sexta-feira, 30 de novembro de 2012

657 - Soneto do fim de novembro

Só venha menos quente, ok?


Vai-se novembro. Em minha cidade,
Um mês quente, loucamente quente.
Trinta dias que passam e de repente
O novo ano é nascedoura realidade,

Novembro se foi com tal velocidade
Que nem o ano andou rapidamente
Assim. Foi uma coisa surpreendente
E uma mistura de sentimentos invade

A existência. O tal do espírito natalino
Com um vazio, uma paúra do destino,
O que será que ele vai aprontar agora?

Nada do que foi intentado em janeiro
Foi cumprido. E eis outro ano inteiro
Vem esperança; Dezembro, dá o fora!

Francisco Libânio,
30/11/12, 6:53 PM

656 - Soneto do xingamento estapafúrdio

Explica alguma coisa...

Li que, na Grécia, chamar de flautista
Uma mulher é como chamá-la de puta
Já que noutra época a mal vista labuta
Exigia da moça, além de estar na crista

Dos dotes da alcova, ser ótima artista,
Saber tocar, saber vencer uma disputa
Intelectual e ter postura total impoluta,
Enfim uma dama boa de encher a vista,

Conquistar a mente e endurecer o pau.
Ah, os gregos! Amavam o lado carnal
Da coisa e queriam sempre uma dama.

Hoje, pobres flautistas. Na sua Grécia,
O talento fica logo abaixo da peripécia
Que uma puta ignorante faz na cama.

Francisco Libânio,
30/11/12, 6:38 PM

655 - Soneto fora de hora

O melhor momento da mulher


Eu esperava por isso, chegar tarde
Dizem: Aos atrasados só fica resto.
Talvez se eu fosse sacado e presto
Ou não fosse babaca ou covarde

Chegaria na hora com tanto alarde
Ou cedo, mas chegaria aí modesto
Criando nova história, um contexto
E apagaria a chama que agora arde

Eu sabia que já se teve muita dança
E agora, com essa presente tardança
Não poderei pedir ou fazer exigência

Melhor. A festa devia estar bem chata
E agora que sou só eu só me arrebata
A melhor parte e o fino da experiência.

Francisco Libânio,
30/11/12, 1:00 PM

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

654 - Soneto em tempo

O cara atropela sua ideia falando mais alto e falando bobagem...


Não é que eu odeie nem deteste
A discordância nem sou o radical
Que me pintam. Nem quero o mal
Para quem contrário se manifeste

Ao que eu penso ou me conteste.
Posso bem estar errado, que tal?
Reconheço, revejo e segue igual
A vida. Certeza demais é a peste

Que mata passando por perfeição,
Mas quem contraria por discussão,
Por amor a ganhar sem argumento

Uso o último terceto e serei breve
Usando um recurso sintético e leve,
Vou apenas chamá-lo de jumento.

Francisco Libânio,
29/11/12, 8:19 PM

653 - Soneto cunilínguico

Delicioso, sem dúvida delicioso.


Oferecida a entrada, pernas abertas
E uma caverna ali toda convidativa,
Sua dona, em pura vontade aflitiva,
Posição de entrega e seios alertas,

Ela convidava a novas descobertas
E numa atitude sensual como letiva,
Trazia minha cabeça pra si gradativa
Para emoções prazerosas e certas

E aproximava e tomava-me a língua
E depois se afastava para a míngua
Rápida que logo ela vinha satisfazer

Aquela delícia que se fez em jorro
Que bebi e logo depois fui o forro
Para que prolongássemos o prazer.

Francisco Libânio,
29/11/12, 7:18 PM

652 - Soneto do coito interrompido

Amor, vou atender o celular, tá? Já venho.


No melhor momento, um momento pior
Se sobrepõe. Para tudo repentinamente!
O prazer que espere, logo se apresente
E siga de onde parou e o faça como for!

No melhor momento, precisava se opor
Um problema? A intimidade se ressente,
Como um empecilho trava a hora quente
Em que trocávamos nus tesão e calor?

Sexo não tem pausa. Parou, se perdeu!
Voltar não adianta, não se vai ao apogeu
De onde se estava, não é uma escalada.

Parou, caiu, rolou junto com a avalanche.
O jeito é se refazer daquele desmanche
E correr sem pausa atrás daquela gozada.

Francisco Libânio,
29/11/12, 12:07 PM

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

651 - Soneto salvo no final

Um oásis em tanta feiura nas notícias. E uma ótima jornalista.


Querendo escrever, não vem nada!
Uma ideia que preste. Na televisão
Só notícia de sempre, só repetição
Uma galera que só dando porrada...

Futebol? Música? Já sei! Namorada!
Futebol já perdeu toda empolgação,
Música, ando muito sem disposição
E o mais? Tá mais contando piada...

Já sei! Como tá passando o jornal,
Como notícia ruim já é caso normal
E quero ver o lado bonito da vida

Uso o último terceto para fazer loas
À linda âncora Ticiana Villas-Boas
Pondo beleza em rotina tão dorida.

Francisco Libânio,
28/11/12, 7:53 PM


650 - Soneto discutivo-feminino

Eu acho essa mulher linda! Toco qualquer Bundchen por ela.


Aí falamos sobre as belezas da mulher
Ele adora mulher loura, eu mulher negra.
Claro que isso não é absoluta regra,
Mas os dois, na mesa de bar, a eleger

A mais maravilhosa, um infantil lazer.
Passa uma loura que muito me alegra
E depois uma mulata que o desregra
Convicções... Como é duro as defender!

Aí falamos de musas lindas televisivas,
E damos a comparações aumentativas,
Verdadeira guerra para a maior beldade!

Pagamos a conta, seguimos a solteirice,
E cá concluo, mais a deusa que me erice,
Dificilmente a terei comigo de verdade.

