quinta-feira, 31 de maio de 2012

0170 - Soneto para a Ana Luíza de Tom Jobim


Ah, se a guarda cochilasse e desse mole
Era bom de galgar a muralha, divisar de lá
O vale, os prados e tudo mais o que se há
Para ver, sentir e tocar e passear de trole

Mas a guarda e Ana Luíza têm o controle,
Não há como passar por eles e chegar lá
E esperar na boa a primavera que chegará,
Mas Ana Luíza a nega. Pois que se imole

Quem quiser. E quem quiser que procure
Luíza que não deixa que a estação perdure
Nem ouve a canção que fala dela na brisa

E assim sendo, como resistir ao encanto,
Esse encanto que faz amar, quase santo,
Esse que existe e assiste em Ana Luíza?

Francisco Libânio,
31/05/12, 9:51 PM

0169 - Soneto para a Ana do Roberto Carlos


E o cara que tem lá a vida toda errada,
Andando por aí que nem barata tonta
Por aí sempre bebendo além da conta,
Fazendo besteira, entrando em roubada

É fruto de tristeza, de saudade ferrada,
E veja você como a mulher desmonta
Um coração, mesmo esse cara ponta
Firme agora está aí atrás da sua amada

Ficam na saudade, o amor, a alegria,
Fica com ele distinto a vida tão vazia
E sofrendo só, essa coisa mais clichê.

Viu só o rebu que você aprontou, Ana?
Desde que foi embora e deu a banana
Pro outro lá, ele tem saudade de você.

Francisco Libânio,
31/05/12, 9:24 PM

0167 - Soneto para a Camila do Nenhum de Nós


Depois da última noite de chuva, de festa,
Ela chorava e esperava que amanhecesse,
Tudo se explicava, talvez tudo isso cesse,
Talvez se abra pelo destino alguma fresta

Ela queria que fosse logo embora a besta
Que ele era levando as tardes de estresse,
As marcas vergonhosas, mas ele esquece
Todo seu feito, volta e mais ainda empesta

Com tanto terror psicótico, olhos insanos
A vigiá-la, a torturar seus dezessete anos,
Ela apenas baixava a cabeça e consentia...

Oh, Camila, que lembranças, triste mulher!
Fechar os olhos ver outra vez acontecer
Todo infortúnio que há anos te acontecia.

Francisco Libânio,
31/05/12, 12:49 PM

quarta-feira, 30 de maio de 2012

0166 - Soneto para a Ângela do Raul Seixas


É essa sensação sem nome, essa sede
Que faz engolir a seco além desse rio
Correndo em direção ao mar em desvario
Chamando pelo nome que nunca cede

Por mais que se tente negar, algo impede,
Por mais que se ache rei do fogo, é o fio
Do nome a pôr desabar tronos, é o vazio
Da impossibilidade a jogar contra a parede

Prova do meu leite, gosta a minha vitória,
Mais que se vibre sei que ela é provisória,
Mal terá tempo a que se possa entretê-la,

Porque mesmo a espada erguida à guerra,
Mesmo com toda a fúria que se encerra,
Soa mais forte e repetido nome, Ângela.

Francisco Libânio,
30/05/12, 1:01 PM

terça-feira, 29 de maio de 2012

0165 - Soneto para a Carla do LS Jack


Chegou-se a deixar os vestígios,
O coração foi entregue devagar,
Não era nada difícil de se achar,
Era preciso resolver os litígios

E saber aproveitar os prestígios,
Mais, você devia se deixar roubar
Aos poucos e nunca se ia tirar
De onde o amor faria prodígios

Do fundo dos olhos à memória
Permita-se reviver essa história
Em que você foi pura tentação

Você foi amada como jamais
Outro alguém amou. Ame mais,
E o sol acordará a sua paixão.

Francisco Libânio,
29/05/12, 11:43 PM

0164 - Soneto para Anna Júlia dos Los Hermanos


Você nunca ficará com ela, meu chapa,
Por mais que a ame, mais que te doa
Vê-la passar por você assim numa boa,
Ela é durona, é linda, mas ela escapa,

Para você, meu bom, sobra nem a rapa
Do lindo olhar, do carinho da pessoa
Que você mais ama, mas que te ferroa
No coração um espinho. Você é etapa

Passada na vida dela. E vai vir um cara,
Esse sujeito sem carinho, e com a clara
Intenção de te jogar de vez numa vala

Comum, já que você nunca foi o sonho
Dela, acaba com tudo. Por isso exponho:
Mais que queira, não rola reconquistá-la.

