sexta-feira, 5 de agosto de 2011

0125 - Soneto do meu tédio


Brinco com meu tédio, sexta-feira,
Frio no litoral, nada para se fazer,
Sem boca pra beijar nem entreter
O dia fica uma terrível pasmaceira

Meu tédio é cruel e na brincadeira
Que faço com ele, é por prazer
Que me joga o ido como a dizer:
Fui teu amigo pela tua vida inteira

Tem razão esse maldito tédio,
Minha vida foi isso não nego
Tédio no amor, tédio no apego

Tédio na vida, tédio sem remédio
Mas escrever vem como prece
Escrevo e ele, por hora, desaparece.

Francisco Libânio,
05/08/11, 6:29 PM

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Eu estava bebendo em minha rua


Eu estava bebendo em minha rua,
Bêbado, feliz, insano, inconsciente,
Mas com o sorriso que atenua
O mal que a bebida faz à gente

Eu estava mirando alvejar a lua,
Joguei pedras nela repetidamente,
Corri ao alto de uma alta grua
E ainda assim errei-a. Em mente?

Só álcool e uma saudade doída
E um momento dessas na vida
Em que se que quer o impossível

Maldito plano meu infalível
Maldita lua a brilhar ali
Linda como quando te conheci.

Francisco Libânio,
03/08/11, 10:39 PM

terça-feira, 2 de agosto de 2011

01 - 01-08-11 - Não queiras que eu me cale


Não queiras que eu me cale
Quando disser que te amo,
Se não queres que eu fale
Não ouças se eu declamo

Teu nome em meus sonetos,
Teu nome em minhas falas,
Teu nome nos mais completos
Elogios e em todas as galas

Não queiras que eu não diga
O quanto te amo, pois dizer
Deste amor é um maior prazer,

Não me prives do direito de amar
Nem do desse amor expressar
Já que não és sequer uma amiga.

Francisco Libânio,
01/08/11, 9:26 PM

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Quero criar uma musa e me inspirar!


Quero criar uma musa e me inspirar!
Como ela é? Não sei. Ainda a invento,
Junto partes num rosto a me agradar,
Junto qualidades para meu contento

O corpo, negro farto, pode agradar,
Mas se for loira e esbelta, o momento
Fará com que eu a ame como amar
E de críticas, estarei totalmente isento

Ou não. Podem achá-la feia demais,
Podem ver nela qualidades divinais,
Deixo minha musa à vista do alheio

E dedico a ela este sonetinho feio
Perfeita que é no que vejo perfeição,
Molde para a futura dona do coração.

Francisco Libânio,
01/08/11, 4:30 PM

sábado, 18 de junho de 2011

Um dia na vida


Um dia na vida, célula única, indivisível,
Junto de outras mais parece um colosso,
Sozinha, perdida, isolada, quase invisível...
Um dia que dos outros, só, abre um fosso

Um dia na vida, sozinho, perde sentido
Já que ignoramos sua herança recebida
E recusamos o legado a ser transmitido
Com custos e taxas para o resto da vida

O preço que se paga dinheiro não avalia
Nem do recebido nem da transmissão,
Um dia na vida é isso, apenas um dia,

Mas o dia de hoje, às portas de um escuro
Túnel tem para si só do ontem a lição
E o que será feito e entregue no futuro.

Francisco Libânio,
18/06/11, 4:17 PM

terça-feira, 14 de junho de 2011

As ruas 05


Depois de dois dias sem escrever, à caneta,
Pus-me a rascunhar alguns vadios versinhos,
Nada espetacular, apenas uns descaminhos
Que em meu poema tem voz boa e completa

Olho minha rua, ela está lá, molhada, quieta,
Nem sabe que eu escrevo. Estamos sozinhos,
Ela lá pavimentada com poças por laguinhos
Onde a passarada, com sede, se locupleta

Eu, aqui, não estou molhado. Estou quieto,
Sei mais da minha rua que ela sabe de mim,
Somos pouco parecidos, mas algo no fim

Nos aproxima. Os passarinhos que, lá fora,
Bebem água dos laguinhos na rua empoçados
Nesses vadios versinhos ficam imortalizados.

Francisco Libânio,
14/06/11, 6:38 PM

sábado, 11 de junho de 2011

Eu já fui feliz, tive meus momentos


Eu já fui feliz, tive meus momentos
De sorriso, de ver um azul na vida,
Já dei sorrisos sem acanhamentos
E tive uma razão para ver colorida

A vida por tintas de sentimentos,
Eu já tive sonhos de casa florida,
Com jardim, esposa e os rebentos,
Enfim, a felicidade já foi vivida,

Já foi desfrutada, mas foi embora
Para não voltar... Talvez... Mas meu agora
Está longíssimo daqueles dias

Querer que eles voltassem? Quero!
Mas é difícil. Nem mais eu os espero,
Desarrumei meu terreno para alegrias.

