco de artificial,
Você nem conhecia, até falava mal,
E agora pranteia seguindo a moda.

Francisco Libânio,
30/12/13, 2:12 PM

1395 - Soneto aos gênios

Esse foi gênio e fez muita coisa pra todos.

Que seu brilhantismo radiante
Fulgure na área de atuação,
Resplenda toda a iluminação
E faça sua figura cativante.

Que seu nome se agigante
E deixe uma posterior lição,
Seja nobel e nobre a missão
E que ela seja interessante

A ponto de sair da sua sala,
Do seu meio e viaje da fala
Para a vaca fria da utilidade,

Mas os gênios são herméticos
Demais e, em dizeres poéticos,
São enclausurados da realidade.

Francisco Libânio,
30/12/13, 8:57 AM

1394 - Soneto aos anti-humanistas

direitos humanos pra humanos direitos. quem pensa assim já é humano errado.

Pessoa ouve de Direitos Humanos
E eivada de pleníssima ignorância
Com necessidade de saciar a ânsia
Chama isso de Direito dos Manos.

O sujeito usa argumentos levianos
Ensimesmados em total arrogância,
Mostrando o quanto quer distância
De gente pobre. Ama os milicianos,

Tão bandidos quanto os traficantes,
Mais irracionais e mais beligerantes
Porque com eles só humano direito

Tem direito e bandido, esse preso,
Merece chibata. Já a ele, é defeso
Tocar. Querer prendê-lo é despeito.

Francisco Libânio,
29/12/13, 1:52 PM

1393 - Soneto aos poetas de encomenda

escrevendo pra quem pagar melhor.

Fazer poesia é negócio dos sérios,
Exige um dom e certo sentimento,
Pede ao poeta comprometimento
Como exige dele rigorosos critérios.

É um dos mais nobres ministérios
Deixar o verso seguir algum vento
Do peito, piloto sábio e tão atento
Aos esses mais íntimos mistérios

Que só a poesia melhor conhece
E só ao poeta, esse ser, apetece
Decifrar, mas poeta que já aceita

Encomenda como fizesse um bolo,
Não é poeta, mas um grande tolo
Que não faz poesia, só conta peita.

Francisco Libânio,
29/12/13, 12:58 PM

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

1392 - Soneto aos incompreendidos

Ah, se liga!

Não é que ninguém te entenda
Nem seja difícil assim entender.
O problema é mais que se crer
E mais que desmitificar a lenda,

Ainda que fato e você repreenda
Quem não acredite, faz-se mister
Ser mais que crível e convencer
Não com tese, fala e reprimenda,

Mas com atitude. Prega-se estilo,
Ideologia, mas na moita, no sigilo,
Ou não, a palavra não vale o fato.

E você quer ser entendido? Como?
Entre a teoria e a prática o pomo
Da dúvida sofre o total desacato.

Francisco Libânio,
29/12/13, 10:17 AM

1391 - Soneto aos idílicos

Ah, que maravilha, mas esses mosquitos, vou te contar!

Abandonar a cidade, voltar à natureza,
Curtir dela o frescor sem modernidade,
Sem pressa, sem loucura, a suavidade
Do verde, o sabor de brisa e a crueza

Da terra no chão, essa absoluta pureza
Que não acha mais lugar na realidade.
Viver ali, nesse mundo que é de verdade
Como os antepassados, com a nudeza,

A cara ao vento e um amor verdadeiro.
Seria mavioso se poluir com o cheiro
De bosta ao invés da fétida poluição,

Mas cuidado, vida tão plena e natural
Tem vantagem, mas é pintar um mal
E nego querer trocar pronto de opção.

Francisco Libânio,
29/12/13, 9:48 AM

1390 - soneto aos fura-olhos

Amigo, hein?

O que não falta no mundo é mulher.
Seja bonita, feia, arrumada, gostosa,
Pra fazer um harém e ficar prosa,
Para amiga, esposa ou só o lazer.

