quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

730 - Soneto luxuriante

Ela tá se fazendo de difícil...

Olha essa mulher de corpo perfeito,
Seios exatos e bunda a compasso!
Desconsidero chance de fracasso
E para ir com ela, vou e taco peito!

Difícil é ser bonzinho e ter respeito
Quando se liga esse lado devasso,
Pior é, com apetite, medir o passo
E manter a pose de homem direito.

Aí, mira-se os peitos e uma secada
Violenta. Ela fica lá de incomodada
Mas, pombas, ela precisa provocar?

Há ali uma porta aberta, um convite,
Uma mulher também cheia de apetite
Para o mal, isso se nota no olhar.

Francisco Libânio,
23/01/13, 7:48 PM

729 - Soneto aluxuriado

É só pensar numa dessas e um soneto qualquer vira putaria...

E eu que queria aqui um soneto,
Um simples soneto sem malícia,
Sem maldade usando só perícia
Em escrever. E me comprometo

A me quedar cá o máximo quieto,
Mas vem a má ideia com carícia
Sensual e me lambe com delícia
O peito e pronto! Já tô aqui ereto!

O soneto, que era pra ser inocente,
Vira algo a ir além do indecente
E deixar Bocage com vergonha!

Preciso parar, reestruturar a ideia,
Expulsar a luxuriosa onomatopeia
Gemente da minha mente risonha.

Francisco Libânio,
23/01/13, 12:19 PM

728 - Soneto luxurioso

Como segurar?

Ver uma mulher nua e ter ali inspiração
Contínua e maior para absoluta maldade,
E até mesmo uma vestimenta de abade
Leva o sujeito às raias da prevaricação.

Pobre cérebro sem uma outra distração
Que não seja putaria. Nada que o agrade
Em cultura, culinária ou outra trivialidade,
O negócio ali é só orgia sem moderação,

Mas se luxúria é pecado é o mais gostoso
E mais instintivo que se resulta em gozo
No corpo que com um ombro incandesce,

O que fazer? Culpa da mente que trabalha
Para o sexo e, ativa que é logo se espalha
Para baixo, para um pau que nunca desce.

Francisco Libânio,
23/01/13, 8:18 AM

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

727 - Soneto invejeiro

Preste atenção

Mas se o outro tem algo que é melhor?
A roupa mais cara, a casa mais bonita?
E se um quer numa obsessão irrestrita
O do outro sem hesitar em fazer o pior?

Inveja é um negócio mau e devorador.
Ela come a alma do sujeito e regurgita;
Volta a comer de novo e faz a marmita
Pra comer mais tarde com mais sabor.

E tal fome nunca passa. Olha o alheio,
Deseja pra si e nutre esse negócio feio
Da inveja, essa coisa triste e morfética.

Não se nega: O lindo jardim do vizinho
É mais viçoso, verdejante e cuidadinho,
Mas vê melhor e nota a grama sintética.

Francisco Libânio,
22/01/13, 7:46 PM

726 - Soneto invejado

Tu morreu de quê?

Aí, deu que em certo cemitério
O morto jazia recém sepultado
E novato em seu novo estado
Buscava assim algum refrigério

Social. E viu com cenho sério
Uma caveira deitada ao lado,
Jeito macambúzio e mareado
Como ruminasse impropério.

Puxou conversa, fez simpatia.
Ela, diplomática, só respondia.
Até que o recém vem e corteja:

Caveira, diz aí, morreu de quê?
Ela, seca pela pompa e comitê
Do outro, responde: De inveja!

Francisco Libânio,
22/01/13, 12:51 PM

725 - Soneto invejoso

Faz o seu!

Querer o que não se tem não é ruim,
Apenas instiga o cristão à boa luta,
Àquela traz alegria a quem desfruta
Aquilo que não se tinha e tem enfim,

Pior é quem não faz nem pensa assim,
Quer o que não tem e nada executa
Ou executa o mal. Belo filho da puta!
Achará no seu veneno o próprio fim!

O sabor da conquista árdua é doce,
Mas para isso é preciso que se coce.
Conquista se conquista, não se herda.

