quarta-feira, 31 de outubro de 2012

567 - Soneto de bruxa boa

Uma cerimônia wicca. Não vejo maldade nessas bruxas, pelo contrário.


Quem liga as bruxas à maldade
Deveria conhecer a rica cultura
Celta dos druidas, a formosura
Verde e os bruxos de verdade.

Bruxos e bruxas em comunidade
Com a natureza rasgam a figura
Da maldosa e horrenda criatura
E o trocam por uma de bondade,

De branco, oram ao sobrenatural
Pedindo pelo bem, nunca o mal,
E no bem baseiam seus feitiços.

Acreditando em deuses diversos,
As bruxas enxotam os perversos
E para a bondade fazem serviços.

Francisco Libânio,
31/10/12, 8:39 PM

566 - Soneto de bruxa má

Bruas precisam, mesmo, ser assim?


Por que fazem das bruxas juízo
Mau? Que transforma em sapo,
Que ama o diabo e veste trapo
E assusta com seu horrível riso;

Por que atribuem a elas prejuízo?
Por que a Igreja reservava sopapo
Na Idade Média à moda Gestapo
Com fogueira e tortura sob o siso

Dos padres. Restou esse legado:
As bruxas povoam o lado errado
E tudo sobre elas é feio e infeliz,

Ligam-se às bruxas o caldeirão,
O gato preto, a vassoura, a poção
E a indefectível verruga no nariz.

Francisco Libânio,
31/10/12, 8:04 PM

565 - Soneto do dia do saci

E é gol!


Para combater o tal Halloween,
Criou-se o dia do saci. Válido!
O festejo gringo soa um pálido
Recalque da elite tupiniquim

Mas o dia do saci é, para mim,
Um manifesto bem esquálido
Que defende de modo cálido
E vazio o bom de forma ruim.

Temos nosso dia do Folclore,
O Halloween tropical. Valore
Esse dia, faça-o não protesto,

Mas cultura e conhecimento,
Que o dia seja, sim, fomento
Do que é nosso, não do resto.

Francisco Libânio,
31/10/12, 12:30 PM

564 - Soneto do dia das bruxas

E eu nem gosto de abóbora...


Festejo estadunidense, respeito...
Cada país traz lá a sua cultura
Própria e que em cada perdura,
O Halloween é fruto desse feito.

Mas trazer pra cá e tacar peito
Macaqueando isso na cara dura
Fazendo uma tristíssima figura,
Nisso eu já vejo muito defeito.

Deixe isso aos Estados Unidos,
Valorizemos os já apreendidos
Costumes que o Brasil nos dá

Eu só festejarei esse dia aqui
Se lá o povo se vestir de saci
Ou se louvarem nosso boitatá.

Francisco Libânio,
31/10/12, 8:33 AM

terça-feira, 30 de outubro de 2012

563 - Soneto do hedonismo poético

Tão bom quanto uma bela poesia...


È claro que a transa deliciosa
Revigora e proporciona prazer,
E é lógico que o bem-comer
Dá um tom de vida mais rosa,

É evidente que a pele sedosa
E o bom perfume da mulher
Muito agradam, mas escrever...
Escrever é algo do qual goza

O poeta quando lá, inspirado,
Deixa qualquer prazer de lado
E curte sozinho o entusiasmo

E o prazer do que ele escreve
E ao terminar, vem a ele a leve
Sensação de diverso orgasmo.

Francisco Libânio,
30/10/12, 8:16 PM

562 - Soneto sacrílego

Não é decassílabo, mas é soneto, tá, Camões?


Ao sonetear sem métrica me vejo,
Às vezes, pecando contra a regra
Prima do soneto. Será que integra
O galardão dos poetas que invejo?

Meu soneto tem esse bom desejo
De ser reconhecido, mas se alegra
Também em compor a lista negra
Dos alternativos. Seja por gracejo,

O soneto foge das conveniências,
Seja por culpa, cobra excelências
E continua lá seguindo o seu trilho,

Meu soneto se orgulha do peculiar,
Mas terminado e sem se metrificar
Ele me pede para ajoelhar no milho.

Francisco Libânio,
30/10/12, 7:47 PM

561 - Soneto escaldante

Tá feio o negócio!