Francisco Libânio,
11/06/11, 10:23 AM

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Novela


- Entenda. Não é que eu não goste de novela. Eu até assisto quando estou de bobeira em casa, mas não gosto de acompanhar. – explicava o solícito entrevistado a um pesquisador. Já perdera cinco minutos da volta de seu almoço para o trabalho.
- E por que não? – estendeu o outro.
- Por quê? Porque eu não gosto de me sentir obrigado a incluir a televisão na rotina da minha vida. Prefiro passar a noite conversando com minha esposa, brincando com meus filhos, recebendo meus amigos em casa. A tevê não está entre minhas prioridades. Tenha um bom trabalho. – e saiu.
E o que precisaria? – seguiu o pesquisador a passos largos já a largos passos.
- O quê? O senhor ainda está aqui? Precisaria de quê?
- Para o senhor trocar tudo isso por novela.
- Não precisa de nada. Nunca que eu faria essa troca. Não seria eu.
- Não acredito!
- Pode acreditar.
- Só vendo! Onde o senhor mora?
- Acho que isso não está nesse questionário, está?
- Não, mas é que estou impressionado! Quem hoje troca televisão por família? O senhor não sabia que família unida é aquela que assiste junta o jornal, a novela e depois alguma coisa qualquer? O senhor está enterrando essa instituição! – e o outro, com o pesquisador falando, já estava na porta do prédio onde trabalhava. Pediu pra avisar que já já subia.
- Enterrando? Olha aqui, meu amigo, eu e minha família estamos juntos há seis anos e como o senhor fala que estou enterrando minha família? O senhor está por demais inconveniente.
- Escute, e se agente colocasse mais violência na nossa novela?
- Não me interessa.
- E mais mulher pelada?
- Dá bronca em casa.
O pesquisador alcançou e conseguiu entrar no elevador, para miséria do outro.
- E se colocasse mais povo na televisão? O povo adora se ver, se identificar quando assiste a um programa. Sei que nossa novela, às vezes, parece elitista, mas é questão de contexto, sabe? Mas uma guinada está próxima. Posso dizer que será a própria Revolução Bolchevique da tevê brasileira. Vai ser o que há, diz que não!
- Com todo prazer... NÃO! – respondeu descendo dois andares abaixo. Por sorte, o pesquisador ficou no elevador. Enquanto subia os lances de escadas até sua sala, pensava em tudo o que ouviu. Cara chato! Chegou à sua sala, pensou um pouco mais, deu alguns telefonemas. Em quarenta minutos convocava uma reunião. Começou falando:
- Seguinte, moçada, eu soube por fontes seguras que a concorrência anda com uma pesquisa para mudar a orientação da novela deles. Ouvi falar, até, que eles pretendem fazer a Revolução Bolchevique da tevê brasileira querendo colocar o povo na tela. Então é assim: Chama todo nosso elenco pra gravar e os autores pra reescrever os capítulos. Se vai ter Revolução nessa bagaça, o Lênin dela vai ser a gente! Vamos, pessoal, vamos!

Francisco Libânio,
09/06/11, 3:44 PM

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Quadra 05


O homem, esse animal racional,
É um tolo crendo que o raciocínio
É seu forte e sofre com o domínio
Do coração e nega como o pior mal.

Francisco Libânio,
09/06/11, 9:48 PM

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ser intenso


Esse poeta é um homem intenso
Sendo nos ódios e nos amores,
Um homem seriamente propenso
A oferecer aos outros os melhores

Sentimentos com grande, imenso
Prazer além de dividir duras dores,
Mas se é para o bem, por extenso,
Esse poeta é para o mal. Os piores

Desejos, ele também sabe oferecer
A quem mereça tê-los ou não mereça
Coisas boas. E no caso uma peça

Apenas é o suficiente para se fazer,
Se para o bem, ofereço infinitamente,
Para o mal, a indiferença é suficiente.

Francisco Libânio,
08/06/11, 10:22 PM

terça-feira, 7 de junho de 2011

O Namorado ótimo


O mundo é maior que nós dois, eu sei!
Há mil mulheres por aí a serem amadas,
Mulheres que merecem o que eu te dei
Ou mais. Elas, se querendo apaixonadas,

Procuram um homem que possa ser rei
De suas vidas. Elas seriam prendadas
Rainhas. Quem sabe, eu lhe comporei
Poesias maravilhosas, rimas rebuscadas,

Darei flores, chocolates ou só um olhar,
Poderei fazê-las rir como poderão chorar
Se eu for em falso, mas quem não erra?

Seria um namorado ótimo. Só que berra
Aqui um coração doido pra ser namorado,
Mas que só consegue ver a ti ao lado.

Francisco Libânio,
07/06/11, 9:41 PM

segunda-feira, 6 de junho de 2011

01 - 06-06-11 - Todo mundo tem medo uma vez na vida

Todo mundo tem medo uma vez na vida,
Medo de escuro, medo de ouvir um não,
Medo do fracasso, medo de fazer em vão,
Medo de ter toda a esperança perdida,

Todo mundo chorou ou numa despedida
Ou quando não deu pra segurar a emoção;
Chorou porque o amor sofreu retaliação
Ou porque o medo deu aquela tremida

Eu mesmo perdi as contas dos choros
Ou dos medos que tive sem vergonhas,
Arrependimentos e lamúrias tristonhas,

Fiz dos choros e dos medos meus soros,
Choro ainda? Sim. Tenho medo? Claro!
Mas hoje, eu os uso como meu anteparo.

Francisco Libânio,
06/06/11, 9:39 PM,

sábado, 4 de junho de 2011

Esses Gaúchos


Eu nunca tinha lido nada do Caio Fernando Abreu. Apenas ouvido falar, sobretudo por uma amiga muito fã, gaúcha como ele. É impressionante como os gaúchos se admiram e se exaltam. No caso dessa minha amiga, que adora Caio, Quintana e Engenheiros do Hawaii (além de Nenhum de Nós, o que a torna uma pessoa de excelentíssimo gosto), seu gauchismo atinge os píncaros. Eu não sigo isso dessa forma. Entre os meus cinco escritores favoritos, nenhum é paulista. Demérito de São Paulo? Não, apenas predileção pessoal.
Mas voltemos ao Caio. De tanto minha amiga falar, hoje, num dos meus passeios favoritos, tour por livrarias, achei uma pequena bibliografia do gaúcho (que se radicou em Sampa. Meio paulista?). Orientado, escolhi o livro de contos Morangos Mofados e meti na cesta. Voltando pra casa, comecei a dialogar com o livro (porque mais que ler, procuro conversar com o livro e com o autor, loucura minha, não liguem) e fui sendo convencido pelo que eu lia.
Caio F tem uma das prosas mais sedutoras que eu já vi. Sua escrita a partir de um submundo, de uma coisa mais suja, personagens conflituosos é simplesmente sensacional. Se entendermos que esse livro específico é de 1982, fica fácil entender que as abordagens a alguns temas são veladas para não chocar o público, mas quem lê o autor sabe o que esperar. Estou, ainda, no primeiro terço do livro. Quero terminá-lo logo. Minha amiga tem razão. Esses gaúchos são ótimos. Já tinha sido pego pelo Quintana. Agora vem o Caio Fernando Abreu prestes a se tornar um dos meus escritores em prosa prediletos.

