segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Homem, este animal racional,


O Homem, este animal racional,
Dito superior entre toda a criação,
Com inteligência e sentimental,
Capaz de dar nome à sua emoção;

Este animal criado tão excepcional,
Proclamado a própria perfeição
Acreditou e acima do bem e do mal
Se pôs subjugando toda a criação

Bem como o próprio homem, igual,
Racional e perfeito, porém inferior
Por alguma razão outrora definida

Pobre homem de mísera e invertida
Mente que, dita sábia, quis se impor
À força, o argumento mais irracional.

Francisco Libânio,
31/01/11, 8:00 PM

domingo, 30 de janeiro de 2011

O colo no qual repouso o amor é terno,


O colo no qual repouso o amor é terno,
As mãos que acariciam, de bondosas,
São motes do querer. Rendo-lhe glosas
Íntimas só tuas enquanto no colo hiberno

Protegido do que for maldade. E em paz
Transcrevo este poema em minha imaginação
Enquanto a que me acomoda, em introspecção
Parece ler e, em gratidão, mais carícias me faz

Eis que o leitor me pergunta: Então escreveste
O poema no colo de tua amada? Não, digo,
O poema lá pensado em nada se parece com este

Aquele poema e glosas morreram quando saí
Do colo da amada que lhes dava calor e abrigo
E eram mais amorosos que o poema que escrevi.

Francisco Libânio,
14/03/10, 11:54 PM

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Frenesi


E daí que as outras pessoas esperavam na fila como ele? Problema delas se elas chegaram antes dele, que pegou um engarrafamento monstro na Rebouças. Queria entrar logo no estádio. O show daquela banda era o momento mais esperado de sua vida. Se lhe perguntassem, responderia sem medo que viveu trinta e três anos para aquele dia. O ingresso ainda precisava ser comprado, mas ouviu o dia todo que a venda estava bem abaixo do esperado e que quem quisesse poderia retirar seu bilhete no local.
E daí que custava cento e cinqüenta reais? Ele pagaria um milhão mesmo que não tivesse, Hipotecava a casa, entregava o nome ao SPC, vendia os filhos, se os tivesse. Tentou furar a fila. Queria entrar logo e foi contido quase que à cacetadas pelos policiais que só relataram um maluco como problema naquele local. Encheu-se de paciência e a fila que não andava começou a marchar e cada vez mais próximo do guichê seu coração acelerava. À vendedora só faltou dar um beijo. Ela seria a guardiã que lhe abriria a porta do paraíso. Ou não.
- Senhor, o ingresso no dia do show custa duzentos e vinte reais.
- Mas como?!
- Foi anunciado. O senhor não tem vinte reais? Aqui só tem duzentos.
Tinha. Estava no carro. Maldição! Teria que voltar, buscar a quantia e encarar mais fila. Podia perder os ingressos. Começou a fuçar os bolsos na esperança de que o dinheiro aparecesse como obra divina. Apareceu, mas por esquecimento. Estava num bolso de trás onde raramente guardava. E ele nem se lembrava. Agora, sim, sua bruxa!
- Aqui está. Bom show, senhor!
Passou pela revista dos seguranças, praxe. Arrumou uma cadeira perto do palco. Ainda bem que não era como aqueles shows de rock em que o povo ficava de pé. Com ele a coisa era mais erudita e o show prometia. Era a primeira vez que aquele quarteto se apresentava no Brasil. Cordas, ele adorava. Ouvia desde criança. Era uma coisa nostálgica, lembrava do pai, do primeiro beijo, do protesto da namoradinha (“Ai,Betinho, tira isso!”), do casamento. Se sua vida tinha uma trilha sonora, aquele quarteto merecia os direitos autorais. Cada instante uma música.
Aos poucos o estádio ia se enchendo. O show estava marcado para as nove horas. Eram oito e vinte. O palco estava lá pronto, os violões de sete e doze cordas, o violino, o celo, a viola, o contrabaixo. Eles eram especialistas em todos esses instrumentos. O coração ia batendo mais forte conforme a hora ia chegando. Parecia um menino a esperar sua banda de rock favorita. A cinco minutos, as luzes se apagam, foco no palco. Uma voz anuncia toda a carreira do quarteto conhecido mundo afora e que se apresentaria com sua formação tradicional que se reunira depois de tantos anos. Entram em fila indiana quatro senhores já de idade. Agradecem os aplausos fleumáticos e aquele incontido da segunda fila, tomam seus lugares e mandam os acordes da primeira música. Ele está no paraíso. Foi a música que ouviu quando se formou. A segunda música era uma de suas preferidas. Ouviu várias vezes em dia de fossa acompanhado da cerveja conselheira. A terceira era familiar, mas não lembrava muito bem dela. Puxava pela lembrança, puxava, puxava....
Quando se deu conta de si, sentiu alguém batendo-lhe nos ombros:
- Senhor, o estádio já está vazio. Vá embora.
Lembrou. Era a música que sua mãe colocava pra ninar quando ele estava naqueles dias impossivelmente elétricos. Era tiro e queda. E, infelizmente, continuava sendo.

