sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

1462 - Soneto com carinho

E você quer me convencer que não está interessado no meu decote? Conta outra.

Falar de amor quando o tesão
Sobressai pode soar falsidade.
Às vezes, falamos a verdade
E ela já vem com interpretação.

Um poema amoroso de ocasião
É lido com pezinho na maldade,
O outro tem alguma boa vontade,
Mas vê malícia e dá bom pisão

No pé ao invés do beijo querido.
O soneto só se lê subentendido
E o amor vira putaria já no verso

De saída. O carinho é sacanagem
Para a mulher que vê na imagem
Do coração uma bunda no inverso.

Francisco Libânio,
30/01/14, 8:04 AM

1461 - Soneto com peçonha

Qualé, foi só uma maçã. E a sua bomba atômica?

Acusam de todo mal a serpente,
De ter tentado a primeira mulher,
Do pecado e de outro qualquer
Erro que surja por aí de repente.

A serpente, coitada, injustamente
Ganhou essa fama e pra recorrer
Do castigo sabe como proceder
E essa defesa é muito eloquente:

Ela simplesmente toma e enumera
Os erros do homem em cada era,
Cada campo, ficção e mundo real

E o compêndio contra nós pesa
Tanto na alma quanto na mesa
Que ela sai perdoada do tribunal.

Francisco Libânio,
29/01/14, 12:44 PM

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Hai-kai desesperançoso

Roda Viva boa só essa.

A coisa hoje pior está,
A roda viva que vem
Levou a alegria pra lá.

Francisco Libânio,
30/01/14, 6:52 PM

1460 - Soneto com indecência

Mas eu quero o soneto pra soltar os bichos e não a senhora!

Posso me desnudar no soneto,
Pôr fora vergonhas e verdades
E desfraldar minhas realidades
Além de mostrar algo meu ereto.

E é a ereção que um desafeto
Chia. Basta com imoralidades!
Que eu solte das infelicidades,
Do peito e do meu mal secreto

E use o soneto como um divã
E que a ereção seja a mais vã
Das coisas ali ele não entende!

Talvez seja ele mais indecente
Que eu, bem mais, mas mente
A si mesmo e muito se prende.

Francisco Libânio,
28/01/14, 6:37 PM

1459 - Soneto com certo moralismo

E você esperava que o BBB fosse diferente?

A mulherada, no programa de tevê,
Cai na piscina com o peito de fora,
A homarada também se despudora
E a maldade nas sungas logo se vê.

E quem assiste a todo o bunda-lelê
Na casa quer uma ação moralizadora,
Que, no mínimo, se mande embora
Quem lá dentro curte um bom fuzuê.

Claro que a reclusão com o instinto
Atiçam tanto a xana quanto o pinto
E ao menor sinal de ataque se corre

Para saciá-los. Se há alguém vendo
Ao fetiche isso é mais um adendo
Enquanto o moralista ao ver, morre.

Francisco Libânio,
28/01/14, 12:21 PM

1458 - Soneto com intolerância

Não me pede calma, pelo amor de Deus!

Tem hora em que não se aguenta,
Que a paciência mingua e a espera
Se torna algo dorido e a atmosfera
Pesa e nosso humor mais afugenta

Que atrai. Fica essa coisa cinzenta
A nos transformar numa besta-fera.
É quando tudo de mal vem, impera
E deixa a existência quase violenta,

Aí quem nos exige paz e paciência
Precisa de dose extra de ciência
De paz também e de seguro de vida.

Então se me virem assim bufando,
Aposte, é apreensão a vir em bando
E ter calma não é uma boa pedida.

Francisco Libânio,
28/01/14, 7:35 AM

1457 - Soneto com fome

E tem quem ache dois homens se beijando revoltante.

Essa fúria atrás de quem tenha
Um pouco a mais não para ter
O que o outro tem ou para ser
O que o outro é e essa brenha

Que contra ele mesmo desenha
Mau destino ou lhe faça parecer
Um mau homem só para o lazer
De ser mau tem, sim, uma senha

E ela não é inveja nem maldade
E sim a puríssima necessidade
De calar um estômago ou mais,

Dois ou três, o seu e dos seus,
Esse pobre diabo a quem Deus
Deu de pobreza o tanto demais.