E quem não se coça nem se faz nada
Engole em seco a frasezinha manjada,
Já, e fatual que a inveja é uma merda.

Francisco Libânio,
22/01/13, 9:15 AM

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

724 - Soneto iroso

Não adianta fazer essa cara!

É o que dá guardar raiva no coração,
Sujeito vai acumulando, acumulando
E junta tudo lá até não sabe quando
E a bicha, com direito à hiperinflação,

E ela dobra de tamanho, de posição,
E aí via um troço feio de tão nefando,
E sozinha ataca como fosse bando
Explodindo com estrago bem malsão.

Aí a ira que o peito nutria por alguém
Virou contra o iroso. O outro tá bem
E nem soube que era um alvo de ira.

O iroso se recupera, pede cuidados
E com coração e alma já recuperados
Aprendeu: a raiva contra si conspira.

Francisco Libânio,
21/01/13, 7: 46 PM

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

723 - Soneto irado

Não deve ser tão ruim assim. Ou deve?

O que faz tudo bem mais engraçado
É que irado pode ser algo bem legal
Numa gíria usada, corriqueira e jovial
E nem faz lembrar que é um estado

De absoluta raiva, negócio celerado,
Passível sem culpa de qualquer mal,
E com o coração em ódio sem igual
Tanto que dizem ser a ira um pecado.

Mas e daí? Pra qualquer adolescente,
Chama de irado! Fica lá de contente
E quer fazer pra ser mais irado ainda!

Se é pecado, não sei. Mas é negativo
Ter ira, odiar a fundo e assim incisivo.
Para o moleque, isso muito o brinda.

Francisco Libânio,
18/01/13, 7:19 PM

722 - Soneto que ira

Perco a paciência!

Sentar e escrever algum soneto
E não me vem a tal da inspiração!
Fácil? Soneto é só uma distração?
Ouço isso e a porrada logo meto!

Eu sou de paz, mas num secreto
Espaço da minha boa imaginação
Palavras caem dentro do alçapão
E são devoradas pelo mais abjeto

Monstro que crio, vezes, esqueço.
Esquecer dele tem um duro preço
E quando escrevo é que ele cobra.

Escrevo, não vem nada e aí tento,
Fico puto com isso. Pior momento.
A ira se desconta na minha obra.

Francisco Libânio,
18/01/13, 12:35 PM

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

721 - Soneto pré-guiçoso

E mais dez... E mais dez... Oh, wait!

Quando depois de todo o trabalho
E todo o ardor do rústico dia-a-dia
Não é a preguiça errada a que guia,
E, sim, um puta cansaço do caralho!

E eu cairia duro, inerte no assoalho
Se um resto de força que aqui havia
Não levasse à cama. Essa calmaria
Me cura do que foi um duro malho.

É de manhã e o sistema recomeça,
Mas vem a preguiça. E agora dessa?
Me deixa aqui mais dez minutinhos.

Mas a vida não nos dá essa sopa.
Dane-se que a preguiça nos dopa,
Entra agora em todos os alinhos.

Francisco Libânio,
17/01/13, 12:55 PM

720 - Soneto preguicinha

Já já passa...

Tudo bem, eu sei, preguiça é pecado.
Mas ninguém sabe como ela é forte,
E tudo que ela faz para que eu aborte
Tudo em meu dia já estava planejado

Eu sei que ceder a ela é muito errado,
Que a disposição deve ser meu norte,
Mas deixa estar. Tendo alguma sorte,
Ela se pica de mim e fico restaurado.

Aí, faço tudo o que eu tiver que fazer
E até algo mais exalando puro prazer
Em estar vivo, ágil, lépido e fagueiro!

Preguiça é pecado, eu sei e acredito,
Tanto ela não me pega. Muito a evito,
E quando pega, o efeito é passageiro.

Francisco Libânio,
16/01/13, 12:13 PM

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

719 - Soneto preguiçoso

Plof!

Que não seja culpada essa preguiça
Pelos maiores erros da minha vida.
Sei que ela está aqui de intrometida,
E que, a minha disposição, enguiça,

Mas numa manhã assim abafadiça
Como viver a vida cruel e corrida?
Como dar aquela grande enrijecida
E partir todo valente à minha liça?

