sábado, 30 de novembro de 2013

1310 - Soneto aos detratores de Zumbi

Zumbi é um herói. Convivam com isso!

Zumbi não era herói, tinha escravos,
Zumbi era um tirano, Zumbi era gay;
No quilombo de Zumbi não tinha lei.
Contra Zumbi são vários os agravos.

Mas de onde é quem vem os cravos
Contra o rei de Palmares, isso eu sei.
São os tais sabichões que tem o rei
Na barriga e leituras de dez centavos

Que acreditam nos sabichões iguais
E, regurgitando os ditos intelectuais,
Falam merda a rodo e não dão prova

De nada. Simpáticos à Casa Grande,
Creem numa verdade que desmande
Outro imbecil. Todos merecem sova!

Francisco Libânio,
20/11/13, 12:30 PM

1309 - Soneto aos negros radicais

Beleza, moçada. Mas sem exagero nem revanchismo e nem violência.

Felicito-os pelo dia e luto por ele,
Adoro sua cultura, tão brasileira
Que o Brasil, uma nação faceira,
Não o seria sem. Que se debele

Qualquer preconceito e que sele
A aceitação da mais verdadeira
Raiz negra sem deixa-la à beira
Do mundo por conta de sua pele.

Mas aos negros que, em desejo,
Querem supremacia sem o pejo,
Sem vergonha de trocar o sinal

Da opressão, a esses: reflexão!
Pense sem ter rancor no coração
Ou terá culpa de igual ou pior mal.

Francisco Libânio,
20/11/13, 11:55 AM

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Observar e ser observado

Só observando

Quando se escreve, ler é algo muito bom para buscar inspiração, conhecer autores, ora dialogar com seus diversos estilos. Mas por mais que toda leitura do mundo seja enriquecedora, às vezes ela se satura e satura quem lê. Quando isso acontece, vem a segunda parte, o recurso mais palatável para um escritor: Foi meu caso recentemente.
Após overdoses literárias, os livros já não correspondiam ao intento de coletar ideias. Resolvi me entregar, pois, àquilo que muitos poetas confessadamente fazem: A contemplação. Assim, peguei rumo a uma praça no São Judas, lugar tranquilo e sem aquele alvoroço humano atrás dos seus ônibus e compromissos no centro da cidade. Quem andava por ali, certamente, tinha algo a fazer, mas não demonstrava pressa. Permitia que fosse vista e podia trazer, ainda que não soubesse, ideia para uma crônica ou uma poesia.
Enquanto eu estava com o caderno à mão e a cabeça receptiva a qualquer ideia que viesse, alguém me cutuca o ombro:
- Moço, tem cigarro?
Vejo. É um velho mendigo andrajoso e um saco consigo. Espera um cigarro, que eu não tenho. Respondo com a mesma naturalidade:
- Eu não fumo.
Ele me pede uma moeda e temo um assalto, uma violência, essas coisas de cidade grande das quais nem Prudente escapa. Meu lado cristão me socorre e me lembra que tenho, sim, uma moeda – ou duas – e que, verdade seja dita, não me farão falta. Passo-as ao pobre homem. O que será delas agora já não me diz respeito. Ele se afasta e penso que um mendigo poderia me render uma crônica, uma poesia. Mas já escrevi tanto sobre questão social, vejo tanto isso todo dia que o tema sairia batido. O mendigo evidentemente não tem culpa alguma da minha pobreza criativa. Talvez nem lhe interessasse saber o que fazia ali o homem que lhe deu duas moedas. Pois que eu siga meu exercício contemplativo.
As horas passam. Rabisco versos, frases. Vejo pássaros. Mas todo mundo já escreveu sobre passarinhos, rosas. Vinicius fez isso com tal maestria que eu não tenho cara pra querer fazer igual. No banco ao lado, uma mãe e um filho pequeno se sentam. Descem a rua que eu subi. Estavam cansados e, pelo que eu entendi, ainda não estavam perto de casa. A mulher me pergunta se sei de algum ônibus que vai para dado bairro. Não moro ali, não posso ajudar. Recomendo que pergunte na padaria ali perto. A moça sai de lá e seu menino agora tem um sorvete. Crianças? Seria um bom tema? Não sei... Fernando Sabino escreveu algo parecido envolvendo criança, guloseima, botequim. Tá, era botequim ao invés de padaria, mas dá no mesmo. Até rabisco algo, mas não gosto.
O tempo na praça passa e, fora essa pobre aliteração, nada vem. Se eu fosse para outra praça, a São Sebastião, no Centro, talvez eu tivesse melhor sucesso. Pensando bem, não. Dois extremos. Nenhum deles me daria ideia nenhuma que prestasse. Se a calma excessiva não propicia algo que inspire, a pressa irracional pisoteia qualquer possibilidade lírica que se possa ter. Olho o tempo. O sol de inverno é bem tranquilo e não a inclemência que assola no verão. E se eu passeasse? Se eu andasse algo pela rua como se procurasse a inspiração, essa entidade invisível que só os poetas e os loucos a descrevem minuciosamente. Não. Seria loucura. Sigo na praça. Ônibus descem a rua e pessoas a sobem.
Contei que há uma padaria aqui perto. Atento-me a ela. Pode sair daqui a ideia que tanto quero pra escrever. Saem pessoas com pães quentes e cheirosos. Isso não me inspira a cabeça, mas excita o estômago. Escrever com fome é furada. E o problema agora é esse: Fome. Poderia me juntar e ir à padaria, mas não quero gastar dinheiro. Sou murruga? Estou sendo. Luto contra meu apetite, mas a praça começa a me desanimar. Nada acontece. Como os grandes escritores lidavam com isso? Se a praça é do povo como o céu é do condor, o ar aqui anda tão rarefeito que nem ele aguenta tal altitude. Não sou condor, mas declino à praça. Vou-me embora. O dia não rendeu. Paciência.
É quando chego em casa que reflito sobre essa experiência da praça. Para mim, ela não rendeu absolutamente nada, mas para a vida, ela foi uma sucessão de encontros casuais que dificilmente aconteceriam. Um poeta encontra um mendigo, ajuda-o com duas moedas e depois recomenda um aconselhamento a uma mãe que termina com seu filho ganhando um sorvete. Histórias pobres e nada criativas para este cronista, mas que renderam linhas muito melhores e bem mais trabalhadas que esta pobre crônica na qual ele foi mero personagem.