Francisco Libânio,
27/01/14, 6:53 PM

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

1456 - Soneto com egoísmo

Quero nem saber, é meu!

Quem tem a mesa abastada, farta
E diversa come demais e vê erro
Em dividir o seu e manda desterro
A quem distribui ou quem encarta

Dizeres para que se dê e reparta
Com quem não tem. Quer o ferro,
O fogo, a morte e solta o berro
Contra a subversão, não descarta

A ofensa se quem não tem come
Minimamente bem sem ter fome.
É como se tirassem da sua mesa

O que nem dele é nem faria falta
Se fosse, mesmo assim se exalta
Já que a fome é amiga da avareza.

Francisco Libânio,
27/01/14, 12:22 PM

1455 - Soneto com vontade de comer

Bonita, colorida e quente!

E ele queria comer algo diferente,
Algo cozinha indiana, tailandesa,
Queria algo excêntrico à sua mesa,
Dar ao seu paladar esse presente.

Juntou grana do seu suado batente,
Descobriu como o excêntrico pesa
No bolso e que gorda é a despesa
Nesses lugares, mas foi em frente.

Escolheu lá um restaurante indiano,
Mas não contava no seu bom plano
Com o tanto de pimenta no manjar.

Não conhecia, mas matou a lombriga
Da excentricidade, mas ainda briga
Com o intestino por conta do paladar.

Francisco Libânio,
27/01/14, 8:20 AM

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

1454 - Soneto com ideia maluca

Graças aos céus, eu não sou assim.

E se eu resolvesse encher a cara?
Ser o bêbado que não fui ou quis
Bebendo em fúria todos os barris
Sem ter motivo, apenas pela clara

Vontade de beber, caindo em rara
Situação de coma e depois um bis,
Um tris, ser apenas o bêbado feliz
Que, sem ter alguma culpa, dispara

Copos e copos atrás da embriaguez.
Poderia fazê-lo, basta chegar a vez
E pôr esse meu fígado para trabalhar.

Volto ao meu centro, que maluquice!
Não vou beber. Basta a fanfarronice
De escrever sóbrio. Nada ia prestar!

Francisco Libânio,
26/01/14, 9:50 PM

1453 - Soneto com fim de era

Aeh, bizantinos, perdeu! A casa caiu pra vocês! Agora é uma nova era na quebrada!

Constantinopla já foi tomada!
Já era! Perdeu Roma Oriental!
Acabou essa Idade Medieval
E uma nova era é vislumbrada.

Os turcos vieram na porrada
E Roma já não era a maioral
E já tinha bárbaro dando pau
No Império. A outra beirada

Foi tomada pelos otomanos.
E agora com o vir dos anos
Outro mundo será aparecerá.

Virá uma América não sabida
E outras romas terão parecida
Postura e a História continuará.

Francisco Libânio,
26/01/14, 1:00 PM

domingo, 26 de janeiro de 2014

1452 - Soneto com ideia perigosa

E se a gente desse um tratamento à DOI-CODI a eles, será que manteriam a opinião?

Aí se abre o computador, olhada
Rápida nas notícias e comentários
E nota-se o quão são autoritários,
Estúpidos esses dessa manada.

Derrubar a governança instaurada,
Mandar prender seus adversários,
Racismo claro, golpes imaginários
Que seriam tudo uma boa piada

Se não acreditassem com libelos
Em defesa e em ardentes apelos
Pela volta de moral e isso autoriza

A combater esse ideário violento
Com violência e sofrimento lento
Para a turma que tanto mal teoriza.

Francisco Libânio,
26/01/14, 8:56 AM

1451 - Soneto com uma ideia interessante

Tem quem resolva fazer isso na prática, falta coragem.

Penso em uma ideia interessante,
Fazer amor com duas, céu aberto,
Corpos nus tudo em descoberto
Querendo uma novidade ululante.