Francisco Libânio,
04/06/11, 8:20 PM

Mattosianas 086 - Soneto Eleitoral


O candidato a vereador em campanha
Deu brindes e terminou o melhor eleito,
Empossado fez pouco, mas com efeito,
Noutra eleição, usou a mesma artimanha,

Foi deputado. Teve a senadoria ganha
A presentes. Seu eleitor estava satisfeito,
Em que votou? Não lembrava direito,
Mas guardava bem os bens da barganha

E com este artifício se elegeu presidente,
Sem nada ter feito, na troca sub-reptícia
Até ser pego em corrupção pela Polícia

Quis agradar ao Delegado com presente,
Foi preso e seu ilícito teve gravame pior,
O Delega não era assim como seu eleitor.

Francisco Libânio,
02/06/11, 9:20 PM

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Aquele Homem


Ela me olhou com grande censura e, incisiva, decretou:
- Ou esse homem some da nossa vida e daqui ou sumo eu! Não agüento mais isso.
Minha esposa tinha razão para não agüentar. Nosso locatário da casa dos fundos era uma pessoa absolutamente inapropriada e inoportuna. E mesmo nossas casas sendo separadas por uma mureta que dava no portão do corredor, ele sempre extrapolava seu espaço e vinha nos aborrecer. Era um exibicionista. Não era um homem bonito nem tinha corpo arrumado, mas adorava andar sem camisa, exibindo o peito cabeludo ou se sentar na mureta de sunga. Uma cena deplorável que enfurecia minha esposa. E pior, cantava ela na minha frente. Pior ainda! O sujeito ainda me cantava sem pudor nenhum. E certo que ia me ganhar.
Sobre minha esposa, eu sei que ela não cederia. É uma mulher fiel e não seria um tipo desses que se interporia entre nós. Mas comigo, meu Deus, um homem! Como eu caio nesse canto de sereia? Eu tenho certeza absoluta do que gosto. Tenho minha orientação sexual definida e consciente, mas confesso que esse cara... Esse cara mexia comigo! E isso me deixava em frangalhos. Eu com minha esposa, relação estável, nove anos de união e considerando ter um filho para me deparar com um homem? Ela tinha razão em não agüentar, mas pedi ajuda:
- Você vai comigo falar com ele.
- Eu? Se ficar cara a cara com esse porco, encho ele de porrada, perco a razão. Você me conhece. Então vai lá e resolve isso!
Que parada! Agora era eu e ele. Eu o maldito parecia adivinhar que era eu quem iria falar com ele. Parecia me esperar. Cheguei à mureta e lá estava ele com uma bermuda vermelha realçando o conteúdo, óculos escuros, pose de gostoso e o indefectível peito cabeludo. Ao me ver, o sem-vergonha não se fez de rogado:
- Sabia que você não ia resistir. Entra, meu amor!
Meu amor? Mas esse infeliz estava além do cúmulo da liberdade. Usei de toda distância com ele, mas não adiantou. Tudo o que eu dizia era mote para um cortejo, uma cantada. A cada investida, eu balançava, pensava na minha esposa, em tudo o que vivemos, mas tudo morria naquele homem. E o tal partiu para um ataque incisivo. Primeiro, passava a mão nas minhas pernas, depois passou os braços atrás de mim e me puxou junto a ele. . Tentei me desvencilhar, mas também não queria resistir. Uma luta de quereres que, quando ele beijou minha nuca, foi definida. Era minha rendição. Era homem, dane-se! Eu adoro beijo na nuca. Minha esposa vive me beijando a nuca. Eu estava entregue. Pegamo-nos num beijo. Minhas mãos percorriam aquele corpo com desejo, com apetite. Eu pensava: Meu Deus, eu estou me entregando a um homem, como posso?! Mas era tarde. Por mais que eu me lembrasse da minha esposa, o fogo por esse homem me consumia. Eu não queria parar. Ele me despiu na sala. O que eu tinha a dizer? Não lembrava. Estávamos num momento tão bom que ficou melhor quando ele me chamou para o quarto. Ali eu estava refém dele, daqueles braços flácidos, mas viris. Ele me dominava e me deitou dizendo que ia me possuir. Eu estava entregue. Ele mandava, era senhor. Como seria bom ter essa torridez com minha esposa. Minha esposa?! Meu Deus, ela não quer esse homem aqui! Praticamente me fez optar ou ele ou ela! E agora eu estava com esse homem que ela não suportava. Eram nove anos. Era muito mais do que sexo. O sexo com minha esposa era bom, mas com esse homem... Prometia ser indescritível. De repente, o bom-senso me chamou à luz. Eram nove anos e uma esposa... Não dava! Empurrei o homem. Mesmo que eu quisesse não podia. Era minha esposa, tudo! Gritei com ele:
- Não posso! Não vou! Vai você! Quero você fora dessa casa amanhã pela manhã! Não precisa pagar nada! Apenas suma e deixe minha esposa e eu em paz! – e saí correndo deixando o homem sem ação. Dei um tempo e vi que ele arrumava malas. Aceitou sair numa boa. Quando minha esposa chegou, contei como tirei ele de casa. Lamentamos o tempo sem aluguel, mas isso se resolveria. Ela me deu um beijo e disse:
- Sabia que eu podia contar com você, Elisa!
- Sempre poderá, Márcia.
E fomos cuidar de outras coisas.

Francisco Libânio,
30/05/11, 12:40 PM

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Hai-kai 07


Não reclames. Tudo é culpa tua
Se erras, se perdes o que tinhas,
Nem mesmo ser perdoado atenua.

Francisco Libânio,
02/06/11, 9:26 PM,

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O poema de amor do dia... Será que tem?


O poema de amor do dia... Será que tem?
Não sei. Amor tem pro tal poema,
Tem a mulher que servirá de tema
E a vontade de escrever também,

Mas o poema precisa de algo além
E está aí o xis da coisa, o problema,
Não que falte o algo, mas o dilema
É usar esse algo e saber usá-lo bem

Porque usar, eu uso. Ponho-o e pronto!
O poema se faz enquanto eu o apronto
E é mais um poema de amor escrito

Mas hoje tenho já todos os elementos,
Tenho aqui o melhor dos sentimentos,
Só me falta agora algo belo a ser dito.