O problema aí é quem tem o mister
De, com tanta mulher solta e airosa,
Parece gozar mais que quem goza
Na transar com o fato de se meter

Não sexualmente, mas seu bedelho
Em namoro alheio dando de joelho
Em amizade e confiança e nem dar

Por isso. Esse grande safado traíra
É amigo, te quer bem e te admira,
Mas afasta tua nega do seu olhar.

Francisco Libânio,
28/12/13, 9:57 AM

1389 - Soneto aos furões

Tinha que ter classe pra fazer isso. E dom.

Compromisso marcado é o cumprido,
Marcou e, às menos que haja a morte
Pessoal, em casa ou outra causa forte
O não-comparecimento terá conferido

À pessoa um julgamento bem mordido.
Mas o que fura combinado por esporte,
Não dá ao tipo de indivíduo o suporte
Para sair, dessa pena, ileso, absolvido

Ou com direito a sursis para a prática
Habitual, costumeira e tão pragmática
Que o negócio engrandeça sua fama

E faça disso algo tipo “Deixa pra lá!”
Mequetrefe assim é o pior tipo que há,
Merece uma surra por urdir sua trama.

Francisco Libânio,
27/12/13, 5:47 PM

1388 - Soneto aos frívolos em férias

Maldade no ar...

O fim do ano letivo mais significa,
Para alguns, libertação de grilhões,
A molecada atrás das altercações
Inúteis que, num átimo não se bica,

Briga em pelada de rua e se aplica
A discussão regada a mil palavrões,
Turminha imberbe e cheia de razões
Toda ela atrás de questão e futrica.

Namorar ninguém na turma namora,
Quem namora dá beijo e curte hora,
Às vezes trepa e aí esse fazer nada

Embola o meio-campo e o recesso
Do pivete e põe de vez do avesso,
Vem uma família da rápida roubada.

Francisco Libânio,
27/12/13, 4:54 PM

1387 - Soneto aos amigos de retrospectiva

Igual a do ano  passado, com mortos diferentes.

Duas coisas não faltam nesse momento,
O especial do Roberto e a retrospectiva,
O primeiro procura manter a chama viva
Do rei e tem o público cativo e briguento,

Enquanto a outra é o rápido arrolamento
De coisas passadas e a narração aflitiva,
Se há algo positivo, a narração esquiva
E repisa dramaticamente um outro evento.

Tem quem se agrade e ponha na agenda
O dia para reavivar cada tragédia horrenda
Do ano que passou. Cada um, um gosto...

Já a minha retrospectiva, essa não passa
Na TV, também, não teria qualquer graça,
Mas que é mais feliz que a de lá, eu aposto.

Francisco Libânio,
27/12/13, 9:48 AM

1386 - Soneto aos idiotas úteis

Lobão é um idiota útil perfeito.

Que a situação não está fácil se vê,
Que há excessos, crime e corrupção
É visível, mas depurar dessa situação
Mocinhos e vilões e um a quem dê

Culpa absoluta e total sem o porquê,
Só condenando sem ter absolvição
É ser corrupto em pior transgressão,
É ser manobrável e amigo do clichê

Que passa na televisão e se acredita
Sem debater. A pessoa só se habilita
A tachar: É vagabundo! Que vá preso!

Cuidado. Seu ódio assim desmesurado
Pode soar revolucionário, mas é usado
Pelo criminoso que quer sair disso ileso.

Francisco Libânio,
26/12/13, 6:51 PM

1385 - Soneto aos pichadores de Drummond

Então, você enfia a lata de spray sabe bem onde!

Uma estátua, somente, em Copacabana
Ocupando um banco de ponto turístico,
Um negócio estranho, pouco urbanístico
Esse poeta observando quem lá flana.

Aí o cara, que é burguês, filho de bacana
Picha o poeta e não só o característico
Roubo de óculos. Precisa é ser artístico
No vandalismo, fazer baderna soberana

E sair no jornal. Olha só, pichei o poeta!
Fiz inveja na turma, atingi facinho a meta.
Fui filmado, mas ninguém vai me pegar.