Fazer amor normal seria bastante
Convencional, o prazer seria certo,
Mas por que não haver o enxerto
De um elemento algo mais picante?

No soneto não atentaria ao pudor,
Bem trabalhado, poderia ser amor
Além de dar vazão a mais prazer.

O nó fica num mundo com recato
E mesmo atendo ao soneto o fato
Uma outra mulher nisso se meter.

Francisco Libânio,
25/01/14, 7:15 PM

sábado, 25 de janeiro de 2014

Poema de fuga 8

É bom, mas tem coisa melhor.

O sexo solitário, tudo bem,
É seguro, mas soa agressivo
É livre de doença e profano
Mas não sou católico ou anglicano
E sei que o troço faz bem
Mas se todo mundo, todo ano
Fizesse hoje, ontem e além
Ninguém estaria vivo.

Francisco Libânio,
30/12/13, 9:16 PM

1450 - Soneto com discordância

E ainda me chama de amigo da ditadura!

Aí você pensa A e sujeito diz B
E você quer a sadia discussão,
Arruma toda sua argumentação
E o outro diz que você não vê,

Não entende nem quer, não lê;
Você nota com tal estupefação
Que o sujeito quer te dar lição,
Pois o grande estúpido é você

Se não for coisa pior, leniente
Com o erro e, pior, conivente
Com a situação e tal baixaria.

Você o xinga e vem o melhor,
Ele te alcunha como o ditador
Que reprime a boa democracia.

Francisco Libânio,
25/01/14, 9:35 AM

1449 - Soneto com horas de atraso

Preciso chegar logo.

Chego depois do combinado,
Uma pena, rolou alguma treta.
Conto e explico e nada afeta.
O negócio já está estragado.

Ela e passa, em tom pesado,
Uma descompostura da reta,
Sem meias palavras, me veta,
Não poderei chegar atrasado,

Cometer faltas e ir miudinho.
Olhei tudo, mudei o caminho.
Não fiz para ter bronca tanta!

Se por um atrasinho acidental
Deu isso, mudo hora e local
Com a mulher que me adianta.

Francisco Libânio,
24/01/14, 12:10 PM

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Poema de fuga 7

Fica pra vocês.

Entre o cinema americano,
O novo rock indie inglês
E um bom uísque escocês
Eu, mui brasileiramente,
Deixo isso pra vocês.

Francisco Libânio,
30/12/13, 9:11 PM

1448 - Soneto com o prometido

Conforme combinado.

Um soneto para uma sexta
É, lógico, uma boa pedida.
A minha inspiração revalida,
Cada verso vira uma fresta

E assim essa ideia presta
Promessa e jura cumprida.
Será? Para isso dá a vida,
Mas com isso ela pretexta

Alguma ideia à sacanagem.
A promessa dá passagem
Ao novo soneto pretendido,

A malícia dá o toque claro
E cobra da ideia o preparo
Ao cumprir seu prometido.

Francisco Libânio,
24/01/14, 8:06 AM

1447 - Soneto com concordância

Facilita muita coisa!

Ideias afins são sempre melhores,
Atraem e fortificam as amizades.
Além disso, elas afinam verdades,
Dão a estas novas e boas cores

Concordar nos põe amansadores
E amansados. Paz, serenidades
São frutos das boas afinidades
A brilhar com seus bons alvores.

Ideias afins excelentes de se ter.
E os que as têm têm esse prazer
De encontrar ideias irmãs em paz.

Quem concordar de já agradeço,
Tem na hora a estima e o apreço
E tudo o que a afinidade é capaz.

Francisco Libânio,
22/01/14, 7:36 PM

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

1446 - Soneto de implicância

Você é chato, feio e bobo, mas eu sou mais. Só não admito.

Com fala cheia de superioridade,
Dizia ser o tipo de pessoa genial,
Além de se crer ter postura ideal
Dos habitueés da alta sociedade.

