terça-feira, 30 de março de 2010

68 - Amor que passa, e passa... Este?


Amor que passa, e passa... Este?
Ah, duvido muito isso que seja amor,
Duvido até que seja algo. Perdeste
O senso. Se isto é amor – se for –

Deve ser destes de falso celeste,
Tons que se desfazem no vapor,
Artificial, sim, e isso é inconteste,
Incapaz de enganar um conhecedor

Este amor que tomaste à mão
E que passa, olha! Outros iguais
E logo este te chamou a atenção!

Se o jogares de volta com os demais
Dificilmente deles farás dele distinção
E outro amor não charas jamais.

Francisco Libânio,
31/10/09, 12:17 AM


Extraído de http://img382.imageshack.us/i/1a1aa1vr7.jpg/

segunda-feira, 29 de março de 2010

Essas coisas


Amar... Uma das dádivas da vida
É um verbo feito de carne e de mais
Alguma outra coisa e com as quais
Procura-se prolongar a descabida

Experiência de viver a dois. Os anais
Dos cartórios mostram o quão esta lida
É difícil e faz desistir, mas se vencida
A dificuldade de conviver e os demais

Contratempos do viver cotidiano
Forem superados sendo todos menores
Que a alegria de partir e de voltar ao lar

Sem tomar por irreparáveis os danos
(Normais como normais as meras dores),
Essas coisas se revestirão de paz ao se amar.

Francisco Libânio,
23/10/09, 11:58 PM


Exreaído de https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1Y2qFwFL40gP-MYI26rFG7PQfrvUBTQUV69oA2Fpktb2-WOGGSIoI1QmYGQeovFNUk1OUrK-GuMnFmCKfQBF6FqCHFgkZcuTUlOdP3oxZk6gDtF4xROsGbXDPxb2RqtjQRV7Ly20P64kx/s320/separa%C3%A7%C3%A3o.jpg

domingo, 28 de março de 2010

Pausa


É sempre preciso fazer uma pausa depois de uma grande conquista. Desfrutar os louros, ter aquela hora para olhar e pensar “Eu mereço” ou não pensar nada, apenas usufruir. Também é preciso fazer uma pausa após a tentativa. Esperar a colheita depois de todos os esforços. Essa pausa pode ser cheia de fé, de expectativas, de bons agouros para que tudo o que foi trabalhado dê certo ao final. Seja como for, todas as pausas, desde que surgidas de esforços, são tão justas e tão dignas quanto todas as horas trabalhadas. Sim, o descanso do trabalho é tão grandioso quanto ele.


Francisco Libânio

28/03/10, 6: 44 PM


sábado, 27 de março de 2010

Onze horas


São onze horas da noite. Para o poeta, que não consegue – igual a Vinicius – viver como poeta, a noite está se encerrando, a cama espera embora as ideias até começam a pulular (essa mania de escrever sempre quando o sono chega...). Queria ser como os outros que veem a lua da noite a anunciar, no escuro, um novo dia como se fosse o Sol. Mas já são onze horas, o Sol está longe e a lua crescente, que inspira os poetas e suas amadas, é um gancho num quadro negro e um recado imaginário onde se lê “Já é hora de dormir”.


Francisco Libânio,

27/03/10, 11:16 PM


sexta-feira, 26 de março de 2010

A Enfermeira


Rose era uma enfermeira há dez anos no ofício. Ajudava a salvar vidas e conhecia de medicina tanto quanto os médicos a quem auxiliava. Mas estava no cartório acertando sua separação litigiosa de seu marido, com quem foi casada há oito anos. Ela o conhecera no hospital onde trabalhava. Coisa dessas de novela. O cara chega passando muito mal, é internado com urgência e uma agradável e competente enfermeira o atende. Há uma empatia imediata entre ela e seu paciente e, embora pouco ético, o namoro começa discretamente no quarto, se solidifica com a melhora do rapaz e se oficializa quando ele a convida para jantar dando de presente uma garrafa de vinho. Um pouco agradecimento e muito de paparicação. Foram muito felizes durantes os anos em que viveram juntos. Rose era uma mulher atraente e mesmo procurando evitar ser bonita no trabalho, não conseguia. As cantadas vinham em profusão.

