quinta-feira, 12 de junho de 2014

1698 - Soneto para um itabirano

Tem hora que bate a saudade...

De que adianta nascer em Itabira,
Ser triste, ser orgulhoso, de ferro
E trazer no peito o itabirano berro
De ser da terra do poeta cuja mira

Sempre será ele? Se lá que respira
Poesia e minério onde, sem ter erro,
Se é de ferro, como ver o desterro
Em outra cidade onde se transpira

Cultura, beleza, e onde o itabirano
É tido por poeta de primeiro plano
E para os fãs da poesia um herói?

Que adianta ser de Itabira e, adrede,
Itabira ser só um quadro na parede,
E daquele tipo de quadro que dói?

Francisco Libânio,
21/05/14, 12:32 PM

1697 - Soneto de inspiração fraquinha

Ideias, cadê vocês?

Como houve já uma insípida inspiração
Num soneto meu e agora não é melhor
A situação e vai mal o poder inspirador,
Eu luto para não intitular com repetição,

Mas deixar latente que a atual situação
É braba tanto que recaí usando o amor,
Faço umas drummondadas, poeta-mor,
Para um gás e continuar a dura missão

De sonetear, mas quando há um nada
Lá onde devia ter uma ideia encorpada,
O desespero toma conta desse poeta.

Assim, o soneto fala sobre si por ajuda,
Claro que seu desabafo em nada muda,
Mas quem devia sustenta-lo ele alfineta.

Francisco Libânio,
21/05/14, 10:02 AM

quarta-feira, 11 de junho de 2014

1696 - soneto deslocado pelo amor

às vezes a gente dá uma corzinha.

E o poeta, pouco afeito a romance,
Fala de beijo num poema. Estranho.
Relembrou aquele Chico de antanho
Que escrevia de amor a cada lance,

Mas hoje já não há nada que afiance
Mais no poeta a redução de tamanho
Do amor. Não que não haja assanho
Ou que o amor, de supetão, alcance

Um soneto ou outro. Como aconteceu,
Os beijos sonetearam algo menos eu
E mais a minha adolescência amorosa.

Tento enegrecer o soneto de verdade
Ou tingir o vermelho da sensualidade,
Mas, às vezes, o soneto fica todo rosa.

Francisco Libânio,
19/05/14, 6:54 PM

1695 - Soneto político-literário

E o outro vai tirando ouro do nariz...

Na discussão entre o Poeta Municipal
E o Poeta Estadual num velho poema,
Incrível, mas ainda persiste esse tema
Na cena política em nosso mundo real.

Comum a poesia tenta decifrar o vitral
Que é a realidade e tirar dela emblema,
Alegoria e fábula. Quanto ao problema
Do Poeta Municipal, do Poeta Estadual

De quem bate o Poeta Federal no voto,
Tanto hoje como no passado já remoto,
É fato que com presente e futuro condiz

Como condiz o fato do despreocupado
Poeta Federal, ficar de boa no seu lado
Tirando, sem perturbação, ouro do nariz.

Francisco Libânio,
19/05/14, 12:31 PM

terça-feira, 10 de junho de 2014

1694 - Soneto dos beijos achados

Achando beijos por aí.

Achei alguns beijos que, perdidos,
Queriam um dono com a urgência
De quem a isso pende a existência,
Pois foram abandonados, corridos,

Condenados, por pouco, destruídos.
Assim, os beijos, após experiência
Traumática, careciam da emergência
De um cuidado, mas foram ouvidos?

Vistos? Provocaram outra atenção
Além da do poeta que por convenção
Vê beijos, o que ninguém ouve e vê?

Pois nem esse, tão pendido ao chulo,
Resiste. Tomo-os, com eles bem bulo
E uns beijinhos ganho, pequeno fuzuê.

Francisco Libânio,
19/05/14, 11:15 AM

1693 - Soneto sobre a anedota búlgara

Como assim caçar borboletas? 

Sobre um certo czar naturalista
Que caçava homens, só digo
Que vinha de um tempo antigo
E continua atual, vanguardista

Quase. E que dá tanto na vista,
Aparece por aí vendo o umbigo
E muitos têm um tipo de amigo
Na mídia que chega e entrevista

Como se fosse um herói do bem,
Mas mata caça homens e quem
Mais for contra a sua autoridade.

E pior, esse como aquele citado
Ao ouvir fica tão igual espantado,
Acha caçar andorinha barbaridade.

Francisco Libânio,
18/05/14, 2:39 PM

segunda-feira, 9 de junho de 2014

1692 - Soneto obstruído

Tanta poesia nesse simples acontecimento...

Penso na pedra no meio do caminho,
No caminho a pedra. Acontecimento
Que Drummond fez ser grã momento
Da literatura, inspirou o moderninho

Para a poesia e deu certo desalinho
Para o que era rima, métrica, acento,
Agora não precisa comprometimento
Tão formal, ser assim todo certinho.

Nessa pedra tropeçaram os estetas,
Mas por ela passaram tantos poetas
Que queriam ser poetas sem poder.

A mim essa pedra inspirou também,
Mas as rimas, guardo-as muito além
Que ela disse “Faça o que bem quiser!”

Francisco Libânio,
18/05/14, 11:06 AM

segunda-feira, 2 de junho de 2014

1691 - Soneto abaianado

Mas conhecer o Elevador Lacerda eu gostaria, sim.

Mas contra a Bahia não tenho nada,
Apenas o desejo de ir não desperta,
Não hoje nem ontem. A hora certa
Pode vir, talvez não ter sua chegada.

Vejo pelos fotos, cidade abençoada
Que é Salvador. Uma cidade coberta
De História que quem vai lá disserta
Feliz, quer voltar. A alma é encantada.

Claro, tem os idiotas e o preconceito,
Vão e voltam com um discurso feito
E dizem que a Bahia é feia, um atraso.

Baiano é preguiçoso, o papo imbecil.
Mas se eu for à Bahia, curtirei a mil
E que não iria, não farei menor caso.

Francisco Libânio,
18/05/14, 9:37 AM

1690 - Soneto que não vai à Bahia

Um soneto escrito por Gregório sobre a Bahia não é exatamente um poema bonito e de bem-falar.

Drummond precisava escrever
Um poema, um, sobre a Bahia,
Mas nunca foi lá. E escreveria
Como o poema sem conhecer?

Eu, menor, meto-me a atrever
Um soneto com tal galhardia
Que quem o lesse acreditaria
Que na Bahia vivi após nascer.

Mas respeito a Bahia, Salvador,
Cidade linda, beleza com a cor
Que amo, deusas negras, tudo

Como o céu, completa perfeição.
Mas a Bahia não exerce atração
A ponto de ir lá. Um dia eu mudo.

Francisco Libânio,
18/05/14, 8:56 AM