Tinha? Não, pra dizer a verdade.
Mas tinha deles o quê imperial
E monarca desse estrato social
Que não era o seu e a maldade

Que todos têm sem ver a posse.
E seria pior ser realmente fosse
A pessoa rica. Seria insuportável.

Um séquito que, dia a dia menor,
Esteve ausente no último andor
Com ele frio, mas todo irretocável.

Francisco Libânio,
22/01/14, 8:34 AM

1445 - Soneto com arrogância

Acha que vai deixar saudade, né?

Com fala cheia de superioridade,
Dizia ser o tipo de pessoa genial,
Além de se crer ter postura ideal
Dos habitueés da alta sociedade.

Tinha? Não, pra dizer a verdade.
Mas tinha deles o quê imperial
E monarca desse estrato social
Que não era o seu e a maldade

Que todos têm sem ver a posse.
E seria pior ser realmente fosse
A pessoa rica. Seria insuportável.

Um séquito que, dia a dia menor,
Esteve ausente no último andor
Com ele frio, mas todo irretocável.

Francisco Libânio,
22/01/14, 8:34 AM

1444 - Soneto com petulância

Mas você é o famoso quem?

Quis saber mais que meu nome,
Minha ascendência, mãe e pai.
Pedigree. Disse mulher que sai
Com homem tal, sem renome,

Sem ouro ou ela morre de fome
Ou, ao ver que o negócio vai
Ser maior e com isso se distrai
É o nome dela que se carcome,

Fica falada, mancha reputação.
Então quis minuciosa descrição
Minha. Falei o que era de nota

E ela me fechou o vidro e se foi.
Não lamentei. Ela seria um boi
Na linha. Mulherzinha escrota.

Francisco Libânio,
21/01/14, 12:05 PM

1443 - Soneto com desilusão

Outra cicatriz? Mais uma lição.

Tomou o pé na bunda da namorada?
Outro cara levou aquela promoção?
Está decepcionado com a situação?
Queria tudo e não conseguiu nada?

Pois a vida tem demais essa virada
De mesa que vai direto à decepção.
A dica é: Uma vez nela, tira-se lição
E saindo dela, vá-se em desabalada

Carreira, mas deixa lá a expectativa
Ou excesso dela e siga afirmativa
E conscientemente para onde quer ir.

E se vier outra virada, enfrente, repita
O processo. Essa volta só capacita
Aquele que nunca pensa em desistir.

Francisco Libânio,
20/01/14, 12:19 PM

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

1442 - Soneto com ilusão

Até eu que sou mais bobo!

Esperar da vida o que ela pode dar
Faz bem, pois então que ela me dê
Mulheres gostosas em cabine privê
E banheira de espuma para transar

Com uma por vez ou talvez em par.
Sessão que comece com a matinê,
Às oito horas e depois ninguém vê
Mais relógio, sexo sem dia a acabar.

Depois dessa putaria maravilhosa,
Todas na cama, é a parte dengosa,
E eu recebendo carinho e cuidado.

Que a vida me dê isso e agradeço.
Mas a olhar o que quero e mereço,
Melhor que eu espere isso sentado.

Francisco Libânio,
20/01/14, 10:34 AM

1441 - Soneto com pé fincado

Porque coisa surpreendente só em desenho, amigo.

Tudo poder acontecer na vida,
Mas tudo não é algo absoluto,
Um elefante a voar aí resoluto
Ou uma minhoca muito sabida

Respondendo a quem duvida,
A quem não sabe, não é astuto.
A solução de tudo num minuto
Surgir e um problema, de saída,

Ser resolvido. Isso nunca rola,
Não espere com fé tal esmola,
Mas creia no que for plausível.

Tudo a acontecer é um leque
Do porte do caso em xeque
E o que vier a mais é o incrível.

Francisco Libânio,
19/01/14, 12:35 PM

1440 - Soneto com possibilidade

Respeite-o que ele te respeita. E te dará graças.

Acreditar no impossível, problema?
Se existem impossíveis prováveis
Como invisíveis que são tocáveis
E coisinhas fáceis de tão extrema

Dificuldade, resolver esse dilema
Entre fácil e difícil pede variáveis
Que fazem o difícil bem passável
E o fácil a complicação suprema.