Com o céu azul demais e esse sol
Viver fica praticamente impossível!
Calor demais, algo quase irascível
Do Universo que ligou lá seu farol

E deixou aceso. Aproveita o prol
Disso quem tem fácil e acessível
Uma praia, uma piscina. Horrível
Quem não tem. Que curta o xeol!

Verão prudentino é algo saariano,
Tem sempre e é igual todo ano
Eu já devia estar é acostumado...

Até acostumo, mas o verão, bom
Nisso, a cada ano aumenta o tom
E goleia mesmo todo preparado.

Francisco Libânio,
30/10/12, 1:02 PM

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

560 - Soneto do dia do livro

Mil aventuras, mil histórias.


O que é um livro? Pergunto ao leitor,
Que ao ler esse soneto se diferencia
De muitos. Nada que diminua a valia
De todos, mas ler sinaliza um pendor

Que dá ao livro um inestimável valor
E à pergunta, que exige tal acrobacia,
Pede ao leitor reflexão. Claro se diria
Livro é um lazer quando nada melhor

Passa na televisão. Pega o livro e lê,
Mas que não atrapalhe a novela na TV
E o que é um livro, cadê a resposta?

Não tem, pois um livro é um universo,
É tempo e espaço em plano diverso
E aventurar-se é sempre a proposta.

Francisco Libânio,
29/10/12, 8:10 PM

559 - Soneto de segundo turno

Augusto Nunes não curtiu isso.


Eleição acabou. Contados os votos,
Os resultados deram em muita festa!
A oposição vira situação. É indigesta
A derrota aos votantes mais devotos

Quem perdeu digita duros perdigotos.
A Internet acaba sedo a segura fresta
Por onde a derrota eleitoral pretexta
Preconceitos mais torpes e escrotos

A mídia noticia o resultado e ao lê-lo
Disfarça um triste sorrisinho amarelo,
Não era a notícia que ela queria dar.

A festa acabará na posse redentora,
A lua de mel eleitor-candidato agora
Durará até a hora daquele o cobrar.

Francisco Libânio,
29/10/12, 7:41 PM

domingo, 28 de outubro de 2012

558 - Soneto em cinquenta tons de cinza

Minha amiga carol encarnou o livro, mostrou a foto e inspirou o poema.


Pornô feminino? Erotismo de moça?
Crepúsculo com bastante pimenta?
Se for feminino mesmo? Te orienta!
À merda a sua mentalidade insossa.

Mulher quando erotiza algo endossa
Não o fato em si. Pega e incrementa
Aquilo que o homem rodeia e tenta
Sem sair do óbvio. Falta-nos bossa,

Falta-nos do sexo a visão feminina
Que não é só isso “goza e termina”
A mulher se interessa pelo começo,

Valoriza o meio e vê no gozo azado
Não o prazer, mas todo o resultado.
E sabe enriquecer com um adereço...

Francisco Libânio,
28/10/12, 7:42 PM

557 - Soneto descansado

Cara típica do dia


Aí você dorme, deixa a vida passar,
O tempo correr, mas ela não passa,
Ele não corre. Contrário, ele embaça!
Parece que o dia nunca vai acabar...

Acordou, levanta! Agora vai encarar
O resto de dia, procurar uma graça
Pra dar uma agitada nessa escassa
Parte da semana. Procura um lugar

Pra ir, chama os amigos. Dormido,
O dia precisa, precisa de sentido
Para se fazer dos outros diferente.

Agora, relaxado, faço outro soneto,
Dois, um a mais que o último. Meto
O desafio ao domingo. Me enfrente!

Francisco Libânio,
28/10/12, 2:30 PM

556 - Soneto encostado

Seria um ótimo começo...


Domingo de sol, mas sol brabo!
Na TV a programação dominical
Que faz todo domingo ser igual
E querer que ele tenha seu cabo

É nesse dia que acordo e desabo,
Tem café da manhã e ler o jornal;
Corrida que salva a chatice matinal,
De resto mando tudo ao diabo!

Mas peraí, Chico, hoje é dia santo.
Não desconsidero, mas no entanto
Não há santo que salve esse dia

Até meu único lazer, que é sonetear
No domingo não encontra seu lugar
E forço na porrada alguma poesia.

Francisco Libânio,
28/10/12, 10:28 AM

sábado, 27 de outubro de 2012

555 - Soneto do prazer proibido

Hummmm


Acordo e sensual me olha ela.
Toda gulosa, lá ela me convida:
Vem cá curtir o melhor da vida!
Vem pecar, vem, se refastela!

