Pode ser ou tá difícil?
Eu sempre me achei o rei da distração e o príncipe das gafes.
E quem me conhece sabe que só tenho essa cabeça porque ela está grudada ao
pescoço. Não fosse isso, eu a teria perdido em algum lugar desde 1995. Mas devo
admitir que perdi o trono ao saber da história de um amigo meu.
Assim como eu, ele também não é de festas ou baladas, mas
tanto fez um outro amigo dele que, tá bom, vai, vamos a essa festa que você
quer ir.
- Você vai curtir, tenho certeza. – o amigo o entusiasmava.
Não sei que festa era essa. Só sei que era num condomínio
aqui de Prudente. Coisa fina. Só os figurões. Quem promovia a festa era um
colega do amigo que chamou o meu amigo esquecido. Cardápio só com iguarias. As
conversas rodavam os mil, não raro milhões, de reais. Meu amigo distraído foi
apresentado para o dono da casa Feitos os rapapés, meu amigo contou que apesar
de todo ouro e prata da festa, ele se sentiu deslocado. Além de não gostar de
aglomerações (que, para meu amigo, são mais de três pessoas numa sala), o negócio
estava um grande pé no saco, com o perdão do meu francês. Meu amigo não
conhecia ninguém no recinto e o amigo dele tinha que fazer o cordial, o
profissional frente a uma turma com que, notava-se, ele não simpatizava.
Meu amigo deu uma volta, outra e mais outra. Comeu um
camarão, tomou um coquetel e depois bebericou um uísque. Vinha um puxar papo,
mas a conversa era um porre que só Jesus. Nada salvava na festa. O amigo bem
que tentava o enturmar, mas a conversa caía nas cifras e aí já viu. O anfitrião
vinha e perguntava qualquer coisa e ele dava aquela resposta padrão, sem querer
estender. Enfim, o negócio parecia nunca acabar.
Quando meu amigo chegou discretamente no amigo dele pra
dizer que já deu, o outro estava muito bem encaminhado com uma daquelas moças
em que Deus fez com toda a inspiração. Ou seja, se ele quisesse ir embora, que
arrumasse um táxi.
Fazer o quê? Ligue-se para um táxi e acaba logo com isso.
Quando estava no seu celular, meu amigo ouve seu nome sendo gritado de forma
eufórica. Ele não podia acreditar. Finalmente aparecera alguém que ele
conhecia. Era a Nandinha, que ele conhecia dos tempos de colegial e não via há
muitos anos. A noite começava a melhorar. E melhorava bastante. Os dois
colocaram a conversa em dia. E a coisa estava, realmente, melhorando. A moça,
que ainda tinha a beleza que deixava a molecada toda eriçada no colégio,
começava a dar um ponto descarado para meu amigo que, solteiro, não via por que
não corresponder. Assim, a coisa fluía bem e a moça que, diga-se, era receptiva,
mas não oferecida, curtia a corte que meu amigo fazia. Foi quando meu amigo
resolveu mandar a cartada decisiva:
- Poxa, Nanda, a conversa com você tá excelente. Você salvou
minha noite. Vim pra cá porque meu amigo insistiu pra caramba, mas você me conhece.
Nunca fui muito a fim de festa e essa grã-finagem toda, vou te contar, menos
ainda. Festa chata pra demais. Me arrependi de ter vindo. Vamos pra algum lugar
mais divertido, sem tanto smoking, sem essa coisa toda.
Nandinha agradeceu, mas recusou. Queria muito estender a
noite em algum outro lugar, mas não podia:
- Sou esposa do dono da casa.
Francisco Libânio,
08/01/13, 9:03 PM