Que variáveis essas? Condições?
É não apavorar em tais situações
E dar ao impossível a reverência

Devida sem nunca oferecer temor,
Trate esse impossível por senhor
E ele o terá por Vossa Excelência.

Francisco Libânio,
19/01/14, 8:29 AM

1439 - Soneto com condições

Quer Camões, leia Camões, ora pois!

Se você quer um belo soneto,
Algo camoniano, alexandrino
E se quer um tema cristalino
Livre de sujeira e com afeto

Ao belo, diga-o, seja direto,
Peça um soneto com o fino
Da poesia, com o tal divino
Toque dos gênios e aí meto

Tão direto quanto se pediu
O convite à puta que pariu.
Se quer poema camoniano

Leia Camões, que eu adoro!
Mas em meu verso, meu foro
Dou meu toque leve insano.

Francisco Libânio,
18/01/14, 5:01 PM

sábado, 18 de janeiro de 2014

1438 - Soneto com indignação

Nunca se calar.

Calar-se diante do mal, da injustiça,
Da insensatez e da desumanidade
Não te dá esse ar de superioridade
Nem te garante qualquer premissa

De não misturar política à sua liça.
Prefiro manter a minha vulgaridade
E mostrar o desgosto de verdade
A guardar essa sabedoria postiça

Dos que preferem nunca se meter
Naquilo que não se pode mexer.
Prefiro gritar contra coisa errada,

Abrir o olho de dez a pôr centena
Alheia a tudo que mais dá pena
Ou indigna. Nunca à voz calada.

Francisco Libânio,
18/01/14, 12:59 PM

1437 - Soneto com desprezo

Nem aí!

Odiar é para os totais amadores,
Preocupar, atentar e querer mal.
Alguém apaixonado faz tal qual
E vive cheio de beijos e amores,

Os que odeiam queimam reatores
E pestanas, é um amor de sinal
Trocado. Balela. Já o profissional,
O cara que domina os humores

Não gosta nem odeia o oponente.
Ele vira algo assim só indiferente
E até um nada é mais importante.

Querer mal? Voltaria contra mim.
Ver o mal? Hora chegaria o fim.
Pôr de lado sai mais impactante.

Francisco Libânio,
17/01/14, 6:08 PM

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

1436 - Soneto com filosofia

Sócrates seria um bom poeta, eu acho.

Reflexão que se faz, inspiração
Que se procura para um soneto
A tirá-lo de si e fazê-lo concreto
Merece a filosófica comparação:

O poeta procura com a atenção
Dos filósofos e tanto irrequieto
Um porquê, um sentido secreto
Para por no papel sua reflexão.

Quando escrevo, quero porquê,
Ver aquilo que só o filósofo vê,
Só que nunca manjei a filosofia

E em ser poeta eu engano bem,
Mas admito, não sei viver sem
Filosofar bobagem ou poesia.

Francisco Libânio,
17/01/14, 12:40 PM

1435 - Soneto com savoir-faire

Ou pode ser considerado um craque por meio mundo e passar vexame.

Fala que sabe, detona, é o pica,
Que é o fodão, o boss, o cara,
Que com ele nada se compara
E praticamente ele se beatifica

Com uma arrogância impudica
Dizendo ter uma sabedoria rara,
Mas quando súbito se depara
Com um problema que a cuíca

Muda o tom, some a gabolice,
Fica no papo tudo o que disse
E quem se dizia pica já broxa.

Aí da estátua tomba o general,
E de um gênio do tipo maioral
Vira o doutor chato de galocha.

Francisco Libânio,
16/01/14, 7:01 PM

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

1434 - Soneto com feeling

Tudo pode acontecer

Há coisas que estão pelo ar,
Inspirações mil acontecendo,
Para o verso ruim, o remendo
Para poder pôr tudo no lugar,

Bastar prestar atenção, captar
Vibrações e tudo é estupendo.
Diz-se como o povo, “tá tendo”
E está mesmo. Basta observar.

