sexta-feira, 31 de maio de 2013

1033 - Soneto da saudade reprimida

Tem quem veja nisso a solidão pra saudade...

Mas mesmo que se sinta a tal saudade
Sem conseguir tirá-la de dentro do peito
Ela fica lá e se acumula, Não tem jeito.
O jeito é controlar quando ela invade.

Fica lá o coração com uma cavidade
E a saudade gotejando sem respeito,
Sem nenhuma necessidade. E, sujeito.
A uma possível e terrível tempestade

Afetiva, tal saudade vai aos poucos
Tomando conta e aí ficamos loucos
Ou tentamos arrebentar essa represa.

E ao arrebentar, acaba o amor e tudo
O mais. Cala-se o coração e, desnudo,
Escoa-se a saudade na anatomia tesa.

Francisco Libânio,
31/05/13, 7:20 PM

1032 - Soneto da saudade inútil

Não adianta nada.

Claro que o amor é o sentimento
Mais lindo e gostoso que existe.
Só que se ele não ecoa e persiste
Fazendo seu som dado ao vento

Esse amor é mal, vira desalento,
Dói no peito, marca, deixa triste
E esse maldito amor só subsiste
Fazendo da saudade seu alimento.

E se a gente matasse a saudade?
Não matar figurado, de verdade,
Arrancar do peito e jogá-la fora?

Porque só a saudade dá ao amor
Razão de viver, causa de se impor,
Mas não a passagem pra ir embora.

Francisco Libânio,
31/05/13, 11:33 AM

quinta-feira, 30 de maio de 2013

1031 - Soneto do fetiche au vin

Qualé, assistir Spartacus inspira também.

Mulheres, lindas demais, perfeitas,
Desenhadas a pena, maravilhosas;
Fortes, doces e de tão portentosas
Crê-se que não precisam ser feitas

Melhorias, mas ainda há as receitas
Que não aperfeiçoam as já mimosas
Mulheres, mas as deixam gostosas
E ao gosto de um admirador afeitas.

Derrame-se sobre ela um bom vinho,
Tinto, forte e de adiantado geladinho
Sobre a mulher com o corpo ardente.

Beije-a, abrace e se deixe embebedar
Pelo vinho enquanto a mulher, a gostar,
Felicita seu homem com esse presente.

Francisco Libânio,
30/05/13, 12:30 PM

1030 - Soneto de feriadão chuvoso

Acontece...

Pessoa pede na vida um feriado,
Mas não seja o dia livre qualquer,
Que acabe antes que possa haver
O churrasco, a praia e aproveitado

A contento esse período folgado.
Não! Um dia é pouco para o lazer
Pretendido. Negócio é se entreter
Direitinho em feriadão prolongado

Com ponte a parecer a Rio-Niterói,
Daqueles cujo finzinho até nos dói,
Mas que valem como bom desligo.

E aí quando vem a folga extensa,
Cai o mundo em água e se pensa
Se São Pedro é mesmo um amigo.

Francisco Libânio,
30/05/13, 11:07 AM

1029 - Soneto apedeuta

Ele ri da cara de vocês, os verdadeiros apedeutas.

Chamam o Lula de apedeuta. Belo
Vocábulo, erudito, fino, rebuscado.
É xingar quase dando por elogiado
A quem, este nome, deve recebê-lo.

Cabe até em soneto. Eu, a fazê-lo,
Penso, rimo, deixo melhor burilado
Meu escrito. O termo, bem colocado,
Faço para que não perca este elo

Entre os que xingam e o que ele diz.
Apedeuta, ignaro, ignorante. Maldiz
Quem o chama, suposto hermeneuta

Que porcamente o bê-á-bá articula
E xinga invejando o presidente Lula
Mostra ser muito melhor apedeuta.

Francisco Libânio,
30/05/13, 10:39 AM

O dia em que conheci Chico Buarque

Dificilmente aconteceria. Aí, então, muito menos.