Francisco Libânio,
28/01/11, 9:51 PM

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Do beijo entre mulheres


Para algumas, um desafio, uma diversão,
Para alguns, uma fantasia, um desejo,
Para outros, uma forma de perversão
Para os normais, nada. Somente um beijo.

Francisco Libânio,
27/01/11, 5:37 PM

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A última mulher que eu tiver em minha cama


A última mulher que eu tiver em minha cama,
Que seja a que me faça morrer nos braços
E que ouça meus últimos suspiros escassos
Após vivermos a dois a mais variada gama

De experiências luxuriosas, os mais devassos
Momentos em que o prazer seja nesta trama
Personagem principal junto a esta lasciva dama
Responsável pelos últimos descompassos,

Que ela saboreie em minha carne meu desejo,
E deguste meu sabor com o paladar refinado
Para, saciada, se limpar e se deitar ao meu lado

E encerre seu banquete com um doce gracejo,
Um beijo quente como quem promete algo mais
Selando o acordo: Não nos separaremos jamais.

Francisco Libânio,
26/01/11, 7:56 PM

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Confitente


Um silêncio caiu forte como um meteoro
Nas conversas. Mesmo os pensamentos
Calaram. Alguns ali acharam um desaforo,
Outros, um rompante que em momentos

Ira embora. Era brincadeira. Mas os ventos
Vieram, nada se foi. Recompôs-se o decoro,
A seriedade e vieram os questionamentos,
As respostas conscientes e claras. O coro

Vaiava a resolução. Onde se vira tal ideia?
Mas ele nem dava pelo reprovo da plateia
Era coisa sua já decidida e agora confessa

Do nada um dentre os que vaiavam aplaudiu
A coragem do confitente. Um caminho se abriu,
Uma vida se estendeu e por ele atravessa.

Francisco Libânio,
25/01/12:27 AM

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Eu te amo mesmo que aqui não estejas


Eu te amo mesmo que aqui não estejas
Ou que pareça que comigo não estarás
Nunca como se amasse debalde. Capaz!
Meu amor te verá e sabe, caso o vejas,

Que esta espera dolorida ficará para trás
E caso contrário, pedirá que o protejas
Sem te ver. Esperará sendo alvo de invejas,
De dizeres, de vais e outras coisas más

Azar de quem o fizer. Eu amarei inda assim.
Nessa expectativa de que dia aconteça
O encontro de nossos olhos e floresça

Desse amor que parece amar o inexistente.
Pode ser, mas faço-o confiante e crente
De que o que não existe será real ao fim.

