segunda-feira, 31 de março de 2014

1578 - Soneto do pinguim

Partiu ganhar o mundo.

O pinguim, no extremo sul do planeta,
Frio extremo queria um novo horizonte,
Aventuras, uma história que se conte
E não só essa vidinha parada e careta

Da Antártida. Então deu na sua veneta
De nadar, cruzar o mundo, ser a ponte
Entre seu polo e quem estiver defronte
A ele. Conhecer novo mundo era a meta

Do pinguim. E decidiu fazer um corte
Longitudinal, bater lá no extremo norte,
De um polo a outro. Que bela aventura!

Chegou e encontrou o quê? Mesmo frio,
Mesma neve e cansou. Preferiu o fastio
Em terra nova que enfrentar a volta dura.

Francisco Libânio,
29/03/14, 1:25 PM

1577 - Soneto do avestruz

Essa câmera parece gostosa, dá um pedaço?

O avestruz não perdoava nada,
Seu menu era eclético. Ia tudo;
Desde o mais prosaico canudo
Até uma peça mais requintada.

Dor de estômago era revisitada,
Algo sempre lhe doía mais agudo,
Mas o médico indicou, contudo.
A dieta assim, mais balanceada.

O avestruz, guloso, mas prudente,
Resolveu se comer decentemente
Para dar ao estômago descanso.

Seguindo ao pé da letra deu ruim.
O avestruz encontrou o triste fim
Ao balancear rango com balanço.

Francisco Libânio,
29/03/14, 8:49 AM

domingo, 30 de março de 2014

1576 - Soneto do carcaju

Eu sei que você é o Wolverine. Eu também sou, agora sossega!

Carcaju, ou seu apelido, glutão,
Pequeno bicho feio como fera.
De boa paz, não se destempera
Se tiver briga com um grandão.

O tamanho não dá a impressão,
Mas abuso o carcaju não tolera
E pisou no calo, a raiva austera
Faz desse nanico bom brigão.

Então, ele caça e vive tranquilo
Esbanjando sua marra e estilo
Fazendo que perfeito combine

Graça com o toque de brabeza,
Por isso, o seu xará tanto preza
No gibi o nome inglês, Wolverine.

Francisco Libânio,
28/03/14, 1:17 PM

1575 - Soneto da águia

Você acha que eu vou quebrar meu bico, seu trouxa?

A águia, que em alguns lugares,
Simbolizava absoluta liberdade
Era livre, sim e isso é verdade,
Ela que voava rainha pelos ares,

Num céu onde só seus pares
Igualavam. E sem ter a vaidade
Em sê-la. Só uma leviandade
Deixava a águia com pesares:

Ouvir que em dado momento
Da vida, ela tinha o sofrimento
De quebrar bico, arrancar penas...

Oras, a águia era o livre, o poder,
Nada de se mutilar pra não sofrer,
Bastava ser uma águia, apenas.

Francisco Libânio,
26/03/14, 12:56 PM

sábado, 29 de março de 2014

Poema de fuga 14

Meu Deus manda amar o próximo, por isso tô te matando!

Deus fez os homens
E eles fizeram um deus
E outro
E outro
E outros
E os homens, irritados,
Lutaram, entraram em guerra
Defendendo princípios seus,
Queimando deuses e ateus
E se esqueceram
Ou lembraram tarde demais
Que homens e deuses
São criações de Deus.

Francisco Libânio,
02/01/14, 8:26 PM

1574 - Soneto da morsa

Qualé, vai encarar?

Se a foca era fofa, ao contrário,
A morsa era mais feia que o cão.
Balofa, dentuça, tipo monstrão
De filme. E, fora do mostruário

De belezas animais, Um calvário?
Ela tinha lá rusga com a situação,
Mas se beleza não era a atração,
Certa forma, seu aporte dentário

E seu tamanho evitavam gracinha.
Vá se meter com ela numa rinha
Mas vá por própria conta e risco.

A morsa era feia e boa de briga.
Se jogava pra cima com barriga
E dar porrada não exige visco.

Francisco Libânio,
26/03/14, 8:01 AM

1573 - Soneto da foca

Passa a bola, fominha!

A foca, tão cheia de fofura,
Encantava olhares de filhote,
Quebrava qualquer boicote
Com o jeito cheio de doçura.

Aí até o mais durão a atura,
Mas a foca tinha outro bote,
Infalível, que, de camarote,
Ela fazia abalar a estrutura.

Primeiro o olhar doce e terno,
Fofo e então o nada moderno
Recurso que aprendeu petiz

E agora dominava de mestra.
Era sua fofura máxima e extra
Equilibrar uma bola no nariz.

Francisco Libânio,
25/03/14, 8:44 PM

quarta-feira, 26 de março de 2014

1572 - Soneto do urso polar

Não sei vocês, mas eu tô enjoado de peixe. Traz umas frutas.

O urso polar ouvia da refeição
Dos primos, frutos, carne, mel...
Variedade e escolhas a granel,
Cada dia rendia uma variação.