Francisco Libânio,
26/04/13, 10:47 PM

1308 - Soneto aos brancos deslocados

Enfia seu poder sabe bem onde!

Vocês, que ainda creem na diferença
Entre as cores, inferiores, superiores,
Vocês, que nunca sentiram as dores
Do preconceito e nem a desavença

Na banda que não sofre a sentença,
Vocês, que acham que raças e cores
São questões superadas e menores
E se indigna com tanta recompensa

Que os negros recebem injustamente,
Afinal é coisa de quem se ressente,
E a escravidão acabou e se esqueça.

Você tome tento, acabou vida vassala.
Acabou casa-grande, acabou senzala,
Você que não evoluiu, que desapareça.

Francisco Libânio,
20/11/13, 8:18 AM

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Hai-kai de alienação

Nada vê e nada sabe, porque não quer.

O mundo pega fogo. Guerras, conflitos,
Paixões defendidas e voz inflamada
Enquanto a minha voz aqui fala nada.

Francisco Libânio,
20/07/11, 1:43 PM

1307 - Soneto aos chatos

Imagem meramente ilustrativa

Se o semancol é o problema
Dos inoportunos, os chatos,
Os especialistas em aparatos
Da aporrinhação e do sistema

Da malice pura e estratagema
Em ser desagradáveis natos,
Esses grão-mestres insensatos
Merecem mais que um poema,

Um soneto e nem uma epopeia
Pode dar ao leitor a pálida ideia
De como essa espécie e a paz

São incompatíveis. E a solução?
Aos chatos a única é a exclusão
Ou suportá-los quem for capaz.

Francisco Libânio,
19/11/13, 9:29 PM

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

1306 - Soneto aos inoportunos

Ser inoportuno é uma arte que vem de berço

Não que vocês sejam, digamos, chatos...
Mas lhes falta, eu diria, um certo senso,
Uma noção de oportunidade e, extenso
Também, rigorosos cuidados nos atos

Sociais onde os se pedem uns recatos,
Certas discrições e um grande, imenso
Pendor a ficar calado ou tudo é tenso.
E os ares à confusão tornam imediatos.

E assim, meus bons baldos de noção,
Que fique nesse sonetinho essa lição.
Tudo na vida tem seu momento e hora.

Mesmo para a gracinha, a piada infeliz,
Pois quem não sabe o que faz ou diz,
O melhor que se faz, então é ir embora.

Francisco Libânio,
19/11/13, 12:27 PM

1305 - Soneto aos formadores de opinião

Esse, por exemplo, não forma opinião de ninguém.

Por sermos seres assim, gregários,
Diversos e querendo de saber mais
Além de nossos saberes normais
E por serem outros saberes vários,

Especialistas tornamos fiduciários
Para tantos os assuntos que, tais,
Não sabemos e eles sabem demais,
Ou deviam. Vezes, soam primários

As palavras sobre sua especialidade
Mas doutrinam, plantam por verdade
Divina e chancelam com um diploma

A mim não dobram esses charlatões,
Enfiem no cu suas sábias opiniões,
Que assustam só de sentir o aroma!