Não sei... Se eu, nem pra sonetear,
To achando disposição nem ar
Como fazer o que peça rapidez?

Quer saber? Preguiça, sai da frente!
Deixa eu dormir mais livremente
Que eu levanto quando for a vez.

Francisco Libânio,
15/01/13, 12:22 PM

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

718 - Soneto sob-erbo

Melhore suas ideias e diminua sua voz.

E o cara que, se achando o fodão,
Se coloca acima, exige a liderança,
Outorga-a a si e comanda a dança
E nem saber direito pisar no chão?

Esse quer liderar só pelo galardão,
Pelo título ou pela vaga lembrança
De ser líder, mas lá é só lambança.
Pode até saber, mas cadê aptidão?

E aí o soberbo que diz que manja
Cai do cavalo, desmancha a franja
E vira outro sabido de meia-tigela.

Saber é virtude e se jactanciar, erro.
Liderar é competência e ir no berro
Para a hegemonia é bem perdê-la.

Francisco Libânio,
14/01/13, 12:09 PM

domingo, 13 de janeiro de 2013

717 - Soneto assoberbado

Ei, você é grande, mas não é dois! Se liga!

Porque não basta se achar certo.
Tem que estar certo e, de quebra,
Mostrar o erro alheio ou se febra
Se não tripudiar com o dito acerto.

O soberbo, a quem estiver perto,
Convoca e sozinho auto-celebra
Seu saber. Pode até dar zebra,
Basta que não seja descoberto.

O soberbo é um cara que sabe,
E sabe mesmo que se gabe
Do saber, seu invencível mal.

E pior veneno, mais impactante
É humilhar de saber o ignorante
Só para que se sinta o maioral.

Francisco Libânio,
13/01/13, 4:26 PM

716 - Soneto soberbo

Fala demais e não diz nada.

Ouça a bela parábola do mar,
Que, ficando abaixo dos rios,
Se mostra humilde e ter brios
Mais de aprender que ensinar.

E essa humildade vive a faltar
Nos tipos que, de tão doentios,
Veem nobreza em seus vazios
Corações. Soberba de matar.

E quem assim se acha demais,
Não tem nada nesses cabedais
Que eles dizem ser abarrotados.

Saiba: Carroça cheia não geme,
Já o barco vazio tem por leme
Os ventos mais desorientados.

Francisco Libânio,
13/01/13, 1:23 PM

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

715 - Soneto avário

Figura meramente ilustrativa

Mas não há pior, mais feia sordidez
Que a maquiavélica maldade vestida
De boa-ação com a bondade fingida
Acobertando a mais pura desfaçatez.

Modalidade diferente, com cupidez,
Tal avareza nem mais é repreendida,
De tão comum no dia-a-dia, na vida
Que o pulha a se fazer santo da vez

Vira santo mesmo. Sua má intenção
É eclipsada pela crescente adoração
E quem sofre o mal ainda agradece.

Este avaro paga o mal com dito bem,
Não é pecado se beneficia alguém,
E ainda ganha do ferrado uma prece.

Francisco Libânio,
11/01/13, 1:11 PM

714 - Soneto avaro

Se roubei ou ganhei... Importa o quê?

O que não se dá não pode ser posse,
O que se toma é roubo ou conquista,
É questão somente de ponto de vista
Seria um mesmo que outro não fosse.

Basta que eu ou outro assim endosse.
Se é roubo, vira bandido, anarquista.
Se “conquistado”, admira-se o “artista”
E exalta com o palavrório mais doce

Quem rouba, quem conquista, divide?
Nem pensar. Evita-se, assim, inútil lide
O dono é dono, seja até por trapaça.

A fama do conquistador é sua glória
É exemplo. O avaro diz sua trajetória
E nela a desonestidade vira fumaça.

Francisco Libânio,
10/01/13, 12:32 PM

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

713 - Soneto avarento

Tira o zóio!