Mas saber quem foi o Carlos Drummond,
Ler seus livros e ver quanto ele foi bom,
Ah, amigo? Ser culto? Isso nem pensar!

Francisco Libânio,
26/12/13, 3:55 PM

1384 - Soneto aos conservadores

Quanto o capeta despossuir, vá cuidar da sua vida!

Pela moral e pelo bom costume,
Eles fazem da vida uma cruzada
E na vida alheia uma tal maçada
Com tanta lição e tanto queixume

Se falta argumento, sobre volume,
Se falta plateia, pegam emprestada
Numa marcha, num evento e nada
Os obstrui se querem falar estrume,

Porque melhor era o tempo antanho,
Sem viadagem ou hábito estranho,
Mulher querendo ser macho e, pior,

Independente! A vida atual os fere,
Mas mais que essa turba vocifere,
A coisa toca para frente esse andor.

Francisco Libânio,
26/12/13, 11:59 AM

1383 - Soneto aos antinatalistas

Papai Noel filho da...

Ok, como vocês, não vejo no Natal
A graça, a bênção, o espírito natalino
Enfim, não me chega esse desatino
Bondoso que atinge e comove geral.

Mas eu também não fico vendo mal,
Criando história e sintonizando o fino,
É algo capitalista de mercado mofino?
É, mas todo dia também é bem igual.

Só não tem Papai Noel nem pinheiro
Decorado, boneco de neve e letreiro
Com boas-festas, feliz natal e só é

Uma data como as outras, o feriado,
Dia religioso de quem o dá creditado
E com um gordo vindo pela chaminé.

Francisco Libânio,
25/12/13, 8:27 PM

domingo, 29 de dezembro de 2013

1382 - soneto aos sobreviventes da ceia

Acho que exagerei....

Falei aqui sobre os glutões inveterados
Que na ceia de Natal vão de pé na jaca,
Essa horda que sem misericórdia ataca
A mesa sem dó desses pobres assados.

Esses bárbaros que nunca são saciados
Deixaram a mesa na mais pura ressaca
Alimentar e seu transporte foi uma maca.
O estado deles, agora, inspira cuidados,

Já se descarta o temido risco de morte
Mesmo que tenham batido muito forte
Nos animais mortos e até nas saladas.

Praga dos bichos tomados lá de pasto?
Não os culpe pelo apetite voraz, nefasto
E inconsequente das festeiras manadas.

Francisco Libânio,
25/12/13, 5:35 PM

1381 - Soneto aos que tem meta

Falta mais dez, vai logo, seu imprestável!

Porque ter meta, um norte a se chegar
É valiosíssimo, tempera a nossa vida!
Dá aquele gás quando se dá a partida
Ainda que à meta não se possa divisar

Por estar longe ou porque está no ar,
No céu e exija de nós uma brava lida,
Um árduo empenho, uma dura pedida
Que, pelo seu valor, vale se sacrificar.

Aí chegamos na meta, nosso Everest,
O nosso ponto final após todo teste,
Mas há uma meta que nos deixa a nu.

É a que o chefe impõe e te mete dura,
Mas aí não é incentivo e, sim, agrura
E mais faz querer manda-lo tomar no cu.

Francisco Libânio,
24/12/13, 6:50 PM

1380 - soneto aos grandes amigos

E vou junto e foda-se.

Unha e carne ou, grosseiro, cu e calça.
Amizade que não se troca ou se vende
E que por uma vida inteira se estende
Numa reciprocidade sincera, descalça

E pura qual Francisco de Assis, valsa
Pura, uma harmonia que só a entende
Quem vive essa amizade que só rende
Alegrias sem haver uma só coisa falsa,

Os bons amigos brigam como qualquer
Um, mandam à merda, mandam se foder,
Mas se um for a merda o outro já arruma

A mala e vai também com esse amigo
E se um for se foder, antevê o abrigo
Da foda e para ela com o amigo ruma

Francisco Libânio,
24/12/13, 5:16 PM

1379 - Soneto aos glutões de ceia

Quero tudo!