Francisco Libânio,
19/11/13, 9:27 AM

terça-feira, 26 de novembro de 2013

1304 - Soneto aos inimigos

Se você não está aqui, fique tranquilo, você não tem inimigos.

Graças ao Facebook e ao humor
De autoajuda, para melhorar o dia,
Pessoa resolve sambar a alegria
Diminuindo os inimigos e, pior,

Sublinham os mesmos e dão cor
A essa rixa, a falta de diplomacia.
Inimigos! Taí uma estranha mania
Para fazer a pessoa ficar melhor.

Mas pensa bem, até o desafeto,
Esse que a antipatia dá panfleto
De imprestável é pessoa omissa

Quanto a você. Acorda pra vida!
Inimigo ou inimiga, minha querida,
Não há. Não é da Liga da Justiça.

Francisco Libânio,
19/11/13, 8:13 AM

1303 - Soneto aos amigos

Acima de tudo.

Meus amigos são pessoas especiais
E eles não valem nem todo o dinheiro
Do mundo e eu. que sou todo, inteiro
Amigo, acho que eles valem bem mais

Que dinheiro, ouro como os metais
De valor. Mesmo aquele mexeriqueiro,
Aquele xarope, aquele mais matreiro
Que te queima a vida junto aos demais.

Meus amigos podem não valer nada,
Mas se concordar, entra na porrada,
Eu posso achar isso, mais ninguém.

E assim, mando esse filho de belzebu
À merda e ele me manda tomar no cu
E seguimos amigos e está tudo bem.

Francisco Libânio,
18/11/13, 7:45 PM

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

1302 - Soneto aos desafetos

Ora, vá pra...

Simpatia é algo que se conquista,
Já amizade é algo que se cultiva,
Barco que desatenção faz deriva
E que mesmo distância não dista,

Pois há como não perder de vista
E meios para deixar sempre viva
A amizade. Mas a antipatia criva
Fácil e chega chegando de crista

Erguida já plantando a desafeição.
Oras, há mil formas de absolvição
Quando se condena por antipatia,

Mas quando, apesar delas, segue
A desafeição, o diabo a carregue,
Pra desafeto, minto num bom dia.

Francisco Libânio,
18/11/13, 12:33 PM

1301 - Soneto aos detratores

Ah, se liga!

Como quem gosta, tem quem não gosta,
Como quem admira, tem quem abomine
E opiniões, quem quer que as determine,
São válidas. Uma opinião pra fora posta

Vem a acrescentar ou, à contraproposta,
Vem parar tosar exageros, vem, redefine,
Reflete. Mas se é só achismo que buzine
Sem nada a acrescentar é tão mais bosta

A opinião quanto o soneto que fora lido.
Se não gosta e só vem pra encher ouvido,
Vá fazer crochê, vá pescar e, desapareça!

O soneto pode não ser a oitava maravilha,
Mas quem não gosta, pegue uma trilha
E suma ou escreva lá uma melhor peça.

Francisco Libânio,
18/11/13, 11:30 AM

sábado, 23 de novembro de 2013

Pode haver uma outra mulher

Não deixo você por uma dessas nem a pau.

Pode haver uma outra mulher,
Mais bonita, mais interessante,
A musa que há tantos encante,
A deusa que inspire tal prazer

E tamanho sonho de envolver
Que o homem se põe diante
De um dilema tão conflitante
Que do todo ele irá esquecer.

Pode haver a mulher perfeita,
Ideal e que facilmente aceita
A corte e assim destrói a vida

Do homem. Pode haver, haja,
Pois! Seja a mulher uma naja
Que não trairei minha querida.

Francisco Libânio,
15/11/13, 10:25 PM

1300 - Soneto aos leitores

Se for uma leitora e gostar... Valeu a pena.

Quem já leu até mil e duzentos
Sonetos sem querer dar um tiro,
Agradeço. Ler enquanto deliro
Esses diferentes comprimentos

De versos soltados aos ventos.
E se gostam, aí é que admiro
Quem lê. O que faço? Me atiro
A escrever e no mil e trezentos,

Se for pensar, bem tardiamente,
Agradeço e reverencio a gente
E me animo a continuar na luta.

Quantos leitores? Poucos, cinco,
Seis, mas merecem meu afinco
E por isso, seguirei essa labuta.

Francisco Libânio,
18/11/13, 8:04 AM

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Meu passado é passado e escrito

Ela não me pertence mais, quero novidades.

