sábado, 18 de junho de 2011

Um dia na vida


Um dia na vida, célula única, indivisível,
Junto de outras mais parece um colosso,
Sozinha, perdida, isolada, quase invisível...
Um dia que dos outros, só, abre um fosso

Um dia na vida, sozinho, perde sentido
Já que ignoramos sua herança recebida
E recusamos o legado a ser transmitido
Com custos e taxas para o resto da vida

O preço que se paga dinheiro não avalia
Nem do recebido nem da transmissão,
Um dia na vida é isso, apenas um dia,

Mas o dia de hoje, às portas de um escuro
Túnel tem para si só do ontem a lição
E o que será feito e entregue no futuro.

Francisco Libânio,
18/06/11, 4:17 PM

terça-feira, 14 de junho de 2011

As ruas 05


Depois de dois dias sem escrever, à caneta,
Pus-me a rascunhar alguns vadios versinhos,
Nada espetacular, apenas uns descaminhos
Que em meu poema tem voz boa e completa

Olho minha rua, ela está lá, molhada, quieta,
Nem sabe que eu escrevo. Estamos sozinhos,
Ela lá pavimentada com poças por laguinhos
Onde a passarada, com sede, se locupleta

Eu, aqui, não estou molhado. Estou quieto,
Sei mais da minha rua que ela sabe de mim,
Somos pouco parecidos, mas algo no fim

Nos aproxima. Os passarinhos que, lá fora,
Bebem água dos laguinhos na rua empoçados
Nesses vadios versinhos ficam imortalizados.

Francisco Libânio,
14/06/11, 6:38 PM

sábado, 11 de junho de 2011

Eu já fui feliz, tive meus momentos


Eu já fui feliz, tive meus momentos
De sorriso, de ver um azul na vida,
Já dei sorrisos sem acanhamentos
E tive uma razão para ver colorida

A vida por tintas de sentimentos,
Eu já tive sonhos de casa florida,
Com jardim, esposa e os rebentos,
Enfim, a felicidade já foi vivida,

Já foi desfrutada, mas foi embora
Para não voltar... Talvez... Mas meu agora
Está longíssimo daqueles dias

Querer que eles voltassem? Quero!
Mas é difícil. Nem mais eu os espero,
Desarrumei meu terreno para alegrias.

Francisco Libânio,
11/06/11, 10:23 AM

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Novela


- Entenda. Não é que eu não goste de novela. Eu até assisto quando estou de bobeira em casa, mas não gosto de acompanhar. – explicava o solícito entrevistado a um pesquisador. Já perdera cinco minutos da volta de seu almoço para o trabalho.
- E por que não? – estendeu o outro.
- Por quê? Porque eu não gosto de me sentir obrigado a incluir a televisão na rotina da minha vida. Prefiro passar a noite conversando com minha esposa, brincando com meus filhos, recebendo meus amigos em casa. A tevê não está entre minhas prioridades. Tenha um bom trabalho. – e saiu.
E o que precisaria? – seguiu o pesquisador a passos largos já a largos passos.
- O quê? O senhor ainda está aqui? Precisaria de quê?
- Para o senhor trocar tudo isso por novela.
- Não precisa de nada. Nunca que eu faria essa troca. Não seria eu.
- Não acredito!
- Pode acreditar.
- Só vendo! Onde o senhor mora?
- Acho que isso não está nesse questionário, está?
- Não, mas é que estou impressionado! Quem hoje troca televisão por família? O senhor não sabia que família unida é aquela que assiste junta o jornal, a novela e depois alguma coisa qualquer? O senhor está enterrando essa instituição! – e o outro, com o pesquisador falando, já estava na porta do prédio onde trabalhava. Pediu pra avisar que já já subia.
- Enterrando? Olha aqui, meu amigo, eu e minha família estamos juntos há seis anos e como o senhor fala que estou enterrando minha família? O senhor está por demais inconveniente.
- Escute, e se agente colocasse mais violência na nossa novela?
- Não me interessa.
- E mais mulher pelada?
- Dá bronca em casa.
O pesquisador alcançou e conseguiu entrar no elevador, para miséria do outro.
- E se colocasse mais povo na televisão? O povo adora se ver, se identificar quando assiste a um programa. Sei que nossa novela, às vezes, parece elitista, mas é questão de contexto, sabe? Mas uma guinada está próxima. Posso dizer que será a própria Revolução Bolchevique da tevê brasileira. Vai ser o que há, diz que não!
- Com todo prazer... NÃO! – respondeu descendo dois andares abaixo. Por sorte, o pesquisador ficou no elevador. Enquanto subia os lances de escadas até sua sala, pensava em tudo o que ouviu. Cara chato! Chegou à sua sala, pensou um pouco mais, deu alguns telefonemas. Em quarenta minutos convocava uma reunião. Começou falando:
- Seguinte, moçada, eu soube por fontes seguras que a concorrência anda com uma pesquisa para mudar a orientação da novela deles. Ouvi falar, até, que eles pretendem fazer a Revolução Bolchevique da tevê brasileira querendo colocar o povo na tela. Então é assim: Chama todo nosso elenco pra gravar e os autores pra reescrever os capítulos. Se vai ter Revolução nessa bagaça, o Lênin dela vai ser a gente! Vamos, pessoal, vamos!