A mesa é farta, iguarias a enchê-la,
A decorá-la, uma beleza ao paladar
Que a visão se atreve a contemplar
Mas a barriga sabe que terá a trela,

Após o feliz natal e tudo, é pra goela
Que essa beleza vai ter o seu lugar.
Porco, peru, arroz, farofa a esbanjar
E frango, com salada para aquela

Balanceada. E foda-se as calorias,
E vamos comer pelos outros dias
E comer pelas crianças com fome.

O outro dia, o estômago, no prego,
Com a barriga pede o maior arrego
Num mal estar sem pai nem nome.

Francisco Libânio,
24/12/13, 4:00 PM

1378 - Soneto aos amantes dos clichês

Por que ser criativo?

Datas especiais são as mais propícias
Para que apareçam todos os chavões,
Aquelas frases feitas para as ocasiões
Em que eles querem bondades fictícias,

Sortes de boca sempre sub-reptícias
E antipatias travestidas com afeições,
Aí as frasesinhas vêm aos borbotões
Não sem gracejos bobos ou malícias.

Páscoa, aniversário, fim de ano, natal...
Não precisa uma específica, o ideal
É ter um dia para soltar todo o veneno

Sendo simpático, amável e legalzinho.
Não me dobra. Percebo se é carinho
Ou porrada quando vejo de lá o aceno.

Francisco Libânio,
24/12/13, 12:22 PM

1377 - Soneto aos que queimam a largada

Virou antes...

Anima-se para a festa, faz concentração,
Reúne os amigos para aquele esquenta,
Contar lorota, papear e pôr uma pimenta
Na conversa e mais malícia na situação.

Aí, chega um amigo de tal empolgação,
Sujeito que nada tira e nada acrescenta,
Mas aí o rapaz saca o uísque e inventa
Um vira. E vira algumas em continuação

Seguida sem parar, dose atrás de dose,
Achando ser fodão todo cheio de pose
Até que acontece o descrito e inevitável.

Sujeito encharca, vomita no chão, apaga!
A balada já era! Amanhã ele terá a vaga
Lembrança de tudo, esse sujeito odiável!

Francisco Libânio,
24/12/13, 8:57 AM

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

1376 - Soneto aos machões

Mas aqui é sem mimimi, meu filho!

Bater no peito no meio da roda
Dizendo que é macho matador
É engraçado, mas vir e impor
Macheza e exigir severa poda

De quem não é macho denoda
Um troglodita ou um gladiador
Uma mentalidade que é da pior
Cepa. Nota-se que o incomoda

Homem se beijar, de mão dada,
Ou um fazer outro de namorada,
Vê-se que esse negócio o coça,

O atrapalha a vida, tira a cabeça
Do lugar. Você, machão à beça,
Sabe que a ideia muito alvoroça.

Francisco Libânio,
23/12/13, 5:10 PM

1375 - Soneto aos curiosos sexuais

Olha que a experiência pode te traumatizar.

A pessoa sai lá com uma mulher
Que tem nela uma certa surpresa,
Quem sai, sai com fé que não lesa
A si caso algo a mais acontecer

Afinal se foi a desbravar e saber
O que há, mas aí, ele se enviesa,
Arruma tudo pra ser sua defesa,
Alega ignorância e desconhecer

Que era e não era justamente lá
Quando a porca torce o rabo, dá
Desculpas, morre e não assume

Que queria saber, sim, como era
Algo diferente com essa quimera
E, se for, saber o tom do volume.

Francisco Libânio,
23/12/13, 4:30 PM

1374 - soneto aos curiosos afetivos

"Vamos ver no que vai dar" é o cacete!