Francisco Libânio,
01/06/11, 9:38 PM,

terça-feira, 31 de maio de 2011

Se é pra ser um poema de amor, que seja!


Se é pra ser um poema de amor, que seja!
Mas que fique fora dele o tal “eu te amo”,
Não quero que quem leia isso logo preveja
O óbvio em outro poema que declamo

Não, não, não quero ser o tipo que verseja
Coisas que todos disseram. Este ramo
De amor já deu. Era dar ao leitor de bandeja
Na primeira linha o poema que eu tramo

Então que sem “eu te amo” fale de amor,
Mais: Que fale do amor, mas fale do maior
Amor, do amor que simplesmente deseja

Estar perto e sem dizer palavra alguma amar,
Porque se há amor, palavra não tem lugar
E se for pra falar do meu amor... Que assim seja.

Francisco Libânio,
31/05/11, 9:59 PM

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Soneto deste que te ama


Eu te amo de querer estar ao teu lado,
Ouvir tua tristeza e chorar se assim for,
Rir com o teu riso e desfrutar o melhor
Momento teu seja este o riso engraçado

Ou o da felicidade, o do bom grado,
Eu te amo de querer sempre compor
Um versinho que seja, mas de amor,
De dar meu voto de eterno namorado,

Eu te amo de querer sempre e só a ti,
Mulher mais linda, mais doce que já vi
E que certamente não existe outra igual

Só que isso tudo já faz aquele que ama,
O que difere este é que ele não declama
Somente. Ele faz do amor o diferencial.

Francisco Libânio,
29/05/11, 7:13 PM

domingo, 29 de maio de 2011

Mattosianas 074 - Do dia do Geógrafo


Dia vinte e nove de maio é do geógrafo, sabia?
Eu não sabia e quando soube fiquei pensativo
Sobre a data. Então até quem na Geografia ativo
E pouco valorizado pelo resto tem seu dia?

Bom saber disso. Eu, que sou da Geografia
E poeta se sobra tempo, mas que dela vivo,
Comemorarei e exigirei um presente representativo,
Um presente que me dará uma imensa alegria,

Não é um globo enorme ou um atlas atualizado,
A Geografia, ao contrário de todo esse achismo,
Não é só mapas ou saber o que é tectonismo

Ou onde estão montanhas ou um oceano assinalado,
Mas é entender o mundo conforme se apresente
E ter meios de trabalhar isso seria meu presente.

Francisco Libânio,
29/05/11, 11:54 AM

sábado, 28 de maio de 2011

Mattosianas 065 - Dos que dormem nas calçadas


De manhã, no ponto de ônibus, eu vejo,
Perto alguns mendigos curtindo o sono
No chão frio da manhã fria e o ressono
Deles ouço. Esporádico, vem um bocejo

Já no ônibus, um ao lado, num lampejo
De imbecilidade digno de rei no trono,
Critica o sono deles como fosse abono
De boa vida como se fosse benfazejo

Esse sono ou como fosse o descanso,
Mas não pensa o tal na duríssima vida
Do que dorme numa situação sofrida,

Claro, a vida deles é folga e é manso
O dia-a-dia. Não sofrem sendo escória
Nem dormir é medo e acordar é vitória.

Francisco Libânio,
25/05/11, 8:52 PM

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Soneto de Macaé


Num sonho, meu sono vinha de Minas
Navegando pelo Doce e ao chegar ao Rio
Desaguava, virava fachos de luz num pavio,
Explodiam, festival de sons, luzes. Trinas

De ruídos alegres, eram vozes femininas,
A praia toda festejava, havia ali um cio,
Uma felicidade enorme, quase um desvario,
Era você surgindo das águas cristalinas

Cuidando do meu sono, embalando-o ao colo
E numa praia, agora ilha, punha-me ao solo
Velando para que eu dormisse em santa paz

Minas, Rio, praia, você... Tudo ficou pra trás,
Eu acordava, minha cama era aquela ilha
O sono, o sonho, tudo era terrível armadilha.

Francisco Libânio,
21/05/11, 11:38 PM

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quadra 04


Talvez pedir um pouco além custe caro
E traga problemas entre os quais
Não ter o que se tinha pelo descaro,
Mas eu queria de ti um pouquinho mais.

Francisco Libânio,
26/05/11, 6:47 PM

quarta-feira, 25 de maio de 2011

01 - 25-05-11 - Deito-me ao teu lado. Tua quietude


Deito-me ao teu lado. Tua quietude
É convite a deitar ou é desinteresse?
É uma permissão velada ou atitude
A prenunciar uma que me processe?

Vejo teu corpo, espero que ele mude
De posição. Sentado, que se arremesse
Ao meu lado. Um mover me desilude,
Dá noção e faz com que me apresse

Em me levantar. Oh, a minha ousadia
Atrevida em querer que te deitasses
É tola e mais tola é quando se irradia

Mas mais tola que ela é a inocência
Em não esperar e ver alguns impasses
Enquanto buscavas em mim aderência.

Francisco Libânio,
25/05/11, 9:15 PM

O homem árvore


De esperar a mulher amada, que amava tanto,
Deixou de tomar ônibus para o seu trabalho,
Não foi de carro curtir das noites o encanto,
Não fez muito, mas foi alvo certo do malho

De quem pôde curtir da vida o por enquanto,
Ele ficou ao léu, tomou sol, pegou orvalho,
Pegou chuva, os dias se iam e em seu canto
Ficou esperando, e esperando fez um galho,

Raiz, virou vegetal. Humanamente vegetal,
Plantado num canteiro escondido no qual
Se revelou arvorezinha de tronco mirrado,

Galhos podres, folhas mortas. Foi cortado.
Ao ser removido, uma semente esquecida
Ficou e pediu adubo. Queria frondar vida.