Francisco Libânio,
24/01/11, 5:53 PM

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O descontente


Era um sujeito xarope, daqueles que nada lhe agradava e não se agradava com nada. Sua casa, achava-a a pior do mundo e só perdia para as que era convidado, todas desconfortáveis, quentes demais quando não glaciais em excesso. Por essas, nunca visitava a mesma casa duas vezes. Minto. Teve a casa de um camarada na qual ele esteve uma segunda vez. Na primeira, incomodou-se com a brancura das paredes e com a pouca iluminação da casa. A anfitrião transigiu e refez toda a luz do lugar, mudou as janelas e a casa ficou mais clara. Deu vida às paredes com um bege claro, mas perceptível. O ranzinza mandou a claridade em excesso ao diabo. Queriam lhe cegar?
No trabalho, a coisa diferia pouco. Sempre era o patrão que era um carrasco. Quando o chefe abrandava, era a rua, era o cara ao lado, era o salário de fome, outra vez o chefe, a secretária. Quando se aposentou, reclamou de trabalhar tanto até chegar o dia e meteu a boca no INSS a quem acusou de não contar certinho o tempo de serviço.
Não era neoliberal porque criticava a opressão da burguesia ao proletariado e a injustiça social que provocava. Não se deu como socialista porque não acreditava na luta de classes e não via sentido nenhum no marxismo, uma grande balela. Resolveu fundar seu próprio partido. Chegou a alinhar ideias e amealhar correligionários, mas na primeira plenária, discordou tanto do regimento interno que abandonou a reunião e correu a fundar uma dissidência.
Casou dezenove vezes. Alguns dos enlaces não demoraram mais que quatro dias. O mais longo demorou contados cento e vinte. Encrespava direto com suas senhoras. Ou elas eram passivas demais ou verdadeiros generais de saias. Algumas eram perdulárias, outras sovinas. Umas eram teimosas e outras eram egoístas, mas todas, no papel de ex-mulheres, eram víboras ávidas por dinheiro. Não deixava de praguejar nenhuma e não menos a solidão, que era um lixo.
Um dia acordou sentindo uma dor infernal no peito. Xingou o médico que, segundo ele, atendera de forma irresponsável e receitou um remédio horroroso que, por isso mesmo, não tomava. Dessa dor para um infarto foi dois palitos. Morreu e foi lembrado no enterro quanto no velório porque safou as coroas de flores e o caixão de sua ira. O mesmo não tem dito o coveiro com anos de labuta e, por isso mesmo, descrente em almas do outro mundo. Deixou de sê-lo depois de ouvir toda noite um fantasma reclamando de infiltrações em sua cova.

Francisco Libânio,
17/04/10, 3:00 PM,
Caraguatatuba

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Hai-kai de Comiseração


E se tudo der errado, ainda assim...
Paciência.
Valeu por toda a experiência.

Francisco Libânio,
20/01/11, 12:46 PM

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Coisas que faço pensando em ti



Coisas que faço pensando em ti? Ah, quantas!
Desde que eu acordo é que te levo comigo,
Vejo o mundo correr em vida e não consigo
Te tirar de meu pensamento. Já te levantas

Quando me levanto. Ao meu lado te adiantas,
Mesmo longe, em inspirações, então me obrigo
A escrever um verso para ti. Estou contigo
A criá-lo e saem linhas e mais linhas, tantas

Que escolho: Quais merecem te conhecer?
Depois de escrever vejo o que me oferece
O mundo. Bom se estivesses ao meu lado

Porque tudo o que ele me põe para ver
A dois é melhor, se aproveita. Ah, se desse
Para pensar em ti contigo abraçado.

Francisco Libânio,
16/01/11, 12:49 PM

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Minha mulher perfeita


Eu sei que minha mulher ideal não é perfeita
Nem em meus sonhos ela seria, mais no real...
Sei que ela tem defeitos e tem um lado mal,
Sei que teremos conflitos de causa suspeita

Ou que ela terá dias daqueles, raiva à toa,
Dias que ela não vai me entender, vai brigar,
Não vai querer me ver e tampouco me amar,
Mas se for perfeita, passa tudo e ela perdoa,

Faz cara de braba, desfaz, range os dentes,
Exige desculpas, vacila, disfarça um sorriso,
Faz briga, faz raiva, faz o que achar preciso

Para mostrar razão, mas no fim, sua virtude
Em ser perfeita destacará. Que ela não mude
Suas imperfeições ideais sempre presentes.