Francisco Libânio,
28/11/12, 7:19 PM

649 - Soneto discutivo-musical

O cara é fera, mas tem quem não curta.


Sobre o tal sertanejo universitário,
Que de acadêmico só tem o nome,
Não lhe vejo qualidade e renome
A mais que o singelo funk primário.

Mas vejo pior o ataque arbitrário
De quem não gosta e essa fome
Irracional. Não gosta? Então some
E deixa o outro viver tal calvário

Musical. Também não especialize
Seu gosto musical. Pior é a crise
Quando se ouve uma coisa apenas.

Sertanejo e funk, fiquem pra lá!
Respeito-os, mas aqui não será
Seu palco. Busquem outras cenas.

Francisco Libânio,
28/11/12, 12:55 PM

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Rubem Braga

Fala pouco, mas fala tudo. E bonito!


Foi em 2002. Era 2002? Consideremos que sim e que o encontro tenha sido casual. Isso foi, eu tenho certeza. Numa livraria. Foi lá que encontrei Rubem Braga na sua mais perfeita forma: Afiado com suas melhores crônicas, o que não deixa de ser estranho. Pode uma crônica de Rubem Braga não ser melhor? Acho difícil. Ninguém escreve crônicas melhores que Braga. De qualquer forma, esse encontro perdido no tempo foi breve. Alguns apertos de mão rápidos, pouca conversa e não tive a decência de convidá-lo pra ir comigo para à casa tomarmos um café e pedir para que ele mostrasse mais crônicas. Não aconteceu. Não seria o momento?
De lá, nunca mais encontrei Rubem Braga em lugar nenhum. Sabia onde o encontrar. Livrarias, sebos, mesmo bancas de revistas em que encontrei vários confrades de Braga, mas nunca o próprio. Ficava meio chateado. Eu encontrava Rubem Braga com alguma frequência quando criança e adolescente em livros de escola, apostilas e provas. Os casos contados breves na forma e profundos na ideia eram qualquer coisa encantadores. Sabia que Braga continuava frequentando livrarias, que não nos toparmos era mera questão de desencontro. Confesso que por diversas vezes, eu desisti desse encontro.
- Se ele não está no mesmo lugar que eu é que não é pra ser. Paciência. – eu me resignava.
Assim passaram quase dez anos em que Braga e eu nos distanciamos. Nunca mais ouvi falar dele e certamente ele menos ouviu falar de mim. Fui me enturmando com outros amigos dele, trazendo-os pra casa. Às vezes, ficava pensando como seria se ele estivesse com todos eles, uma reunião informal entre grandes cabeças. Mas se Braga não queria estar entre eles, eu não podia fazer nada. Obrigá-lo, trazê-lo à força. Esse tipo de encontro deve ser, antes de tudo, espontâneo.
Ano passado, num de meus tantos passeios por livrarias em São Paulo, após cumprimentos rápidos a alguns conhecidos, Rubem Braga veio num lapso em minha memória e perguntei às pessoas do estabelecimento se ele estava lá àquele dia e onde eu poderia encontrá-lo. Devidamente orientado, fui reapresentado ao cronista que, simpático, me contou uma crônica sua que eu já conhecia. Lá estava ele de novo com suas melhores crônicas. Seria muito assunto. Outro breve encontro como aquele primeiro não seria o bastante. Perguntei se Braga queria tomar um café em casa. Ele anuiu e fomos. À época, eu morava no litoral e em casa, ele me mostrou várias de suas crônicas, obra primorosa. Braga continuava um mestre em seu mister. Dificilmente deixaria de ser.
Hoje Braga e eu dividimos o mesmo espaço. Eu, ele e mais uma infinidade de seus amigos, que eu já conhecia. Minhas conversas com Rubem Braga são curtas. Dificilmente passam de duas crônicas por dia. E ainda há os dias em que não nos falamos ou queremos nos ver. Desagradável? De forma nenhuma! Acredito que quanto menos eu conversar com ele, melhor conversaremos e as novidades serão distribuídas por mais tempo. Perdemos muito tempo nesses desencontros. Quero procurar uma forma de compensar esse tempo. A forma que achei foi essa, a de conversas rápidas pelo máximo tempo sempre me remetendo àquele dia num provável 2002. Quem sabe essa conversa sempre cheia de novidades dure pelos próximos nove, dez anos ou o tempo em que Rubem Braga estiver lúcido, inspirado e disponível em minha estante.

Francisco Libânio,
27/11/12, 8:31 AM

648 - Soneto discutivo-filosófico

Marx está preocupado com o que você pensa sobre ele...


Você é freudiano e eu existencialista,
Eu curto ler Marx e você ama Kant,
Tá certo, ele era realmente brilhante,
Mas Marx não me faz um comunista

Ignorante. A filosofia não dá pista
De certezas. A dúvida é estimulante,
O debate acrescenta, leva adiante
E ao bom conhecimento pede vista

São escolas e escolas em confronto,
Embate que não dá nem tira ponto
Só agregam a mente a desenvolvê-la

Ou você acha que onde descansam
Os filósofos, sábios, lá se cansam
Em bobagenzinha, em inútil querela?

Francisco Libânio,
27/11/12, 8:20 PM

647 - Soneto discutivo-futebolístico

Dois caras que não entendem picas de futebol.


Você tem aí seu time, eu tenho o meu,
Campeão estadual e entre os campeões
Continentais e bem brigou em decisões
Numa foi roubado e numa outra perdeu

Por uma tremenda infelicidade. Já o seu,
Ganhou do meu. Sorte! Conspirações
Do Universo que não aceita repetições.
O impossível, fique alegre!, aconteceu.

E sobre tais vitórias e outras derrotas
Falaremos sem poupar as chacotas
E o futebol continuará interessante

Rivalidade não pode ser intolerância,
Alegria a dar o tom, não a ignorância,
Futebol é divertido e não beligerante.