E ele ali no frio tendo de opção
À foca um peixe em seu farnel,
Morsa, às vezes. Era um painel
Diverso que tinha sua aceitação.

É a natureza, eu vou fazer o quê?
Perguntava o urso. O que se vê
É que, mesmo monótona, a dieta

Bem o nutria. Para azar da presa,
Que ofereceria a mais farta mesa
Para que o urso a deixasse quieta.

Francisco Libânio,
25/03/14, 12:08 PM

1571 - Soneto do urso

Vem aqui, eu só quero te dar um abraço!

Um urso assistia ao desenho
Do Zé Colmeia, do Puff e, ora,
Ursos fofos, carinha sedutora,
Malandro, bom nesse engenho

De conquistar com bom cenho.
E foi testar seu charme na hora
Ao ser visto, visão assustadora,
Todos correram e, no empenho

De ser simpático foi atrás. Horror!
Urso faminto, um certeiro predador
Atrás de uma família. O pesadelo!

Fome não era seu mal, e, isso sim,
A rejeição. No desenho não é assim.
Fantasia é mesmo mundo paralelo.

Francisco Libânio,
24/03/14, 8:29 PM

terça-feira, 25 de março de 2014

1570 - Soneto do puma

Tão me passando pra trás.

O puma via seu nome em carro,
Em tênis e achava a sacanagem
Usarem e abusarem da imagem
Sem vir uma moeda no seu jarro.

E quem o via ainda tirava sarro,
Andei em você e pus bagagem
Atrás. Te pus no pé. A trollagem
Era tanta e tanto era o esparro

Que o puma pôs os advogados
Pra livrar, ao menos, uns trocados
De quem o dirige e quem o calça.

Ganhou deles o muito obrigado,
Mas seguiu mais falido e falado
Pela bicharada mais mala sem alça.

Francisco Libânio,
24/03/14, 12:09 PM

1569 - Soneto do lince

Alá a moça tirando a roupa, ali a dois quilômetros.

O lince e seu olhar privilegiado...
Via aquilo que bicho algum via.
Caçava com sucesso e mestria
Que até ele ficava impressionado.

Deixava o lobo todo enrolado,
O coiote, bobeasse, não comia,
A presa tentava e não escondia.
O lince achava fácil o coitado.

Perguntaram pra ele o segredo.
O lince o revelava sem ter medo:
Cenoura, muita cenoura no café.

Cenoura? Por quê? Queriam saber.
Oras, coelho a come até se encher
E cego é coisa que coelho não é.

Francisco Libânio,
24/03/14, 8:10 AM

segunda-feira, 24 de março de 2014

1568 - Soneto da marta

Sou linda, mas não sou pro seu bico.

A marta com essa pele que, olha!
Causava tanto furor e tanta inveja
Que todo bicho ou pessoa almeja
Um casaco dela, mas na encolha,

Sem dar trela ou deixar ir na bolha
Tal desejo para deixar que se veja.
A marta, cuja pele encanta e viceja
Sempre parecendo nova em folha,

Sabia que no vacilo virava casaco,
Papeava sem dar para puxa-saco
A confiança que sempre se queria.

Pois uma bobeira e ficava pelada,
Ela que nem era pela pele afetada,
Mas que era alvo de safado, sabia.

Francisco Libânio,
23/03/14, 7:27 PM

1567 - Soneto do castor

Não adianta, não vou projetar a sua mansão.

O castor, um baita engenheiro,
Especialista em diques nos rios
Recebia pedidos ou desvarios
Desenhar quarto, prédio inteiro,

Um hotel. E ofereciam dinheiro
Graúdo, pra não deixar vazios
Nenhuns bolsos. Eram doentios,
Mas não era o lado financeiro

Que o fazia abraçar uma obra,
Coisa boa, bonita não se cobra,
O castor sabia muito bem disso.

Não queria deixar pra lá o dique,
Só não queria, com coisa chique,
Criar ou assumir compromisso.

Francisco Libânio,
23/03/14, 9:35 AM

domingo, 23 de março de 2014

1566 - Soneto do lemingue

Adeus, mundo cruel nada! Hoje a gente vence esse rio!

Sobre os lemingues se imagina
Que eles cometam um suicídio
Coletivo que, quase genocídio,
Uma imensidade se extermina.

E pior: Isso é o que se ensina.
Só que pior ainda é o subsídio
Deles ao mar. Morre o dissídio
Entre fato e mito, que se assina.

Não é nada disso. Tá é louco?
Diz o lemingue, que fala pouco,
Mas da lorota bem se defende.

Como um lemingue não nada,
E precisamos migrar, a cada
Riozinho a lemingada se rende.

Francisco Libânio,
22/03/14, 9:52 AM

1565 - Soneto do esquilo

é chato ser gostoso, mas...  Eu sou!