Francisco Libânio,
09/06/11, 3:44 PM

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Quadra 05


O homem, esse animal racional,
É um tolo crendo que o raciocínio
É seu forte e sofre com o domínio
Do coração e nega como o pior mal.

Francisco Libânio,
09/06/11, 9:48 PM

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ser intenso


Esse poeta é um homem intenso
Sendo nos ódios e nos amores,
Um homem seriamente propenso
A oferecer aos outros os melhores

Sentimentos com grande, imenso
Prazer além de dividir duras dores,
Mas se é para o bem, por extenso,
Esse poeta é para o mal. Os piores

Desejos, ele também sabe oferecer
A quem mereça tê-los ou não mereça
Coisas boas. E no caso uma peça

Apenas é o suficiente para se fazer,
Se para o bem, ofereço infinitamente,
Para o mal, a indiferença é suficiente.

Francisco Libânio,
08/06/11, 10:22 PM

terça-feira, 7 de junho de 2011

O Namorado ótimo


O mundo é maior que nós dois, eu sei!
Há mil mulheres por aí a serem amadas,
Mulheres que merecem o que eu te dei
Ou mais. Elas, se querendo apaixonadas,

Procuram um homem que possa ser rei
De suas vidas. Elas seriam prendadas
Rainhas. Quem sabe, eu lhe comporei
Poesias maravilhosas, rimas rebuscadas,

Darei flores, chocolates ou só um olhar,
Poderei fazê-las rir como poderão chorar
Se eu for em falso, mas quem não erra?

Seria um namorado ótimo. Só que berra
Aqui um coração doido pra ser namorado,
Mas que só consegue ver a ti ao lado.

Francisco Libânio,
07/06/11, 9:41 PM

segunda-feira, 6 de junho de 2011

01 - 06-06-11 - Todo mundo tem medo uma vez na vida

Todo mundo tem medo uma vez na vida,
Medo de escuro, medo de ouvir um não,
Medo do fracasso, medo de fazer em vão,
Medo de ter toda a esperança perdida,

Todo mundo chorou ou numa despedida
Ou quando não deu pra segurar a emoção;
Chorou porque o amor sofreu retaliação
Ou porque o medo deu aquela tremida

Eu mesmo perdi as contas dos choros
Ou dos medos que tive sem vergonhas,
Arrependimentos e lamúrias tristonhas,

Fiz dos choros e dos medos meus soros,
Choro ainda? Sim. Tenho medo? Claro!
Mas hoje, eu os uso como meu anteparo.