Francisco Libânio,
27/11/12, 7:56 PM

646 - Soneto discutivo-político

Mas feito de forma vazia e cheia de clichês não leva a nada


Quando eu falo sobre política, discorro
Sobre o que não acho certo. Eu critico,
Discuto, ouço, reflito, falo, exemplifico,
For o caso, me valho de algum socorro

Se for bem condradito e, então, recorro.
O bom debate acrescenta, fica mais rico,
Mas se vejo uma besta, de cara abdico.
Mais fácil ensinar miado a um cachorro.

Por isso desconfio de quem achincalha
Com termos como, um exemplo, petralha
Ou mensaleiro ou – pior – bolsa esmola!

É o cara que se acha elite, bom burguês,
Aí leio a argumentação, vejo o português
E dá vontade mandar de volta pra escola.

Francisco Libânio,
27/11/12, 1:39 PM

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

645 - Soneto persistente

Não sai nada! E esse pombo ainda me aduba...


O grande problema, quando escrevo,
É sempre o maldito próximo verso.
Vem um negócio demais perverso,
Uma necessidade de dar um enlevo

Maior ao verso, de fazer um relevo
Considerável. Penso: Como exerço
Mal esse negócio! Me ponho imerso
Na poesia e aí escrevo e me atrevo

Ao próximo verso. Uma bela bosta!
Ao próximo! Vai que ele se gosta...
E fico na boba e eterna esperança.

E aí custo a acreditar que o poeta,
Eu, na frase de animadora faceta
Que “Quem acredita sempre alcança”

Francisco Libânio,
26/11/12, 9:02 PM

644 - Soneto transigente

Se não há encaixe, não rola.


Eu posso até dizer que te amo,
Nunca me proibi quanto a isso.
A sentimentos não sou omisso
E sentindo é que me esparramo.

Nenhum problema Até reclamo
Se eu sentir que o compromisso,
Logo me retrato e fico submisso
Ao que sinto. Então eu declamo

Poesias muitíssimo apaixonadas,
Mas para essa e outras presepadas
É preciso que o mesmo venha

De lá. Se não vier, nem me peça
Nada. Não há o que me apeteça
A dedicar a quem não se empenha.

Francisco Libânio,
26/11/12, 8:08 PM

643 - Soneto dos peitos assassinos

A notícia saiu no Bild, que imaginou a cena assim.


Aconteceu que uma mulher na Alemanha,
Junto ao namorado, os dois na cama,
No ápice do coito, queimando a chama
Do sexo, ela põe em marcha a artimanha,

Tomando-o com a mais feminina manha,
Tenta sufocá-lo com os peitos. Tal trama,
Para confortar a morte de quem ela ama.
Virou uma insólita. quase mortal façanha.

O namoro dos dois acabou, obviamente.
A moça, com sérios problemas na mente,
Responde pelo crime de ataque armado.

Mas digo, se fosse eu no lugar da vítima,
Não seria a melhor, mas a mais legítima
E a melhor forma de se ficar asfixiado.

Francisco Libânio,
26/11/12, 12:22 PM

domingo, 25 de novembro de 2012

642 - Soneto no tranco

Abafa o caso.


Vai lá safadão, pegue e escreva!
Vou, Então vou fazer de conta
Que uma mulher que desponta
Do nada vem, chega e me leva

Pra onde? Que não se descreva
Local e fatos. A ideia sai pronta
Se disser que ela não desaponta
No beijo cuja boca mais me ceva

Que me beija. Deixa disso! Põe
No teu soneto como se compõe
Esse encontro. Quero é detalhe!

Não ponho. Deixa tudo na moita.
Uma palavra descuidada e afoita
É tudo pra que isso se espalhe.

Francisco Libânio,
25/11/12, 8:12 PM

641 - Soneto na rede

Daqui não saio, daqui ninguém me tira!


Penso eu deitado esparramado
Numa rede. Melhor ideia de paz?
Se houver será que ela é assaz
Competente de pôr revigorado?

Se for, que me mostre o riscado
Sua vantagem e se ele é capaz
Dessa paz. Convença que apraz
Como essa rede comigo deitado.

Me apraz. Mas creio improvável.
Uma rede, nada é mais agradável
Nem exprime melhor tranquilidade.

Só falta uma morena e a perfeição
Se desenhava. Mas até na solidão
A rede é companhia de verdade.

Francisco Libânio,
25/11/12, 6:41 PM

640 - Soneto franco

Tem que ser muito burro. Pronto, falei!


Desculpe-me por te dizer a verdade
Assim nua, crua e total escancarada,
Mas aqui florear não ajuda em nada
Além disso, pode parecer falsidade

Pode ser que a real tenha gravidade
Certamente, ela será pouco educada,
Provavelmente te deixará chocada,
Mas ficaremos algo mais a vontade

Para termos conhecimentos reais
Ou nem nos falarmos nunca mais,
Mas é preciso dizer e o direi agora!

Que corpo mais delicioso é o seu!
Nada igual nem parecido apareceu!
Como é que aquele trouxa te ignora?

Francisco Libânio,
25/11/12, 12:54 PM

sábado, 24 de novembro de 2012

639 - Soneto extravagante

O pote de ouro ao final do arco-íris.


Uma mulher que pinta seu cabelo
De azul, roxo, verde e vermelho;
Usa nos pés um tênis tanto velho,
Camiseta laranja e shorts amarelo

É estranha. Poderia haver um elo
Entre nós? No que me assemelho
Com uma que já choca o espelho?
Traça-se entre nós algum paralelo?

Há um estranhamento, que é claro,
Mas depois da conversa e do faro
Atrás de empatias algo nos surge,

Ela me rouba um beijinho discreto,
Extravagância oculta por completo
A timidez, mas agora o desejo urge.

Francisco Libânio,
24/11/12, 8:20 PM

638 - Soneto pomposo

Se palavra valesse alguma coisa, dava um dicionário

Para a mulher que achei ser
A da minha vida dei o melhor
Que pude para ela compor
E que cri tal mulher merecer.