O ano era 1971. Não havia ainda os metrôs na cidade do Rio de Janeiro. Por outro lado, já havia a ditadura militar, o AI-5 ia de vento em popa perseguindo gente a rodo e sumindo e fazendo fugir. Embora isso me indignasse, preferia dar ao Regime o meu silêncio e meu protesto velado.
Se não havia os metrôs havia os trens. E na Central do Brasil, eu, perdido numa cidade onde nunca estivera, enfrento uma fila braba pra pegar um trem. Pra onde? Não sei. Nunca tinha andado de trem na minha vida, queria provar a experiência. Coisa de turista noob. Claro que se eu perguntasse a opinião sobre minha aventura a qualquer um naquela fila, ririam de mim. E menos entenderiam a expressão que apareceu muitos anos depois e, ainda assim, não é de domínio público. Tudo bem. Eu tinha dinheiro para um bilhete de trem e iria andar de trem pela primeira vez. E danem-se as opiniões alheias.
O dia era ensolarado e a fila andava pouco. A eficiência daquele tempo era muito parecida com a de hoje, nisso eu devo cumprimentar os responsáveis. Mantêm a qualidade do serviço intacta há mais de quarenta anos. De qualquer forma, era engraçado para o turista aqui ver as discussões futebolísticas, os assuntos cotidianos, fofocas de bairro. Literalmente, gente falando de lado e olhando pro chão, exatamente como foi descrito numa música do Chico Buarque, Apesar de Você, lançada um ano antes e que caíra no gosto popular. Era uma luva para os indignados como eu que podiam reclamar de uma mulher que bem... Usava farda e quepe, mas só ela não percebia permitindo o sucesso e achando bonito o lirismo da música. Foi quando me peguei cantando a tal canção que atrás de mim, um rapaz, pouco mais moço que eu, fez um comentário discreto em voz baixa:
- Você gosta mesmo dessa música? Não acha arriscado cantá-la assim?
- Não. – era o que faltava. Já haviam me contado sobre o perigo de haver algum X9 de butuca atrás de subversivos. A música, que eu achava bonita e inocente ainda que com alvo certo (o próprio rapaz me contou mais tarde e o que eu escrevi acima deixa de ter validade) estava censurada.
- Pois devia. Não é muito prudente ficar cantando essas coisas por aí. Tome cuidado.
Não falamos mais. A fila andava a passos lentos, mas ia. Minha vez chegava e, pelos meus cálculos, eu seria atendido ainda àquele dia. O outro que estava atrás de mim falava pouco. Como é hábito em cidade grande, conversar com estranhos não é algo tido por seguro. Ainda mais num tempo em que qualquer pessoa poderia ser um informante do governo. Muita gente tinha “sumido” e não tinha voltado até o meu tempo. Passaram uns dez minutos e quando menos espero, o outro me cutuca as costas de novo:
- Qual seu nome?
Ferrou! Primeiro me adverte pra tomar cuidado e agora quer saber meu nome! Na certa, o cara é um espia que vai contar na primeira delegacia que encontrar sobre um turista desavisado que estava cantando uma música proibida. Mas se tem uma coisa que aprendi é que quem não deve não teme e nem treme. Sou sincero e me apresento. É quando tiro um sorriso um pouco mais aberto do outro:
- Somos xarás, olha só. Muito prazer.
Não pode ser espia. Simpático demais pra ser um. Também um X9 nunca alertaria para o perigo de se cantar uma música proibida. Ele próprio seria o perigo. Mas vai que existam espiões subversivos que discordem do Regime e o obedecem para garantir o leite das crianças? Nunca se sabe. Um pouco mais de demora e chega a minha vez de comprar o bilhete e tomar o trem. Depois de mim, é meu vizinho de fila quem compra o dele e vamos ao terminal de embarque. Discretamente, ele me conta que “de vez em quando componho alguma coisa” e que estava trabalhando numa música com uns amigos. Achei estranha essa repentina intimidade de me contar o que ele gosta de fazer, mas deixemos que fale. Também me conta que andou fora do País por uns tempos.
- O bicho tava pegando. Vi que era hora de dar uma sumida, mas resolvi voltar. Por isso te recomendei cuidado. Tem muito dedo-duro espalhado por aí.
Agradeci a preocupação e a recomendação. Foi quando ele resolveu mostrar a tal música na qual trabalhava com os amigos. Interessantinha. Conversamos um pouco mais, mas a multidão aglomerada na Central faz com que nos afastemos. Era muita gente pra pouco trem. Não sei pra onde ele estava indo e muito menos pra onde eu ia quando fui jogado pelo fluxo num vagão aleatório. Desci duas estações depois e nem vi qual era. Só queria me safar da multidão. Dali, tomaria um táxi, iria à pé... Sei lá. Turistar no Rio de Janeiro era o que contava. E contou mais ainda quando, ao contar essa história a alguns amigos, eles me revelaram que eu tive um tête-à-tête com o Chico Buarque e aquela música, que se chamaria Samba de Orly, anos depois, seria um sucesso estrondoso, um novo hino contra a ditadura. O que estaria fazendo o já célebre Chico na Central do Brasil tomando trem anonimamente é o que queríamos entender. Se ele estivesse sem os óculos escuros, eu o teria reconhecido e pegado um autógrafo.
Foi quando acordei.