Francisco Libânio,
29/05/12, 1:22 PM

0163 - Soneto para a Rita do Chico Buarque


Grande larápia que era essa tal Rita!
Levou o sorriso e o que era de direito
Do outro, tudo que ele tinha no peito
E ainda um disco de Noel, acredita?

Mulherzinha sem qualidade, parasita!
Nem São Francisco escapou do jeito
Vingativo. Ela tornou o casal desfeito
Levando até os vinte anos a maldita!

E o pior, essa safada vivia no trapo,
Não tinha um tostão, levava no papo,
Ela também o levou mais o coração

Desse que sofreu as perdas e danos,
Mas pior nem foi ficar sem os planos
E, sim, quedar por mudo seu violão.

Francisco Libânio,
29/05/12, 11:51 AM

0162 - Soneto para a Carolina do Seu Jorge


Que Carolina é uma menina difícil de esquecer
Ficou claro. Que ela é muito sensual e inteligente
Só faz dela uma de muitas mulheres diferente
E é fantástico saber que a Carol só dá prazer

Ô sorte do marmanjo que pode enlouquecer
Com o jeito da Carol, esse jeito adolescente,
Mas aceitemos. É deselegante e indiferente
Ele ligar a semana inteira e ela não atender

Então, Carol, domingo encontre esse cara
Que de apaixonado deixou mais que clara
A ideia de não trocar o docinho de pavê

Dele. Então se joga nessa paixão, menina!
Você deve ser mesmo a maravilha feminina
Que ele diz. Vai nessa! Ele só vai amar você!

Francisco Libânio,
29/05/12, 8:23 AM

0161 - Soneto para a Carolina de Chico Buarque


Esses olhos tristes que guardam a dor do mundo,
Por que assim que não se alegram com o carnaval,
Com a dança, a rosa ou o samba? Que é esse mal
Que deixa numa linda alma de mulher tão profundo

Corte? Olha, Carolina, pelo menos por um segundo
Que lindo lá fora, mas olha logo que logo é tchau,
A rosa morrerá, a festa acabará, nada será igual
E ser triste para além da tristeza é ferir mais fundo,

É represar menos amor do que o que já não existe,
É perder a chance de sorrir porque se estava triste,
É não ter jogado o mal fora com a estrela que caiu,

Enfim, quando se é triste pode-se cantar mil versos,
Pode-se cansar de explicar, pode se rezar mil terços
E daí? O tempo passou na janela e Carolina não viu.

Francisco Libânio,
29/05/12, 12:08 AM

segunda-feira, 28 de maio de 2012

0155 - Soneto de oração por remissão


Está registrado. O filme fez o flagrante:
Pastores políticos lá dividindo propina
Rindo, brincando crentes que à surdina
Brindavam o ilícito recebimento aviltante

E, talvez, movidos pela culpa distante
Ou por agradecimento à justiça divina,
Os pastores, uma vez dividida a rapina,
Reúnem-se e num tom bem celebrante

Rezam. Está filmado, Aí a TV propaga
E como o que aqui se faz aqui se paga
Os bons ladrões receberam as cadeias

Que rezem agora. Se Deus vier a ouvi-los
E se for bom e justo rirá dos crocodilos
Que usam do seu nome para coisas feias.

Francisco Libânio,
28/05/12, 12:05 PM

domingo, 27 de maio de 2012

Soneto da mediocridade


Viver embebido na mediocridade,
Deixar de pensar pela própria cabeça,
Ser no todo única e descartável peça
À espera da próxima e mesma novidade,

Entreter-se para que a mente esqueça
Que pode se questionar, buscar a verdade,
Que é possível pensar e além da grade
A separar onde se está de onde se começa

Um outro mundo livre e cheio de ideias
Sem essa capa que embeleza coisas feias
Para onde vão os que se fazem corajosos,

Mas parece mais fácil curvar-se ao medo
E restar confortável no triste degredo
Onde seguem medíocres, mas orgulhosos.