Meu passado é passado e escrito
E impagável, o que posso eu fazer?
Negá-lo seria mentir e fazer sofrer
E recuperá-lo, reviver o proscrito,

O erro e ressuscitar um mau mito.
Há o ensino como houve o prazer,
Mas o presente pede outra mulher,
Outra história como algo a ser dito.

Personagens novos, outra história
Para viver e buscar nela tal glória
Que tentei ter antes sem ter sucesso.

O passado passou, és o presente,
És esperança, o novo, o diferente
A fazer do passado exato avesso.

Francisco Libânio,
15/11/13, 1:12 AM

1299 - Soneto sobrepesado

Inveja de não ter uma gostosa assim.

A namorada pesa mais, tudo bem.
Peso são números, massa é fato.
E esta mais engrandece o retrato
Com a graça e a sorte que ele tem

Com a parceira gorda. Até alguém,
Invejoso, chegar no puro desacato
Com ela. Caçoa, ri, zomba do ato
Íntimo do casal, e o namorado, zen,

Tira de letra, não desfia sua cama,
Ele só apalpa o mulherão que ama
E deixa no ar. O outro que imagine,

Ria e se esbalde. A inveja é forte
E o invejando, jamais terá a sorte
Da mulher gordinha que o desatine.

Francisco Libânio,
17/11/13, 4:19 PM

1298 - Soneto pontual

Nem sempre dá certo...

Acabei um soneto às dez horas,
Pontualmente, nada combinado.
O ponto e o minuto arredondado
Coincidiram em paz, sem moras,

O mal das igualdades criadoras
É querer repetir esse tal achado.
Pôr relógio e soneto lado a lado,
Malditas paranoias interventoras

Na criação e no tempo de criar.
Cada soneto tem o justo lugar
No tempo e só a este pertence.

Mas este soneto, daquele irmão,
Jogará pela janela a perfeição
E a esse perfeccionismo vence.

Francisco Libânio,
17/11/13, 10:24 AM

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Hai-kai impessoal

Logo esqueço...

De cada um
Que me despeço
Logo o desconheço

Francisco Libânio,
21/08/12, 9:19 AM

1297 - Soneto casto

Tento ser puro, mas a menina é linda...

Pureza, não discuto, é uma virtude,
Qualidade que faz bem ao coração,
Característica que tem sua atração
E traz a quem tem are de beatitude,

Algo bonito, um cheiro de juventude,
Mas infelizmente, há tanta má lição,
Tanta malícia a atacar a purificação
Que é muito difícil manter a atitude.

Minha pureza os anos levaram e tal
Foi o assalto que agora ficou o mal
E eu não o vejo com maus olhares.

O problema é que quando a pureza
É necessária quem me aparece ilesa
É a putaria a vir por todos os lugares.

Francisco Libânio,
17/11/13, 10:00 AM

1296 - Soneto admoestado

Não deixe ser maior que você se não for.

Se merecida, baixa-te e escuta,
O esporro é a parte da tua luta
E ele pode melhorar tua guarda.

Às vezes, isso, digno de farda,
Postura digna de filho da puta,
É o santo remédio pra conduta
E um bom ato de salvaguarda.

Isso se, quem esporra, souber
E tiver credencial para o fazer,
É esporro que o sensato pede.

Se for como muitos, um tirano
Que crê ter poder sobre-humano,
Nem ouça, ele falar o arremede.

Francisco Libânio,
17/11/13, 8:20 AM

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

1295 - Soneto fresquinho

Deixa o sol forçar e aí já era...

Amanheceu o sábado, nublado?
Após a sexta-feira tão quente?
Como muda assim, de repente?
E a saúde para eu ter cuidado?

Calor e amenidade têm trocado
Turnos, que é sadio, o gradiente
Veloz, porém, assusta a gente
E pega a galera no pé trocado.

Hoje o dia está muito agradável,
Mas até que hora? É confiável
O clima maluco e quase bipolar?

Enquanto não muda, eu festejo,
O dia, mas para ir tudo ao brejo
Basta que exagere um raio solar.

Francisco Libânio,
16/11/13, 9:05 AM

1294 - Soneto injustiçado pela Justiça

Não nos calarão.

Ver quem foi herói na porrada,
Tanto dando quanto tomando,
Sendo julgado por um nefando
Colegiado que não sabe nada

E condena com festa exaltada
Pela claque soa tal desmando
Que tal a claque qual o bando
Mereciam uma boa surra cada.

Caso houvesse algum bandido
Entre os réus, justo teria sido,
Mas crime sem prova? Como?

Infelizmente, a Justiça é injusta,
Cada ministro ali barato custa
E fazem um covil aquele domo.

Francisco Libânio,
15/11/13, 8:47 PM

1293 - Soneto tranquilinho

São loucos...