Mas ela ia se desvencilhando disso. Era uma mulher honesta e foi até o último dia em que dividiu uma cama com seu homem. Cresceram profissionalmente. No tempo em que trabalhou, ela galgou posições, ele também. Onde ele trabalhava não importa. Importa que eles estavam na frente do juiz pra colocar o ponto final na relação. Sem filhos seria muito mais fácil, cada um seguiria sua vida. E dessa vez sem televisão com idéias malucas.

Sim, televisão. Desde que o marido viu uma novela em que uma moça era enfermeira de dia e stripper à noite, ele começou a ter aquelas fantasias malucas. No começo, ela até aceitou. Intimidade de casal. Mas isso somado aos videozinhos que ele pegava na Internet, sempre com enfermeiras loiras, peitudas e gostosas fazendo e acontecendo, ela nunca mais teve paz.

Estava cansada de ser enfermeira em jornada dupla.


Francisco Libânio,

05/02/10, 11:49 PM

quinta-feira, 25 de março de 2010

Das diferenças etárias


Ao se ver, pode até parecer estranho, uma indecência,
Mas se for sincera e sem vícios pode ser proveitosa
A união de uma rosa recém colhida, fresca e airosa
Num vaso em que o tempo já encheu de experiência.

Francisco Libânio,
25/03/10, 6:24 PM


Extraído de http://dialmformovies.files.wordpress.com/2009/06/leitorum.jpg

quarta-feira, 24 de março de 2010

Um começo


Quantos milhões de crianças – perguntou-me uma
Abstraindo-me da minha hora de almoço –
Estão sem comer agora, moço? Diz! Alguma
Razão há para que se justifique o fosso

Que separa a fome delas e o repasto do moço?
Pensei, não havia até ver uma dama em pluma
E do outro lado um mendigo comendo um troço
Desconhecido e suspeito sem cerimônia nenhuma

Pensei nas crianças, possíveis filhas do mendigo
Enquanto a moça ao lado fazia pouco do excesso
De um pedido quase intocado em tanta porção,

Falei com ela, levei suas sobras todas comigo,
Dei-as ao mendigo. Não resolvi tudo, mas um começo
Eu fiz e uma família indigente teve uma refeição.

Francisco Libânio,
25/02/10, 12:28 AM


Foto extraída de http://www.jonglieren.at/spielen/star/pictures/clochard1.jpg

terça-feira, 23 de março de 2010

65 - Se eu te tiver, quanto de culpa será minha?


Se eu te tiver, quanto de culpa será minha?
Quanto de mim em ti será mero desejo?
Qual será na boca o sabor do teu beijo,
Meu agora, mas que outra boca aninha?

Ah, meu pobre coração aqui é uma rinha,
De um lado, tenho-te a sons de realejo
E embalado por eles, em teu colo me vejo
Mas do outro, desejo-te enquanto se definha

Minha alma que não me queria contigo,
Meu peito, que sempre se te ofereceu amigo,
Quer ser do teu sono o bom travesseiro

Eu não sei como te quero, amiga, ao certo,
Sabes que te quero bem e te quero perto,
Mas hesito a tanto de ti e do teu cheiro.

Francisco Libânio,
23/09/09, 12:21 AM


Foto extraída de https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAlHypML2PkVPm0aJH7R1usCP2CiWavCzW42WeCfPHhrkEh7HfZSpGUXahro3o7r4UcPi1qKJCkDnlrpBdl125AT5CNwn0M8ZjPJ4Wl_ICJS7KdTcsXYkkWZmWhMzqTk75sc4MAGbCnT0/s400/ATgAAAC2DlvnpMbs9K695z05jn205r3nfh7xEBKO7GCL-z3YJMy2UbHBKeuLAN9kV-BnaG8gjiK-ffjjSlxzWoefZmSZAJtU9VAPv6OFgFw_9_Y3o3AKDE4jXZBN1g.jpg

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Desaparecido


Procura-se André Turano, menor,
Mulato, um metro e sessenta
E tantos, filho de dona Leonor,
Doméstica, pai não sabido, cinqüenta

Quilos, magro, azougue e esperto,
Conhecido no morro e nas redondezas,
Mas que vinha num meio não muito certo
Com maus amigos roubando miudezas

A família pede informações sinceras,
Ainda que duras e reais. Avisos
Não faltaram sobre como são severas

As penas aos que andam por esta trilha.
Há uma esperancinha, por isso os dados precisos,
Mas resigna-se com outra perda na família.