O poeta, enquanto aqui soneteia,
Cheira que o mundo presenteia
Com oportunidades a escolher,

As dele, alguém que faça uso.
Ser poeta pede algo de recluso,
Mas sem do mundo se perder.

Francisco Libânio,
16/01/14, 12:24 PM

1433 - Soneto com pouco recurso

Augusto dos Anjos, um poeta de recursos infindos.

Querer do poeta uma rima rica
Quando o dinheiro dele é curto
É mais que absurdo, é o surto
Dos que não soneteiam nadica

E ficam a fim do que sofistica,
Mas quanto à rima, não me furto
A fazê-la correta e até encurto
Um verso que a torto metrifica,

Mas a rima, seja rica ou pobre,
Ela eu faço que aqui se dobre
E rime sem qualquer distinção

De estrato poético nem social,
Não fica clássico ou tão legal,
Mas a rima faço com precisão.

Francisco Libânio,
15/01/14, 7:48 PM

1432 - soneto com hora marcada

Já cheguei... Falta a inspiração.

É preciso chegar a tempo, corra!
Tudo contado sem permitir atraso,
Hora certinha como fosse o vaso
Chinês dos sonetos toda a zorra.

É preciso que nada errado ocorra,
Que o imprevisto não faça caso,
Tudo se atenha ao maldito prazo
E se tiver que morrer, que morra!

Este soneto, escrito ao meio dia,
Durante folga, uma breve alforria
Do poeta, que luta por uma vaga

Em concurso. Relaxamento lírico
Em que da prisão voa ao onírico
Onde o relógio menos o esmaga.

Francisco Libânio,
15/01/14, 12:11 PM

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

1431 - Soneto com segurança

Segurança é bom, mas assim já é demais.

Precaução não faz mal a ninguém
Cuidado é um materno conselho
E nunca morrerá nem será velho
Por isso é mais seguro quem tem

Esse dito guardado, pois mantém
Sua direita, não mete o bedelho
Em assunto alheio e o vermelho
Da vergonha se toca e não vem.

Mas ser seguro não é ser medroso
Nem se curvar ante o perigoso.
A coragem reforça a segurança

E a segurança guarda a coragem,
Assim, que se deixe de viadagem
E siga em frente e forte a andança.

Francisco Libânio,
15/01/14, 8:00 AM

1430 - Soneto com rótulo

Sempre levaremos um nome...

Se você é gay é pecado
E indeciso se bissexual;
Se usa droga é marginal
E se bebe é descolado.

Se é gordo é esganado,
Se for magro é terminal,
Se sincero é um boçal
Se cioso é dissimulado.

Sempre o cristão é algo
Seja o pobre ou o fidalgo
É preciso que se defina,

Um nome ou um apelido,
Um quê a ser conhecido,
A vir de uma mente ferina.

Francisco Libânio,
14/01/14, 12:10 PM

1429 - Soneto com recato algum

Às vezes, a falta de recato pode dar bons frutos

Quando vão embora o recato,
O respeito com a porra toda,
O cara na grosseria acomoda
E deixa livre a qualquer trato

A liberdade até de ser chato,
Mas o outro se acha o foda
E manda à merda, vira moda,
Vira humorista e fica gaiato.

E todo cheio das intimidades,
O fulano imagina as amizades
Com quem mal vê e conhece.

Aí se o mandam tomar no cu,
Fica ofendido, fica todo jururu,
Mas tomar no cu ele merece.

Francisco Libânio,
14/01/14, 8:23 AM

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

1428 - Soneto com algum recato

Com todo respeito, você está muito gostosa, viu?

Quando a liberdade faz respirável
Toda a situação, o recato é sinal
De educação e isso é primordial
Para ser, ao menos, respeitável.

Mas o respeito faz mais maleável,
A intimidade faz ser mais informal
E ambos tiram da relação um mal,
Destruindo esse hábito lamentável

De policiar uma possível grosseria,
De dizer algo que o outro não diria
Porque é um hipócrita e não permite

Que as coisas feias sejam faladas.
Mas a liberdade autoriza pauladas
E uma transgressãozinha com limite.