Quem resolve descer ao litoral
No feriadão, digo, é um bravo.
Eu vejo tantos carros e já lavo
As minhas mãos. É nem a pau

Que desço serra mais marginal
E fico desse furdúncio escravo.
Ligo a TV, vejo e mais me cavo
Na cama e, numa paz sem igual,

Até acho bonito todo esse calor.
Eu lá na pista estaria muito pior!
Carro, suor, buzina e tanta hora

Pra chegar onde é tão pertinho?
Nada! Tô de boa aqui no ninho,
Deixo loucos e a loucura lá fora.

Francisco Libânio,
15/11/13, 6:45 PM

terça-feira, 19 de novembro de 2013

1292 - Soneto aferiadado

Encarar trânsito? Eu?

Num dia de sol, um feriadão assim,
A gente que não mora numa praia
Nem segue pro litoral pra gandaia
E evita um engarrafamento sem fim,

A gente quer curtir o dia. E o dindim?
Não tem. É caro o que nos distraia,
O barato até tem, mas merece vaia,
Sobra uma mesa e um bom botequim.

Nada mal. Antes o bom papo no bar
À conversa formal pra impressionar
Executivos até em dia de descanso.

Feriado sem nica, mas com a galera,
Afinal é pra isso que a gente espera,
Da minha parte, eu curto e não canso.

Francisco Libânio,
15/11/13 12:42 PM

1291 - Soneto ob-literado

Tem mil sonetos só nesse sorriso.

Poesia onde está? Em algum lugar,
Lirismo onde tem? Basta saber ler.
Inspiração de onde vem? Da mulher
Que a melanina passa a dominar.

A poesia pede pra si algum vagar,
Uma contemplação como prazer
E a linda musa que faça florescer
O soneto que vem bem a louvar

Tal deusa, mas aqui há o soneto,
A falta de métrica, torna-se abjeto
O que devia ser louvor absoluto.

Esquece-se o lirismo, fica a rima,
O soneto se apaga e não se lima
Poesia marginal em estado bruto.

Francisco Libânio,
15/11/13, 8:51 AM

1290 - Soneto bimedido

Todos iguais perante a Lei? Como assim?

Mas se valem dois pesos e medidas
E cada caso tem própria legislação,
Tudo bem. Seja assim e a admissão
De tais regras já serão introduzidas.

A Justiça tem as penas pré-definidas,
E para seus inimigos condenação.
Sendo assim é só trocar de facção
E o facínora terá por lei protegidas

A idoneidade e paz e se consuma,
Contra ele não dá porra nenhuma
Porque à mídia agrada seu partido,

Ele é poupado e vira o coitadinho
Para a elite e olvida o descaminho
E segue o roubo sem ser contido.

Francisco Libânio,
14/11/13, 9:56 PM

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

1289 - Soneto enjaulado

O povo com eles sempre.

Prenderam os caras do mensalão!
Comemora-se a vitória da Justiça,
A paladinagem da moral já se atiça
Agora, finalmente, veio a solução

Desse país que impera a corrupção,
Interessante é como segue omissa
A corte que julgou a tal histórica liça
Quando o amigo do juiz é o ladrão,

Pegaram o Dirceu e o gatuno do trem,
Esse, azul e amarelo, vai muito bem
E a Justiça estranhamente o esquece,

Perde prazo, faz de conta que não vê,
Promotor troca as gavetas do dossiê,
E a verdadeira quadrilha, feliz, agradece.

Francisco Libânio,
14/11/13, 7:48 PM

1288 - Soneto jogado

Uma deusa!

Escrevi um soneto que não serviu,
Não foi lido, não causou um furor,
Uma polêmica e recebeu a maior
Desconsideração que alguém viu.

E soneto que não serve, dou covil
Ou releio ou o pinto com outra cor,
Promovo, escandalizo pra dar valor
E ainda assim, o soneto não evoluiu.

Ficou o soneto ruim, outro de tema
Mulher linda negra, farta, uma gema
De beleza pro Francisco ignorado.

Qual o problema? Isso é preconceito!
O tipo estético que vejo por perfeito
Sigo sonhando em ter ao meu lado.

Francisco Libânio,
14/11/13, 12:38 PM

1287 - Soneto molhado-lírico

Num dia quente, nada melhor...

A manhã é quente, quem aguenta?
É preciso dar uma baixada no calor,
A refrescada para que seja melhor
Não só a manhã, o dia que ostenta

Um sol pra cada um, uns quarenta
Graus por cima. O banho salvador
Vem bem. A água inspira o cantor
Que sozinho e fresco se apresenta.

Canta e explora seu íntimo talento.
Acaba o show. Na rua, cadê vento?
Há apenas o Sol a crispar no céu.