Francisco Libânio,
30/05/13, 10:02 AM

quarta-feira, 29 de maio de 2013

1028 - Soneto confeteado

Ela curte um elogio... Quem não?
Elogio e loa, quem não gosta?
Mas ela... Isso já tinha virado vício!
Ela fazia deles grande exercício
Para ficar mais feliz e disposta.

E quem elogiava, à face oposta,
Aludia-a a uma vida de meretrício,
Associava-a ao mais sujo ofício,
E juntava os elogios à proposta

Mais indecente. Ela dá pro elogio
Mais bonito. Não, era só um vazio
Recurso pra aumentar sua estima.

Dar, ela dava se gostasse do cara,
É quando o xingamento escancara
Pra dar à transa um melhor clima.

Francisco Libânio,

29/05/13, 11:51 PM

1027 - Soneto a mais de mil

Luiz Delfino e mais de mil sonetos... O cara é bom!
Pra lá de mil sonetos. Delfino
Mattoso e eu deitamos pra trás
A marca. A mim isso tanto faz.
Soneteio bem mais por desatino

Que por números. Assassino,
Às vezes, o soneto, mas o gás
Para escrever outro e ter paz
Pelo anterior morto é destino...

Vai esse, outro após o milhar,
Sobre os anteriores a filosofar
E com os vindouros a aprender.

E aos colegas de mil sonetos,
Os cumprimentos mais diletos,
Vocês me inspiram a escrever.

Francisco Libânio,

29/05/13, 11:20 AM

terça-feira, 28 de maio de 2013

1026 - Soneto sem dose de amor

Apenas o corpo, nada além do corpo.
Claro que o romantismo difere,
Dá aquele plus, faz maravilhoso
O momento que já é gostoso
Quando o corpo a outro adere,

Mas além do romantismo, sugere
O momento que bom é o gozo,
O urro saciado como prazeroso
Ao jorro que de júbilo desfere

No outro corpo bem amostrado
No caldo quente e estar ao lado
Sem precisamente estar amando.

Talvez fazer apenas pelo prazer,
Deixar o corpo falar e se perder
Não seja ruim de vez em quando.

Francisco Libânio,

28/05/13, 1:19 PM

1025 - Soneto intransigente

Não ajuda em nada.
Porque uma coisa é ser radical,
Cego e de ideal lá de inamovível.
Isso não o faz tão irrepreensível
Defensor nem perfeito seu ideal,

Mas talvez te faça alguém do mal,
O sujeito de argumento previsível
A falar nada e fácil de baixar nível,
Uma piada de mau gosto e de mal

Dizer. Radicalismo não soa firmeza
De ideia, mas sim nada de certeza
Nisso que tanto defende e acredita.

Toda ideia necessita de polimento,
De boa revisão em algum momento
Ou ela fica perdida ou proscrita.

Francisco Libânio,

28/05/13, 12:02 PM

segunda-feira, 27 de maio de 2013

1024 - Soneto apolítico

Quase sempre é mesmo.
Sujeito vem e te diz de peito cheio
Com a esquerda ele nunca se bica,
Com a direita, certo que vai ter zica
Não há ideologia que o faça esteio,

Entre uma e outra, ele se diz o meio.
Os dois extremos ele xinga e critica
E no “apolítico” é onde diz que fica
Porque tomar partido lhe parece feio,

E falando, desce o pau nas estatais,
Odeia e desconjura políticas sociais
E acha que privatizar tudo é a saída.

Típico do sujeito que, mal informado,
Confunde ser apolítico com alienado
E se sai com a fala mais descabida.