É duro ouvir e não obedecê-la...
Não fosse a vida empedernida,
Eu não a deixaria desatendida
E atendia o anseio sem cautela,

Mas o cotidiano bruto me veda
Este prazer. A gente se enreda
Quando voltar. A obscenidade

Desse pecado muito enfeitiça,
Deixo para depois a preguiça
Ao atender da cama a vontade.

Francisco Libânio,
27/10/12, 8:39 PM

554 - Soneto do prazer cosumista

Compra tudo e mais um pouco.


Cachaça? Maconha? Cocaína?
Nada disso! Grande malefício
Sofre é quem padece do vício
De gastar, mas não determina

Em quê. Mas se se domina
A sanha, pense no benefício
E na satisfação desse ofício:
Desejar algo, usar disciplina

E se permitir a esse prazer.
Conquistar algo não por ter,
Mas pelo sonho realizado.

O pródigo, disso soubesse,
Buscaria o bem dessa messe
E ficaria do seu mal curado.

Francisco Libânio,
27/10/12, 11:49 PM

553 - Soneto do prazer literário

Tudo que eu peço a Deus numa foto.


Livro novo é um novo namoro,
Tocá-lo é como a primeira vez
Na cama. A capa é como a tez
Desbravada enquanto defloro

Cada pedaço. Assim eu devoro
Numa leitura ávida sem timidez
A amante em mãos e tal avidez,
Converte-se num gozo sonoro

A cada página que surpreende
É qual movimento que acende
A libido para que tudo continue

E ao terminarmos, essa ruptura
Surge um conselho com ternura:
Que o gozo com outra perpetue.

Francisco Libânio,
27/10/12, 11:28 AM

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

552 - Soneto do prazer gastronômico

O famoso frango ensopado de casa. Um banquete.


Sento-me, que temos de almoço?
Frango ensopado. Especialidade
Dos pais, um rango de qualidade!
Hoje, esse frango ficará no osso!

Minha mãe pega certa o pescoço,
Já meu pai já prefere a variedade,
A polenta, que provoca saudade,
E quanto às coxas, só eu posso

Degustá-las. Tão bem torneadas,
Brancas que, assim, ensopadas
Que caviar nenhum se compara,

O arroz branco fecha essa delícia.
Diante dessa beldade alimentícia
Eu dedico uma adoração preclara.

Francisco Libânio,
26/10/12, 12:30 PM

551 - Soneto do prazer quase sexual

É por aí, mas é muito bom num dia como hoje.


Em Prudente, calor insuportável,
Há um sol pra cada um, eu diria
E fazer qualquer coisa nesse dia
Se torna praticamente inviável

Assim sendo, torna-se inevitável
Tomar o santo banho de água fria.
Ela a cair nas costas é hipotermia
De choque, mas muito agradável!

O calor que assolava corre ralo
Abaixo. O corpo curte o embalo
E do mal prudentino eu me curo

E curto como quem espairece
Como o pau que logo amolece
Depois de gozar quando duro.

Francisco Libânio,
26/10/12, 11:50 AM

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

550 - Soneto maravilhado com o nada

Há alguma poesia e beleza nesse espaço. Basta querer ver.


Olho o horizonte, vejo beleza?
Não. Há um muro após a janela,
Mas a beleza vence tal mazela
Física e foca na breve sutileza

Que, despercebida, é surpresa.
A vista constrói no muro a bela
Paisagem e só ela pode vê-la.
Quem tenta ver também, enviesa

O olhar, procura que procura
O que tanto admira na secura
De um muro só de cal e vazio.

A paisagem como este soneto
Encanta mesmo com completo
Nada. Há beleza no desvario.

Francisco Libânio,
25/10/12, 7:37 P

549 - Soneto desarrazoado

Um virou herói. Outro virou vilão. A escolha dos papéís cabe a quem vê.


Quem julga passionalmente e movido
Pelo clamor popular é herói e é justo
Quem segue regras básicas à custo
É rebaixado a cúmplice do bandido.

Vox populi Vox dei, bem entendido.
Mas não é mais ou menos augusto
Se o povo ama e dedica um busto
Ou se o povo odeia e quer abatido

Há instantes em que a mera paixão
Não cabe. É preciso ouvir a razão
E que a Justiça dê um voto isento,

Pena que o Tribunal sob influência
Alheia desnude de sua excelência
E agracie, seja, o popular contento.