E La Donna é Mobile com sucesso
No chuveiro, o dia cobra seu preço
Pedindo pra si um Highway to Hell.

Francisco Libânio,
14/11/13, 8:37 AM

domingo, 17 de novembro de 2013

1286 - Soneto revelado

Ah, vá!

Quanto a contar segredos ou tê-los,
Tenho alguns e não serão contados
Aqui. Também... Vai os querer revelados?
Quem? Segredos que são singelos,

Minhas bobeiras sem quaisquer elos
Não merecem o Ego. Quais dados
Eles revelariam, quem, preocupados,
Figurões arrancariam seus cabelos?

Ficam comigo os segredos, tranquilo!
Segredos em meus sonetos não trilo,
Leiam despreocupados e cabeça fria,

Conto aqui que adoro mulher negra
E que gordinhas fazem-me a regra,
Mas isso qualquer um já bem sabia.

Francisco Libânio,
13/11/13, 8:01 PM

1285 - Soneto segredado

Francisco? Que Francisco?

Esse negócio de contar segredo
E pedir que assim se mantenha
É quase como liberar uma senha
Para que a notícia e seu enredo

Virem domínio público. O medo
De que o oculto não se detenha
Abre uma porta a deixar prenha
Toda a curiosidade. O degredo

Da notícia sabida antes por um
Sabida a transforma no zunzum
E a bobagem vira uma tragédia.

Esse soneto era secreto e o abri.
Agora, sabido, ele correrá por aí
De obra prima virou classe média.

Francisco Libânio,
13/11/13, 8:04 AM

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Quando de ti não ouço ou nada sei

Faz muita falta...

Quando não te ouço ou nada sei
De ti e a saudade vem e assusta,
Eu escrevo, não sobre a augusta
Presença tua. Sobre isso já falei

Tanto que tudo o que escreverei
Será igual. Algo novo me custa,
Elogios me faltam, me barafusta
A criatividade. Em palavras já dei

Tudo. Nada mais falta a ti ser dito,
Falta, sim, isso sei bem e admito,
Fazer das palavras fatos, atitude.

Mas quando quero, após o verbo,
Dar vida a ele, muito me exacerbo
E sofro diante dessa tua quietude.

Francisco Libânio,
09/11/13, 2:53 PM

1284 - Soneto a agregar valor 2

Senso de ridículo? O que é isso?

Mas se o cara tem esse poder, bom.
Bom pra ele, otário, se acha gostoso
E bom pra ele que acha ser poderoso
Enche seu ego com toda a luz neon

Possível. No camarote ele dá o tom,
Legal! Legal que ele curta em gozo
Pleno ser o rei, mas não vê o jocoso
Ao seu lado enquanto curte o som.

Inveja? Invejar um pobre diabo rico
É perda de tempo, melhor o indico
Para nesse soneto repetir por mote

O sujeito que dá uma de bon-vivant,
Mas cuja filosofia estúpida e tão vã,
Ao se ausentar, valoriza o camarote.

Francisco Libânio,
12/11/13, 12:07 PM

1283 - Soneto a agregar valor

Oi, mãe, tô no blogue!

O que agrega valor ao camarote,
Ao sexo, à sociedade e à vida
Não é a conta bancária fornida
Nem uma Ferrari a compor dote

Ou chegar na noite abrindo o pote,
Isso dá um toque, leve polida
Na vaidade do cara, já lambida,
Enquanto ele, mero frangote,

Que vai dançar sozinho na pista
Achando tudo isso a conquista
Máxima. Não agrega algum valor.

Agrega mais dar um bom tabefe
Pro sujeito deixar de ser o blefe
E o tal camarote dele ser melhor.

Francisco Libânio,
12/11/13, 9:21 AM

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Hai-kai de Macaé 03

É muito pouco...
Debulhar Kant
Pode ser muito,
Mas não o bastante

Francisco Libânio,
31/03/12, 9:08 PM

1282 - Soneto apoteótico

Nunca sai como eu quero...
Fazer um soneto sensacional, maravilhoso
Era o que eu sempre sonhei sem chegar lá.
A poesia precisava de algo que não se dá,
Um negócio que fosse assim esplendoroso.

A palavra e a ideia, se vêm, não as doso.
Quero ainda escrever o soneto que achará
Seu justo lugar ao sol, se é que no sol há
Lugar. Quente demais, deve ser horroroso,

Pior que essa figura de linguagem chavão.
Meu soneto segue alheio a isso um serão
E nada aparece que no papel o diferencie.

Cala o soneto e o terceto vira a proforma,
A apoteose que eu buscava se transforma
Num puta-que-pariu antes que me silencie.