Testar amores, ver se dá certo
Com alguém, na real, é esporte,
É deixar a libido ser mais forte
E pegar quem estiver por perto

Com um papo furado encoberto
Por interesse. É tentar sua sorte
Para convencer a ter o consorte
E aí não haverá um lado deserto

Na cama. Curiosidade como amor,
Poesia como arma de comedor
E promessa que vai até o gozo.

Testar amor e ver no que vai dar,
Vai dar dor de cabeça e um azar
Além de um romance desastroso.

Francisco Libânio,
23/12/13, 11:56 AM

1373 - Soneto aos bens intencionados

Tem que ir além. E sem maldade.

Se o inferno estiver mesmo cheio
De boa intenção, vê quem a teve,
Repensa o caso todo e reescreve
A história e fácil que eu remedeio

A situação toda. Quem fez o feio
Fazendo o bem tem o crime leve,
Curta no inferno uma estadia leve
E volte ao convívio sem ter receio,

Mas se a boa intenção tiver oculto
Em si o mal e quer dela um indulto,
Entrega esse safado pessoalmente

Ao capeta, isso não é boa intenção,
É calhordice, uma humana invenção,
Que fique lá no inferno eternamente.

Francisco Libânio,
23/12/13, 11:13 AM

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

1372 - Soneto aos prometedores

Desconsidere, apenas.

Você disse que tudo estaria mudado,
Pararia de fumar, seguraria a bebida,
Daria uma reviravolta nessa sua vida,
Como você prometeu ano retrasado.

Você disse que seria bom namorado,
Bom marido, que evitaria uma recaída
Na mania de dar aquela boa mordida
Fora de casa, e onde você foi achado?

Na gandaia mulhereando! A promessa
Ficou no papel. Sua palavra é avessa,
E suas intenções são mais pura mítica.

Não se aborreça. Mude se você quiser,
Mas se não quiser, tudo bem. Prometer
É um passo certeiro na carreira política.

Francisco Libânio,
22/12/13, 5:35 PM

1371 - Soneto aos fantasiosos sexuais

Agora aguenta.
Você sonha com estripulias sexuais
Das mais absurdas e impensáveis
E quaisquer coisas são fantasiáveis,
Qualquer lugar pode ter algo mais,

Todas as pessoas parecem ideais,
Basta que se as deixe confortáveis
Enquanto aparecem ideias notáveis
Para algumas trepadas eventuais,

O pinto e a buça conduzem a leva,
Mas fantasia alguma é tão longeva
Quanto a possibilidade de se fazer

Fato. Aí a taradice toda se arrefece,
A coragem some e não comparece
O sexo. Fica no vácuo esse prazer.

Francisco Libânio,
22/12/13, 1:30 PM

1370 - Soneto aos poetas como eu

Poetas poetando atrás de sucesso.

Pensa a gente escrevendo e rimando,
Soneteando amores e bem besteiras
Ou nem rimando e com as primeiras
Palavras e nos pondo no comando

Da poesia. O anonimato soa brando,
A Internet acomoda as brincadeiras
Que fazemos soltando das coleiras
E nos espalhando por ela em bando.

Os poetas como eu nesse anonimato
Somos vistos pais de verso barato
E uns dizem, nunca seremos imortais.

A Academia que perde se isso for.
A Internet continua nossa sede-mor
E teremos respeito entre nós, iguais.

Francisco Libânio,
22/12/13, 12:35 PM

1369 - Soneto aos sofredores por antecedência

E não adianta nada, só dor de cabeça.

A dificuldade está há alguns dias,
O problema ainda nem apareceu
E, às vezes, ele não é nada seu
E nem é o bicho das mitologias,

Feio e capaz de terríveis arrelias
E você vai como se ao Coliseu
Fosse, morto pelas feras, judeu
No campo tomado por agonias.

Assim problema qualquer monta,
Cavalga já que não vê a afronta
Capaz de derrota-lo e ele já sabe,

Seria derrotado e levando surra
Não fosse a sua cara casmurra
Deixando que ele tanto se gabe.