Francisco Libânio,
25/10/12, 12:35 PM

548 - Soneto desajuizado

Esperava mais moralidade dessa turma e não revanchismo.


Abro os jornais, leio-os e penso:
Estarei estudando Direito direito?
Leio cada artigo, ilustro seu efeito,
Aí vem a prática e não os venço.

Nesse tal Mensalão, um pretenso
Catedrático erra um simples feito,
Julga passionalmente e taca peito
Em votos totalmente sem senso.

E se eles lá, Ministros do Superior
Tribunal, passam com esse trator
Eu, simples mortal, que exemplo

Tenho? Os réus não são santos,
Certo, mas diga: Há assim tantos
Mais valores no Superior templo?

Francisco Libânio,
25/10/12, 12:22 PM

547 - Soneto empolado

Cadê as palavras difíceis que estavam aqui? Não preciso delas.


Dizer cheio de rebuscamentos,
Dar alvíssaras, prestar louvores,
Compor outra Rosa... Aos doutores
Deixo tais belos entendimentos.

Claro que tive meus momentos
De erudições, alguns melhores
Outros não. Mas leio escritores
Que desfiam bem sentimentos

Sem convênio com dicionários
Nem salamaleques doutrinários,
Escrevem lindamente e, diretos,

Chegam onde precisam chegar.
A simplicidade e, se precisar,
A galhofa viverão nos sonetos.

Francisco Libânio,
25/10/12, 11:58 AM

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

546 - Soneto maluquinho

O cara que delineou a minha infância e moldou parte do meu caráter. Não tem como não ser fã.


E Ziraldo virou um octogenário,
Para uns, a pura arte em revista,
Para outros, grande comunista
Para mim, apenas extraordinário!

Ziraldo, num tom flicts primário,
Pintou um arco-íris. Como artista
É muitos. É escritor, desenhista
E mexe com o nosso imaginário.

Seja num Mineirinho, mais adulto,
Ou no Pasquim, subversivo, culto,
O homem esbanja toda a pujança,

Mas é no infantil, com seu Pererê,
O Menino Maluquinho, quem o lê
Deixa aflorar sua eterna criança.

Francisco Libânio,
24/10/12, 8:10 PM

545 - Soneto escatológico

São os piores. Um dia terminam muito mal.


Se Gregório era Boca do Inferno,
Certo ele era o Boca do Esgoto!
Comentário seu era um perdigoto
Oral. Era o absoluto desgoverno

Em pessoa. Achava-se moderno,
Legal, agradável, mas de tão roto
Palavreado e se achando garoto
Ainda dava em cima todo terno

E como recitasse Shakespeare
Dizia: Você engole sem cuspir?
Romantismo a sair como o suor...

Até que se meteu com alvo errado,
Insinuou que o com ela era viado,
Provou dos seus dentes o sabor.

Francisco Libânio,
24/10/12, 12:32 PM

544 - Soneto pervertido

Muitas adoram se sentir desejadas...

Olhou com tamanha devassidão,
Bem mais do que pede a cautela,
E a ruborizou. Fez com que ela.
Sem pudores, mas com retidão,

Mandasse-o se mancar. O olhão,
Que o usasse com uma cadela,
Que a quisesse a ponto de tê-la
Num ménage com outro cão!

Ele se desculpou pelo mau jeito,
Ela com seu busto tão perfeito
E pernas deliciosas e sensuais

Silenciou. Ele fitou o ambiente
Até ouvir a pergunta indulgente:
Não vai me olhar nunca mais?

Francisco Libânio,
24/10/12, 12:17 PM

terça-feira, 23 de outubro de 2012

543 - Soneto remoído

A filha da mãe se diverte...


E quando termino de escrever um,
Aí vem a filha da puta da inspiração:
Ah, ficou legal. Faz a continuação!
Ela me diz e faz tanto zunzunzum

Que eu metido, sem motivo algum,
Escrevo. Cadê a porra da ligação
Entre os sonetos? Ah, afobação
Cretina! Agora não me vem nenhum

Elo. Outro soneto feito na cata,
Outra vez moendo a minha lata
E a inspiração só vendo e rindo

Mas assim dando meus trancos,
Inspirado em alguns solavancos
Gosto do soneto que está findo.