Francisco Libânio,
14/10/09, 12:25 AM

domingo, 21 de março de 2010

Frasecas 08 - Falta de ideias


É preciso escrever alguma coisa para fechar o domingo, mas não sei o quê. Dia preguiçoso, um calor terrível. O poeta querendo tirar um cochilo para pensar na vida e refrescar a cuca. Mas é preciso um último tiro, que não vem. É vergonhoso admitir que não há o que escrever. E é humilhante usar isso como esteio para um texto. Fica parecendo desculpa.


Francisco Libânio,

21/03/10, 2:09 PM


sábado, 20 de março de 2010

Frasecas 07 - Tudo em pouco


Seria maravilhoso se na vida pudéssemos ter de tudo. Tudo o que quiséssemos em nossas mãos. Mas seria prudente, na posse desse tudo, dosá-lo. Para que ter tudo em doses cavalares se podemos ter este tudo homeopaticamente? Seria algo ideal. Seríamos felizes um pouco por dia com tudo. E nunca teríamos problemas de excesso.


Francisco Libânio,

20/03/10, 11:13 PM

sexta-feira, 19 de março de 2010

A Mulher Nua

Essa história começa num bar. O que pode haver de “cronicável” num bar sendo que todo mundo, ou quase, vai a um bar tomar sua santa cerveja, conversar com os amigos, ver gente diferente enfim? O problema é que nesses bares, por diferentes que sejam as pessoas, elas parecem sempre iguais. Mas o que aconteceu com nosso amigo foi, realmente, digno, não de uma crônica mas de uma coletânea de mentiras masculinas não fossem os fatos que se deram no discorrer do caso.

Muito bem, estava lá o sujeito, ao balcão, tomando sua cerveja num bar aconchegante da cidade quando senta ao seu lado uma mulher. Normal, afinal mulheres também freqüentam bares e a situação não seria nada nova se a mulher em questão não estivesse absolutamente nua. O cara olhou os seios abertos da mulher e de cara, antes de cantada, pensou que era uma dessas pegadinhas dominicais. Perguntou alto onde estava a câmera e a moça não deu a menor atenção à procura dele. Ele também pensou que a emissora podia arrumar uma atriz mais bonitinha para o papel. Não que a moça ao seu lado fosse feia, mas esses programas de pegadinha costumam caprichar em mulher gostosa. Alheia a essa parafunça toda, a moça nua pediu um drinque a foi atendida. O moço do balcão nem dava pelos seios nus da morena. Tratava ela como se fosse o outro rapaz e trataria mesmo que fosse um rinoceronte, desde que pagasse a conta no final. E a moça, apesar de estar sem bolsos, estava com carteira.

Quando se deu conta que não tinha câmera nenhuma em lugar nenhum, o cara resolveu voltar ao chão da realidade e fazer o que todo homem faria ao ver uma mulher nua. Perguntar o nome:

- Márcia – respondeu ela sem querer prolongar o assunto.

- Muito prazer, Hélio.

O prazer parecia ser todo dele. Ela tomava seu drinque sem nenhum interesse pelo moço. Moça difícil, ele pensou. Só porque tá aí pelada e bonita, fica sem dar confiança pro mundo. De repente, chega pra ela uma porção de queijo. E a danada sequer ofereceu. Comia um por um com o que ela achava ser classe. Ele resolveu pedir uma porção de presunto pra acompanhar a cerveja. Quem sabe, ela iria se interessar e podiam negociar um queijinho por um presunto, dois presuntos por um beijinho. Nada. Chegou a porção dele e ela nem aí. Ela ficou ali comendo, bebericando. Não tinha ninguém no bar. Algumas pessoas até chegavam, saíam. Algumas a cumprimentaram e não deram por ela estar nua. Parecia normal.

- Oi, Marcinha, tudo bem, linda?