Francisco Libânio,
06/06/11, 9:39 PM,

sábado, 4 de junho de 2011

Esses Gaúchos


Eu nunca tinha lido nada do Caio Fernando Abreu. Apenas ouvido falar, sobretudo por uma amiga muito fã, gaúcha como ele. É impressionante como os gaúchos se admiram e se exaltam. No caso dessa minha amiga, que adora Caio, Quintana e Engenheiros do Hawaii (além de Nenhum de Nós, o que a torna uma pessoa de excelentíssimo gosto), seu gauchismo atinge os píncaros. Eu não sigo isso dessa forma. Entre os meus cinco escritores favoritos, nenhum é paulista. Demérito de São Paulo? Não, apenas predileção pessoal.
Mas voltemos ao Caio. De tanto minha amiga falar, hoje, num dos meus passeios favoritos, tour por livrarias, achei uma pequena bibliografia do gaúcho (que se radicou em Sampa. Meio paulista?). Orientado, escolhi o livro de contos Morangos Mofados e meti na cesta. Voltando pra casa, comecei a dialogar com o livro (porque mais que ler, procuro conversar com o livro e com o autor, loucura minha, não liguem) e fui sendo convencido pelo que eu lia.
Caio F tem uma das prosas mais sedutoras que eu já vi. Sua escrita a partir de um submundo, de uma coisa mais suja, personagens conflituosos é simplesmente sensacional. Se entendermos que esse livro específico é de 1982, fica fácil entender que as abordagens a alguns temas são veladas para não chocar o público, mas quem lê o autor sabe o que esperar. Estou, ainda, no primeiro terço do livro. Quero terminá-lo logo. Minha amiga tem razão. Esses gaúchos são ótimos. Já tinha sido pego pelo Quintana. Agora vem o Caio Fernando Abreu prestes a se tornar um dos meus escritores em prosa prediletos.

Francisco Libânio,
04/06/11, 8:20 PM

Mattosianas 086 - Soneto Eleitoral


O candidato a vereador em campanha
Deu brindes e terminou o melhor eleito,
Empossado fez pouco, mas com efeito,
Noutra eleição, usou a mesma artimanha,

Foi deputado. Teve a senadoria ganha
A presentes. Seu eleitor estava satisfeito,
Em que votou? Não lembrava direito,
Mas guardava bem os bens da barganha

E com este artifício se elegeu presidente,
Sem nada ter feito, na troca sub-reptícia
Até ser pego em corrupção pela Polícia

Quis agradar ao Delegado com presente,
Foi preso e seu ilícito teve gravame pior,
O Delega não era assim como seu eleitor.