Francisco Libânio,
13/01/14, 8:17 PM

1427 - Soneto com muito recato

Olha o que você está falando!

Ser comedido com o que diz
Ou é educação, e isso é bom
Ou toca algo que, fora do tom,
Soa já fica na mira dos fuzis

Moralizantes, vira o chamariz
Dos que podem até o som
Da respiração e tem o dom
De não saber como ser feliz.

Nesse caso, o comedimento
É censura, é vil instrumento
Para calar. Toma-se cuidado

Ou a patrulha dos malas autua.
Por isso o soneto finda e atua
Calando o poeta desbocado.

Francisco Libânio,
13/01/14, 12:16 PM

1426 - Soneto com timidez

Deixa eu ficar a vontade...

Admiro que tenha desenvoltura
E desembaraço para expressar
Sentimentos, quem saiba falar
E saiba fazer disso bela figura.

No meu caso, a timidez segura
Um pouco e me deixa a desejar
Se quero dizer algo ou namorar,
E a voz sempre fica à procura

De palavras ou da hora exata
De falar, vira uma eterna cata,
Por isso prefiro ser um poeta.

Pensando bem, é bem melhor
Assim. No papel mato o pudor
E solto uma face mais secreta.

Francisco Libânio,
13/01/14, 8:32 AM

domingo, 12 de janeiro de 2014

1425 - Soneto com intensidade

Quero tudo! E muitas vezes!

Vontade que tenho? De fazer amor.
Mas fazer amor com aquela demora
Que compromisso vai tudo embora
E eu só paro se alagado pelo suor.

E depois desse ato, quero me pôr
Numa mesa repleta, de fora a fora,
Com culinária cheirosa e sedutora
Para o repasto com o capricho mor.

Depois de tudo, outra vez à cama
Agora dormir para aquieta a chama
De tanto exagero só o sono abusa.

Dessa forma coaduno essa taradice
Corporal-afetiva com minha gordice
E soneteio satisfeito a minha musa.

Francisco Libânio,
12/01/14, 3:05 PM

1424 - Soneto com indiscrição

Qualé, se até os poderosos dão uma secada de vez em quando...

Um olhar assim mais atrevido
A uma mulher assim atraente
Pode ter uma coisa indecente
Para quem olhou sem sentido,

Sem maldade sem ter a libido
No olhar, mas se fez diferente
E olhou com fome e contente
Merece castigo? Ser punido?

A maldade é menos maldosa
Se for sobre si conscienciosa
E souber até onde ela pode ir

Assim, só um olhar indiscreto
Ao decote ou ao traseiro ereto
Mais elogia que dá a se punir.

Francisco Libânio,
12/01/14, 12:49 PM

1423 - Soneto com intelectualidade

Segundo Carlos Castelo Joyce é o Djavan da Literatura. Concordo.

O tal auto-dito intelectual
Colocou Joyce no soneto
Para ser gênio completo
E flanar por aí de maioral,

Mas leu Ulisses no total?
Entendeu aquele dialeto?
Inglês de um grupo secreto,
Leu Finnegans Wake e tal?

Joyce pra ele é a cantora,
Ulisses o velho que fora
Num terribilíssimo acidente.

Mas mandou o superlativo
Para manter sempre vivo
Um jeito culto e indigente.

Francisco Libânio,
12/01/14, 8:56 AM

1422 - Soneto dos quartos

Tranquilidade máxima

Meu reino, meu mundo, meu espaço
Cá escrevo, soneteio, leio, aconteço...
É aqui onde com sono eu anoiteço
E de dia vivo e me refugio e traço

Outro soneto e nele que me faço.
E por isso aqui está todo o apreço,
O pessoal ou o poético, e confesso
Tenho aqui todo meu desembaraço.