Que a mão não abra nem pro bom dia,
E o mais simples pedido seja negado.
Amor ao próximo é engodo do pesado
E não dá camisa, ao contrário, só vicia

Que o nosso não seja a palavra guia
A pedidos alheios e o sim seja dado
Às retóricas negativas. Ver acabado?
Sim. Acabe-se e me dê essa alegria!

O meu é meu e o seu, se você piscar,
Será meu também. No primeiro lugar
Venho eu. Não importa como e quem.

Do meu nada terá, do seu quero tudo.
Bondade só s desculpa ou se escudo,
Apenas visando mal é que farei o bem.

Francisco Libânio,
09/01/13, 1:05 PM

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Caso de Festa

Pode ser ou tá difícil?

Eu sempre me achei o rei da distração e o príncipe das gafes. E quem me conhece sabe que só tenho essa cabeça porque ela está grudada ao pescoço. Não fosse isso, eu a teria perdido em algum lugar desde 1995. Mas devo admitir que perdi o trono ao saber da história de um amigo meu.
Assim como eu, ele também não é de festas ou baladas, mas tanto fez um outro amigo dele que, tá bom, vai, vamos a essa festa que você quer ir.
- Você vai curtir, tenho certeza. – o amigo o entusiasmava.
Não sei que festa era essa. Só sei que era num condomínio aqui de Prudente. Coisa fina. Só os figurões. Quem promovia a festa era um colega do amigo que chamou o meu amigo esquecido. Cardápio só com iguarias. As conversas rodavam os mil, não raro milhões, de reais. Meu amigo distraído foi apresentado para o dono da casa Feitos os rapapés, meu amigo contou que apesar de todo ouro e prata da festa, ele se sentiu deslocado. Além de não gostar de aglomerações (que, para meu amigo, são mais de três pessoas numa sala), o negócio estava um grande pé no saco, com o perdão do meu francês. Meu amigo não conhecia ninguém no recinto e o amigo dele tinha que fazer o cordial, o profissional frente a uma turma com que, notava-se, ele não simpatizava.
Meu amigo deu uma volta, outra e mais outra. Comeu um camarão, tomou um coquetel e depois bebericou um uísque. Vinha um puxar papo, mas a conversa era um porre que só Jesus. Nada salvava na festa. O amigo bem que tentava o enturmar, mas a conversa caía nas cifras e aí já viu. O anfitrião vinha e perguntava qualquer coisa e ele dava aquela resposta padrão, sem querer estender. Enfim, o negócio parecia nunca acabar.
Quando meu amigo chegou discretamente no amigo dele pra dizer que já deu, o outro estava muito bem encaminhado com uma daquelas moças em que Deus fez com toda a inspiração. Ou seja, se ele quisesse ir embora, que arrumasse um táxi.
Fazer o quê? Ligue-se para um táxi e acaba logo com isso. Quando estava no seu celular, meu amigo ouve seu nome sendo gritado de forma eufórica. Ele não podia acreditar. Finalmente aparecera alguém que ele conhecia. Era a Nandinha, que ele conhecia dos tempos de colegial e não via há muitos anos. A noite começava a melhorar. E melhorava bastante. Os dois colocaram a conversa em dia. E a coisa estava, realmente, melhorando. A moça, que ainda tinha a beleza que deixava a molecada toda eriçada no colégio, começava a dar um ponto descarado para meu amigo que, solteiro, não via por que não corresponder. Assim, a coisa fluía bem e a moça que, diga-se, era receptiva, mas não oferecida, curtia a corte que meu amigo fazia. Foi quando meu amigo resolveu mandar a cartada decisiva:
- Poxa, Nanda, a conversa com você tá excelente. Você salvou minha noite. Vim pra cá porque meu amigo insistiu pra caramba, mas você me conhece. Nunca fui muito a fim de festa e essa grã-finagem toda, vou te contar, menos ainda. Festa chata pra demais. Me arrependi de ter vindo. Vamos pra algum lugar mais divertido, sem tanto smoking, sem essa coisa toda.
Nandinha agradeceu, mas recusou. Queria muito estender a noite em algum outro lugar, mas não podia:
- Sou esposa do dono da casa.

Francisco Libânio,
08/01/13, 9:03 PM

712 - Soneto guloseimeiro

Essa ninguém resiste!