Francisco Libânio,
22/12/13, 11:37 AM

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Poema de fuga 3

Caeiro dizia que não existem árvores iguais por isso não gostava de rimas, mas as parecidas são rimas. Iguais seriam refrões.

A rima? Desfazer dela?
Mas por quê, tadinha?
Ela não faz mal, é bonitinha,
Não tem nada contra, é do bem,
E ela faltar, tipo, nesse verso
Não dá causa a desmerecê-la.

Francisco Libânio,
21/12/13, 11:25 PM

1368 - Soneto aos desanimados de fim de ano

De que adiantou usar branco, né?

Quando o ano chega ao fim, o lamento
Dos que perderam e sofreram reveses
Ao longo dos doze tristíssimos meses
Chegam voando e trazidas pelo vento.

Meu ano também não foi o monumento
À felicidade. Até tive uma aqui, às vezes,
E uma alegriazinha lá. E os burgueses
De burra cheia e um ar tanto rabugento,

Podem não ser burgueses, mas se dão
Esse ar de infelicidade, de insatisfação
Com o ano e pedem que venha melhor

O próximo. Oras, pois que se aproveite
Com bons sorrisos o mais breve deleite
E faça você que o ano tenha a viva cor.

Francisco Libânio,
22/12/13, 9:07 AM

1367 - Soneto aos marqueteiros

Todo mundo vai gostar desse baby.

Alma do negócio é a propaganda,
Então muita coisa que já é morta,
De maçaneta velha até uma torta
De limão e de puteiro à quitanda

Precisa ter vida, entrar na ciranda
Do ser. E a quem mais comporta
Tal missão de passar pela porta
Da existência e expor na varanda

Dos dias que há um amorfo vivo,
Produto zumbi e dar o bom crivo
De que sem tal treco não se vive?

Só mesmo o bom propagandista
Ou um que algum neurônio invista
E um bando de vazios bem cative.

Francisco Libânio,
22/12/13, 8:33 AM

1366 - Soneto aos exibicionistas

Olha que se cair na rede é peixe.

Seu corpo é bonito e bem torneado,
Seu silicone é perfeito, quase natural!
Seu rosto é, a um deus grego, igual,
Logo o mundo que esteja preparado

Para conhecer seu mais íntimo lado.
Muitos provavelmente passarão mal
Com essa beleza naturalmente casual
Que deixa o quarto todo encabulado.

Computador está aí pra isso. Na rede
Você se expõe e nada, nada impede
Que o mundo se prive de te conhecer.

Mas o público que você crê admirar
Sua beleza ri, punheta e só faz zoar
Com seu estranho e vaidoso prazer.

Francisco Libânio,
21/12/13, 8:03 PM

1365 - Soneto aos opinadores patológicos

Porque pior que um que acha ter opinião sobre tudo é um que faz piada com tudo sem saber nada.

Ter um parecer formado, impressão
Sobre algo é estar com a realidade
Em dia e ter alguma intelectualidade
E conteúdo além de dar uma lição

A quem, porventura, falte a noção,
Trazer uma luz a tanta obscuridade,
Levar a sabedoria plena, a verdade
Aos néscios sem cultura e educação.

O problema é que essa tal sabedoria,
Essa elevação só tem alguma valia
Para o sábio que a possui. Assunto

Que ele não sabe ou só de orelhada,
Já palpita. Pois antes da opinião dada,
Se eu quiser saber, uma hora pergunto.

Francisco Libânio,
21/12/13, 7: 33 PM

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Poema de fuga 2

Tá pensando o quê?

A mulher que você chamou de puta
Não dava nem cobrava,
Tinha recato e, até certa trava,
Tinha até a mente impoluta.
A mulher que te pôs no pau
Não é puta, mas você foi mau
E você nem sequer imaginava,
Mas ela tem ouvido e escuta.