Francisco Libânio,
23/10/12, 8:33 PM

542 - Soneto moído

Risca, risca, risca....


Tem dias que, assim, cansado
Resolvo me meter a sonetear.
Não tem qualquer ideia no ar
E mesmo assim vou obrigado

À luta. Brigo! Escreve safado!
Não deixa a folha te dominar,
Manda o branco praquele lugar
E põe o teu bloqueio de lado

Claro que exige mais de mim,
Não há um começo nem fim
Deixa que cada frase venha

O soneto sai em improviso,
E em nada ele soa preciso,
Mas até uma ideia se tenha...

Francisco Libânio,
23/10/12, 7:13 PM

541 - Soneto confidencial

Um sacerdócio...


Sonetear talvez seja uma missão,
Não sei... Se for, faço-a a contento
Ou por meu puro entretenimento
Saboto com toda minha piração

Devo aprontar uma conspiração,
Nessa obra devo ser o elemento
Subversivo. Não atingi o intento,
Mandei à boa merda a instrução

Superior. Os chefes me amam,
Nomes carinhosos me chamam,
A recíproca, claro, é verdadeira.

Quando acertar minhas contas,
Poetas lerão as coisas tontas
E feliz, eu ouvirei cada besteira.

Francisco Libânio,
23/10/12, 6:57 PM

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

540 - Soneto de comida árabe

Desce dois


Se é pra ser cru que seja quibe.
Se é pra ser esquisito, charuto.
Com uma coalhada não refuto,
O desejo pela saliva se exibe!

Um quibe cru e nunca se inibe
Meu apetite. Ele parte resoluto
A papar tal iguaria num minuto
E aí o meu estômago se ilibe

De toda porcaria processada,
Essa culinária americanizada
Essas chips, donuts também,

E vem o cardápio de Maomé,
Faz pensar até em trocar de fé,
Agradeço a Alá por esse bem.

Francisco Libânio,
22/10/12, 9:10 PM

539 - Soneto de comida japonesa

Arigatô, mas eu dispenso.Pode ficar pra vocês.


Eu que não gosto de yakissoba
Fui tachado de imaturo culinário.
Eu não me envergonho. Aquário
Picado com shoyu é coisa boba.

Também essa estranha gororoba
Feita do macarrão mais ordinário
Cheio de mistura me soa calvário
Alimentar. Dispenso o oba-oba

Com a milenar cozinha nipônica,
Mas peixe cru não dá a tônica
Que o estômago pede à mesa,

Respeito quem aprecie tal rango,
Mas a peixe prefiro carne e frango,
Se por isso sou imaturo, tá beleza.

Francisco Libânio,
22/10/12, 8:32 PM

538 - Soneto noturno

Valeu o dia...


Depois da novela e de um filminho,
Ele vai se deitar. Santo descanso.
Pelo menos o dia tem um remanso,
Ela assiste à TV mais um pouquinho,

Depois, vai pro quarto. Maridinho
Dorme o sono dos justos manso
Que nem nota o discreto balanço
Da mão dela lhe fazendo carinho.

Acorda e se beijam. Já despidos,
Atendem afinal os tantos pedidos
De outrora. Transam felizes agora!

A putaria permitida chamada amor
É intimidade pura. Dormem melhor,
A noite foi do dia feio a redentora.

Francisco Libânio,
22/10/12, 8:00 PM

537 - Soneto vespertino

Vontade de mandar o chefe e o dia-a-dia à...


Chegam do trabalho. Ela abatida,
Ele puto. É estresse mais esporro,
É chefe cretino, é colega cachorro
E ela fatigada dessa vida corrida,

O beijote é a carícia despendida,
O banho que podia trazer o jorro
De amor a dois é mais o socorro
Do casal que mais pensa na vida

Que no romance. Janta: sanduba
E coca-cola que quase se derruba
E por pouco não vira uma briga

À noite, ele seca aquelas pernas,
E a bunda. Com olhadas ternas,
Ela saca o volume que a instiga.

Francisco Libânio,
22/10/12, 7:46 PM

536 - Soneto do meio dia

Agora não, Amor. Estou cansado.