Francisco Libânio,
02/06/11, 9:20 PM

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Aquele Homem


Ela me olhou com grande censura e, incisiva, decretou:
- Ou esse homem some da nossa vida e daqui ou sumo eu! Não agüento mais isso.
Minha esposa tinha razão para não agüentar. Nosso locatário da casa dos fundos era uma pessoa absolutamente inapropriada e inoportuna. E mesmo nossas casas sendo separadas por uma mureta que dava no portão do corredor, ele sempre extrapolava seu espaço e vinha nos aborrecer. Era um exibicionista. Não era um homem bonito nem tinha corpo arrumado, mas adorava andar sem camisa, exibindo o peito cabeludo ou se sentar na mureta de sunga. Uma cena deplorável que enfurecia minha esposa. E pior, cantava ela na minha frente. Pior ainda! O sujeito ainda me cantava sem pudor nenhum. E certo que ia me ganhar.
Sobre minha esposa, eu sei que ela não cederia. É uma mulher fiel e não seria um tipo desses que se interporia entre nós. Mas comigo, meu Deus, um homem! Como eu caio nesse canto de sereia? Eu tenho certeza absoluta do que gosto. Tenho minha orientação sexual definida e consciente, mas confesso que esse cara... Esse cara mexia comigo! E isso me deixava em frangalhos. Eu com minha esposa, relação estável, nove anos de união e considerando ter um filho para me deparar com um homem? Ela tinha razão em não agüentar, mas pedi ajuda:
- Você vai comigo falar com ele.
- Eu? Se ficar cara a cara com esse porco, encho ele de porrada, perco a razão. Você me conhece. Então vai lá e resolve isso!
Que parada! Agora era eu e ele. Eu o maldito parecia adivinhar que era eu quem iria falar com ele. Parecia me esperar. Cheguei à mureta e lá estava ele com uma bermuda vermelha realçando o conteúdo, óculos escuros, pose de gostoso e o indefectível peito cabeludo. Ao me ver, o sem-vergonha não se fez de rogado:
- Sabia que você não ia resistir. Entra, meu amor!
Meu amor? Mas esse infeliz estava além do cúmulo da liberdade. Usei de toda distância com ele, mas não adiantou. Tudo o que eu dizia era mote para um cortejo, uma cantada. A cada investida, eu balançava, pensava na minha esposa, em tudo o que vivemos, mas tudo morria naquele homem. E o tal partiu para um ataque incisivo. Primeiro, passava a mão nas minhas pernas, depois passou os braços atrás de mim e me puxou junto a ele. . Tentei me desvencilhar, mas também não queria resistir. Uma luta de quereres que, quando ele beijou minha nuca, foi definida. Era minha rendição. Era homem, dane-se! Eu adoro beijo na nuca. Minha esposa vive me beijando a nuca. Eu estava entregue. Pegamo-nos num beijo. Minhas mãos percorriam aquele corpo com desejo, com apetite. Eu pensava: Meu Deus, eu estou me entregando a um homem, como posso?! Mas era tarde. Por mais que eu me lembrasse da minha esposa, o fogo por esse homem me consumia. Eu não queria parar. Ele me despiu na sala. O que eu tinha a dizer? Não lembrava. Estávamos num momento tão bom que ficou melhor quando ele me chamou para o quarto. Ali eu estava refém dele, daqueles braços flácidos, mas viris. Ele me dominava e me deitou dizendo que ia me possuir. Eu estava entregue. Ele mandava, era senhor. Como seria bom ter essa torridez com minha esposa. Minha esposa?! Meu Deus, ela não quer esse homem aqui! Praticamente me fez optar ou ele ou ela! E agora eu estava com esse homem que ela não suportava. Eram nove anos. Era muito mais do que sexo. O sexo com minha esposa era bom, mas com esse homem... Prometia ser indescritível. De repente, o bom-senso me chamou à luz. Eram nove anos e uma esposa... Não dava! Empurrei o homem. Mesmo que eu quisesse não podia. Era minha esposa, tudo! Gritei com ele:
- Não posso! Não vou! Vai você! Quero você fora dessa casa amanhã pela manhã! Não precisa pagar nada! Apenas suma e deixe minha esposa e eu em paz! – e saí correndo deixando o homem sem ação. Dei um tempo e vi que ele arrumava malas. Aceitou sair numa boa. Quando minha esposa chegou, contei como tirei ele de casa. Lamentamos o tempo sem aluguel, mas isso se resolveria. Ela me deu um beijo e disse:
- Sabia que eu podia contar com você, Elisa!
- Sempre poderá, Márcia.
E fomos cuidar de outras coisas.

Francisco Libânio,
30/05/11, 12:40 PM

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Hai-kai 07


Não reclames. Tudo é culpa tua
Se erras, se perdes o que tinhas,
Nem mesmo ser perdoado atenua.

Francisco Libânio,
02/06/11, 9:26 PM,

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O poema de amor do dia... Será que tem?


O poema de amor do dia... Será que tem?
Não sei. Amor tem pro tal poema,
Tem a mulher que servirá de tema
E a vontade de escrever também,

Mas o poema precisa de algo além
E está aí o xis da coisa, o problema,
Não que falte o algo, mas o dilema
É usar esse algo e saber usá-lo bem

Porque usar, eu uso. Ponho-o e pronto!
O poema se faz enquanto eu o apronto
E é mais um poema de amor escrito

Mas hoje tenho já todos os elementos,
Tenho aqui o melhor dos sentimentos,
Só me falta agora algo belo a ser dito.

Francisco Libânio,
01/06/11, 9:38 PM,