Francisco Libânio,
09/02/10, 12:41 AM

sexta-feira, 25 de maio de 2012

0137 - Soneto de solução


Para todo mal na vida existe cura,
Assim sempre dizem mães e avós;
Pais e amigos a desatarem os nós
Que aparecem nessa vida tão dura,

Podemos viver a noite mais escura,
E enfrentar a dificuldade mais atroz,
A mais maldosa moléstia que após
Tudo isso vem a verdadeira ventura,

Dizem eles mais: O mestre da razão
É o tempo e a maturidade o perdão
Traz consigo para que se cure a dor,

Mas há também o foda-se bem dito
Aos infelizes em todo conflito, atrito
Ou aflição o que é infinitamente melhor.

Francisco Libânio,
25/05/12, 11:49 PM

01 - 04-03-11 - O que era amor e eu quis por indiferença


O que era amor e eu quis por indiferença
Virou algo dúbio, um negócio indefinido
Restavam pontos do que eu queria elidido
Manchas de uma cor incômoda e intensa

Tentei lutar, procurei impor a desavença
Entre o que estava enredado e confundido,
Tantas coisas, tanto sentimento remoído
E envolvido por uma linha tão extensa

Quanto capaz de se enrolar em nós cegos
Que era difícil se desfazer dos apegos,
De tudo que não queria que fosse amor

E o que eu queria por indiferença não era,
Ficou esse monte de sentires, essa quimera
A me atormentar com questões onde eu for.

Francisco Libânio,
04/03/11, 10:12 PM

quinta-feira, 24 de maio de 2012

0132 - Soneto de meditação


Admiro de verdade quem faz ioga
E se joga de cabeça no exercício,
Quem faz diz ser verdadeiro vício
Como se fosse ela uma boa droga,

Não duvido e admiro quem se joga
Nessa onda que só traz benefício,
Mas para mim é um grande suplício
Esses movimentos sempre em voga

E eu, que nunca tive boa postura,
Endireitá-la é tarefa árdua e dura,
Fizesse ioga era direto ao hospital

Assim, meu método de relaxamento
É escrever malhando o pensamento
E deixar o corpo uma estátua de cal.

Francisco Libânio,
24/05/12, 12:53 PM

quarta-feira, 23 de maio de 2012

0130 - Soneto da cachoeira ladroeira 02


E aliviados, sopram-lhe obrigados secretos,
Mas sem a compostura diante dos eleitores
Perder. É preciso pose de bons inquisidores
Diante de acusada de negócios tão abjetos

Ou solta toda a verdade, dá nomes completos
E CPF de corrompidos e outros corruptores
Ou faremos, nós, arautos, sentires as dores
Da Lei, gritam-lhe com os dedos a ele eretos

A cachoeira abusa do direito de ficar calada,
Nada digo, nada direi, esta fonte está fechada
Enquanto os arautos insistem. Parece em vão,

Mas não é. A cachoeira cede aos arautos, pois.
Querem mesmo os nomes de todos os bois?
E eles, em uníssono, gritam sonoríssimos Não!

Francisco Libânio,
23/05/12, 2:23 PM

0129 - Soneto da cachoeira ladroeira


Apareceu como se fosse as Sete Quedas,
Garganta do Diabo que antes corrompera
Mil homens e em volta dela se aglomera
Outro milhar, arautos para dar às labaredas

Da retidão os que foram vendidos a moedas,
Cargos, favores e os caídos na cratera
Da cachoeira. A retidão reúne e delibera,
A cachoeira descriminará todas as azedas

Relações entre ela e seus corrompidos,
Mas até chamá-la, os arautos dão perdidos
E desculpas. Não mexa com os quietos

Vem a cachoeira. È silêncio o que era sonoro,
Os arautos, em público, ofendem-na em coro,
E aliviados, sopram-lhe obrigados secretos.

Francisco Libânio,
23/05/12, 1:07 PM

terça-feira, 22 de maio de 2012

0128 - Soneto para uma revelação sem noção


Não que o caso não exija atenção devida,
Moléstia sexual a qualquer tempo preocupa,
Assusta, enoja e indigna. O assunto ocupa
Com justa causa a cena. Prestação é pedida,

Mas se é a Xuxa quem chora de agredida
Sexualmente quando guria, vem uma lupa
Moral e lógica sobre ela e traz na garupa
Do depoimento a dúvida que não se elucida

Ela, molestada menina, foi a mesma atriz
Que num infeliz filme seduziu um petiz
Levando-o à cama tanto fez que o proibiu

Porque era a deusa, a rainha dos baixinhos?
É... A vida tem mesmo desses descaminhos
Ora rainha agora plebeia... Impressiona quem te viu!

Francisco Libânio,
27/05/12, 12:21 PM