Francisco Libânio,
17/05/11, 9:49 PM,

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mattosianas 061 - De mais um fim do mundo


Falou-se em algum lugar da Internet
Que o mundo no sábado ia se acabar,
Outro alarme falso ressonando no ar
Para com outros mil duzentos e sete

(ou mais!) cair onde bem lhe compete:
O esquecimento da previsão a se errar
Ou o escárnio, talvez o melhor lugar,
E ainda houve quem jogasse confete,

Tivesse medo, agradecesse a Deus o fim,
Agora o que fazer com as manifestações?
Veio domingo, veio segunda e as ilusões

De fim do mundo tiveram aquele gosto ruim
De quem, iludido, espera além do horário
Pelo prêmio dado no conto do vigário.

Francisco Libânio,
23/05/11, 6:51 AM,

domingo, 22 de maio de 2011

058 - De uma conversão sem crédito


A gente, quando quer acreditar em mudança,
Precisa, primeiro ver pra crer, vício maldito,
São Tomé persiste vivo nesse odioso mito
E alimenta às fartas a infeliz da desconfiança

E ela come feliz sem culpa enchendo a pança
De tudo o que a mudança colocou finito,
E o mudando segue à margem, lá restrito
Respondendo a tudo tendo a tudo uma fiança

Não tiro a razão daquele que não acredita,
Mudança assim de cara é algo inexistente
Carece de um processo dolorido e exigente,

Mas aquele que muda de fato e se reabilita
Fica como fosse perdoado na crucificação,
Mas precisava ser na cruz sua condenação?

Francisco Libânio,
17/05/11, 8:27 PM

sábado, 21 de maio de 2011

Enquanto eu lia meu livro de Anais Nin


Enquanto eu lia meu livro de Anais Nim,
Contos pornográficos, mil perversões,
Literatura para os puristas além do ruim
Eu me levava por tantas indiscrições,

Pensava naquelas mulheres para mim,
Vivia como se reais todas as situações,
Para voltar ao meu real e ver que, enfim,
Nada era. Somente o leitor de invenções

Foi quando a mulher que estava comigo,
Parceira eventual para algum coito amigo
Me viu a ler o que ela conhecia e adorava,

Sorrateira, enquanto eu lia, ela chupava,
Ao notar, deixei o livro, fiquei à vontade
Para a leitura se transformar em realidade.

Francisco Libânio,
14/05/11, 7:37 AM,

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Literalmente


Aquele país monárquico sofreu um golpe de Estado. O primeiro-ministro se declarou presidente e demitiu o rei e a rainha por justa causa e sem direito à indenização.
O povo, que adorava seus monarcas, aceitou o golpe e o novo governante, mas exigiu que o rei e a rainha fossem readmitidos de alguma forma sob ameaça de revolta popular. O rei virou porteiro do Palácio Presidencial e a rainha faxineira. O povo concordou.
Só que o primeiro-ministro, agora presidente, era um caloteiro de primeira. Além de determinar salários de fome aos ex-monarcas ainda atrasava o pagamento. As contas nunca fechavam. A despensa vivia vazia. Num lapso de desespero e morrendo de fome, a rainha trucidou o rei e fez ele assado com batatas para o almoço de domingo. O regicídio foi descoberto e a rainha foi condenada. Assim como Maria Antonieta, ela foi decapitada com o rei na barriga. Mas literalmente.

Francisco Libânio,
19/04/10, 8:05 PM

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Hai-kai de dia de chuva


Chuvisca e isso é, na verdade,
Como as coisas na vida,
Pequenas a anunciar tempestade.

Francisco Libânio,
19/05/11, 2:25 PM,

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Mattosianas 059 - De um dia atípico


E então, o dia de hoje começou seco
“É só agora” pensei sem dar crença,
Amanheceu, manhã morreu na presença
Do sol, céu azul e nenhum teco

De água. De trovões não ouvi nem eco,
Acho que logo a água cairá intensa,
Deve haver por aí uma nuvem propensa
A chover. Olho o céu, reolho, checo,

Nenhuma nuvem e já se vai a tarde,
Vem a noite. Nada de chuva! Estranho!
Não desisto, O firmamento acompanho

Só estrelas! O dia sem nada de alarde
Se despede e bem surpreso fico eu,
Primeiro dia em Mongaguá que não choveu.

Francisco Libânio,
18/05/11, 9:25 PM,
Mongaguá

terça-feira, 17 de maio de 2011

O Poeta que eu queria ser


Eu não queria ser o poeta unicamente
Dos versos apaixonados e só escritos,
Já que o poeta quando escreve mente
Às vezes, e eu não quero esses delitos,

Esses perjúrios. Quero amar realmente,
Escrever? Também, mas todos os ditos
Na poesia, bem quero levá-los a frente
Fora do papel no mundo real, lá, bonitos

Tangíveis à mulher amada, cumprimentos
De promessas, eternizando os momentos
Que ficaram parados escritos num papel

Era esse o poeta que eu sempre quis ser,
Escrever o que sinto e depois ter o prazer
De ver na terra o que o poeta vê no céu.

Francisco Libânio,
17/05/11, 5:41 PM

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Quero dizer que te amo de forma leve


Quero dizer que te amo de forma leve,
Um jeito que nem magoe nem ofenda,
Mas que engrandeça a alma e eleve
O amor aos céus dando por oferenda

Essas palavras, jura que não se escreve,
Sentimento que supera qualquer contenda,
Desejo mais sincero que alguém já teve
De fazer bem a quem se ama, que acenda

O desejo de procurar, de estar por perto,
De amar amado, de amar de peito aberto
E eu queria dizer tudo isso e algo mais

Sem parecer piegas sem todos os ais
Que os apaixonados demais põem no amor,
Quero dizer que te amo sem tirar nem por.