Ok, de refeições de prato farto
A gula se compõe, mas controla,
Se recompõe e logo se empola
E, quanto a elas, dela me aparto,

Mas tira os pratos e aí eu enfarto!
Vem os doces e isso me assola!
A gula, que era menos que marola,
Vira tsunami. Não consigo! Parto

Voraz aos cajuzinhos e brigadeiros;
Pavês, bolos, como-os inteiros!
A mesa não dá nem pro começo!

O mal da gula é esse, o alimentar,
O necessário, até dá pra segurar,
No açúcar que está seu sucesso.

Francisco Libânio,
08/01/13, 8:14 PM

711 - Soneto gulosador

de pouquinho não dá nada...

Porque se gula é pecado capital,
Nada a obstar o oportuno belisco,
Da tempestade bebo o chuvisco,
Não há erro numa pinçada frugal.

Assim, a conferida providencial
É livre. Vou lá, rapidinho, e trisco
Um bolinho, uma fatia, um petisco...
Pouquinho para ser convencional,

Mas aí a consciência, já na décima
Tascada, olha feio e aí na trigésima
Pergunta “Pensando que sou idiota?”

Mas é uma mordida, poxa, me libera!
Liberaria, diz, não fosse a paquera
Insistente que te extrapola toda cota!

Francisco Libânio,
08/01/12, 7:30 PM

710 - Soneto guloso

Vem que eu traço!

Hoje, o que tem? Leitão, picanha,
Frango assado, muita batata frita,
Muita caloria com gordura irrestrita
Para satisfazer a inquietável sanha

De comer. De entrada, a lasanha,
Pratos principais a lista acima dita
E ainda pode fazer bela marmita
Para comer mais tarde, na manha.

A mesa farta e o banquete variado
São deleite e talvez sejam pecado,
Mas vai resistir? Vai deixar passar?

Se tem picanha e leitão, dessa parte,
Sinto muito. Não haverá o descarte
Em nome de fé. Venha e vou traçar.

Francisco Libânio,
08/013, 12:44 PM

domingo, 6 de janeiro de 2013

709 - Soneto de reis

Estrela? Presentes? Que história é essa? Nunca vi vocês antes! Saiam daqui ou chamo a Polícia!

Coisa estranha é esse seis de janeiro,
Dia de Reis. É o tchau pra decoração
Natalina. Fim da volta de apresentação
Do ano novo. Acaba o tempo festeiro,

Mas antes, o dia parecia mais fagueiro,
Mais alegre. A turma tocando violão,
A folia de reis? Cadê? Cadê tradição?
Adiou tudo pra quando vir fevereiro?

Estranho... Ouço os velhos sobre o dia,
Parecia algo mais cheio de alegria
E hoje não tem uma violinha sequer.

Mas pensa. Se fossem à manjedoura,
Para os reis sobraria uma vassoura,
Estranho em casa hoje ninguém quer.

Francisco Libânio,
06/01/12, 8:23 PM

sábado, 5 de janeiro de 2013

708 - Soneto do primeiro sábado do ano

Se, pelo menos, tivesse praia...

Primeiro sábado do ano, legal!
Mas todo Janeiro em Prudente
É bem vazio. Negócio ausente,
E fica aquele tédio bem trivial...

Ao poeta, que não faz quintal
Da noite, esse sábado quente
Propicia um sonetinho inocente
Nada majestoso, nada maioral

Mas que faz com que corra
O tempo. Inspiração não jorra
E ao sono não quero ceder.

Pena... A noite não é das piores,
Mas melhorava com as cores
E os beijos de uma bela mulher.

Francisco Libânio,
05/01/13, 10:26 PM

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

707 - Soneto acostumado

Ah, os cartões de boas entradas que me mandam em Janeiro...

E a semana entra por entre o ano
Novo sem ter qualquer cerimônia
Azar que a entrada traga insônia
Preocupação, nervoso ou dano.

Ano veio com festa, fogo, ufano,
E passado tudo, na parcimônia,
Os males diários fazem colônia
Aqui e ali e eclodem mais tirano

Que o outro. Janeiro preocupa,
É nossa grana indo pela garupa
Dos Is que batem à nossa porta.