- Oi, Michel, como você está? E a Milena? Manda um beijo pra ela e pras crianças. Tô devendo uma visita.

E o cara, que parecia ser casado, sequer dava uma bolinada nos peitos dela. Era um clima de respeito demais. E não foi o único. Parecia que ele era o único que reparava naquela moça nua num mundo em que roupas são moda e, mais que isso, obrigação. Aposto – ele pensou – que se fosse eu que estivesse aí sem roupa, baixaria um policial aqui e me prenderia por atentado ao pudor. Começou a ficar despeitado em relação à moça:

- Ela não sabe o que está perdendo.

Despeito considerado, o cara não tirava os olhos dela. Tornou-se mentiroso:

- Você não quer dar uma volta no meu Porsche depois que sairmos daqui?

Ela nem olhou pra ele. Passou algum tempo e veio seu lado canastrão:

- Você é muito linda, Marcinha, permita-me chamar assim. A nora que minha mãe pediu a Deus.

Nada, a pelada continuava bebericando seu drinque e pediu outro nem notando a presença do outro, que resolveu lançar-se ao patético:

- Você é a mulher mais linda que eu já vi em minha vida, Márcia. Por favor, me leve com você para onde você for daqui. Topo ir até o inferno se for com você, mas por favor, fique comigo essa noite!

Nada. A situação já tinha passado do ridículo faz tempo quando ele resolveu partir pro lado machista, canalha. Fez que ia ao banheiro e, passando por trás dela, deu-lhe um abraço e apertou os seios da moça beijando sua nuca com uma leve bolinada. A moça saiu do sério e lhe plantou a mão na face, um tapa estalado e sonoro. Tão sonoro que ele acordou. Eram quatro e meia da manhã e ele suava frio. Amanhã procuraria um analista. Até a mulher dos seus sonhos lhe dera um toco.


Francisco Libânio,

16/03/10, 8:29 PM


Foto extraída do blogue Desejos Íntimos

quinta-feira, 18 de março de 2010

Amanheceu


Amanheceu. Depois do teu amor de cortesã
Temperado com o amor que é só teu,
Acordo e te serves a mim por café da manhã.

Francisco Libânio,
18/03/10, 12:45 PM


Foto extraída do blogue Desejos Íntimos

quarta-feira, 17 de março de 2010

Série Desejos - Penumbra


Em meio às sombras amar...
Ter o corpo amado sob fiapos de luz
Envolvidos pelos tons do lugar
Envolvendo-nos a sós e nus

De repente, uma dúvida aparece:
Qual corpo é teu? O que vejo
Nos contornos em que a luz resplandece
E cada nova forma marco em beijo

Ou o que possuo, mas extenso,
Porém aos olhos quase invisível
E ao mesmo tempo mais denso
Ao corresponder e ser sensível

Ao toque? Ah, ao espaço a dúvida!
Deixa... Enquanto quedarmos envolvidos
Serei menos razão e mais sentidos.

Francisco Libânio,
14/03/10, 5:38 AM


Foto extraída do site Desejos Íntimos

terça-feira, 16 de março de 2010

Série Desejos - Mar


Olho o mar, mulheres maravilhosas envoltas
Em salobra água que, por ondas inquietas
São assaltadas e se vitimam com entrega
Algumas, muito lindas, muitas muito soltas,
Umas com desejos ocultos, mas todas completas
Nessa água que as refresca e lhes carrega

Eis que vem do mar, uma sereia. Anônima na areia,
Ela se deixa levar pela água e o que lhe cobre
Ela oferece ao mar ritualmente como oferenda
E fica nua como se vestisse algum traje nobre
E tem á água como se vestisse alguma renda.

Não me seguro e corro para o mar a amá-la
E ela me permite como se estivesse à espera
Fazendo-se em meu corpo, dando-me posse
De tudo que é seu enquanto o mar nos embala
Num vai e vem de ondas que apenas tempera
De salgado o beijo da sereia que ainda é doce.