Francisco Libânio,
17/01/11, 11:50 PM

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Consciência


Dá-me consciência de que o Amor é um bálsamo
Para as dores do mundo, mas que o mundo fere
Mais do que o Amor pode curar. Sua insanidade
Mais o amor sana chagas mais bombas desfere
Fazei com que eu não seja imune aos golpes,
Mas que eu saiba usar o Amor mais como cura,
E sim como forma de atacar o mundo que ataca
Porque se é com violência que o mundo age
Vou ser violento também, conscientemente violento
Mas violentamente amoroso com toda a consciência
E com toda essa consciência, meu amor que cura
Curará minhas dores e ferirá o mundo e se puder
Curará o mesmo de sua mania inconsciente.

Francisco Libânio,
17/01/01, 8:27 PM

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Paquera


- Boa noite. Alguém já lhe disse que a senhorita é linda?

- Sim, meu pai, meus tios e meus ex-namorados.

A conversa acontecia num barzinho desses em que solteiros tentam a sorte e casais vão se divertir. Alguma coisa começou bem. Se os ex dela falaram que ela é linda é sinal que não tem ninguém na parada. Bom pra insistir.

- Pois acrescente mais um no currículo. Prazer, eu me chamo Haroldo.

A moça fez um “ah” e respondeu:

- Eu sou a Rafaela, prazer.

Prazer é todo meu, pensou. Então o alvo tinha nome, se chamava Rafaela, usava uma roupa escandalosamente provocante e estava sozinha. Puxou uma cadeira mesmo sem ser convidado e pediu algo pra beber. Ela não achou de bom tom, mas não reclamou, o lugar estava cheio.

- E o que você faz sozinha nesse lugar?

- Vim me divertir. Semana cheia, sabe? Precisava arejar.

- Eu vim à procura da mulher da minha vida. Tantas tão lindas aqui. Mas acho que já tenho uma escolhida.

- Uau, que legal! – e nisso a moça arruma a aba do seu sutiã a aparecer no generoso decote. Uma indireta? Talvez, mas o espetáculo foi bom e, aparentemente, sem constrangimentos.

- Sim, to precisando me amarrar, sabe? Cansei de ficar pulando de galho em galho.

- Faz muito bem. Coisa que eu detesto é homem que não se prende a nada nem a ninguém. Também quero achar uma pessoa assim. Já passei do tempo da brincadeira.

Bingo! Ela estava quase conquistada. Na verdade, ele mentiu. Ainda não queria se amarrar coisa nenhuma, mas se a noite com o troféu de hoje fosse boa, prometeu pra si mesmo, ele revia sua posição. Aquilo era mulher pra casar.

Silêncio breve, ela pede um drinque. Ele pede uma cerveja. Os dois bebem. Ela tem jeito de que facilita o jogo quando bebe, pensou. Ela o olhou e perguntou:

- Você.... tem cara de casado.

- De jeito nenhum!

- Olha...

- Tô falando sério. Sou solteiro mesmo.

- Tá bom, vou acreditar, hein?

“Que sufoco! Onde ela viu cara de casado? Será que é a barba por fazer? Como mulher encana com essas coisas? Pois bem, agora contra-atacar” pensou. Enquanto ela bebia:

- E você?

- Eu o quê?

- Já foi casada? Tem filhos?

- Não. Já fui noiva, casamento marcado, certinho, mas acabou antes.

- Que chato, mas você vai achar sua metade.

Ela se levantou para ir ao banheiro. Meio desastrada, roçou a perna dele com os joelhos e para se apoiar, segurou as mãos dele. Foi quando viu a saia curta, mas comportada e o par de pernas lindas. Ao passar por ele, segurou-lhe os ombros. Já havia toque demais. Certamente, estava tudo certo na cabeça dele. Hoje, ele não dormiria sozinho. Quando ela voltou dizendo “Já é tarde, eu vou embora” foi a chave para a pergunta:

- Vamos para onde?

- Oras, eu vou pra minha casa, e você?

- Vou junto.

- O quê? Tá louco?