Qual o melhor para tal mulher?
Sonetos, bombons, uma flor?
Velas, a declaração de amor?
Noite inesquecível de prazer?

Vamos usar bom vocabulário,
Fugir do básico, que é diário
E encher a mulher de adjetivo!

Não deu certo, claro. Normal
Que ela é, normal até demais,
Erudição demais é ofensivo.

Francisco Libânio,
24/11/12, 6:49 PM

637 - Soneto em céu de brigadeiro

Vida perfeita igual céu limpo: Chata e vazia.


Se tudo estivesse perfeitamente bem,
Já pensou? Que beleza! Que maravilha!
Acordar num dia que o sol só brilha,
Saber que tudo de bom é o que vem

E que tudo que é excelente entretém.
Já pensou deixar essa deliciosa trilha
De alegria ao mundo? Legar a cartilha
Da felicidade e dar felicidade a alguém?

Já pensou em nunca mais ter problema?
Viver numa felicidade plena e extrema?
Uma bonança que melhora a cada dia?

Já pensou? Tudo de bom, nada de ruim,
Sorriso e alegria a não encontrarem fim?
Desenhou? Pensou a merda que seria?

Francisco Libânio,
24/11/12, 5:42 PM

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

636 - Soneto pitoresco

Não sou Vinicius, mas dou meu recado...


Tentei dar ao meu soneto outra cara,
Que fosse menos complexa, pesada,
Que desse nele uma certa renovada
E pusesse no seu título a ideia clara

De que o soneto algo mais ampara
Além do classicismo, da já datada
Forma decassílaba e pouco usada
Temática amorosa. À outra seara!

Amor é coisa que sinto até demais,
O clássico e o arcaico, pouco usuais,
Deixo a quem tudo isso apeteça.

Meu soneto do clássico só sublima
O essencial da poesia, que é a rima,
E fina-se aqui como adorável peça.

Francisco Libânio,
23/11/12, 8:22 PM

635 - Soneto da sexta feira negra

Visão do inferno!


Pra variar, mais um modismo
Vindo do norte pegou o Brasil,
Por ser importado, esse ardil
Só excita o inútil consumismo

Compra-se com tal estoicismo
E se gasta de forma tão febril,
Em pouco se rascunha o perfil:
Futilidade com certo egoísmo.

Não que eu nunca gaste à toa,
Mas dinheiro meu não escoa
Inútil no que sei não precisar.

E pra quem vê nisso novidade,
Nunca viu a mania que invade
O povo nos lojas a se amontoar.

Francisco Libânio,
23/11/12, 8:03 PM

634 - Soeto pomo-filosófico

Caramba, hein, dona Eva?


Às vezes, me vem à imaginação
A cena do dito pecado original,
A serpente disseminando o mal
E Eva oferecendo a maçã a Adão.

Como pode ter tanta persuasão
Uma cobra, sub-reptício animal,
A ponto de com uma fruta banal
Levar alguém a uma contravenção?

Tal árvore foi declarada de saída
Como a única no Éden proibida.
À transgressão, punição sumária,

Sem direito a defesa nem a sursis!
A serpente, cheia de maus ardis,
Vejo-a como primeira publicitária.

Francisco Libânio,
23/11/12, 10:57 AM

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

633 - Soneto leigo

E eu não tenho essa cara feia.


Ser geógrafo e professor
Limita bem possibilidades,
Limita até certas vaidades,
Às vezes te faz sentir pior...

Aí penso: Fosse promotor,
Juiz... Que responsabilidades!
Orgulho e mil felicidades,
Reverenciado por onde for!

Mas em Direito sou curioso,
Pretendo por ele um honroso
Lugar que me dê o suficiente.

Magistratura? Nunca a quis,
Nunca seria um grande juiz,
E certo um bom escrevente.

Francisco Libânio,
22/11/12, 9:01 PM

632 - Soneto ao dia do músico

Não é o público do Paul nem o cachê do Roberto, mas...


Aí você pega na mão um instrumento
Que te fale à alma pela primeira vez.
Há uma vacilação e há muita timidez
E aprender as notas parece sofrimento.

Mas o som vai saindo e vem o alento,
Sai o medo e toma conta a altivez,
A experiência, a paixão e aí, talvez,
Se plante de vez o bom pensamento

Da música ser possível meio de vida.
E assim, toca-se numa noite divertida,
Ganha alguma grana e isso bem calha.

A música dá um dinheiro até razoável,
Aí vem um tio pra lá de desagradável:
Diz aí: você toca ou também trabalha?

Francisco Libânio,
22/11/12, 8:16 PM

631 - Soneto thanksgiving

Isso cairia muito bem...


Esse lance de comer peru, que eu via
Como costume estritamente natalino,
Descubro ser tão comum e genuíno
Do Dia de Ação de Graças. Este dia,

Coisa de estadunidense, já se previa,
É uma forma de gratidão ao Divino
Pelo que teve de bom. Não recrimino
Fé alheia nem julgo errada a alegria,

Lá no norte não tem Nossa Senhora
E nem São Sebastião muito embora
Sejam na fé lugares quase irmanados.

Mas pelos pobres perus, eu lamento,
Além do natalino é mórbido momento
Tem em novembro seu dia de Finados.

Francisco Libânio,
22/11/12, 7:25 PM

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

630 - Soneto com alguma morbidez

Descanso eterno é assim? Tô fora!


Eu fico pensando no tema: Zumbis...
Um ataque de zumbis com sede
De vísceras, coisa Walking Dead,
Thriller mais violento. Mil frenesis,

Zumbis loucos para comer sashimis
De cérebro. Insanidade que excede
Lógica, imaginação e, pior, que fede
Putrefação. Que tal alguns haraquiris?