Após fazer o almoço, é a vez dela,
Com apetite gastronômico em alta
E com a libido já dando pela falta
De satisfação, ela quer satisfazê-la;

Como o marido almoçará com ela,
A fome alternativa, posta em pauta
Insinuadamente, não o sobressalta.
Ele come, bebe, arrota e mal vela

Pelo desejo carnal de sua mulher,
Será que ele não mais me quer?
Pensa a esposa. Se ela fez doce

Antes, seria respectiva vingança?
Deu que ele foi e não teve dança
Ele não quis usar nem tomar posse.

Francisco Libânio,
22/10/12, 12:31 PM

535 - Soneto matinal

Acontece...


Acorda-se. Ele cheio de apetite
Masculino, com uma discreta
Encoxada e com a arma ereta
Faz à esposa o tácito convite.

Ela, num sono digno de elite,
Rechaça. Ele, atrás da meta,
Nem se importa se ela o veta,
Quer agora. Ela que se excite.

Resignada, um tanto curiosa,
Ela abre a guarda. Ele, prosa,
Vai para o ataque todo afoito

E... falha! A mulher segura o riso,
Beija-o, Aprendeu: O improviso
É o inimigo um do grande coito.

Francisco Libânio,
22/10/12, 8:25 AM

domingo, 21 de outubro de 2012

534 - Soneto avulso

Nunca mais apareço...


A Ideia, que não me visita
Aos domingos, me aparece.
Após um café, ela oferece
Um acordo que me habilita

A sonetear hoje. Ela hesita,
Meio arrependida ela parece,
Não queria, isso, não fizesse
Proposta. O soneto transita

Já no primeiro terceto. Fodeu!
Pensou a ideia. Ele aquiesceu
Antes que eu falar a proposta!

Um soneto bobo, sem sentido
Igual ao domingo, mas deferido
Pela Ideia com cara indisposta.

Francisco Libânio,
21/10/12, 10:01 PM

sábado, 20 de outubro de 2012

533 - Soneto do dia do poeta

O poeta é um fingidor... É... Às vezes é mesmo...


Tem dia da poesia e dia do poeta,
Que interessante! A obra e o autor
Tem cada um o seu dia de louvor
E a cada um deles há quem remeta

Uma singela homenagem repleta
De carinho. Ele pelo tal dom maior,
Ela por ser o trabalho encantador
Que fala à alma e tanto a locupleta.

Eu, que nunca sei nem aniversário,
Nunca imaginaria que o calendário
Desse aos poetas um dia reverente.

Mas dá! Agradeço as manifestações
De apreço, os elogios e as afeições,
Mas, chato, pergunto: Tem presente?

Francisco Libânio,
20/10/12, 11:22 PM

532 - Soneto com uma hora a menos

Como dizia Silvio Luiz "Acerte o seu aí que eu arredondo o meu aqui"


Há quem deteste o horário de verão.
O dia mais longo, a noite mais curta.
Até hora o maldito governo nos furta!
Me reclama um cheio de indignação

Economizar energia, eis a explicação.
De saída, a mudança vem e encurta
A noite. Quem a frequenta, já surta.
Meia-noite vira uma por imposição.

Quanto a este poeta, tal mudança
Incomoda no começo e logo dança
Conforme a toada do novo horário,

É claro que no verão senegalesco
Se sofre. Prefiro um mais fresco
Ou, melhor, troco por um balneário.

Francisco Libânio,
20/10/12, 10:48 PM

531 - Soneto do eu estereotipado

Gloria Gaynor é mais que I Will Survive, seus selvagens!


Ouço I Will Survive e gosto,
Gloria Gaynor, uma cantoraça,
Aí vem um à-toa que passa
E ri enquanto me vira o rosto.

Fácil que ele tenha suposto:
I Will Survive? Ai, que graça!
A bichona aí é bem devassa!
Mais um a achar que eu tosto...

Se achar, problema dele... Quer
Dar pra mim, ser a mulher?
Preocupado com o cu alheio,

O sujeito deve ouvir só metal.
Funk, é pegador, é o maioral!
O armário é seu melhor esteio...

Francisco Libânio,
20/10/12, 6:04 PM

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

530 - Soneto de fim de novela

Carminha? Nina? Quem?