Todo ano é assim, então planeje.
Deixe que o ano novo mal viceje
E o receba com uma bela torta.

Francisco Libânio,
04/01/12, 10:55 PM

706 - Soneto repensativo

De uma entortada no sinal. Sempre.

O maior mal que tem é a Certeza
A Dúvida o pior monstro a bater,
Com a segunda prestes a nascer,
A primeira vê a sua grandeza

Ameaçada e ruge com brabeza
Pondo-se como fosse defender
A outra, mas quer fazê-la parecer
Má. A Dúvida louva a gentileza.

A Certeza crê que isso a fortalece,
Mas de algo sério ela se esquece
Quanto mais forte fica, mais aberta

À Dúvida e daí à queda, é passo!
Por isso reflito tudo o que faço
Sem com a dúvida e a coisa certa.

Francisco Libânio,
04/01/12, 12:17 PM

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

705 - Soneto admoestado

Só se jogar não adianta nada.

É claro que o ano que chega
Traz oportunidade a cada dia,
Nunca, jamais que eu negaria.
A esperança jamais se nega.

Errado está o que se apega
À Esperança duma forma fria,
Joga-se a ela com tal alegria
E acha que ela, alegre, carrega

Para o mais absoluto sucesso
E quando acorda vê o avesso
Culpando tudo pela má sorte.

Este soneto espera, mas sabe
A Esperança mui melhor cabe
Quando o empenho se põe forte.

Francisco Libânio,
03/01/12, 10:31 PM

704 - Soneto resolutivo

Será que dá pra fazer tudo num ano só?

E nesses primeiros dias do ano
A quantas andam as resoluções,
Suas mudanças, suas decisões
Feitas com aquele ar soberano?

Se sente melhor de todo dano?
Vieram as primeiras variações?
Ou frente algumas imprecações
A ideia entrou logo pelo cano?

Eu sei que mudar é imperativo,
Mas que tal impor o gradativo
E paulatino ao que é repentino?

Assim, proponha já a resolução
E dia a dia cumpra sua missão,
Veja-se mudado no dia natalino.

Francisco Libânio,
03/01/01, 12:33 PM

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

703 - Soneto normal

E a vida recomeça...

Quando se volta à normalidade
Após festejos e cumprimentos,
Após votos e todos os alentos,
E após intenções de bondade

É que se topa com a realidade,
Com a rudeza, maus momentos,
E podridão pelos quatro ventos,
Como será ser bom de verdade?

Ano novo começa exato e igual
A todos, mesmos vício e mal,
O feriado foi pura propaganda.

Então o melhor é seguir a vida
Em paz na toada louca e corrida,
Afinal, pra frente é que se anda.

Francisco Libânio,
02/01/13, 12:37 PM

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

702 - Soneto pós-ceia

Azar é não saborear um desses.

Peru cisca pra trás, dá azar,
Porco não. Chafurda na lama.
Tem aí um bicho que chama
Sorte para eu me banquetear?

O almoço é sobra do jantar,
Da mesa posta e da gama,
E o ano que cá se derrama,
Sobre ele, faço conjeturar.

Pensando bem, é bobagem...
Só ter a ceia já foi vantagem
Nem vale essa boba palestra.

Ademais se é azar ou sorte...
Os bichos não veriam a morte
Nem haveria a refeição extra.

Francisco Libânio,
01/01/13, 5:49 PM

701 - Soneto de cor da cueca

Se fosse verdade não haveria tanta discórdia no Palmeiras

A cor branca significa paz
E a cor amarela, dinheiro;
Rosa, dizem, amor certeiro.
É o que a cromologia traz,

No ano que fico para trás,
O colorido faz verdadeiro
O que se crê e, por inteiro,
O sujeito numa cor se faz

E usa feliz a cueca nova.
A crença ou se comprova
Ou fica como o passado.

Um ou outro, está distinto
E folgazão dentro o pinto
Do canto que lhe foi dado.

Francisco Libânio,
01/01/13, 9:55 AM