O esquilo era tido como fofo
Por onde passasse. Onde ia,
Uma menina de longe já o via
E dizia para dar certo estofo

A sua vaidade. E até balofo,
Achavam-no lindo, simpatia
Que enciumava quem queria
Alguns mimos. No cafofo

Na árvore, monte de castanha
Que ele, por ser fofo, ganha
E guarda. Fome ele não passa.

É a vantagem de ser bonitinho,
Inveja? Deixa! Para o daninho
Uma castanha por pura graça.

Francisco Libânio,
21/03/14, 4:21 PM

1564 - Soneto da marmota

Sério que vão continuar com essa zoeira? Então vou comer.

A marmota com os outros sofria,
O nome de esquilo desenvolvido
Era pela marmota sempre ouvido
Isso no verão, já que ela dormia

Ferrada no inverno. Dia após dia,
Até acordar sem nada ter comido.
Aí a rotina era pôr o corpo nutrido,
Ir pra gordice na mais pura alegria.

E a pastagem de verão, banquete
De desjejum, contra ele acomete
A marmota e nada, então, a abala.

Fale-se o que quiser, é esquilão,
O sono foi bom, mas a refeição
Está melhor que ouvir o fala-fala.

Francisco Libânio,
21/03/14, 12:29 PM

1563 - Soneto da raposa

É... estão verdes mesmo.

A raposa, esperta e fagueira,
Sabia sair de uma enrascada
Como sabia arrumar roubada
Tirando ponto com a bobeira

Alheia. E vivia assim matreira,
O que emputecia a bicharada
Pata com essa bem articulada
Vivaldina. Mas a brincadeira

Das uvas, qual contou Esopo,
Tinha como principal escopo
Devolver todas as artimanhas

Da raposa. Deram a fazer cair
Do pé as uvas e vê-la cuspir
O sabor e todas suas manhas.

Francisco Libânio,
20/03/14, 4: 37 PM

sexta-feira, 21 de março de 2014

Um inimigo do povo

Sim, é baseada em fatos reais.

Lembro como se fosse hoje. O jogo entre o meu time contra o da minha pequena cidade era anunciado há tempos. Desde quando o time da cidade subiu para a Primeira Divisão já se esperava pelo enfrentamento com os grandes do Estado. Quando a tabela marcou o jogo entre o time daqui contra o meu time, a cidade se fez em polvorosa e eu muito mais. Seria a primeira vez que assistiria ao meu time no estádio. Nada de maracanãs ou pacaembus. O jogo seria no acanhadíssimo campo da cidade, aquele que acomodava quinze mil almas sem padrão FIFA, sem estofamentos. Bunda no concreto e que seja feliz. Para mim, o sacrifício em ver meu time ao vivo valeria a pena.
Chegando o dia do jogo, a cidade se empolgava como se empolgava um amigo meu. Empolgação que virou surpresa e reprovação:
- Não acredito que você vai torcer para os homens! E amor pelo seu chão, onde fica?
- Não fica. E nem vem que eu sei que você não torce para o time daqui, mas pra outro. Deixa de ser hipócrita! – respondi. Não aguentava encheção e bairrismo de quinta.
- Mas é o time da nossa cidade, caramba! Temos que mostrar apoio, principalmente quando é contra time graúdo. Não dá pra virar a casaca nem por noventa minutos?
Falava isso porque contra o seu time o da nossa cidade teria que viajar para a Capital. Ou seu discurso seria outro, tenho certeza. De qualquer forma, marcamos irmos juntos ao estádio.
No fatídico dia, passei na casa do meu amigo e fomos. Em mais uma tentativa de me fazer culpado, confrontou as cores do time do nosso rincão frente à camisa que eu usava.
- Não mudou de ideia mesmo, hein? Vai ser piada durante um ano se seu time perder.
Se meu time perder. A condicional mudava toda a história. A situação do time local na tabela não era desesperadora, mas era franco o favoritismo do meu time. Também não iria fazer troça caso meu time ganhasse. Uma porque soava obrigação. Outra porque eu não era louco. Chegamos ao estádio e, fora a gozação de um e outro conhecido, minha camiseta de cores forasteiras não provocou nenhum grande problema. Quanto a isso e diferente do que se vê sempre na TV, as torcidas se comportaram exemplarmente. Mesmo os torcedores que pegaram estrada pra ver o meu time não ofereceram problemas.
Começa o jogo sob uma chuva de aplausos. Certa forma, o sonho de uma pequena cidade se realizava naquele momento. Para a minha surpresa, o time da nossa cidade sai pra cima sem medo de uma goleada. 
Meu time assimila bem os ataques e também leva perigo aos meus conterrâneos. Meu time pressiona enquanto o time da nossa cidade segura a onda, ataca pouco, mas quando o faz é incisivo. Tão incisivo que – surpresa! – meus conterrâneos abrem o placar numa cochilada da defesa do meu time. O estádio vibra em hurras. Meu amigo se diverte às minhas custas.
- Deixa estar. Foi infelicidade. – respondo entre os dentes. Estou calmo, mas maculado.
O jogo fica complicado. A vantagem enche de brios o time da minha cidade que, se fez um, pode fazer outro e luta por isso. Meu time, ao contrário, parece ter sentido o golpe. A tranquilidade acaba junto com o primeiro tempo em um a zero. Quem passa por mim tira uma casquinha. Digo que o segundo tempo será diferente.
E começa me dando certa razão. Meu time, já no primeiro ataque, vem violento para a meta local e empata. O estádio vem abaixo. Eu me contenho. Não vou comemorar. Não ali nem àquela hora. Penso que o jogo ficará naquilo. Imagino que meu time não vá querer sapear uma goleada histórica agora que, aparentemente, tem o controle da situação nem o time da cidade vá ser camicase ao procurar outro gol. Ledo engano! O time da casa retoma a bola e chuta duas bolas à queima-roupa contra a minha meta. Goleiro fez milagres. Numa terceira oportunidade, o atacante da casa não perdoa. Faz o segundo gol e corre para os braços da torcida. Está tudo bem agora? Aparentemente. Meu time parece tão surpreso com o revés que não agride mais. Procura se restabelecer, mas são cerca de quinze mil jogadores – menos a torcida visitante e eu – extras a empurrar e desfraldar as cores da cidade. A empolgação das arquibancadas contagia os jogadores da casa. Outro ataque fulminante. Outro gol. Quando vejo que a coisa não pode ser pior, um zagueiro do meu time faz um pênalti inútil. Quatro a um para o time do meu chão. E antes que o juiz trile o apito final, vem o gol da humilhação. Cinco a um. Festa em minha cidade. Meu amigo não sai do meu pé. A cidade não sai do meu pé. A previsão do meu amigo se cumpre. Um ano de gozação. Situação insuportável. Foi um jogo, eu sei, mas foi um dia histórico. Quase uma vitória do oprimido contra o opressor além da manjada vitória de Davi frente a Golias. Voltei pra casa com cinco boladas na cabeça quando a cidade voltava em júbilo.
Em casa, as entrevistas dos jogadores do meu time dizendo que “hoje foi o dia deles” não serviram pra me animar nem perdoá-los. Deles quem, cara-pálida? Meu não foi como não foi o resto da semana. Naquele ano, meu time foi campeão e, ao contrário do que até a torcida acreditava, o time da minha cidade não caiu pra Segunda Divisão. Outros jogos aconteceram entre os dois times no mesmo acanhadíssimo estádio e, claro, o raio não caiu duas vezes no mesmo lugar. De qualquer forma, eu que ainda moro na pequena cidade, sempre que meu time vem pra cá, um dia antes eu viajo e vejo o jogo pela TV.