Mudar de lado pode ser boa ideia
E no meu caso, a póstuma estreia
Seria no túmulo imóvel, quietinho

Imagina se no dito descanso eterno,
Eu participaria dessa ideia de inferno!
Quero é paz nesse novo caminho!

Francisco Libânio,
21/11/12, 8:20 PM

629 - Soneto dos peitos medicinais

Pronto, agora você terá mais cinco anos de vida. De nada.


Segundo um de tantos desses estudos
Científicos por aí, olhar seios aumenta
A expectativa de vida. Agora argumenta,
Minha preferência, ao secar conteúdos

Femininos dos discretos aos bojudos:
É pela longevidade. E aí se impacienta
A mulher enquanto o gosto se contenta
Cheio de olhares mais e mais papudos

De qualquer forma, se for mesmo fato,
Não se leve a desaforo ou a desacato
O mulherio se tiver devorado o busto

Com os olhos. Pense que fará o bem
Ao homem que viverá algo mais além
E para isso ajudará a um preço justo.

Francisco Libânio,
21/11/12, 6:43 PM

628 - Soneto polido

Gentilezas que estão sumindo...


Diz que educação abre tudo que é porta.
Eu não duvido. Ser educado é obrigação
No convívio social e em qualquer relação,
A educação alivia o outro e nos conforta.

Ela é a solução para a convivência torta
E fria que contamina fundo a população,
Ser educado hoje mais soa ser exceção
Que a regra. Para muito, ela não importa.

Assim um por favor e um muito obrigado
Diferenciam muita gente, faz bom agrado
E aproxima. Quem não gosta de polidez?

Mas educação serve como primeiro curso.
Vez recusado bem como o polido recurso
O melhor é mandar se foder de uma vez.

Francisco Libânio,
21/11/12, 12:56 PM

terça-feira, 20 de novembro de 2012

627 - Soneto pressionado

No fim costuma dar certo... Se não der, amanhã dá.


Escreva-se três sonetos no embalo
Um atrás do outro. Não é moleza!
Mais ainda é fazê-los com presteza,
Avaliar o trio e no íntimo aprová-lo.

Sou meio chato. Mas me encurralo:
Escreve ou vai ver o que é dureza!
Escrevo. A pressão e a aspereza
Jogam o desestímulo para o ralo.

O soneto sai. Soneto sobre soneto,
O trio se completa sem algum veto
Ainda que minha ideia fique na lona.

A coisa fica boa. Lendo me agrada,
Pressão, maneira tanto reprovada,
Tem dose de tirania, mas funciona.

Francisco Libânio,
20/12/12, 8:20 PM

626 - Soneto bonitinho

Depende de quem vê...


Posso dizer que quem me chama
De bonitinho me conhece demais!
Esse bonitinho é dos nomes mais
Esdrúxulos que alguém derrama.

Sou bonitinho? Eis o meu drama!
Bonitinho e horroroso são iguais,
Se sou horroroso, vejo uns quetais
Que não entendo como reclama.

Se sou bonitinho, talvez melhore,
O feio fica assim menos hardcore,
Mas continua feio. Não adianta.

E por isso muito bem me conhece
Quem chama assim, mas se esquece:
Perto de mim sua feiura se agiganta.

Francisco Libânio,
20/11/12, 7:59 PM

625 - Soneto consciente

Desde criança até sempre...


Que se use o cérebro com frequência
Não devia ser algo difícil de se fazer
Nem arriscado. Usasse sem se conter,
Imoderadamente, afinando eficiência,

Treinando, buscando mais excelência
Pondo o bichinho sempre a ferver,
Logo descobrirá ser um grande lazer
E atingirá o máximo da consciência.

Depois nunca mais um inoportuno,
Um impertinente e sim um aluno
Atrás de mais uma nova ensinança

Daí quem celebrar uma determinada
Consciência terá a festa aumentada,
Pelo menos essa é minha esperança.

Francisco Libânio,
20/11/12, 7:20 PM

Consciência

Nossas duas mãos.