Francisco Libânio,
16/03/10, 12:01 PM


Do blogue Desejos Íntimos da Paula

segunda-feira, 15 de março de 2010

Série Desejos - Natural


Poemas inspirados nas fotos do blogue Desejos Íntimos

Desça desta árvore, moça, e deixe
De se esfregar nestes galhos altos
E sem sentimentos. Não descanses
Tão inalcançável. Venha num salto

E deixa que outro corpo o teu abrace
Trocando contigo de igual pra igual
Teu desejo dado para a paisagem,
Mas que entre dois é tão natural

Francisco Libânio,
13/03/10. 10:26 PM

Extraído de http://desejos-intimoss.blogspot.com/2010/03/natural.html

domingo, 14 de março de 2010

Frasecas 06 - Chuva

Chove em Prudente depois de uns bons dias. Nada contra o Sr. Sol, astro rei de reinado eterno a quem os astrólogos impõem um golpe de estado. Mas isso acontecerá daqui a bilhões de anos e não creio que será testemunhado. Por hora, apenas contemplo o domingo em que ele resolveu descansar para que as nuvens nos trouxessem um pouco de água. Vem em muito boa hora. O reinado do Sr. Sol é soberano, mas mesmo os líderes eternos merecem um descanso e deixar que as coisas se refresquem. Creio que nem ele estava agüentando o calor.

Francisco Libânio,

14/03/10, 10:34 PM



sábado, 13 de março de 2010

Frasecas 05 - Essas coisinhas

Essas coisinhas pequenas e difíceis de escrever... Quanto tempo um pensador dos séculos passados levava pra cunhar uma frase que perduraria por tantos anos, viraria um jargão. Será que ele sabia que isso ia acontecer? Seria pretensioso a esse ponto? Eu, que quebro a cuca atrás de algumas linhas, não consigo. Terminei escrevendo essa reflexão depois de tantas jogadas ao lixo. E essa será esquecida. Só sobreviveu.

Francisco Libânio,

13/03/10, 9:37 PM



sexta-feira, 12 de março de 2010

Corpos bonitos


- Você parecia ter uma bunda maior.

- Era a calça.

- E seus peitos pareciam mais fartos também. São pequenininhos...

- Sutiã com enchimento, desculpe.

- Tem alguma coisa em você que seja realmente sua?

- O caráter.

- Como assim?

- Oras, pode procurar. Sou uma mulher de bom caráter, cumpridora dos meus deveres, não tenho quem reclame de mim. Se quiser lhe dou referências além da minha família. Meus patrões e as pessoas com quem convivi e que tiveram qualquer relacionamento comigo.

- Mas você me enganou. Parecia um mulherão e agora que estamos aqui, no tirar das roupas descubro outra mulher. Vai, confessa. Esse cabelo moreno também não é seu. Você é careca. Ou loira, fez só pra me enganar.

- Se você não acredita em mim, melhor acabar tudo antes que comecemos algo mais sério.

- Mas...

- Ah, cansei. Tenho certas questões com meu corpo mesmo. Num mundo em que todas as mulheres são gostosas ou parecem, eu tenho que competir de alguma forma. Mas isso não desfaz a boa profissional que eu sou, a amiga, a filha. E quer saber? Muito menos, a mulher... Meus namorados não têm isso pra reclamar de mim. Se você dá tanto valor pro meu corpo, procure uma melhor.

Quando ela estava arrumando a bolsa, já vestida e procurando o telefone do táxi, ela ouviu:

- Espera.

- Que foi?

- É verdade tudo o que conversamos antes?

- Tão verdadeiro quanto esses olhos castanhos.

- Então fica comigo? Gostei tanto dos nossos papos. Olha, nem ligo mais pro sutiã, pra calça... Se você for careca, deixa pra lá. – E tomou a sua mão.

A noite foi ótima entre eles. Ficaram juntos. Ele nunca mais falou nada sobre o corpo pouco curvilíneo dela. Também nem tinha como. Ele estava longe de ser um Apolo.


Francisco Libânio,

06/02/10, 1:13 PM



quarta-feira, 10 de março de 2010

Soneto machista


“O homem forte rende a mulher e não se rende”
Dizias querendo ser a parte passiva na relação,
Mulher que se entrega, afinal assim se entende
A corte e o enlace do casal segundo a tradição

Cabe ao homem investir e tomar a iniciativa
Tomando a mulher subjugando-a ao seu poder
Enquanto a mulher, conquistada e enquanto viva,
Devia um respeito em que só lhe cabia obedecer

“Homem que se dobra à mulher é sinal de fraqueza”
Completavas não querendo um homem fraco para ti
E tanto mais disseste que de tudo a nós desisti

Pois eu não procurava passividade ou fortaleza,
Mas um equilíbrio entre dois, queria forças iguais
Para que os dois se fortalecessem cada vez mais.