Francisco Libânio,
16/05/11, 8:31 PM,

domingo, 15 de maio de 2011

Conversávamos


Conversávamos como eram as conversas,
Casuais, ecléticas, assuntos se agregando,
Opiniões florescendo, variações diversas
De temas, mas sempre se acrescentando,

Mais um dia de conversações dispersas,
Sem compromisso, e de repente, quando
A deixa de nossas intimidades já emersas
Fez-se flor de pétalas rubras vicejando,

Colheste com tuas mãos à minha pergunta
Sobre suas vestes. “Nenhuma!” e ela junta
À resposta a mesma questão. A curiosidade

Passou para a excitação com tal velocidade,
Estávamos distantes àquela hora, mas bem...
Vimo-nos no outro dia e nos amamos também .

Francisco Libânio,
14/05/11, 9:29 PM,

sábado, 14 de maio de 2011

Efêmero


O instante passou. Azar que o perdeste,
Ele dobrou a esquina do tempo a correr
Depois de esperar o que nunca deste
E, cansado, se foi entre os instantes se perder

Agora esperas que ele volte e se preste
A dar outra vez o gol, a palavra, a mulher,
A atitude, o que devia ser feito ou o que reste
Do saco de coisas que crês tuas ao volver

Pois bem, ele não voltará. Dá por perdido
Tudo o que devia ser teu e por teu descaso
Não foi. O instante não perdoa atraso

Agora, também, atenta-te. Outro instante
Segue o que se foi, outra valise pujante
A ser aberta. Basta não seres distraído.

Francisco Libânio,
29/01/11, 12:45 AM

sexta-feira, 13 de maio de 2011

045 - Da gente diferenciada


Essa gente que não quer metrô perto de casa,
Que quer que se trabalhe pra ela, mas distante;
Gente que olha de cima com mau semblante
Gente que sem sair do chão acha que tem asa,

É uma gente com suposta bagagem, mas rasa,
Que chama de inveja a crítica ao seu desplante,
De afastar de si a gente que não tem o bastante
E chama de defesa seu despautério que defasa

De suas mansões os que servem para poli-las,
Gente que chama perder avião de infelicidade
E progredir via batalha ou incentivo leviandade

É pior que o que eles chamam gente das vilas,
Das favelas, bem pior que a ralé desclassificada
E sua diferenciação, na verdade, é uma piada.

Francisco Libânio,
13/05/11, 8:47 PM,
Mongaguá.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Cama de Dois


Uma cama de dois, um lugar ocupado,
Outro vazio. Um quarto meu, só meu
Para se dormir só e ninguém ao lado,
É deitar, dormir e acordar somente eu

Claro que, às vezes, solidão faz agrado,
Um momento em que se vive só seu,
Longe do outro, do contato ora forçado,
Mas quando a solidão faz seu apogeu,

É que vem essa vontade de gente perto,
O desejo de trocar ideia, até a mais tola,
Vontade de comutar, de se estar aberto,

Do abraço, do beijo, da mão que acaricia,
E estando assim nada mais desconsola
Que ver a minha cama de dois tão vazia.

Francisco Libânio,
11/05/11, 9:27PM,
Mongaguá.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Mattosianas 034 - Sobre tema algum e todos


O mesmo poeta que escreve versos de amor
Também escreve obviedades e indecências,
Verseja sobre acontecimentos e violências
E fecha a cota com notícia, um tema menor,

O poeta que fala sobre a princesa e a dor
De amar sem ser amado, sobre experiências
Malsucedidas também diz das maledicências
Humanas, de seus defeitos e do que é pior

No mundo, a hipocrisia. Ele alude a poetas,
Receitas, lembranças, gostos peculiares,
Assim sua poesia anda para diversos lugares

O poeta, num ecletismo, guarda em gavetas
Os temas misturados, mas na manga traz
Um tema inimaginado e dele um soneto faz.

Francisco Libânio,
07/05/11, 11:21 AM

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A porta


É como se eu estivesse à beira
De uma porta aberta a se fechar,
A ponto da passada derradeira
E dela pra fora só tivesse o ar.

A saída é obrigatória e certeira,
O que tem além dela é um lugar
Menos seguro, mas é a primeira
Impressão apenas. Dá pra agüentar.

A porta está aberta, vez fechada
Ela não irá se abrir nunca mais
E dela a fora a vida será cuidada

Por mim, o que me dava medo,
Enfrentá-lo é voar às demais
Portas e com isso me desenredo.

Francisco Libânio,
08/05/11, 6:54 PM

domingo, 8 de maio de 2011

Dia das mães


Sempre achou o Dia das Mães uma data comercial. Para ele, o segundo domingo de maio tinha um significado tão relevante quanto qualquer outro domingo do ano. Os domingos de dia das mães em casa eram bem normais. Sua mãe era uma mulher dura, mas com relances de carinho e boa simpatia, mas raramente alguma coisa marcava o dia. Lembrou que, quando criança, fez um vasinho de argila e colheu uma flor. A mãe viu, deu um beijo e o vasinho e a flor ficaram esquecidos. Nunca mais se preocupou com isso.
Na adolescência, a mãe seguia fria em relação a tudo. Na verdade, ela desestimulava qualquer lembrança especial para o dia das mães. Dizia aos filhos que não precisava de presentes, de almoço especial. Ficava feliz em ser lembrada no aniversário, quando todas as homenagens eram celebradas. Com o passar do tempo, foi perdendo o brilho do dia. Os festejos eram transferidos para o almoço na casa da avó, mas durou até a velha morrer. O pai, órfão, também não dava muito pela data. O irmão se casou e se mudou de cidade. No dia das mães ligava para a mãe, mas nem lembrava do dia. Nos aniversários, ele trazia os netos e a mãe adorava.
Com tudo isso foi pegando certa antipatia pelo Dia das Mães. Concluiu mesmo que era uma data comercial para encher cofres das grandes lojas, das floriculturas, do diabo. Achava uma grande bobagem as reuniões de família pelo dia. Por que não se reuniam sempre ao invés de um dia específico, imposto? Às vezes era chamado para passar o dia das mães na casa de algum amigo, de uma namorada e recusava. Se não se sentia em família comemorando o dia com a sua família por que faria isso com outra? Melhor ficar em casa e levar um almoço como qualquer outro.
Pouco antes do sexagésimo primeiro aniversário de sua mãe, o coração daquela mulher resolveu que já era hora de descansar e descansou junto com ela. Como o aniversário estava próximo, o dia foi pouco lembrado, mas teve missa de sétimo dia. O filho já era homem feito, casado e passou o primeiro dia das mães sem mãe. Deveria ser um dia normal como qualquer outro. Mas não foi. Mesmo sem nunca ter dado pelo dia faltava alguma coisa naquele segundo domingo de maio. Mas nem tudo estava perdido. Na segunda após, sua esposa contou que estava grávida. O próximo dia das mães teria muitos conceitos revistos, ah se teria...