Francisco Libânio,
28/02/14, 5:34 PM

1562 - Soneto do coiote

Tá se achando o Papa-Léguas? Cai dentro então!

O coiote visto como aquele
Que se ferrava no desenho,
Apesar da arte e do engenho,
O bicho sentia o mal na pele.

Mas mesmo a má fama dele
Nada o dava. Franzia o cenho,
Mas lá reconhecia o empenho
Do seu irmão. Que se tagarele,

Que riam do coiote azarado,
Tudo ali tinha em demasiado
A fantasia, pois que invente

Aos coiotes tanta má fortuna
E se acha lá verdade oportuna
Que um coiote real se enfrente.

Francisco Libânio,
20/03/14, 1:11 PM

1561 - Soneto do lobo

Só observando vocês se matarem e eu ser o vilão.

O lobo, já cansado de ser vilão,
Lobo mau, assassino, açougueiro
Das fábulas e de, o tempo inteiro,
Ser evitado e recebido em posição

De guerra, chamou para discussão
E reflexão o homem, pior loroteiro
Sobre sua fama. Mas se o cordeiro
Era uma fonte para a alimentação

Como o era para o homem também,
Só que de comer o lobo não ia além,
Já o homem fazia um baita capital

Do carneiro e o matava pelo prazer,
Às vezes. Então o lobo quis entender
Porque só em comer ele fazia mal.

Francisco Libânio,
19/03/14, 11:56 AM

quinta-feira, 20 de março de 2014

Hai-kai qualquer 04

Dificuldade depois é faltar parede.

Situação difícil,
Ter a dificuldade
Como pior vício.

Francisco Libânio,
10/03/14, 11:29 PM 

1560 - Soneto do cachorro-vinagre

Quem aqui tem um tempero todo especial?

O cachorro-vinagre, de engraçado
Nome, usava-se sempre na piada,
Bobinha e, pelos bichos, manjada
Quando se dizia estar temperado.

A postura de geral exigia cuidado,
Apesar de sem graça e já contada
História, não era legal da bicharada
Mostrar a coletiva cara de enfado.

Mesmo porque o vinagre tanto ria
Da piada que desagradável seria
Cortar a graça do á engraçadinho

Cachorro-vinagre, horrível piadista,
Mas boa praça a tentar ser artista,
Mas pra piada não servia o baixinho.