- Gostei de você, é a mulher da minha vida! Você também que um homem pra sua e esse sou eu. Vem, vamos começar nossa história de amor!

O bar todo olhava a mesa. Ele cresceu pra cima dela atrás de um beijo, um abraço o que fosse. Com boa ginga que tinha, conseguiu se desvencilhar. O sujeito de cara no chão foi cercado por três outros e expulso do bar, que não admitia maníacos nem baderneiros. Ela viu que aquilo não era homem pra ela. Onde ele achou que tinha condição?

Francisco Libânio,

14/01/11, 6:31 PM

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Acidental


A palavra dita como fosse uma estilingada
Sem intenção dói como se cortasse fundo
Pense, pois, no dito que é esmerado e oriundo
De quem quer ferir por coisa já pensada!

Francisco Libânio,
13/01/11, 5:00 PM

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Duelo


A página em branco me desfia, me insulta
E chama às vias a criatividade sonolenta,
Mas, mesmo assim, boa de briga e culta
E que desafiada põe tudo ao chão e enfrenta.

O que vem depois é uma luta sangrenta
Em que a folha em branco instiga e ausculta
A fraqueza da criatividade que inventa
Uma rima a ferir a oponente. O que resulta

Desse embate são lutadoras cansadas,
Uma por ter sido exigida em rimas improváveis,
Outra marcada por cicatrizes permanentes

A folha, ferida pelas letras em si marcadas,
Cumprimenta a vencedora de mãos hábeis
Se arrependendo pelas palavras insolentes.

Francisco Libânio,
12/01/11, 11:37 AM

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Pelos poemas que escrevi


Todos os poemas que escrevi
Sobre nossa história foram reais
Pois de alguma forma eu os vivi
E por algum motivo de força maior
Não os pude viver mais

Azar. Eles estão para a posterioridade
Que legará de nós algo real
E que os ler que se inspire na capacidade
De viver à plena um bom amor
Ainda que venha um fim e faça mal.

Francisco Libânio,
11/01/11, 8:54 PM

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Este vazio


Este vazio que não se preenche logo
Por mais que eu lhe jogue esperanças,
Expectativas e amores lhe e ateie fogo
Para cobri-lo. Sobram as inseguranças

Que o recavam e põem as ordenanças
Deixando para mim o cansativo jogo
De tapá-lo para elas virem de lanças
E pás me picar e me deixar no afogo

Deste vazio com os pés à sua borda
Pronto pra cair. Ah, esta maldita horda
De maus quereres que me querem mal...

Cavem fundo este vazio que me assola
E sonhem em me ver dentro até a gola,
Eu o fecharei com vocês nele ao final!

Francisco Libânio,
10/01/11, 4: 14 PM

domingo, 9 de janeiro de 2011

Poema Simples


Não industrializes os versos
Nem faças das rimas banalidades,
O poeta é um artesão sem ofício
Acima dos fumos das cidades

Estes que produzem tantos bens
E numerosos para se vender a bom preço
E aumentar lucros e engordar barões
Repetindo à exaustão este processo

Pobres são os poetas, mas felizes
Por esculpir rimas únicas e belas
E tão puros seus corações, quase bobos,
Que não cobram nada por elas.