Francisco Libânio,

27/05/13, 7:19 PM

1023 - Soneto zilhonário

O cara é craque, mas tá ultravalorizado!
Gastar cerca de duzentos milhões
De reais por um jogador de futebol...
Ok, vai compor o mais fino escol
Da bola, atuar com outros figurões,

Mas tanto? Está acima das razões,
Do suficiente para que se faça gol,
E mais no noticiado caos espanhol
Em torcedores sofrem as sanções

Cotidianas e cresce o desemprego
Um gringo ganha baba no sossego,
Enquanto vivem na terrível pindura!

Futebol é alegria e o reconhecimento
Merece paga justa, mas tanto acento
Está além do craque e da sua altura.

Francisco Libânio,

27/05/13, 12:09 PM

domingo, 26 de maio de 2013

1022 - Soneto quase surpreso

Oieee!
Quando ela pediu que eu abrisse
Sua camisa, eu sabia que nada lá
Seria novidade. E, de fato, não há
Novidade que eu não antes visse.

Um seio. Um seio com tal meiguice
Que de outros em muito não diferirá,
Arroubo de maldade, colher de chá,
A mistura exata de malícia e carolice.

E eu vi. E ela sabia da preferência
Que fez isso com tal complacência
Ciente da minha improvável recusa.

Não recusei a ver. Ela esperava isso.
Também sabia sobre o óbvio feitiço
Da surpresa e que a teria por musa.

Francisco Libânio,

26/05/13, 6:40 PM

1021 - Soneto sensorial

Hoje tem.
Olhos que veem tão admirados,
Ouvidos que notam o sussurro
E apreciam o sonoríssimo urro;
Nariz, ao qual os caracterizados

Odores deixam logo extasiados...
O dali em que com o dedo curro
E o do corpo quando o empurro
Deixando os dois maravilhados.

Sobra por fim a boca, o paladar
Já que o tato, o mais elementar,
Trouxe o sabor de lá produzido.

Um outro toque, direto, profundo
Revela no átimo de um segundo
Um sexto e maravilhoso sentido.

Francisco Libânio,

26/05/13, 11:55 AM

sábado, 25 de maio de 2013

1020 - Soneto entranhado

A sujeira dá um toque especial nessa aragem.

Há um soneto entranhado em mim
E muita coisa que o deixa soterrado.
Escrevê-lo até me põe em agrado,
Só que vira um desenterrar sem fim,

Mas qual se faz para ter um jardim,
Tira-se mato, põe as pragas de lado,
Analisa o solo, deixa-o preparado
E então semeia-se as flores enfim.

É porqueira demais sobre o soneto,
Indiscrição, malícia, aqui está repleto
De sujeira que não ficaria muito bem

Num poema. Usa-se como adubo
E deixa fluir no soneto que incubo
Uma beleza que nenhum outro tem.

Francisco Libânio,
25/05/13, 6:26 PM

1019 - Soneto surrealizado

É difícil resistir.

Encontro no escritório a secretária
Bonita cheinha, bem a meu gosto.
Ela com um sorriso bem disposto
E malícia até então desnecessária.

Mas quando vejo tal indumentária,
O escritório, o risco de ser exposto
E descoberto já nela me encosto,
Toco-a e dispo essa doce operária

Urbana de salas e vivo esse fetiche
Deixando que a inspiração capriche
Até o momento surpresa, o inglório

Encontro da chefa da minha amante
Que, para nos perdoar tal flagrante,
Quer participar da festa no escritório.

Francisco Libânio,
25/05/13, 12:25 PM

sexta-feira, 24 de maio de 2013

1018 - Soneto contrassensual

Falou da gente, Juiz. Ó pro senhor e pro que o senhor fez.

Veja como o mundo gira e gira
Há anos quem viu ter apologia
Contra o Planet Hemp e um dia
Prendeu a banda e criou a ira

Na turma que gosta ou admira
Hoje é acusado de diplomacia
Com quem vende o que elogia
A banda antes presa. Conspira

Para tanto o pregar moralidade
Enquanto, em total contrariedade,
Agir e nunca honrar que se diz.

Se é bandido aquele que prega
Discutir, pior é quem escorrega
E vende o proibido usando ardis.