Não que a vida seja só seriedade,
Crítica, engajamento o tempo todo,
Dá para se abstrair e ligar o modo
Diversão e desplugar da realidade,

Mas vá se aprimorar em maldade
Como essa novela! Com o engodo
De vingança, passou-se um rodo
De mortes, tramoias e crueldade

Seja como foi, mais que critique,
O folhetim segurou o forte pique
Trazendo o público ao seu final.

Enfim, acabou a Avenida Brasil,
Virá outra novela, mas quem viu
A Suellen está nem aí com a tal.

Francisco Libânio,
19/10/12, 8:44 PM

529 - Soneto do ato histriônico

Vocês não entendem... Eles trabalham muito mesmo!


Mas que é absurdo, nojento,
Quase já beirando a galhofa,
Esse ato que apenas estofa
O conhecido descaramento

Político. No contentamento,
Um deputado bem filosofa:
Tanto trabalha que só mofa,
O descanso é merecimento.

Semana de três dias e vem
O recesso para poder bem
Descansar para que melhor

Possa trabalhar. Que nobre!
Mas acho justo que se cobre
Nem pague quando não for.

Francisco Libânio,
19/10/12, 12:10 PM

528 - Soneto gazeteiro

Trabalham muito!


Legal deve ser parlamentar,
Legislar, discutir, recorrer,
Ir trabalhar ao bel-prazer
E, além de tudo, gazetear.

Ganhar bem, ter um lugar
De honra, mas não fazer
Nada. Está lá mais a lazer
Do que para representar

Aí, na base do conchavo,
Contra o dia-a-dia escravo,
Eles acertam: Por semana

Bravos três dias de labuta,
Nos mais, a turma desfruta
Do repouso a dar banana!

Francisco Libânio,
19/10/12, 8:18 AM

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

527 - Soneto baleeiro

O demônio em forma de gente. Clássico!


Isso, sim, que é obsessão!
Isso, sim, é vingança, meu!
Capitão Ahab, que perdeu
A perna, perdeu toda razão.

A busca à baleia é a missão,
A luta contra ela, o apogeu.
Quem nos conta sobreviveu
A tudo e fez disso reflexão,

Parabéns, Herman Melville!
Que a Literatura o perfile
Sempre aos inesquecíveis

Moby Dick é uma alegoria,
É humano até em demasia
Um dos livros mais incríveis!

Francisco Libânio,
18/10/12, 8:11 PM

526 - Soneto para Sylvia Kristell

Ela era uma gata. Ponto!


E ela se foi. Deixará saudade
Nos apaixonados de outrora,
A adolescência em que aflora
Através dela a sexualidade

Ela unia classe e sensualidade,
Nos filmes, a mulher sedutora
De homens mil e devastadora
Corpo e rosto, plena afinidade,

Que peitos tinha essa mulher!
Que boca! Me dou pra morder!
Ela era pecado à flor da pele,

E eu, talvez um órfão a mais,
Ejaculo versos menos carnais
E gozo aqui pela Emanuelle.

Francisco Libânio,
18/10/12, 12:29 PM

525 - Soneto do soneto silabado

Camões, mestre das redondilhas e dos sonetos


Redondilha ou alexandrino?
Se é ela, é maior ou menor?
Se é ele, como faz pra por
Doze sílabas? Eu aglutino?

Eu estico? Se num genuíno
Soneto a métrica certa for
Sine-qua-non, fica melhor
Desistir e deixar o pepino

Pra lá. E não mais sonetear?
Ah, perdoem decepcionar,
Oh, puristas, mas é esporte,

É vício obsessivo incurado
E por isso, não metrificado,
Soneteio torto. É mais forte!

Francisco Libânio,
18/10/12, 11:37 AM

524 - Soneto do soneto saudoso

Saudade da minha infância eu também tenho.


Saudade é palavra triste já cantou
Uma boa e antiga dupla sertaneja.
Seja se se perde um amor ou seja
De alguém que surgiu e cativou.

O poeta, que no tema se graduou,
Ao escrever sobre isso ou almeja
Afogar essa saudade que sobeja
Ou purgar a dor que ela causou.

Casimiro relembra os oito anos,
Gonçalves Dias lá urdia planos
De matar as saudades do Brasil

Quanto a mim, eterno saudoso,
Soneteio e sinto algo gostoso:
A aproximação invisível e sutil.

Francisco Libânio,
18/10/12, 7:55 AM

523 - Soneto do soneto satírico

Soneto satírico era com o Gregório. O resto é conversa fiada.