Francisco Libânio,
22/02/10, 3:29 AM


Figura extraída de http://visionaryrevue.com/webmedia2/lormedia/lor.hope.532x410.jpg

terça-feira, 9 de março de 2010

06-03-10


De repente te vejo. Estás do meu rosto um nada,
A distância para que as bocas se façam em beijo,
A um suspiro para fazer desta mulher que eu vejo
Além de uma simples visão, a minha musa amada

E assim tomo-a em meus braços e ela se entrega
Como se fosse minha desde sempre e prometida
Pelo destino. Amamos como não se ama na vida
Num desejo incessante filho de uma paixão cega

Amo-a! Amo-a porque não quero da vida nada mais,
Apenas ela, mas ela desmaterializa, desaparece,
Nosso amor, tão ardoroso, acha um abrupto final,

Pois ela não estava aqui. De tanto amor, éramos reais
E eu, que tanto a quero, peço, suplico numa prece
Que ela de meu sonho, faça-se e ame-me no real.

Francisco Libânio,
06/03/10, 12:05 AM


Extraído de http://static.blogstorage.hi-pi.com/photos/paulinhojequie.arteblog.com.br/images/gd/1264497829/NO-LIMITE-DO-IMAGINARIO.jpg

segunda-feira, 8 de março de 2010

Oito de março


Qual o segredo da tua força disfarçada
Tão bem e tão convincente de fragilidade?
Qual o fim de se fazer submissa e dada
Se és quem manda e decide na verdade?

Teu poder é sabido de antes da Antiguidade
Ou por que culturas te puseram amarrada
Dizendo sim senhor, às vezes com crueldade,
E agüentando, por outras, passiva e calada

O que não sabiam eles – e ainda sem saber
Muitos morrerão – é que te fazias de fraca
Para não humilhá-los com teu pleno poder

Capaz de ofuscar pelo simples dom de ser
Forte contra a força tão masculina e opaca
Sendo doce e sendo, acima de tudo, mulher.

Francisco Libânio,
08/03/10, 12:00 PM


Extraído de http://cantinygamboa.com/Alumnos/Latifa%20y%20Ramona/InternationalWomensDayBenHeine.jpg

domingo, 7 de março de 2010

Frasecas 04 - O Futuro com a Nuca


Acabo de ler um texto no qual o autor fala sobre a saudosa Ferroviária de Araraquara, num jogo daquele time contra o Juventus da Mooca que se deu pela terceira divisão do Paulista. Ele, como eu, parece ser um apaixonado por times pequenos e pelo futebol dito alternativo. Mas peca no excesso de nostalgia. Cita times passados do time grená do interior. Ora, não é uma terceira divisão que derruba a tradição de um time. Ela é apenas um passo. Muitos que já estiveram no topo desceram. É a ordem natural das coisas. Os times de outrora são lembranças gloriosas, não soluções. O passado é um alento para o futuro, claro, mas não constrói o presente, estrada expressa – ou não – para este porvir.


Francisco Libânio,

07/03/10, 12:57 PM


Foto extraída de http://blogs.jovempan.uol.com.br/joaoantonio/2010/02/22/a-forca-da-ferroviaria/

sábado, 6 de março de 2010

Frasecas 03 - Seis bilhões


Eu sei que o mundo é grande, que ainda que três quartos sejam água, o quarto sobrante é terra e mais terra. Mas seis bilhões de pessoas? É gente demais pra caber em tanta terra assim. E se considerar que um tanto dessa terra é gelo, a coisa fica mais restrita ainda. Pra mim, alguma coisa está errada. Mas se tudo estiver certo, for provado que somos seis bilhões – ou mais – não tem problema. Pior problema é gente que, sendo um, queira ter posse pra seis bilhões.