Francisco Libânio,
08/05/11, 1:15 PM

sábado, 7 de maio de 2011

Maravilhoso!


Esse blogue é basicamente autoral, Não sou de ficar colocando textos de terceiros até porque isso feriria meu lado poético diante de tanta gente boa que já escreveu por aí, mas abro uma exceção ao Chico Anysio, um cara que eu digo sempre ter tido um único azar em toda sua vida: Ter nascido no Brasil. Fosse ele inglês, sozinho, ele daria um baile no Monthy Python, que é ótimo. Fosse estadunidense, deixaria o eterno Jerry Lewis no chinelo. Criar pra lá de duzentos personagens, todos eles com especificidades e características próprias não é coisa pra qualquer um. Precisa ser Chico Anysio mesmo.
Mas mais que um grande humorista, Chico também é um ótimo escritor e navegando por aí encontrei esse vídeo em que ele recita o maravilhoso Mundo Moderno, de sua autoria. Eu sabia que ele tinha escrito algo desse tipo. Quando era mais novo, eu e alguns amigos procuramos esse texto, em que ele só usa palavras com a letra M, para servir de abertura ao Prêmio M, uma brincadeira que fazíamos entre a família e os amigos. Infelizmente, sem saber nome certo, não o achamos àquela época. Fiquei muito feliz por ter encontrado hoje. Vai o vídeo aqui e abaixo o texto transcrito. Esse cara é realmente, inigualável!

Mundo Moderno
Chico Anysio

Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio – maior maldade mundial.

Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matungo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.

Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, maratonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas. Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, Mercedes, motorista, mãos… Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meia-água, menos, marquise.

Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.

Mattosianas 028 - Para a negra capa de revista


Após mil brancas loiras e morenas,
Algumas brancas ruivas eventuais,
Mas brancas e algumas até demais,
Outras menos mudando as melenas,

A revista na capa anuncia cenas
De nudez com uma negra. Quais
Outras foram peças principais?
Não lembro, mas outras centenas

De brancas foram alvos masculinos
De sonhos grosseiros e onanistas,
Vendendo, assim, milhares de revistas,

Mas as negras de traços menos latinos
Mais africanos superam, com certeza,
Para este poeta, tal estereótipo de beleza.

Francisco Libânio,
06/05/11, 12:28 PM

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mattosianas - 027 - Da unanimidade vista com os olhos


A Suprema Corte do País, em unanimidade,
Autorizou a união civil entre homossexuais,
Agora poderão ser casal diferentes e iguais,
Direitos garantidos e garantida igualdade,

Senhores togados, agradece a comunidade
E aplaude a coragem que entra para os anais
(Sem trocadilhos nem a malícia, males usuais)
Da Justiça e que põe o Brasil em paridade

Com as sociedades que andaram para frente
E trouxeram junto a elas no reboco o Direito
Que em muitos lugares vê evolução por defeito

Ainda há muitos obstáculos. Que se enfrente!
Ódios, mentes, conceitos e igrejas medievais,
Mas, agora com a Justiça, poderemos mais.

Francisco Libânio,
06/05/11, 9:39 AM

Mattosianas - 026 - Da unanimidade vista com a nuca


A Suprema Corte do País, em unanimidade,
Autorizou a união civil entre homossexuais,
Agora poderão ser casal diferentes e iguais,
Direitos garantidos e garantida igualdade,

Mas vejam lá, senhores togados, isso invade
E fere a família, as instituições. Esses tais
Que acham o errado certo querem ser casais
Como nós, que somos casais de verdade

Homem e mulher, macho e fêmea Deus criou
O homem não pode ir contra a voz divina
Com essa mania, esse desvio que alucina

As gentes e desvirtua o que de bom restou,
Por isso, vocês deviam segurar bem a rédea
Ou nunca voltaremos ao que era Idade Média.