Francisco Libânio,
24/05/13, 7:43 PM

1017 - Soneto substitutivo

Não presta, mas tem coisa pior.

Presidenta viajou, precisa substituir.
Vice não está disponível, deputado
Presidente da Câmara está ocupado
E alguém tem que chegar e presidir.

Então chama o Renan. Casa vai cair.
Tá na lei! Depois desses, é o Senado
Que manda o presidente pro riscado.
Tá de boa. Entra e logo ele vai sair.

Tá na Constituição. Não gosta, muda!
Podia ser pior. Podia ser a carrancuda
Fuça do Barbosa e o mau despotismo

De quem manda outro juiz calar a boca.
Um desses nem por uma breve troca.
Em poucas horas leva tudo ao abismo.

Francisco Libânio,
24/05/13, 6:25 PM

quinta-feira, 23 de maio de 2013

1016 - Soneto que mostra pouco

Maravilhosamente sedutor

Nudez absoluta? Tem rápido efeito,
Satisfaz, inebria, mas logo ela enjoa.
A excitação pinta, mas pouco soa
E a nudez vira algo apenas aceito,

Negócio comum que até põe afeito,
Até inspira que se faça alguma loa,
Nudez de quem se gosta é muito boa,
Admirar o corpo in natura, o peito

Sem sutiã, o sexo sem a calcinha...
Bem melhor e eficiente descaminha
Quando nada se vê e na surdina

O peito sorri escondido e o sexo
Está lá, mas segue ao pano anexo
E menos se age e mais se imagina.

Francisco Libânio,
23/05/13, 7:24 PM

1015 - Soneto tartarugado

Não, isso não é uma tartaruga...

Coisa estranha ter o dia da tartaruga...
Nada contra esse simpático bichinho
Que dá nome a jabuti em instantinho
E à gente lerda o apelido já conjuga,

Mas bicho ter dia? Isso parece fuga
Fácil pra ter homenagem, caminho
Reto e barato que nomeia padrinho
Ou, sei lá, alguém vê o dia e o aluga.

Seja como for, à tartaruga parabéns!
Curta o dia, seus vagarosos vaivéns
E seja feliz nessa longeva existência.

Aproveite e felicite também pelo dia,
O Barrichello, que, olha, aniversaria
Hoje. Deve ser só mera coincidência...

Francisco Libânio,
23/05/13, 2:11 PM

quarta-feira, 22 de maio de 2013

1014 - Soneto abraçativo

Tá faltando no mundo!

Quem quiser um abraço, procure!
Braços não faltam. E disposição?
Essa já envolve tanta complicação
Que faz com que o desejo se mure,

Se esquive e que um se enclausure.
Um mero abraço vira tal superação
Que morto o medo, a transposição
É rápida que o abraço pouco dure.

Hoje o do lado é potencial inimigo,
A mão estendida soa por castigo
E o braço aberto parece a cadeia.

E precisamos de um dia do abraço
Para que se brote o que é escasso
Tamanha indiferença nossa e alheia.

Francisco Libânio,
22/05/13, 11:26 AM

1013 - Soneto pouco vaidoso

Tira aqui e ali, põe lá e somos iguais...

Porque querer ser apenas bonito?
Para onde a beleza leva além dela?
O que se faz quando se tem a ela
E todo o resto resta assim restrito?

A beleza é importante, eu acredito.
Fio-me nisso e dou bastante trela,
Afinal quem não contempla a bela
Figura mente e ao crer nesse mito

Se engana e terá enorme trabalho
Ao se encantar cometendo ato falho
E se doerá com tal encantamento.

Eu não sou bonito, aqui pouco fez
A beleza. Todo bem, ela deu a vez
Para que o resto desse acabamento.

Francisco Libânio,
22/05/13, 11:11 AM

quarta-feira, 15 de maio de 2013

1012 - Soneto da musa despeitada

Vai continuar linda, talentosa e sem saber que você existe.

Angelina Jolie, por precaução
Tirou numa tacada dois seios
Metendo mais radicais freios
Num possível câncer. Atração!

Polêmica! Causou discussão.
Ela tira seus belos recheios,
Tão pujantes, lindos e cheios,
Põe nos homens a indignação.