Francisco Libânio,
11/11/13, 12:17 PM

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

1281 - Soneto monetariamente supersticioso

Lavou  direitinho?

Coçou a mão, dinheiro que vem?
Como seria bom se fosse batata
Essa combinação e fosse exata
E alta a quantia que essa fé tem.

Minha mão coça agora, vê bem.
A direita, se coça, a grana cata,
Se é a esquerda, quem resgata
É um outro e a gente fica sem.

Superstição e dinheiro, que liga!
Acreditar nos dois mais instiga
A ter fé e lutar mais. E se bobeira?

Se for, deixa ser. No mundo real,
Coça a mão, a carteira fica igual,
Certeza que é micose a coceira.

Francisco Libânio,
11/11/13, 11:42 AM

1280 - Soneto oco

Acontece...

Situação desagradável, a perfeição
Feminina cedeu ao canto de sereia
De quem julgava ser ela muita areia
Para seu diminuto e velho caminhão.

Acertou a lua, é a chance em milhão!
A noite com ela livra jantar até a ceia
De Natal. Agora ela ali presa na teia
Não por carro ou por nada; por opção!

Chegou o momento, eis o vamos-ver,
Hora de se saciar, de saciar a mulher,
De ter um quadro pregado à memória.

Mas foi bater o pênalti e isolou a bola!
Confiança demais, ela nem o consola!
Deu uma falhada que ficou pra História.

Francisco Libânio,
10/11/13, 10:50 AM

terça-feira, 12 de novembro de 2013

1279 - Soneto desanimado

Ô, moça, óia pra mim!

Quem além de mim, fã declarado
Da beleza que não se fotografa,
Da mulher que nunca se biografa
Porque ela não faz geral agrado,

Quem além de mim, degradado,
Vem em soneto e aqui desabafa
Que essa mulher causa a estafa
Por um beijo nunca me ter dado?

A mulher negra e gorda, a gata,
A deusa, a musa, a forma exata
Não lê meu soneto, nem adianta

Escrever, ela não vê que existo,
Mas, inspirado por ela, persisto,
Pode ser, um dia, ela se encanta.

Francisco Libânio,
10/11/13, 10:35 AM

1278 - Soneto não heróico

Podia ser o Batman. Mas não é.

Admiro, nos poetas que admiro,
O compromisso métrico, o rigor
Com a sílaba bem como o ardor
Decassílabo que, como um tiro

Certeiro, pega o alvo, o suspiro
Da musicalidade e fica até maior
Do que parece. Feito de escultor!
Já eu, diferentemente, mais firo

A pedra em entalhe nada estoico
E, me atrevo ao lado do heroico,
Chamar de soneto a arte marginal.

Oras, se não é heroico, é soneto,
Basta! Como não precisa epiteto
Nem de capa um herói ante o mal.

Francisco Libânio,
09/11/13, 2:40 PM

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

1277 - Soneto desmartelado

Diferente de mim, Olavo Bilac manja dos martelos.

Lendo sobre teoria do soneto,
Pego no tal lance do martelo,
Soneto, se bom, precisa tê-lo
E decassílabo o tem correto.

Martelo no meu soneto? Veto!
É preciso certo dom e desvelo
Para usá-lo qual usa um cutelo
E não tenho, logo não me meto.

E mesmo sem ser bom na arte
De martelar, insisto no aparte,
Vou sonetear sem esse medo

Dum bom martelo faltar à rima,
Pois prefiro com ela ter esgrima
Do que com ele acertar o dedo.

Francisco Libânio,
09/11/13, 2:26 PM

1276 - Soneto escadamente supersticioso

E aí, passa ou não passa?

Passar debaixo de escada? Nem morta!
Não sabe que o triângulo forma o portal,
Por ele pode passar uma espécie de mal,
A escada escorada é como abrir a porta

Para vir do submundo a sua forma torta.
A escada é o tipo mais inocente de aval
Para que os diabos, numa tropa infernal,
Façam casa cá. A escada o ruim importa!

Dá pra acreditar? Eu sei que não, mas vá...
Imagina que debaixo de algum pintor lá
Em cima passe a capetada a fazer festa,

Dar azar por atravessar a simples escada,
Mas se dá azar, talvez a mesma capetada
Seja supersticiosa e não passa pela fresta.

Francisco Libânio,
09/11/13, 12:41 PM

domingo, 10 de novembro de 2013

O homem era homem, nada mais

Quem soltou as aves da poesia?

O homem era homem, nada mais.
O verso fez do homem o poeta,
Sê-lo fez ver até numa tola seta
Poesia. Vieram rondós e jograis;

Passaram a falar e rir os animais,
Desviou-se o homem de sua meta,
Entregou-se à loucura mais completa,
Ao ver, perdeu-se. Era tarde demais.