Vivo num país com poucos heróis. Talvez, até, pelo pouco de história que esse país tenha, falte um Robin Hood, uma Joana D’Arc ou um Guilherme Tell. Nunca acreditei que um país fosse grande por conta de seus heróis até porque não existem heróis unânimes e absolutos. Robin Hood é contestado e mais visto como um criminoso do que como mocinho. Joana D’Arc foi condenada pela Igreja e reabilitada recentemente. O herói está na mais na identificação que no exemplo.
Vivo num país em constante formação e transformação como todos, mas num país que teve seu DNA forjado por gente que, se perguntada, preferiria não ter vindo pra cá. Por gente que vivia a liberdade irrestrita em seu chão para, noutro momento, estar acorrentada e vendida. Gente que virou subgente e que de guerreiros e heróis para os seus passou a ser moeda de troca, força de trabalho escrava e humilhada de todas as formas. Mas gente que sem a qual esse país não seria o que é.
Vivo num país miscigenado e orgulhoso de sua miscigenação, mas reticente e evasivo quando se fala em valorizar as raízes dela. Num país que se orgulha de ter todas as cores em seu povo, mas privilegia veladamente uma em razão das outras. Vivo num país maravilhoso e de gente receptiva aos olhos de quem não é daqui, mas extremamente segregacionista se visto por uma parcela dos meus. Parcela composta por aquela gente cujos avós talvez não preferissem estar aqui, mas já que vieram forçados decidiram num acordo tácito que mudariam definitivamente a cultura nacional. Mais que isso. Decidiram que criariam uma cultura nacional. Mesmo que essa nação não fosse a deles.
Vivo num país que demorou além da conta para perceber que escravidão é algo desumano e que já estava na hora de dar um basta nisso. Num país que foi acabando com ela paulatinamente mais por pressão externa do que por atitude própria. Vivo num país em que a filha de um imperador é tida por redentora da liberdade por assinar um papel que decretava a morte de algo que já estava morto. De um governo que encerrou um capítulo sujo da história, virou heroína ganhando dia a ser comemorado por abolir a escravidão e só. Vivo num país que viu escravos livres ao mesmo tempo que desamparados. Que teve o fim de algo oficial para um fato velado. Vivo num país que uma princesa fez algo pela metade e virou celebridade histórica.
Ao mesmo tempo, vivo num país em que um insurgente contra a escravidão foi, por anos, tomado como um delinquente como foi tido em sua época. Um adepto da liberdade virou um bandido precisando ser reabilitado séculos mais tarde. Um candidato a herói que, no caminho ao topo e mesmo lá, teve apontado mais seus erros do que suas glórias como se quem o acusasse fosse infalível e perfeito. Vivo num país que vem tentando pagar sua dívida histórica com essa gente trazida à força pra cá. Muito foi feito, muito foi conquistado. Em muito se acertou como em muito se errou, normal, a vida é feita dos dois lados. Vivo num país em que parte da população escarnece essa outra parte eu luta pelos seus direitos, que vê nesse libertário um herói. Vivo num país em que essa mesma população que escarnece a outra não se dá conta o quanto essa outra contribuiu para que ela estivesse lá. Mais, que a parte a escarnecer não percebe que tem muito de si ligada a outra. Sanguineamente, inclusive.
Vivo num país em que ter orgulho de ser negro é taxado de racismo pelos brancos. Num país em que um dia em memória de Zumbi é tido como exagero e outro em memória de Tiradentes é orgulho porque ele tentou nos livrar do jugo português. Vivo num país que nossos avós negros ajudaram a construir debaixo de chicote e não são reconhecidos. Vivo num país que se orgulha de um magistrado negro presidindo a Suprema Corte, mas que nada ou pouco faz pelos filhos de escravos a viver marginalmente. Vivo num país que me deu sangue negro mesmo sendo branco e que muitos mais brancos que eu têm a mesma origem, mas que por algum motivo inescusável refutam isso. Vivo num país em que tudo isso, todo esse suor e lágrimas, toda essa diferença, toda essa segregação desembocou num feriado para pouca gente. Do feriado até abro mão. Da consciência que ele propõe não.

Francisco Libânio,
20/11/12, 9:29 PM

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Casamentos e paixões

Discutir relação nada! Tem é que apoiar incondicionalmente!


Li a crônica do bom jornalista Clovis Rossi em que ele, desiludido, decepcionado, declara o fim do seu casamento. Faz-se constar para uma possível posterioridade que hoje é o day after do rebaixamento do Palmeiras para a segunda divisão do futebol brasileiro. Uma nação verde se enluta. Clovis Rossi, um nacional dela, anuncia o fim do seu casamento com o Palmeiras. A desilusão é flagrante. Poucos homens assumem publicamente o fim de um casamento e – mais! – revelam traições. Clovis Rossi fez isso. Está arrasado.
Compreensível sua dor. Não sou casado, mas tenho muitíssimos amigos casados. Uns muito bem, outros nem tanto. Outros já passaram pela dor que o jornalista passou, mas foram mais reservados. Outros jogaram a coisa no ventilador e o fim do casamento virou um circo de horrores. Coisa dantesca. Talvez por ser jornalista, melhor, por não se referir a uma mulher, Clovis Rossi consegue dar certo lirismo a uma situação triste. Todos aqueles que manejam bem as palavras fazem da tristeza poesia. Talvez por nunca prescindirem, em momento algum, da paixão, do sentimento.
No fim das contas, tudo é isso mesmo. Paixão. Mais que isso, amor. Qualquer relacionamento não pode abrir mão de doses certas desses elementos. Casamentos, sejam quais forem, muito menos. Assim as coisas andam. Onde estiver envolvida nossa paixão, nosso fogo estaremos nos dedicando. Repito: Não sou casado, mas conheço amigos casados. Uns muito bem casados e a fórmula que sustenta esses felizes matrimônios termina sendo a mesma.
Nenhum casamento é uma eterna lua-de-mel. A qualquer momento, uma corda pode estourar, um pedaço pode cair, uma parte pode fraquejar. Relacionamento nenhum está imune a maus momentos. Pelo menos, os relacionamentos verdadeiros. Sempre haverá aquele momento de dúvida, aquele ciúme, a falta de grana pra pagar a conta de luz ou pra comprar carne. Vem a necessidade de apertar o cinto e se não houver mais buracos, que se segure as calças. Sempre alguém não estará bem. Ela estará naqueles dias e ele votará do trabalho com a cabeça cheia. Ela, fisiologicamente alterada, vai deixar o arroz queimar e dizer que não é mais amada. Ele, psicologicamente estressado, vai deixar escapar que ela engordou e que as coisas não são mais como antes. Verdades incômodas e desnecessárias. Vem a discussão, vem o momento de reflexão, o questionamento se vale a pena seguir adiante, a autoajuda, “onde estou errando?”, vem mil coisas. Mas algo vai fazer vencer todos esses questionamentos: a paixão. Mais, o amor.
Depois de breve vacilo em que se quer jogar tudo pro alto, a fita volta na cabeça. O dia em que se conheceram, os primeiros olhares, as primeiras palavras e a empatia. Vem o primeiro beijo, a primeira alegria e, por fim, o dia em que se achou que seria para sempre. Vem o dia do casamento, o juramento para o padre. Pausa para a lua de mel, aquela alegria que parece sem fim. A primeira dificuldade e o cônjuge ao lado. Depois a segunda, a terceira, a última e a fita chega ao fim. Há mais o que acontecer. Vale a pena que aconteça? Se depois do filme todo o amor existe, o casamento continua e aquilo é apenas um mau episódio. E estamos falando de casamentos interpessoais. E os casamentos figurados como o terminado pelo Clovis Rossi?
Apesar das peculiaridades não diferem em nada. Quando escolhi meu time, o namoro não começou nada bem. Foram anos sem alegria absolutamente nenhuma. Pelo contrário. Alegria, nesse começo, era sofrer pouco. Segurei firme as pontas. Não seria honesto terminar. A situação não melhorava. Outros casamentos prosperavam e o meu nada. Quase vinte anos de muito pesar. Foi quando o jogo começou a virar. Meu time passou a me dar uma alegria aqui outra lá. Começava, finalmente, valer a pena essa casamento. Não foi um mar de rosas. Mas eu não trocaria. Não terminaria por nada. Afinal, o futebol, como as relações, nasce de empatia e vive de paixão. Permite eventuais adultérios desde que se assumam adultérios para todos os envolvidos. Já quis bem algum outro time eventualmente, mas deixando claro que jamais trocaria o meu por ele. Era uma noite e nada mais. E vamos eu e meu time chegando aos trinta anos de relacionamento. Sou casado? Pode ser. Retiro o que escrevi antes
Por isso, meu caro Clovis Rossi, malgrado o respeito que lhe guardo enquanto jornalista e tendo ideia de como é a dor de ver seu time tão mal, numa situação tão lastimável que o empurra ao andar de baixo atrevo-me a aconselhá-lo que nem mesmo um rebaixamento (muito menos mais um) pode ter força o bastante pra romper seu casamento. Concluo, como quem vê de fora (e normalmente são os que veem com mais lucidez a situação toda), que não houve amor entre você e o Palmeiras, mas uma paixão provisória que durou todo esse tempo. Uma hora acabaria como acabou. Mas vida que segue. Ainda há tempo para viver um novo amor. Apaixone-se, deixe-se seduzir por algum time. Pode ser pelo Palmeiras mesmo. Quem sabe, na dificuldade de agora que as coisas não se resolvem? Basta se permitir que aconteça. Mas nunca se esqueça disso. Casamentos não são felizes o tempo todo. Muito menos o com nosso time do coração.