Francisco Libânio,
10/01/10, 11:39 PM

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A musa da Zona Norte


- O senhor precisa conhecer a Micaela, seu Wallace. Uma moça das mais lindas que eu já vi. E não é opinião só minha, não. Lá na comunidade, todo mundo acha a mesma coisa. Os caras são vidrados nela. Se o senhor quiser, trago ela pra apresentar pro senhor.
O conselho foi dado pelo Zacarias, office-boy daquela agência de modelos num dos pouquíssimos encontros com o chefe supremo do lugar. Óbvio que ele conhecia mulher bonita de longe. O problema é que, na cabeça dele, havia um protótipo de beleza definido, bem acabado e que existia aos montes. Todas na Zona Sul, é claro. Ele andava pela orla e via centenas dela. Algumas achavam que era cantada barata e mandavam o moço passear quando não mandavam os namorados, maridos, noivos e congêneres resolver o assunto na brutalidade. Outras, loucas pelo sucesso fácil e pelas portas que se abririam com o corpo escultural, não pensavam duas vezes. Fosse preciso tirar a roupa em plena Avenida Atlântica não tinha problema. Mas na Zona Norte? Wallace conhecia quase nada de lá. Subúrbio nunca foi seu forte. Era arraigado demais à sua realidade e deixava o mundo exterior para os subalternos, com quem pouco conversava sobre até essa conversa.
- Sei não... – respondeu ele – Acho que ela não deve ter o perfil que a nossa clientela espera.
Ah, sim... Tinha esse lado, a clientela. Como toda agência de bacana que ficava em Ipanema, a clientela que procurava os serviços era da vizinhança. Gente que não precisava andar de trem pra trabalhar, não tinha esse perfil nem precisava dele. No entanto, Zacarias, que devia conhecer bem a Micaela, insistiu:
- O doutor tá perdendo uma chance de ouro, seu Wallace. A Micaela pode num ser que nem as moças que o doutor contrata, mas garanto que põe todas elas no bolso quando o assunto é beleza! E de mais a mais, o que o senhor ia perder? Se não gostar dela, o senhor não gostou e pronto. Ela volta pra casa e segue a vida como vendedora. É que ela sempre quis ser modelo, manja?
A insistência e os bons antecedentes de Zacarias valeram a pena. Ele não era desses que arrumavam mulher em qualquer buraco, nos bailes mais podrões da periferia que nem já viu com outros colegas dele. Feito, marcou uma entrevista com Micaela para dali dois dias. Se ela agradasse, seria contratada. No dia marcado, eis que aparece Micaela. Negra retinta, olhos vivos, cabelos com tranças rastafári (naturais, ela dizia, nada de aplique) e um sorriso sempre aberto. Tinha vinte e um anos. Estava com Zacarias. A intimidade dos dois fez um monte de gente perguntar se tinha alguma coisa ali:
- Tem nada! Ela é uma irmã pra mim.
Quando “seu” Wallace chegou à agência, topou com a moça e ficou espantado. Tá certo, ela era bonita, tinha um rosto perfeito. Claro, não era loira nem tinha jeito de rata de praia ou de academia como a maioria das suas contratadas, mas tinha algo sobre o qual ninguém tinha falado. Chamou Zacarias numa sala à parte e disse:
- Zacarias, você disse que a moça é bonita e tal, mas não contou disso que eu vi agora.
- O quê, Doutor?
- Zacarias, essa menina está acima do peso de modelo, não percebeu?
- Gorda?
- É, gorda. Não serve! A gente trabalha para um público de geração saúde. Uma mulher dessas que não pode ser. Ia jogar contra nossa agência, entendeu?
- Mas, doutor... A Micaela é uma gata!
- Gata, coisa nenhuma. Ela não serve, Zacarias. Nem adianta entrevista com ela. Não serve pro nosso público alvo. Peça desculpas à sua amiga e diga que não dá, tá?
Zacarias é que não ia discutir ordem de chefe. Conversou com Micaela e foram embora. Wallace, talvez, tivesse sido duro demais, mas não podia trair seu público. Tocou sua vida e Micaela a sua. A vendedora da Zona Norte, por sua vez, não ficou muito tempo no comércio. Um outro olheiro achou a moça por aí, gostou dela e apostou numa vertente nova, as modelos para as mulheres reais. E deu certo. Em seis meses, ela deixava Madureira para se instalar num apartamento pequenininho na Zona Sul. E com vários convites para trabalhos pelo Brasil.

Francisco Libânio,
07/01/11, 8:27 PM

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Hai-kai de Dia de Reis


Trazem à mão violão e pandeiro,
Trazem no coração algo antigo
Que se vê menos no chão brasileiro.