O quarto é onde se vive a intimidade
Mais plena e onde somos, de verdade,
Nós mesmos. E ainda que ocultos,

Somos no quarto um ser mais liberto,
Alma a voar de um peito mais aberto
Mesmo em nossos desejos adultos.

Francisco Libânio,
11/01/13, 1:06 PM

1421 - Soneto das cozinhas

Melhor que muita sala.

De onde saem as iguarias,
Onde nascem as receitas
Maravilhas que são feitas
E sustentam todos os dias,

A cozinha merecia regalias
Como a sala e as perfeitas
Saudações e não desfeitas
Que dão a ela. As alegrias

Mais plenas, as conversas
Em casa das mais diversas
Sempre foram na cozinha.

Na família é a sala de estar
De bate-papo e até beliscar
Um petisco que se avizinha.

Francisco Libânio,
11/01/13, 10:12 AM

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

1420 - Soneto das salas

Segura a língua!

Fazer sala é receber, seja bem,
Seja mal, mas é acompanhar
Uma visita que vem de chegar
E nenhuma novidade tem.

Se tiver é falar mal de alguém,
E sua sala vira esse lugar
De maldade empesteando o ar
E, a evitar briga, fala amém.

A sala em que fazemos sala
Vira o lugar onde um apunhala
Sem dó algum um ausente

E fazemos sala para esse tal
Que na certa falará igual mal
Em outra sala sobre a gente.

Francisco Libânio,
10/01/13, 6:32 PM

1419 - Soneto do bom almoço

Vai muito bem.

O dia de trabalho é puxado,
A manhã é daquelas feias,
Das que a jornada dá peias
E o negócio é bem celerado.

Mas soa o gongo, o agrado,
A fome correndo nas veias
E, querendo barrigas cheias,
Um prato é sempre azado.

O feijão com arroz cotidiano
Ou o prato do chef veterano
O que vier se traça e já some.

Na verdade, após essa labuta
Não há um sábio que refuta
Ser o melhor tempero a fome.

Francisco Libânio,
10/01/14, 11:55 AM

1418 - Soneto do bom café da manhã

Pra começar bem o dia.

Entendo o urso, que quando acorda
Da hibernação quer encher a barriga.
O sono, quando ele acaba, logo liga
O estômago, é preciso que se morda

Algo e uma vontade pra lá de gorda
Pede um desjejum quem assim diga
Ser. Cheiro de café coça a lombriga
E é pela manhã quando transborda

A vontade. E o café da manhã vira
O sonho, seja de rei ou o do caipira,
Café preto, leite de hora e a broa

De milho rústica. Tanta simplicidade
Ou requinte só aplaca essa vontade
Fazendo essa refeição ser tão boa.

Francisco Libânio,
10/01/14, 8:16 AM

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

1417 - soneto das comidas gostosas

Como resistir?

Os olhos veem posta a mesa farta
E o estômago, sem a ver, já delira.
Quer sua parte dali e muito suspira!
Os olhos querem dar logo a carta

De alforria ao estômago e que parta
Pra cima com fome monstra, vampira.
Os olhos escolhem, a mão logo tira
A faixa e o estômago nada descarta,

Tudo é bom, é divino, é maravilhoso!
Cada prato ali um é mais saboroso
Que o outro, carnes, molho, saladas...

A mesa, uma cena pós-guerra, conta
Mortos e feridos após tanta afronta
Com a fome e a sanha, já saciadas.

Francisco Libânio,
09/01/14, 7:16 PM

1416 - Soneto das horas com sono

Fica difícil sair algo assim.

Frente ao computador, à espera
Do soneto que não vem, busca
Etérea e, quando assim, rebusca
A palavra e passa à fase de fera,

Na verdade, acontece que impera
O sono e há uma parada brusca
Na inspiração e há grande patusca
Nas ideias. Tudo aqui se adultera,

O soneto que devia estar tinindo
Dorme feliz bem como dormindo
Queria estar o poeta, mas nada!

Esse soneto sairá, sonambulando
Que seja, mas ao meu comando
Para, ao fim, eu dar uma deitada.

Francisco Libânio,
09/01/14, 12:15 PM