Francisco Libânio,

05/03/10, 10:56 PM


sexta-feira, 5 de março de 2010

Toneco Tavares, o Presidente da Câmara ou A Múmia

(Melhor se lido após Gardel Bardi ou A Mulher Nua)


O dia de Toneco Tavares começou com uma ressaca monstro. O presidente da Câmara, famoso pelos porres homéricos, ontem também exagerou na canjebrina e hoje pagava o preço dela. A mulher foi acordá-lo com um café forte e lembrá-lo que hoje a sua bancada, os oposicionistas ao prefeito Gardel Bardi, tinham uma reunião importantíssima. A desafeição entre o prefeito e o presidente da Câmara era famosa na cidade. Tavares fora prefeito na gestão anterior e foi muito criticado pelo seu sucessor, vereador há alguns mandatos, mas que nunca chegou à cadeira principal. Essa era a carta na manga de Toneco. Mais popular? Difícil saber quem era. Na verdade, a população responderia a essa pergunta elegendo o menos insuportável. Toneco era um beberrão boêmio, mas um vereador atuante de dia. O prefeito Bardi vivia às voltas com acusações de desvio de verbas. Não que a honestidade de Tavares fosse algo exemplar. Os donos dos bares freqüentados pelo senhor presidente já pensaram em cobrar as penduras do ilustríssimo na Câmara Municipal. Ou até bloquear a quantia via juízo. Só não o fizeram porque ia ser notícia de jornal, confusão. E eles eram tímidos, iam ter que sair em foto e poderia espantar a freguesia.

Depois do santo café e do salvador antiácido, Toneco se arrumou para a reunião na casa de um de seus correligionários. Quando se preparava pra sair, a mulher o chamou. Telefonema urgente de um dos seus informantes secretos (ele tinha vários só pra aporrinhar a vida do seu inimigo político).

- Seu Toneco, o senhor não sabe da última! O prefeito Bardi tinha uma múmia na prefeitura.

- Deve ser alguém da família dele.

- Não, seu Toneco. É múmia mesmo. Daquelas de filme, enfaixada e tudo mais. O senhor precisava ver.

- Acha? Onde ele ia arrumar uma múmia? Isso não é coisa que vende em camelô.

- Mas é, seu Toneco. E vou falar uma coisa pro senhor. Ou eu sonhei ou a tal múmia tinha uns peitões. Vou falar, aquela era uma múmia gostosa.

O vereador desligou o telefone quando o informante começou a descrever a tal múmia com aquele jeito de quem tivesse dormido com ela. Múmia com peitão? Esse cara devia estar maluco vendo esses filmes de terror vagabundos. Ou, certamente, o sujeito bebeu mais que ele na ontem e teve essas ilusões. O lance agora era ir até à reunião. No caminho, parou pra abastecer o carro e enquanto o frentista cuidava dos vidros, ele foi tomar mais um café pra espantar a dor de cabeça. E onde ele passava, o assunto era a múmia do prefeito. Toneco Tavares procurou se assuntar mais sobre o tema. Tava aí uma ótima forma de denegrir Gardel Bardi. E começou a espalhar a notícia aumentando, é claro. Disse que um prefeito que coloca uma múmia no seu gabinete ou é maluco ou tem coisa com o Demo. Essas coisas de ficar colocando morto onde ficam os vivos. Não viu o prefeito pela manhã toda, o que era bom. Se o visse, iria cascar de rir da cara do maluco. Abastecido o carro e cheio de idéias, Toneco foi pra casa do nobre colega. Lá encontrou alguns simpatizantes como o doutor Honório Holiveira, médico respeitado na cidade e foi logo perguntando:

- O senhor viu essa da múmia do prefeito?

- Não, o que a primeira dama fez?