Francisco Libânio,
21/12/13, 11:20 PM

1364 - Soneto aos debatedores contumazes

Legal sua opinião, mas quem a pediu mesmo?

Porque uma boa discussão é legal,
Uma polêmica saudável traz o bem
E o debate leva nosso saber além
Do que estamos, um bem sem igual!

Mas debater deve ter o quê racional,
Sem a necessidade de dizer amém
Para alguma coisa ou para alguém
Que se dê por fonte sem algum mal.

Pesquise, leia e saiba sobre o dito;
Assunto e não se agarre a um mito
Que um jornal ou uma revista prega.

Cuidado sempre, a informação vale,
Mas não deixe que um chegue e fale
Por você. A ignorância sempre cega.

Francisco Libânio,
21/12/13, 9:36 AM

1363 - Soneto aos tímidos

É um negócio complicado. Deixa eu acostumar.

Se vê uma mulher, você se acanha,
Se retrai, se arma e fica total na sua,
Se ela vem até você, parte se amua,
Parte quer correr e parte se estranha.

Se ela já se entrega ou se põe ganha
E carrega para o quarto e lá fica nua,
Você treme com o que logo se efetua,
Mas enfrenta. Dizem que é tudo manha,

Conversa para agarrar mulher ou doce,
Timidez de mentira. Pois, antes fosse
E se deu certo não foi conta da timidez!

O poeta, um tímido assumido contumaz,
Escreve e em cada soneto que ele faz,
Seu lado tímido pensa na mulher da vez.

Francisco Libânio,
20//12/13, 3:15 PM

1362 - Soneto aos pegadores

Acha que tá abafando, mas só faz papel de trouxa com as outras.

Pra você, quase um sátiro insaciável
Por sexo e que se vê a última bolacha
Do pacote, mas que nunca despacha
Uma oportunidade de sexo que, viável,

Mas não aos olhos exata e agradável,
E que se não a tem força, paga taxa,
Permuta, barganha por alguma racha,
Digo, busque, ao menos, a confiável,

A que seja cuidadosa consigo mesma.
Nada contra que ela tenha uma resma
De namorados, amantes, cachos, afins...

Mas que seja precavida e responsável,
Pois mesmo que ela seja bem palatável,
Digestão e depois podem sem ruins.

Francisco Libânio,
20/12/13, 2:54 PM

1361 Soneto aos solitários no Natal

De boas aqui curtindo a ceia enquanto a namorada não chega.

Fim de ano e não tem uma namorada,
Um namorado, uma chance de abraço
A não ser de mãe ou pai; um espaço
Vazio e essa data que vem a chegada

De um ano novo e de novo tem nada.
Fica, assim, o peito em total estilhaço,
A mente em ideia que só vira bagaço
E no corpo físico beijando almofada.

Assim se passa o natal, sem seu par,
Sem beijo, sem sexo, quase sem lugar.
Papai Noel negou outra vez o presente...

Mas se você crê mesmo que ele trará
Uma namorada tipo uma colher de chá,
Você nunca terá uma já que é inocente.

Francisco Libânio,
20/12/13, 1:26 PM

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

1360 - Soneto aos amigos de bar

Terapia que às vezes funciona.

Sentar e pedir de cara uma cerveja,
Uns petiscos e aí chegar um amigo,
Outro e outro; fica sendo o abrigo
Do papo furado e até da benfazeja

Confissão. Abre o peito que lateja,
A bebida ajuda a aliviar esse perigo
De dividir na roda um caso antigo
E assim como um padre numa igreja,

O amigo de bar ouve sua confissão,
Mas cuidado. Não é essa a profissão
Dele e ele não tem obrigação da cala,

O amigo do bar, como você está alto,
E se você confia, ele pode ser o falto
De confiança, ainda mais se for mala.

Francisco Libânio,
20/12/13, 12:01 PM

1359 - Soneto aos homens ludibriados

Cuidado com a sede ao pote, a água pode transbordar na sua cara.