Francisco Libânio,
19/11/12, 11:24 PM

624 - Soneto antissexy

Mais sexy? Não, não... Bonitinha, arrumadinha, namorável talvez...


Tá certo, sensual e bela imagem
São de um subjetivo profundo,
Mas daí à mais sexy do mundo
Ser a Geisy Arruda é sacanagem!

Ela não é feia, fez recauchutagem,
Muitas gostosas vão mais fundo,
Metem lá um silicone vagabundo,
Um botox, uma baita lanternagem

E viram grandes capas de revistas,
Endurecem paus e enchem vistas,
Mas a Geisy, poxa, sexy? Não dá!

Não por ela ser cheinha, mas tanta
Mulher melhor e que mais encanta
Que eu a deixaria tranquilo para lá.

Francisco Libânio,
19/11/12, 8:40 PM

623 - Soneto ao dia da bandeira

Bilac parnaseou a bandeira nacional e fez um hino lindo.


É uma data cívica, sim, compreendo,
E que a bandeira é símbolo nacional,
Eu mesmo escrevi sobre, ó que legal!
Sobre a importância não me estendo.

Mas sobre a efeméride, eu entendo
Ser algo estranho, um tanto artificial.
Honrar a bandeira? É dever maioral,
Mas precisa de dia certo? Defendo

Até que se cante o hino da bandeira,
Letra do Bilac, grande joia brasileira,
E todos os outros hinos nacionais

Mas esse lindo pendão da esperança
Devia ser apreendido desde criança
E não em datas isoladas e especiais.

Francisco Libânio,
19/11/12, 8:24 PM

622 - Soneto à bandeira

Muito bonita, sem dúvida.


O verde é tom de nossa floresta,
O amarelo reluz pelo nosso ouro,
O azul reflete o céu. Eis o tesouro
Que nossa bandeira tributo presta

Há ainda na bandeira uma fresta
E estrelas. Nelas o imorredouro
Branco serve como o sorvedouro
Da realidade que em nada atesta

O que está nessa linda bandeira
Todo ouro e floresta quase inteira
São matéria praticamente finda,

O que não faz desse estandarte
Pátrio verdadeira obra de arte
Criativa, majestosa e, claro, linda.

Francisco Libânio,
19/11/12, 11:57 AM

domingo, 18 de novembro de 2012

621 - Soneto permissivo

Se ela me desse essa liberdade, ia adorar.


Se eu pudesse, no meu soneto,
Como na mulher que tenho ideal,
Ter liberdade para qualquer mal
A quadra seria luxúria, o terceto,

Só desrespeito. Zoaria o coreto
Como com o par o prazer carnal
Seria comum, além do passional
Fugindo do que se dá por correto.

Eu imoral? Não. Fantasioso talvez...
A alegoria da mulher com a avidez
Irrefreável assusta, mas me anima

A escrever com a rédea mais solta
No papel, essa mulher está envolta
Em meus braços e aqui me sublima.

Francisco Libânio,
18/11/12, 7:46 PM

620 - Soneto censurável

Cairia muito bem num domingo como hoje.


Todas minhas fantasias e desejos,
Guardo-as dentro da intimidade.
Falasse delas à minha vontade
Mereceria os mais duros despejos.

Talvez por abusar dos gracejos
Quando se exige mais seriedade
E ser erótico quando a castidade
Pede a palavra. Esses lampejos,

Se desnecessários, impertinentes
Ou inoportunos, todas as frentes
Fazem mais ainda querer sonetear.

Se o leitor, ao ler alguma indecência,
Favor, mencione de já a preferência,
A censura e dê a um outro seu lugar.

Francisco Libânio,
18/11/12, 6:33 PM

619 - Soneto intimista

Quando acabar aqui, ninguém me segura!


Na tranquilidade do meu quarto,
Escrevo um soneto em total paz,
Enquanto o escrevo e ele me faz
Ocupado e um tanto menos farto.