Francisco Libânio,
18/03/14, 8:31 PM

1559 - Soneto do peixe-boi

De boa...

O peixe boi era de tal mansidão,
Com tanta, tamanha paz interior
Que era vítima fácil de agressor
E alvo fácil da turma da gozação.

Sendo meio desajeitado, gordão,
Feio, mas dócil, quase uma flor,
O peixe boi sempre levava a pior,
Mas não perdia sua calma e não

Mandava tomar no cu o sacana.
Não percebia nem a mais tirana
Desvantagem. Valia ali o seu rio,

Ter o que comer e sua boa paz.
E que fosse passado para trás,
Raiva e briga não eram do feitio.

Francisco Libânio,
18/03/14, 8:45 AM

1558 - Soneto do boto

E aí, gatinha? Tá sozinha?

E o boto, tipo todo galante,
Conquistava quem ele queria.
Tinha charme como galhardia
Como tinha um ar estonteante.

O lance era que só era amante
De gente. A mulherada vivia
Atrás dele e ele bem seduzia
E elas, sem ver o doravante,

Cediam, se davam todas a ele
Deixando luzir a coisa de pele
E o momento sem ver tensão.

Ruim era pro boto, na verdade,
Com tanto indício de paternidade,
Ele morria pagando tanta pensão.

Francisco Libânio,
17/03/14, 12:24 PM

1557 - Soneto do mico

Podem fazer fila e pagar.

Um mico, após ouvir a expressão
“Pagar o mico” se achou o credor
Maior da floresta, calculou o valor
Da dívida e deu cabo à execução.

E pagar mico em qualquer situação,
Quem nunca? E foi ele inquiridor
Buscar saber sobre esse devedor,
O inadimplente buscando quitação.

Só que eles falavam o maior mico
Já pago. Ou seja, já tinha um rico
Miquinho com sua dívida quitada,

Mico maior que se foi atrás antes
Agora e curtem aí com bastantes
Receitas e ele, bobão, sem nada.

Francisco Libânio,
17/03/14, 9:15 AM

terça-feira, 18 de março de 2014

1556 - Soneto do carcará

Sou foda!

O carcará, tido de valentão,
O que pega, mata e come,
Bem curtia esse cognome
E bem assim era a atuação

Dele pra resolver questão.
A música valorizava o nome,
Dificilmente cederia à fome,
O bicho era, mesmo, durão.

E ele nem é assim grande,
Mas no céu ele se expande
Mostrando que documento

Não é tamanho, imponência,
Mas fazer valer a excelência
Usando seu próprio talento.

Francisco Libânio,
16/03/14, 12:06 PM

1555 - Soneto da seriema

Mas com elegância e um penacho chique.

A seriema queria ser bonita
Também queria cantar bem,
Queria impressionar alguém,
Mas sabia que é sua desdita

Ser feinha, um tanto esquisita,
E cantar mal. Agradar a quem?
Qual será o louco que se detém
A ver e ouvir uma ave que grita

E não canta e que não tem cor
Chamativa? Vinha o dissabor,
Mas tinha também um orgulho

Em ser ela mesma. Se não era
Modelo ou cantora, era sincera
E transparente no seu barulho.

Francisco Libânio,
15/03/14, 12:50 PM

segunda-feira, 17 de março de 2014

1554 - Soneto do queixada

O lance é ir de turma.

Queixada juntado em bando,
A onça salva o próprio rabo
Ela sabe quão grande o nabo
Se cair de frente já matando.

Não mata e pode ser nefando,
Trágico, pois mesmo o diabo
Pode achar seu próprio cabo
Com os queixadas brigando.

Que faz a onça? Espera fluir
A vara. Um deles irá diminuir
O ritmo e vai perder contato

Com a turma. Será o almoço
Da onça. Vai-se o alvoroço
E o lerdo virou um bom prato.

Francisco Libânio,
15/03/14, 10:08 AM

1553 - Soneto do lobo guará

Desfilando.

A imponência no caminhar
Dava ao guará a elegância
Única e sem discordância:
Ele era um bicho peculiar.

Bonito, sim, e sem a alvar
Soberba e a tal arrogância
Dos belos. Era petulância,
Quase, tamanho bem-tratar

Além da finesse, da classe.
E havia até quem ousasse
Denegrir toda essa altivez.

Coisa de fresco, e a crina?
O guará nem aí. Um opina,
Um xinga. É a inveja da vez.

Francisco Libânio,
14/03/14, 8:49 PM

domingo, 16 de março de 2014

1552 - Soneto do jacaré

Opa que hoje elas tão fáceis. Vou me precaver.

Jacaré, em rio que tem piranha,
Mãe já disse, nada de costas
E nem se mete a fazer apostas.
Sabe que fácil ele se assanha

E as piranhas, de muita manha,
Esquecem das grossas crostas
Do jacaré e chegam dispostas
A se meter em qualquer façanha.

Que jacaré coma piranha, bem.
Mas ele come o jacaré também
Se ele der mole nessa bacanal.