Pense que você conheceu aquela gata,
Mulher perfeita, esplêndida, espetacular!
Ela, olha só, corresponde ao seu olhar
E desse olhar uma conversa se engata,

Uma reciprocidade, uma empatia inata
E dali você e ela já procuram um lugar
Para que possam o instinto extravasar
E é quando se descobre: A candidata

A ser sua senhora ou outro fato sexual
Não é ela, tem uma coisa de ele, igual
Ao seu. A quem recorrer? E na porrada?

Meu caro, a culpa é sua. Uma pergunta
E se evitaria a tal surpresinha adjunta,
Não dê a moça com extra por culpada!

Francisco Libânio,
19/12/13, 3:53 PM

domingo, 22 de dezembro de 2013

Poema de fuga 1

Pensa que é gente...

Ninguém queria saber se você era
Melhor ou maior
Ninguém queria saber nem
Se você era
Quem era
O que era
E todo seu discurso
Sua fúria de urso
Ficaria melhor
Se ficasse na espera.

Francisco Libânio,
21/12/13, 11: 14 PM

1358 - Soneto aos céticos do amor

quero que se foda!

Não adianta dizer que amor não existe,
Que é coisa só para se escrever poesia,
Ou ainda usar isso com muita patifaria
Dizendo que ama e fazer cara de triste

Para pegar mulher. O amor já persiste
Apesar da filhadaputagem e boataria.
E dos que não creem ou se distancia
Dele acusando-o com o dedo em riste

Por ser infeliz por culpa única do amor.
Sua infelicidade, sua chaga e sua dor,
Se elas vieram enquanto você amava,

Você teve culpa também e se recusa
A admitir. Cometeu falta com a musa
E, furioso, no amor desce sua clava.

Francisco Libânio,
19/12/13, 1:12 PM

1357 - Soneto aos romãnticos

mas se abusar, te deixo sozinho aí, ou te afogo.

Dedicar-se a uma mulher um amor
Sincero e, por vezes, desmedido
Não é ruim e será compreendido
Por quem sabe ser esse o melhor

Sentimento e um tempo de louvor,
De poesia e ele nunca será perdido.
O romântico pode até ser desiludido,
Mas o sentimento terá dado a cor

Viva por um tempo, mas olha bem!
Cor viva não significa que alguém
Mereça pintar sua vida a um gosto

Que não seja o seu. Ame a pessoa,
Dedique-se, mas não faça isso à toa,
Se abusar, dê-lhe um fora bem posto.

Francisco Libânio,
19/12/13, 10:37 AM

1356 - Soneto aos dramáticos

Calma, o mundo ainda tem solução.

Calma que a vida não é a novela
Mexicana repleta de reviravoltas
Mirabolantes e cheia de revoltas
Dos inimigos. A vida não é bela,

Mas não é um horror para vê-la
Tão cheia de conspirações soltas,
E ocasiões boas, mas envoltas
Em armadilhas. Vale até dar trela

A certas mamatas que ela oferece.
Cuidado é preciso, mas o estresse
Assim e o tal sofrimento exagerado

Mais impedem de vir horas felizes
E melhor funcionam de chamarizes
Para que algo aconteça de errado.

Francisco Libânio,
18/12/13, 7:51 PM

1355 - Soneto aos muito bonzinhos

E quando você menos espera, ele te morde!

Cuidado com as palavras sedutoras
Demais, os gestos muito bondosos,
Fala mansa e intentos muito airosos...
A bondade não tem tais nove horas

Nem dedica propagandas redentoras
De seus atos. Ponhamo-nos ciosos
Com os santos e seus tons sedosos,
São quase sempre víboras traidoras,

Ursos pedindo para dar seus abraços
E abutres atrás dos maiores pedaços
Do menor resto e por isso vale lograr

Os bons, os justos, e são facilmente
Desmascarados, sacar se um mente.
Basta observar bem fundo seu olhar.

Francisco Libânio,
18/12/13, 4:12 PM