De tudo, escrevendo, me aparto.
O nascedouro soneto muito traz
O que quero, concentração, gás
Ainda que isso pareça um parto.

Ideia, palavra certa pra fazer rima
E quando o fim dele se aproxima,
Dispenso a sisudez e descontrair

É ordem óbvia. Deixar a seriedade
E putear malicioso nessa intimidade
São coisas que não posso proibir.

Francisco Libânio,
18/11/12, 6:07 PM

sábado, 17 de novembro de 2012

Bazinga!

Até que o Sheldon é um cara legal.


Nunca fui fã de seriados estadunidenses.
Já tive muita coisa contra eles e contra quem os curta. Hoje não tenho mais. Mas minha opinião sobre eles mudou muito pouco.
No meu singelo entendimento, o humor feito nos EUA tem características peculiares, linguajar peculiar, andamento peculiar e jeux de mots peculiares. Até aí, morreu neves. Todo idioma tem seu poeta, seu brincalhão com as palavras. Isso é riquíssimo. Também são distintos os ways of life de cada país. E cada um seduz os seus e os de fora. Isso reflete em todas as modalidades artísticas nacionais. Nada mais artificial do que um russo falando sobre os cacaueiros da Bahia, mas isso é outra história.
Voltando a mim, já disse que tive muita coisa contra seriados estadunidenses. Achava bobo, alienante e um tanto impositivo. Não assistia. Consequência era sofrer nas rodas de conversas. Meus amigos sempre foram fãs de vários deles. Ouvi-los sobre o tema me trazia total dissintonia. Vê-los rir desbragadamente das gagues de seus programas favoritos me fazia perceber que havia algo de errado. Ou com eles ou comigo.
Certa vez, me propus a assistir um desses seriados. Não uma comédia porque minha última experiência em relação a elas tinha sido traumática. Eu, com vários amigos, assistimos um DVD e quarenta minutos depois era o único no recinto que não ria de absolutamente nada. Realmente, havia algo errado. Com eles ou comigo. Fui assistir ao afamado Grey’s Anatomy e, por abordar um tema sério, o dia-a-dia num hospital e as relações humanas envolvidas, o seriado me pescou. Assisti a uma maratona de duas horas tranquilamente e interessado. Foi o que me fez ver algo que não me agrada nos seriados (e aqui se abre indistintamente a qualquer nacionalidade): A obrigatoriedade. Televisão pra mim é algo que serve, antes de tudo, pra abstrair. Assistir a um programa, desligar e esquecer o que foi e não pensar no que vai ser. Por essas, por exemplo, há um bom tempo deixei as novelas de lado. Quando assisti à essa maratona do Grey’s Anatomy uma nova temporada estava por sair e a emissora, para matar a saudade dos fãs e pescar novos adeptos, passou todas as outras para rechaçar a saudade dos velhos e situar os novos. Isso me incomoda. Não gosto do compromisso com algo tão passageiro e fútil que é a televisão. Mas esse sou eu.
Voltando aos dias de hoje, dia desses, estava zapeando a TV entre um futebol e outro e caio num seriado que é tema corrente entre meus amigos, o Big Bang Theory (uma amiga, inclusive, disse que eu sou a cara do Leonard). Meti toda minha empáfia e preconceito no tapete e dei chance ao Sheldon e seus amigos me conquistarem. Ri? Um pouco. O seriado é agradável, é atraente, mas não me soou engraçado. Ou não como meus amigos pregam. Seja como for, me despertou o interesse de assistir a outros episódios. Tem lá seus momentos mais divertidos, algumas sacadas legais, mas não me prendeu pelo cômico.
Fato é que hoje a TV, a brasileira num olhar mais cotidiano e mundial num mais amplo, anda tão pesada, novelas que realçam tanto negativismo, tanta maldade, as notícias andam tão deprimentes e a realidade tão amarga que ver um grupo de jovens nerds se batendo em descobertas científicas sensacionais e apanhando em relacionamentos termina sendo uma fuga tranquila. Mesmo a falta da comédia é compensada pela leveza e, às vezes, pela quase inocência de seus personagens. Tenho gostado de assistir ao Big Bang Theory quando as notícias na Internet e na TV exaurem o raciocínio crítico. E no fim das contas, quem não gostaria de ter uma Penny como vizinha?

Francisco Libânio,
17/11/12, 8:54 PM

618 - Soneto declaratório

Você é isso, você é aquilo...


Ela me disse que eu sou bonitinho,
Que eu tenho meu charme exótico,
Que o jeito desbragado, anedótico
E brincalhão mexiam um pouquinho

Com ela. Achei um parecer daninho.
Do meu escrever, ela achou erótico,
Meu politicismo, teve por despótico,
Mas ela me reservava certo carinho.

Certo carinho? O que isso significa?
Ela, enquanto se insinua, me explica
Que o exotismo lhe atrai e lhe excita.

Beleza! Me aproveito da excitação,
Mas refuto absolutamente a atração.
Seu julgamento precipitado me irrita.

Francisco Libânio,
17/11/12, 9:27 PM

617 - Soneto defenestrado

Não basta ser defenestrado, tem que ser jogado pela janela.


Estava eu sentado, tranquilo na praça
Quando se deu o estranhíssimo caso.
Na paz de Deus, eu admirava o ocaso
Do sol, quando algo ao lado trespassa

O céu verticalmente e o chão abraça!
O negócio acontecia sem qualquer azo,
Caiu do segundo andar, um puta arraso!
Ao caído, não demora, e vem a massa

Curiosa. Breve inconsciência e logo bem
O caído se põe. Um pergunta o que tem
E ele logo o responde: Fui defenestrado!

Uma ao lado, impossível despercebê-la:
Defenestrado e ainda é jogado da janela!
Quanta violência contra o pobre coitado!

Francisco Libânio,
17/11/12, 6:54 PM