Compreendo bem essa atitude.
O que feriria fundo a plenitude
Feminina visa mais protegê-la.

Agora a você que fica chiando,
Nem antes nem agora é quando
Você teria uma chance com ela.

Francisco Libânio,
15/05/13, 6:27 PM

1011 - Soneto multi-revolucionário

Tem mesmo quem acredite que isso vá acontecer...

Estão alertando nas redes sociais:
Está por vir um golpe comunista,
Com consequências descomunais
E com sangue a perder de vista.

Mas são tantos golpes outros tais
Por aí como a ditadura gayzista
E grupos e minorias potenciais
Inimigos de claro fundo terrorista

Que vejo e fico aqui imaginando
Revolução vindo após revolução...
Precisará marcar hora cada bando

Que quiser implantar sua ditadura
Para que tenha uma nesga de razão
Cada paranoico em cada loucura.

Francisco Libânio,
15/05/13, 10:57 AM

terça-feira, 14 de maio de 2013

1010 - Soneto aguado (parodiando Vinicius)

Só sexo e nada mais!

A fim de deixar os assuntos claros,
Procuro a um bom papo a Amada.
Não sei o que nós temos a sonhar,
Mas sei que é preciso uma vibrada

Entre nós. Vivemos os descaros,
As liberdades, mas tá deslocada
Essa relação. Assim, eu a encaro
E ponho-a numa boa emboscada.

O que ela quer de nós? Obrigo-a
A uma resposta, mas ela põe água
No chope. Nada há que se diga.

Assim, ela me leva à sala contigua
E damos uma com alguma mágoa
Pelo banho que deu a agora amiga.

Francisco Libânio,
14/05/13, 7:06 PM

1009 - Soneto aerado (parodiando Vinicus)

Pegadinha?

No momento em que abri a janela,
Bateu uma ventania no meu rosto.
Aquilo de bom me deixou disposto
A sair e sentir melhor a força dela.

Ventania? Massa! Uma friaca bela!
Depois do calor é muito bem posto!
Saio doido pra sentir força e gosto
E deixar meu corpo brincar com ela.

Saio e então não percebo mais nada.
Não sinto ventania e friaca não tem,
Mas um mormaço me deixa corada

A face. Some o frio e aí o calor vem.
Esquenta tudo. Sábia é minha Amada
Que correu para o Sul. Fez foi bem.

Francisco Libânio,
14/05/13, 2:29 PM

1008 - Soneto enterrado (parodiando Vinicius)

O que passa nessa cabeça?

Um dia quero estar nos verdes prados
Com a Amada a curtir o sabor da brisa,
Eu e ela nos refastelando em agrados
Até que ela me olha fundo e me analisa.

Ela com olhos de Capitu, dissimulados,
Sorri ao me olhar e demais se interioriza.
Aí penso. Meus beijos foram mal dados?
Minha língua ao corrê-la não foi precisa?

Viro o rosto. Nada quero, mas a Amada
Com minha birrinha muito se entretém:
Foi o melhor prazer que alguém me deu.

E sobre terra o que tem aqui? Tem nada!
Mas de mentira tem. Muita e muito bem
Engendrada tanto que nisso acreditei eu.

Francisco Libânio,
14/05/13, 9:34 AM

1006 - Soneto (quase) fiel (parodiando Vinicius)

O negócio é manjar das putarias!

De tudo ao meu amor serei atento
E a cada dia depois serei um tanto
A mais e mais decantarei o encanto
Que será só seu. Meu pensamento

Será seu outdoor e todo momento
Ao lado será único, valerá um canto
Como será meu também seu pranto
E me deixará feliz seu contentamento,

Mas vai que dada moça me procure
Dizendo que sem mim ela não vive
Ou que, mais que você, ela me ama...

Aí, amor, esqueço tudo o que tive
Pelo tempo em que durar tal chama
Ou pelo tempo que a canalhice dure.

Francisco Libânio,
30/04/13, 9:18 AM

1007 - Soneto ensolarado (parodiando Vinicius)

Não é fácil não!

O Sol, desrespeitoso do equinócio,
Não dá a esta cidade os desvelos.
Pelo contrário. Queima forte pelos,
Pele, neurônios e nesse pleno ócio

Agride, incomoda até que se roce
O corpo da Amiga e só os cabelos
Dela, pois fricção dá mau negócio.
Calor muito impede melhores zelos.