Francisco Libânio,
06/05/11, 9:24 PM

O dominó


Na ideia de agradar o filho de sete anos, o pai resolve aproveitar uma data aleatória para lhe dar um presente. Esperou o filho chegar da natação, uma das poucas atividades físicas que fazia e lhe chamou de lado:
- Aqui, Róbson. Um presente do teu pai. Um jogo de dominó. – Era uma caixa de madeira bonita, peças de ébano muito bonitas, enfim, um dominó tradicional como os da época em que o pai tinha aquela idade.
O menino pegou a caixa, abriu, tirou as peças as deitando no chão e ficou olhando aquilo com surpresa e dúvida. Dominó? Sim, mas como se faz agora? Um monte de peças pretas e pontinhos coloridos pintados e pra quê? As perguntas do menino não eram pescadas pelo pai que contava como se divertia quando era mais novo ao jogar quedas e mais quedas de dominó com os colegas da escola. Foi quando o menino interrompeu as reminiscências do pai:
- E como o senhor jogava isso?
- Como? Ora, coisa mais simples! A gente começa sempre com o carroção de seis ou outro. Aí tem que juntar as peças iguais.
- É tipo Tetris? – perguntou o menino.
Parada dura. Tetris? Na época do pai, esse negócio de Tetris não existia, mas para o filho era o jogo mais simples que se podia haver. Só que ele nunca jogou com peças desse jeito. Sempre no computador, no vídeo game. Ensinar o menino tão afeiçoado a botões e a playstation ia ser difícil. Mas se muniu de boa vontade e foi adiante:
- É assim, a gente pega seis peças cada um – e distribuiu com o filho – e quem tiver um carroção, a peça com números iguais, começa. – por acaso, o pai tinha o carroção de seis e jogou na mesa.
- Agora, se você tiver uma peça de seis pode colocar em qualquer um dos lados. – ensinou.
O menino tinha lá um seis e tacou na mesa. O pai seguiu a jogada com o dois disposto. Na sua vez, o menino tirou as duas peças coladas de dói.
- O que esta fazendo, Robson?
- Eliminando as peças, papai. No Tetris, quando acontece algo assim, elas se eliminam sozinhas. Aqui quem tem que fazer isso sou eu, né?
É claro, o pai esqueceu de falar para o filho que dominó e Tetris não tinham nada ver coisa com outra. Voltou as peças para o lugar e explicou que não tem que eliminar nada. Que agora, na sua vez, o menino tinha que jogar uma peça com qualquer uma das extremidades.
- Mas eu não tenho.
- Então compra.
Antes que o menino fosse esvaziar o cofrinho, o que estava em vias de fazer, o pai explicou que era pra ele pegar uma peça no monte. Pegou três e nada. Passa a vez para o pai que joga. E assim a primeira partida de dominó da vida de Róbson significou uma retumbante derrota. O pai explicou que é assim mesmo, mas que logo ele ia pegar o jeito e seguiria a saga vencedora do pai, campeão do bairro há trinta anos, um grande orgulho para o pai. Depois da partida, foram jantar, conversaram sobre outras coisas. O pai perguntou sobre a natação para o filho, que estava de poucas palavras.
Quando o pai estava vendo o jornal, o filho o chamou do seu quarto e intimou:
- Papai, quero jogar Guitar Hero com o senhor!
- Mas eu... – e nem adiantou dizer que não sabia como se jogava aquilo. O menino também não sabia jogar dominó e aprendeu meio a contragosto e perdeu. O pai, na mesma situação, cedeu. Tiraram uma música e o pai foi humilhado na primeira vez que se metia com o jogo predileto do filho que se sentia leve e vingado.

Francisco Libânio,
01/05/11, 7:42 PM

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Hai-kai 06


Sol impávido num dia frio,
Calor bom pra lagartear,
Frescor que não deixa suar.

Francisco Libânio,
05/05/11, 9:37 AM

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mattosianas 021 - Do pretenso beijo maldito


Uma novela irá transmitir um beijo em rede aberta,
“Oras, mais um beijo?” dirão os leitores, “Mas e daí?
Quantos tantos beijos em novelas e filmes eu já vi!”
Se tem beijo é porque a eles se quer, daí a oferta,

Mas um beijo lésbico, senhores? Quem se acerta
A ver, aceitar como normal sem aquele terrível tititi
De senhoras de Santana quase a cometer haraquiri
Em nome da moral e costumes? Isso mais acoberta

A hipocrisia que se guarda em casa, que não fala
Nem dá nomes. Quem se assume hipócrita afinal?
Não temos males, apenas combatemos o que é mal

Por isso, o beijo lésbico é malvisto e se propala
Contra ele cruzada veemente, inquisidora e falaz
Em vez de deixar as mulheres se beijarem em paz.

Francisco Libânio,
04/05/11, 10:54 AM

Perdoa, não perdoa


E por mais que eu quisesse te ver,
Te tocar, te beijar e dizer meu amor
Uma porta entre nós, um corredor
Fazem uma parede fria a arrefecer

Minha voz e ainda, para ser pior,
Teus ouvidos recusam meu dizer,
Teu coração se nega a entender
Que o meu traz consigo uma flor

Para te dar como pedindo perdão
E pede chance para ser ouvido
E quem sabe poder ser reconsiderado

Mas não gostas de flores nem não
Ouves que um erro pode ser remido,
Simplesmente, as retiras do meu lado.

Francisco Libânio,
08/04/11, 6:03 PM

terça-feira, 3 de maio de 2011

01 - 05-02-11 - É claro que o amor é mais que o amor


É claro que o amor é mais que o amor,
Mais que os apaixonados de mãos dadas,
Bem mais que beijos e carícias roubadas
E que as juras vazias, claro, ele é maior

Óbvio que o amor conserva, é protetor,
Que é forte se o fizermos às bordoadas
Inevitáveis do mundo, mas às inesperadas
Casualidades é que deve se sobrepor

E proteger não dos infortúnios poéticos,
Do mal que os amantes sonham enfrentar
Triunfando com a resistência em amar

E sim do cotidiano, da rotina, céticos
E amargos não por não querer aos amantes,
Mas por serem reais, presentes e constantes.

Francisco Libânio,
05/02/11, 11:47 PM

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mattosianas 015 - Para a morte mais esperada 02


Morreu Bin Laden, comemoração no Norte,
Famílias alijadas naquele fatídico atentado
Mandam-no ao inferno e, de peito aliviado,
Festejam como um nascimento essa morte

Obama anunciou o fato com estilo e porte,
Bush Filho disse que ele seria encontrado
E pagaria com juros todo o mal causado
À “nação americana”. Vingança bateu forte!

Mas peraí, meu amigo, vamos com calma!
Antes de comemorar com furor esta palma,
Mostra aí o homem, manda pro mundo a real!

Porque barbudo, magrelo e com turbante
Não tinha só o Bin Laden, tem é bastante
Muçulmano desse tipo. E se não for o tal?

Francisco Libânio,
02/05/11, 9:05 AM

Mattosianas 014 - Para a morte mais esperada


Morreu Bin Laden! Anúncio em rede mundial,
Vitória das forças do bem, enfim vingança
Contra o onze de setembro, contra a matança,
Caiu a peça que sustentava o eixo do mal

Vasculhou-se o Iraque, o Afeganistão e tal
Inimigo do Ocidente levava-o em dança
Aqui, ali, um vídeo, ameaça, ele descansa
Enquanto muitos nem dormem. Afinal

Onde estava esse maldito assassino xiita?
Onde está o corpo? Que alguém apresente
O cadáver e nos mostre prova convincente,

Os ianques dizem, mas a gente só acredita
Com algo que comprove tal afirmativa
Ou veremos no tal Bin uma neurose coletiva.

Francisco Libânio,
02/05/11, 8:41 AM