Saber criticar em verso e prosa
É dom. Sacar a doma da ironia
É imprescindível, de muita valia,
Escreve-se assim a lira garbosa

De perfeição estilística e lá goza
Um dado alvo com tanta maestria
Que, até ele, diante da galhardia
Dá também uma risada gostosa,

Se a piada é boa e a crítica é sutil,
O poeta manda à puta que pariu,
Xinga a mãe e ainda é aplaudido,

Alguns são gregórios, sem papas,
Mas que sensação a de dar tapas
Qual carinhos e inda ser agradecido...

Francisco Libânio,
18/10/12, 7:20 AM

Sob influência de Emanuelle

Morreu hoje a atriz Sylvia Kristell, aos 60 anos. Eu, como toda uma geração, em adolescente, fui fã dos seus filmes softcore. Em 2003, madrugada alta e sem sono, escrevi um poema enquanto assistia a uma de suas aventuras como Emanuelle. Divido com vocês. 

À contra-luz de teus montes vi a silhueta
Que era apenas o que nos reservava o escuro
Lá fora tínhamos somente a lua e o muro
Que me mostrava a sua linda forma indireta

Para te sentir não precisava a luz completa
Para te amar nada precisava, apenas amor puro
De alguém que me fez sentir porto seguro
E terreno para brotar todo esse amor poeta

E contra a luz pude gostar teu doce sabor
Em montes que se aguavam em divina ambrosia
Para minha vida que dela estava tão vazia

Enquanto a noite corria por suas horas a fio
Pudemos nos entender como num erótico desafio
Em que experimentávamos os corpos com amor

Francisco Libânio
17/08/03
3:36 AM

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

522 - Soneto do soneto sagrado

No fim das contas, o fim de todos é o mesmo.


Adora com toda tua fé e ora,
Ora e põe a oração no papel;
Posto, ergue-o e dá ao céu
Esta graça concedida agora

Se a fé move quem adora,
Ela também permite ao fiel
Escrever, cruz ou solidéu;
Véu ou outro. E se ignora

Denominações ou tem fé
No que se vê ou no que é,
Dedique alguma devoção

Afinal se racional ou sacro,
Existe algo em plano macro
Que valha alguma exaltação.

Francisco Libânio,
17/10/12, 12:46 PM

521 - Soneto do soneto psicografado

Sonetos e outros poemas psicografados. Um livrão. Recomendo.


Grande e sábio Chico Xavier,
No alto de sua mediunidade,
Transcreveu com qualidade
Grandes poetas para se ler.

Será essa plêiade a escrever
De além-túmulo? De verdade?
Acreditar é íntima capacidade
Bem como o é se surpreender,

Mas ver Bocage arrependido
E um Emílio de lá já remido
Afrontam sua lírica mundana

Não questiono nem legitimo,
Mas leio os sonetos e eximo
De culpa. A ideia foi bacana.

Francisco Libânio,
17/10/12, 8:19 AM

terça-feira, 16 de outubro de 2012

520 - Soneto do soneto político

Se quer falar, tenha o que falar.


Abordar, como se num palanque,
As desditosas agruras políticas
Exige do sonetista ideias críticas,
E uma postura séria de arranque;

Tomá-la duro, fazer que banque
Seu argumento, fugir das dísticas
Alternações nem ter por místicas
As ideias. É bom que se manque:

Homem algum é divino e ideia
Não há absoluta. A assembleia,
Se ler o soneto e tomá-lo assim,

É viciada, não saca de poesia
E de política. A cabeça vazia
Levará todos ao mesmo fim.

Francisco Libânio,
16/10/12, 12:33 PM

519 - soneto do soneto fetichista

De vez em quando vai bem à dois.


Além do sexo pelo pleno prazer
Ele, às vezes, pede um tempero,
Uma roupagem até um exagero;
Uma forma nova de se conhecer,

Para tal intento vale até se valer
De trajes, de contos, de esmero
Especial e de um desejo sincero
A detalhes especiais da mulher

(Ou do homem me pedem elas).
Sonetear fantasias a enaltecê-las
Pode ser um afrodisíaco a mais

E lê-los antes da hora da cama
Certamente acenderá a chama
E turbinará os prazeres carnais.

Francisco Libânio,
16/10/12, 9:02 AM