Quem não gosta tem ares de briga
Com o sol. Aqui não há o desafogo
Da costa. Mais que o Sol prossiga

Queimando, para ele, tipo de jogo,
Mais quente melhor, tomo a Amiga
E só chuveirada pra apagar o fogo.

Francisco Libânio,
14/05/13, 9:09 AM

sexta-feira, 3 de maio de 2013

1005 - Soneto de descaminho (parodiando Bilac)

Tchau, trouxa! Inspirada em Nel Mezzo del Camin

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, mas já sabias que eu vinha
E vieste. Sentias-te em algo errada,
Mas este ilícito muito bem a ti vinha.

Disseste-o. E assim, logo à entrada
Do quarto, o beijo, despi-la e, nuinha,
Beijar-te e transar contigo afobada,
Com medo e à luz te gelava a espinha

E te esquentava o corpo. À partida,
Disseste: Foi só isso e me esquece!
Segue cada qual consigo sua vida.

Pois, lembro dessa noite e me tremo.
Some a temerosa e a cruel aparece
Usando a maldade no nível extremo.

Francisco Libânio,
29/04/13, 5:57 PM

quinta-feira, 2 de maio de 2013

1004 - Soneto estrelado (parodiando Bilac)

Se não escuta, o problema é teu! Inspirado em Via Láctea XIII

Então você ouve estrelas? Certo!
Você tá louco! Diz com espanto
Você crendo-me ser um deserto
De bom-senso e, em desencanto,

Não zomba, tem pena. E adianto,
Que estou, como sempre, coberto
De lucidez e se eu, com encanto,
Ouço estrelas é que sou esperto

E você me pergunta, meu amigo,
Como que você vê nisso sentido?
Andou fumando o quê? E eu digo

Vá às porras e enfie as cancelas
No cu! Não precisa estar fodido,
Nem bêbado para ouvir estrelas.

Francisco Libânio,
29/04/13, 12:16 PM

1003 - Soneto delirado (parodiando Bilac)

Tem quem goste. É um homem bonito. Inspirado em Delírio.

Ela lá, nua. Eu aqui no meu pejo.
Vem sem medo, amor, ela dizia.
E eu, já sendo amor, enfim cedia.
Sedento, fui tomar aquele beijo.

Excedia em muito o meu desejo,
Também a curiosidade excedia.
Por mulher há pouco ela existia,
Ainda assim falava qual arpejo.

Em suspiro de gozos infinitos,
Pediu ser chupada em um grito.
Acariciei. Volume lá não senti.

Ela pedia: Vem, aqui de boca!
O que ela foi? Vontade era louca!
Hoje ela é o que é. Eu obedeci.

Francisco Libânio,
29/04/13, 10:25 AM

1002 - Soneto pela língua portuguesa (parodiando Bilac)

Futura ABL (Poesia inspirada em Língua Portuguesa

A última flor do Lácio, de tão bela,
Ajardinou ricamente essa literatura
Enchendo de lirismo e poesia pura
Tendo formosa luz até a fraca vela,

Havendo beleza mesmo na obscura
Obra, que enchia de prazer ao lê-la
Enquanto a nata garantia a chancela
De qualidade, de louvor, de ternura.

Mas passa o modernismo e a toma
De assalto o vandalismo em largo
Passo a estragar esse lírico idioma.

Surfistinhas e Coelhos, meu filho,
A se fiarem no que há de amargo
Roubando de Camões todo brilho.

Francisco Libânio,
29/04/13, 10:00 AM

1001 - Soneto arabesco

Ia ser perfeito!

Minhas mil e uma noites eu queria
Ter, também, a minha Sherazade
A contar histórias bem à vontade
Me satisfazendo até o raiar do dia,

Ali Babá, Aladim, qualquer valia.
Importa a odalisca ter a bondade
E uma voz repleta de suavidade
Além do toque doce que acaricia

Meus cabelos. E, claro, deve ter
Pneuzinhos, corpinho a se perder,
Beleza moura só que reforçada.

As histórias são pra dar a pimenta
Antes de tirar toda a vestimenta
E me embrenhar nessa namorada,

Francisco Libânio,
29/04/13, 8:09 AM