Aqui vale explicar que o dr. Holiveira ainda nutria um ranço de anos por conta da primeira dama nunca ter lhe dado pelota e ter casado com outro. Tavares explicou o caso com as coisas que ouviu enquanto ia pra reunião. O dr. Holiveira achou muita graça e brincou dizendo que deveria ser uma entrevista pra secretário de alguma pasta. Enquanto conversavam, iam chegando os vereadores da bancada simpática ao presidente. A história virou o tema da mini-assembléia. Claro que nenhum dos presentes tinha visto a múmia. Dois vereadores, religiosos ardorosos, ameaçaram se retirar da reunião porque isso tudo era coisa do Diabo e não era pra se tratar como piada. Pensou-se em atacar o prefeito dizendo que ele tinha uma seita secreta que sumia com crianças em oferendas de rituais satânicos. O problema é que fazia anos que nenhuma criança sumia na cidade. Pensaram então em atacar a paixão por relíquias antigas do prefeito e isso atingiu outro vereador, também apaixonado por antiguidades. Conversa que conversa e chegaram à seguinte conclusão. Iriam cooptar a múmia para sua bancada. Onde já se viu tocar uma múmia do gabinete assim? Estava decidido. Com sorte, poderiam até lançá-la candidata no próximo pleito.


Francisco Libânio,

10/01/10, 10:20 AM

quinta-feira, 4 de março de 2010

Da intransigência


Oras, é preciso dar passos à esquerda ou à direita,
Recuar um pouco ou avançar, mas guardando bem
O cerne de sua idéia, é preciso ter a cabeça feita
Sem ficar como um burro empacado na linha do trem.

Francisco Libânio,
04/03/10, 12:55 PM

quarta-feira, 3 de março de 2010

Consórcio


Minha caneta, enquanto eu escrevo,
Parece conhecer o que penso melhor que eu
Culpo-a? Não. Se a surpresa é o enlevo,
Gosto de ler o que ela por si só escreveu,

Pois parece que fui eu. E me atrevo,
Na sua incapacidade, tomar por meu
Cada verso dela, mas se eu a levo
Pela mão e disso o poema nasceu

Por que não reclamar a minha parte
Neste processo em que ela tem a arte
E sou o braço que a transforma em fato?

Posso ter pensado, ter a ideia do escrito,
Mas ela a leu, e num consórcio lícito,
Usa-me enquanto lhe roubo o artefato.

Francisco Libânio,
25/09/09, 10:32 PM


Extraído de http://www.nicasiodesign.com/blog/wp-content/uploads/2009/04/writing1237253437.gif

terça-feira, 2 de março de 2010

Eu


Eu, ser maturado em minhas experiências,
Um produto final ainda em processamento,
Posto a contragosto em novo experimento
A cada dia que se acrescenta às vivências;

Eu, de gametas um rudimentar invento,
Aluno de própria e de alheias docências,
Mera parte na mais humana das ciências,
O existir, ainda estou em desenvolvimento

Que dizer de tudo após estes cartesianos
Testes num mundo mais e mais pragmático
E eu, poeta, imerso em sonhos e recordações?

O que dizer, não sei, mas após experimentações,
Acordam-me do onírico neste mundo fático
E me cumprimentam meus trinta e um anos.

Francisco Libânio,
02/03/10, 12:05 PM


Foto extraída de https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxxdVVVcOySg3uOzd3OQ73sng7nfu3AZhZtMp7S5mpCdiyv0orBwTZFnbN7LLhg2IsE3d5oJsvSV1E3wy2zxlpq-SZJ9DzaejI6AOdMdHOrrqBJ6Vi38gANPLj2-4YQhXqlenec1O9FBA1/s400/reflexao.jpg

segunda-feira, 1 de março de 2010

Ambígua


Encaro-te e teu olhar me chama,
Tua boca também, mas alguma
Coisa em ti não me quer e exclama
Isso abafada. Sei, pois ouço uma

Ou outra impressão do teu incômodo
Então consulto teu olhar outra vez,
Ele me assegura da intenção que fez,
Mas já tua boca age de outro modo

Àquele que era dela na vez passada
Uma palavra destoa, um silêncio vacila,
O olhar se mantém, mas uma pupila

Repensa a ideia. A boca volta atrás,
De novo, mas agora não quero mais...
Medo de quem está consigo desafinada

Francisco Libânio,
13/09/09, 1:21 AM


Extraído de http://byfiles.storage.msn.com/y1pTviatfbbbuQhNfkNRKQHwrkY55MfpxZknxozIrN3cL0yUeGOuJpHGhhBEaJ9pqBr2KXo8y43-vw