Assim, jacaré toma um cuidado
Para não ser comido ou dedado
Porque pra piranha, tudo é legal.

Francisco Libânio,
14/03/14, 12:23 PM

1551 - Soneto do veado

Só observando a ignorância de vocês.

O veado achava um desrespeito
Ser dado apelido homossexual.
E ele, que no hemisfério boreal
É marca do macho, viril, perfeito.

Não que ser homo seja defeito,
Mas esse despautério cultural
Era um sarro sem senso, vagal
Além de um puta preconceito.

Deu o veado ao trabalho forte
De explicar como é lá no Norte
Em que ser veado é ser o leão,

O macho-alfa de pura presença.
E como é absoluta a diferença
Entre veado e viado na dicção.

Francisco Libânio,
14/03/14, 9:10 AM

sábado, 15 de março de 2014

Poema de fuga 13

Sempre a reviver.

Um poeta se suicida
A cada verso,
Em cada rima
Fica um pouco
Da sua vida
E em cada poesia
A ser lida
Sua vida infinita
Ressuscita.

Francisco Libânio,
02/01/14, 8:20 PM

1550 - Soneto da araponga

Agora, todo mundo junto!

De som metálico e feio;
Estridente e sem graça,
A araponga foi à praça
Para o show de gorjeio.

Ia cantar. Público alheio,
Gente que vem e passa,
Logo exigiu a mordaça
E a esse festival um freio.

E sem ligar para a vaia,
A araponga, toda gaia,
Deu andor ao festival.

Uma tomatada e pronto!
Galera não deu desconto
Para esse canto de metal.

Francisco Libânio,
13/03/14, 8:12 PM

1549 - Soneto do joão-de-barro

Cuida da sua vida!

O joão-de-barro estava indignado
Com a fama de marido machista
Dada pelo povo. Bom projetista,
E construtor hábil ele era acusado

De prender a esposa, enciumado.
Oras, essa fofocaiada de farrista,
Gente que fala sabendo de vista
Precisa é de ir capinar um roçado!

O joão suja sua penugem de barro,
Não se mete com o alheio e é sarro
De sem-noção? Deixa ele e a patroa,

Ela não tem uma reclamação dele
E ele a deixa livre. Que se tagarele!
A família segue vivendo numa boa.

Francisco Libânio,
13/03/14, 12:33 PM

sexta-feira, 14 de março de 2014

Uma mulher mais velha

Trocando duas de vinte.

Cai-me nas mãos uma revista com algo que, em tempos de internet, eu julgava encerrado: Uma sessão de correio sentimental. Homens e mulheres procuram em cartas o amor da vida e usam de determinada revista como intermediadora. Em tempos de chats carregados de desconfiança é um recurso anacrônico, mas válido embora igualmente arriscado. Folheio a sessão movido pela curiosidade e pela solteirice. Vejo a foto de uma linda mulher e, antes de saber quem ela é, parto para um jogo de adivinhações comigo mesmo.
A mulher é vivida. Chuto que tenha quarenta e oito anos, embora aparente menos. Decreto comigo mesmo que seja separada. Também concluo, logicamente, que tenha filhos adultos ou, pelo menos adolescentes. Avó? Penso que seja, mas invento em minha imaginação que seus possíveis filhos resolveram não ter filhos. Negaram à mãe essa graça dos netos. Jamais ela ensinará à filha como se troca uma fralda ou qual o melhor remédio para cólicas.
Pelo cenho sem sorriso dessa mulher, penso que seja alguém sério. Uma mulher que não perde tempo com gracinhas. Talvez a idade e a maturidade não a exponham a aventuras. Minha colega não quer curtição, não quer trocar beijos e muito menos uma noite de sexo. Na foto, ela veste uma peça decotada, mas discreta. Tem um corpo muito bonito, muito bem fornido. Seios fartos e firmes. “Silicone!” cravo movido pelo lugar comum. A pele branca não tem muitos sinais. No colo algumas sardas. Deve usá-las como charme atrativo para complementar a beleza. Sim, é uma mulher bonita e conservada, como já disse. Como é mais velha e não quer perder tempo com rolos e aventuras libidinosas com garotos recém-desmamados ou que acabaram de ter os primeiros fios de barba e já se arrotam homens. No entanto, a foto minimamente provocante e o busto farto em um comportado, mas atraente, decote dão a entender que o fogo dos desejos ainda não se apagou. No entanto, a idade e a maturidade fazem com que escolha com muito e rigoroso critério quem se deita com ela. Quem a vir na revista e quiser aliviar instintos, certamente, vai se dar mal.
Penso em outras tantas especulações sobre a bela mulher da foto. Já disse que ela deve ser separada. Pessoa que teve um casamento que foi feliz até certa altura, mas que a rotina desgastou. Ela transmite um ar calmo. Logo, não deve ter sido traída ou trocada, o que traria uma aparência mais soturna. Tem fumos de profissional liberal. Penso ser advogada e não deve morar em cidade pequena ou logo ficaria marcada como a “’doutora da revista”. Profissionalmente, poderia ser seu túmulo. Deve ser de uma grande capital. Vêm outras especulações, mas não aguento. Resolvo ler como essa mulher se anuncia, como ela seduz um incauto leitor que se interessa além da foto, atraente por si só.
Ei-la: O nome, evidentemente, fica resguardado, mas ela tem cinquenta e dois anos e não quarenta e oito como imaginei. Muito melhor conservada que eu supunha. A linda mulher é de uma cidade média do interior de São Paulo, mãe de três filhos adultos e avó de quatro netos, dois são bebês, um acerto e um erro. Diz ser uma mulher muito divertida, tranquila e avessa a badalações. Isso não faz com que ela dispense um barzinho com música ao vivo, MPB de preferência. Muito bem! Procura relacionamento sério, honesto e comprometido. Acertei outra vez. Não quer farras. Dispensa homens casados e tarados. Limiar etário entre os vinte e seis até os sessenta e dois anos. Tem a cabeça aberta para conviver com jovens e relacionar com eles caso aconteça já que trabalhou como assistente social e durante muito tempo viveu com moços em abrigos e hospitais os ajudando contra diversos vícios. Hoje está aposentada e se ocupa pintando quadros. Sobre o busto, o corpo bonito e a vida íntima não há nada, o que concluo ser uma mulher reservada que não divide pela aí a sua história entre paredes. Se tem silicone ou não, também não consta, e muito surpreenderia – negativamente - se constasse. Seu estado civil é, como eu presumi, separada e não há detalhes. Isso seria motivo para uma conversa melhor. Ela deixa várias meadas interessantes para um pretende conhece-la melhor. Sabe até onde se revela. Pessoalmente, confesso, ela me interessou. Anoto o endereço em algum lugar e praticarei o antigo prazer de escrever cartas. Espero que ela me responda. Estou dentro do interregno das idades que ela procura. Já é um começo.