Maldito seja o verso enlouquecedor,
Dopou o homem com toda fantasia,
Alimentou seus males, criou o amor!

Maldita essa lira e funesta a poesia!
Tirou o homem desse bom estupor
Que a inocente irracionalidade seria.

Francisco Libânio,
07/11/13, 5:28 PM

1275 - Soneto desastradamente supersticioso

Pelo menos ficou um vitral bonito.

Quebrou o espelho. Fodeu! Sete anos
De azar vos aguardam. Amigo, já era!
E a coisa piora quando se desespera,
O azar adora pregar os mais insanos

Também os desastrados pelos danos
No espelho. Pois agora virá a quimera
E ela ficará no seu ombro numa espera
Setenal. Durante eles, nada de planos,

Cancele projetos, casamento, esquece!
É a sina de quem do anátema padece
E de quem, nesse fato, guarda sua fé.

Senão tem, beleza, Espelho pro saco,
Pega a vassoura, recolhe todo o caco
E se cuida contra o azar de cortar o pé.

Francisco Libânio,
09/11/13, 12:22 PM

1274 - Soneto felinamente supersticioso

Eu dou azar? Ora, vá se...

Ser cruzado por um gato preto,
O sujeito já vê isso como azar,
Desconjura e se entrega a rezar
E usa todo e qualquer amuleto.

O gato, esse paga o panfleto
De ser agourento, de bruxear,
Se o veem, correm pra andar
Noutra calçada, passam reto.

Mas o gato, nem se incomoda,
Põe de lado a ignorância toda
Até o viés que soa até racista.

Prefere a vida dele, paz felina
E negra lamentando a má sina
Do homem que dele se dista.

Francisco Libânio,
08/11/13, 12:17 PM

sábado, 9 de novembro de 2013

1273 - Soneto que reina no boteco

Muito mais um amigo Barney que um Rei do Camarote.

Se uns reinam em baladas elegantes
De bebidas caras, uns são contentes
Com pouco. Apenas as aguardentes,
Ovos, salsichas curtidas bem antes

Do que imaginam os seres pensantes
Que veem com nojo esses ambientes.
Se os acepipes boiam nos recipientes,
As bebidas nos descem refrescantes.

E um almofadinha curte na boate cara
A posição que o dinheiro fácil separa
Pagando uma baba pelo que o boteco

Oferece por preço módico e simpatia
Garantida por quem no balcão esfria
A barriga irrigando a alma no caneco.

Francisco Libânio,
08/11/13, 8:21 AM

1272 - Soneto que reina na balada

Eu jurava que o rei do camarote fosse o Thiago Leifert numa primeira olhada. Sério. Mas se não é mala, é caloteiro.


O cara, pois, é o rei do camarote,
Vai bonitão de Ferrari pra balada,
É de champanha de três mil cada,
Não há dinheiro ali que se esgote,

E além de gastança, está no lote,
Lógico, uma bela e casual trepada,
Mas cuidado com o rei, camarada,
O sujeito gastão é bom de calote.

Porque a obrigação, essa espera.
Antes vêm a esbórnia e a paquera,
O IPTU, paga se sobrar dinheiro.

Sai na revista e paga de gostoso,
Enquanto é escroque e indecoroso,
É o típico playboyzinho brasileiro.

Francisco Libânio,
07/11/13, 7:15 PM

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

1271 - soneto aguado

Tem seu charme.

Chamam, a diminuir uma loirice,
A mulher de aguada, oxigenada.
O recurso para se por arrumada
É válido. Pois lá se desperdice

Um vidrinho, aloure-se, enfeitice,
Lembre algo de uma atriz adorada,
Mire-se e pareça uma linda fada
E deixa de lado o disse-que-disse.

Se a acharem aguada, tudo bem,
A água é vida e não se vive sem
E oxigênio, pra existência, é vital.

E se a inveja vier de boca aberta,
Deixe falar, um dia ela se acerta
E tenta ficar bem sem falar o mal.

Francisco Libânio,
07/11/13, 12:41 PM

1270 - Soneto remodelado

Sem exageros...

É clara a subjetividade da beleza,
Mas isso é tema pro Umberto Eco
Debater. A mim cabe só o xaveco
Se a dama merecer a delicadeza

De um elogio e frontear a natureza
Além de ir contra regando o seco,
Inflando o pequeno e pondo teco
De plástico sendo a boa freguesa

De cirurgiões pode agradar o olhar,
Mas depois, igual a um urso polar
No deserto, a coisa parece estranha,

Fora de lugar o detalhe não afina
Com o todo termina sendo rotina,
É mais uma de mesma artimanha.

Francisco Libânio,
07/11/13, 11:16 AM