Francisco Libânio.
06/01/11, 6:03 PM

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

85 - Pressinto que os amores que eu tive


Pressinto que os amores que eu tive,
Cada qual com sua peculiaridade,
Seu encanto e forma de amar, inclusive,
E se foram, construíram na verdade

Um novo Francisco, mais maduro,
Mais poeta e mais homem enfim,
Forjaram um coração mais duro,
Ensinaram a viver e amar assim

Alguém melhor? Depende... Talvez...
Aprendi, ensinei, ganhei altivez,
Sofri, chorei, ri muito e o mais:

Cada um desses amores singulares,
Diferentes deram novos olhares
Para seguir novo apesar dos sinais.

Francisco Libânio,
05/01/11, 10:55 AM

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Denso


Cada vez que peço à vida um amor denso,
Ela me oferece o oposto, assim superficial,
Que me faça ver próximo o chão mais real
Em que eu possa andar sem perder o senso

Mas se é justamente isso o que dispenso
Já que quero me entregar ao mais irreal
Dos envolvimentos, um que seja sem igual,
Tal pouco me incomoda, mas aí repenso

Se este pé do chão não seria um começo,
Um caminho por onde trilhar seja preciso
Para conhecer deste amor dor e sorriso,

Se este chão não está a formar o apreço
Por quem eu amo. Aceito e me debulho
Neste chão até ele se abrir ao mergulho.

Francisco Libânio,
04/01/11, 2:50 PM

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Visita


A Devassidão em ter outra me visita na ausência
Da mulher amada com vasto catálogo de opções
E um leque inimaginável só seu de combinações:
Duas mulheres, três, um harém à minha preferência

Até gasto tempo correndo todas aquelas páginas,
Observo e comento sobre algumas delas a beleza,
A vendedora brilha os olhos e materializa à mesa
As que gostei. Até vislumbro os beijos das meninas

Penso as loucuras na cama e eis que a Amada chega,
Beija-me a boca, conversa, entretém e me carrega
Para o banho e para o amor com tantas e tão belas

Palavras que, mesmo sendo ela uma mulher normal
E sem ser tão lasciva quanto às mulheres do mal
Ainda assim, ela é melhor que qualquer uma delas.

Francisco Libânio,
06/01/10, 7:12 AM

sábado, 1 de janeiro de 2011

Nunca antes na história desse País


Deixando de lado todos os partidarismos, todas as antipatias e todos os ranços que o acontecimento traz em si, o primeiro dia de 2011 é um dia para ser guardado ad-eternum na história do Brasil, sobretudo em sua fatia mais recente: Goste-se ou não, pela primeira vez, o Brasil assiste a uma mulher tomando posse do cargo mais alto do país.

Isso é algo para se orgulhar, afinal vivemos num país marcadamente machista onde as mulheres conseguiram direitos recentemente. O do voto, inclusive. Se o leitor menos atencioso souber que o fato se deu em 1932 vai questionar sobre o ser recente. Mas, comparado com outros países, a coisa pode valer como um ontem.

Mas a eleição da presidente (ou presidenta? Escolha o leitor a forma que melhor apetecer) Dilma Roussef merece, mesmo, uma atenção festejada. Quem não simpatizar com a ex-guerrilheira, seja pelo motivo que for, terá que colocar o fato desta eleição ter contado com duas mulheres. Poderiam ser outras, pois mulheres competentes para presidir um país este tem várias. Uma foi escolhida. A outra não seria má escolha. E o resto é discussão passional envolvendo ideologias.

Mas já que entramos em ano novo e década nova de presidente (ou presidenta, valem os dois?) nova, o lance é torcer. Quem votou na primeira mulher precisa fazer valer sua convicção e provar que estava certo para não se decepcionar depois e ouvir “eu não disse” em profusão da ala contrária. A ela, que democraticamente foi subjugada nas urnas, cabe a fiscalização rígida, mas consciente sobre os anos que virão. E, acima de tudo, é preciso que se torça, torça muito pelo sucesso não da pessoa que preside, mas pelos bons resultados que podem vir. Quem for brasileiro de verdade não quer o mal do país. E ele é muito maior que uma presidente, uma mulher ou um evento, mesmo que ele seja inédito na história.


Francisco Libânio,

01/01/2011, 1:01 PM