Francisco Libânio,
04/03/14, 10:01 PM

1548 - Soneto do uirapuru

Prefiro ouvir, cantem vocês que depois eu canto.

Duas características do uirapuru:
O belo canto e a enorme timidez.
Por isso, a cantar ele passa a vez
A outro. Canta a sabiá, até o anu;

Canta o cardeal, cantaria o tuiuiú
Se fosse de cantar. Toda maciez
Canora. Às vezes falta a polidez,
Mas fica bonito todo esse sururu

Cantante e quando tudo se cala,
O uirapuru fecha com tanta gala
O recital que cantar mais pra quê?

Todos admiram toda essa doçura
Do uirapuru. Ele recobra a postura,
Agradece, se cala e de novo só vê.

Francisco Libânio,
13/03/14, 9:33 AM

1547 - Soneto do pardal

O que importa é a beleza interior.

O pardal olhava o cardeal,
Plumagem linda, chamativa,
Penugem vermelha e viva
E se olhava e via um pardal:

Feinho, sem um diferencial,
Sem canto sem pose altiva,
Sem a característica cativa
Da passarinhada. Ficou mal,

Deprimido, voou pra distante,
Sumiu, mas voltou confiante.
Não era bonito, isso ele sabia,

E daí? Ficar triste não ajuda
Nem deixa bonito, não muda.
Melhor ser feio com alegria.

Francisco Libânio,
12/03/14, 11:53 AM

quinta-feira, 13 de março de 2014

Hai-kai qualquer 03

Mais um investimento pro saco.

Poética ingerência!
Inspiração não veio,
Poeta em insolvência.

Francisco Libânio,
03/03/14, 2:22 PM

1546 - Soneto do tico-tico

Sou famoso, durmam com isso.

Graças àquela música famosa,
O tico-tico, se visto, de presente,
Já ganhava um belo recipiente
Com fubá da passarada prosa.

Ele não se irritava. Era honrosa
A homenagem. Ele, eternamente,
Seria lembrado. Já a persistente
Piada, a turma acha que o goza,

Mas a gozação sai pela culatra.
A patota não sabe, mas idolatra
O passarinho aqui, dizia metido.

Na verdade, a homenagem, veja
Só, era uma indisfarçável inveja
De quem a música pôs esquecido.

Francisco Libânio,
12/03/14, 11:02 AM

1545 - Soneto do bem-te-vi

Só tô vendo...

O bem-te-vi era maroto e matreiro,
Ficava lá nas árvores, só na espia,
E se algo meio suspeito ou putaria
Passava, já piava pro mundo inteiro.

Viu? E daí? Você não foi o primeiro,
Disse um cujo flagra o constrangia.
Você tem provas? Filmou o que via?
Perguntava outro a fim de salseiro.

O bem-te-vi, de fofoqueiro acusado,
Defendeu-se: Não faço nada errado,
Fico vendo a vida e acaso acontece

Algo, eu vejo e falo mesmo. Não faz
Que vou ver a vida e deixar em paz,
Mas é eu ver e a culpa dele já aparece...

Francisco Libânio,
11/03/14, 1:36 PM

quarta-feira, 12 de março de 2014

1544 - Soneto do tuiuiú

Beleza não é tudo!

Pernalta, magrela e de cabeça
Preta, o tuiuiú sabia: A beleza,
Na Criação, foi de tal avareza
Com ele, mas não se estressa.

O feio também tem impressa
Sua fama. E ele e sua realeza
Pantaneira veem que os preza,
O público, Assim, em confessa

Vaidade, o tuiuiú posa modelo
Para câmeras e seu voo, belo,
Chama pra si gosto e atenção.

Se não cantava como o uirapuru
E se era justo o nome de jaburu,
Tudo bem. Garantida sua menção.

Francisco Libânio,
11/03/14, 9:11 AM

1543 - Soneto do tucano

O lance é ser básico.

O tucano tinha aquele bico
Enorme e desproporcional,
De som oco nada celestial
Sabia que não era o pico

Da beleza desse tão rico
E canoro aviário nacional.
Não levava isso como mal.
Isso o tirava de mexerico:

Quem é que canta melhor?
Vaidade demais e torpor
De quem se acha artista!

O tucano, penugem preta,
Básico a agradar a etiqueta,
Sabe: Só completa a vista.

Francisco Libânio,
11/03/14, 8:57 AM

terça-feira, 11 de março de 2014

1542 - Soneto do papagaio

Fala muito! Fala muito!

O papagaio, todos diziam dele,
Falava demais, muito, sem parar!
Fato ele gostava de conversar,
Mas é exagero que ele desatrele

A falar. É muita maldade com ele.
E com quem tem o hábito de falar
Muito, isso o papagaio vai criticar.
Pois se o papagaio fala, aquele

Que se compara, fala muito mais,
E nem o louro, que curte demais
Um bom papo, tem essa paciência.

Então sempre que a comparação
Aparece ele lembra lá do falastrão,
Que de falar muito tem a deficiência.

Francisco Libânio,
10/03/14, 7:25 PM

1541 - Soneto da arara

Pura elegância ao voar.

A arara com a penugem colorida,
Algumas azuis, outras encarnadas,
Fazia sucesso e de tão admiradas,
Ela era consultada e bem ouvida

Sobre moda, tendências, devida
Combinação de juntas cromadas.
A arara pegou essas dicas dadas
E compilou numa obra resumida,

Um compêndio de moda na mata,
Seja lá uma vestimenta aristocrata
Para festas chiques ou o dia-a-dia,

Coisinha mais leve e mais usual,
Mas a sucuri, de inveja sem igual,
Fez da arara aula de gastronomia.

Francisco Libânio,
10/03/14, 11:57 AM

segunda-feira, 10 de março de 2014

1540 - Soneto do macaco-prego

Não se mostra o porquê do macaco prego ter esse nome. Esse blogue é de família.

O macaco prego tinha uma secreta
Identidade, sapaju. Ninguém sabia
E nem que era sapaju uma maioria
De macacos que a América enceta.

Dos monos dessa parte do planeta,
O macaco-prego tinha mais regalia,
Pois era o sapaju que se conhecia
Mais. Mas esse apelido que o afeta,

Prego, queria-se saber seu porquê,
E o prego, que indiscrição não vê,
Explica por que era macaco-prego.

Porque com prego parece o pinto
E como o pau dava o nome distinto,
Ser sapaju não daria fama ou apego.

Francisco Libânio,
10/03/14, 8:36 AM

1539 - Soneto do mico-leão

A elegância ruiva da floresta!

Com o tamanho diminuto,
Mas de jubinha exuberante,
O mico-leão era elegante
E no arvoredo, seu reduto,

Botava banca e, resoluto,
Dizia ser rei. Nome garante
O posto e a pinta brilhante
Asseguraria a ele o atributo.

Pôs-se isso em assembleia:
Mico-leão rei era boa ideia
Ou bobagem boa de coibir?

Concordou-se! A ele a coroa!
Mas uma águia lá o apontoa
E o pega antes dele assumir!

Francisco Libânio,
09/03/14, 2:29 PM

domingo, 9 de março de 2014

1538 - Soneto do tamanduá-bandeira

Vem aqui me abraçar...

O tamanduá era, sim, um bicho legal,
De bom papo, extrovertido, agradável;
Inteligente, simpático, muito confiável;
Mas com tanta coisa boa tinha um mal:

Mal este que o deixava em situação tal
Que acabava em algo tão insuperável
Que bicho algum aceitava o mais afável
Gesto de carinho, uma gentileza banal

Que é um abraço cativante e bem dado.
Se o tamanduá oferece, sai-se de lado,
Fala da dor nas costas ou outro papo.

São prudentes os amigos do tamanduá,
Sabem que amigos como ele poucos há,
Mas um abraço... Haja cicatriz e esparadrapo.

Francisco Libânio,
07/03/14, 12:221 PM