quinta-feira, 28 de junho de 2012

0271 - Soneto sem mouse


À minha mãe o mouse empresto
Coisa de filho, é a hora sagrada
Da sua paciência, de dar zanzada
Pela Net. Uma noite. Será presto.

Porém é sem o mouse que atesto:
Sem ele sou uma besta quadrada,
Mão dura, pouquíssimo habilitada
Para esse imprestável e indigesto

Mouse embutido do meu notebook,
Apanho para fazer assim, no muque,
Qualquer coisa, até mesmo escrever.

O mouse, admito, era uma extensão
Minha e vejo isso ao pôr minha mão
No pad e um vazio arrastar e mover.

Francisco Libânio,
28/06/12, 8:47 PM

0268 - Soneto para a jornalista que existe


E não é que ao sair da bancada,
Ao contrário do seu antecessor
Decano, o Cid Moreira, o maior
Âncora da notícia televisionada,

A Fátima mostrou outra fachada,
A da mulher além do apresentador
E marido? Deu a si uma outra cor
Partindo para uma nova jornada

Pra que provar sua competência?
Deixa ela buscar outra audiência
E fazer tombar verdades eternas

E ela, como o tal do Cid Moreira,
Mostrou que existe e é verdadeira
Além de apresentar belas pernas.

Francisco Libânio,
28/06/12, 12:07 PM

segunda-feira, 25 de junho de 2012

0262 - Soneto do enterro da piada


A Justiça é legítima e procurá-la
Cabe a quem estiver incomodado,
Mas vejo o Judiciário já lotado
De casos sérios para uma gala,

Um orgulho de um senhor mala
Que outrora posava de humorado
E agora que vê a graça ao lado
Vai a Justiça querendo calá-la

Então, a graça, a contragosto,
Já que admira com muito gosto,
Tal senhor, presta homenagem

Derradeira simulando o enterro
Da piada. Aproveita e frisa o erro
Do senhor que sujou sua imagem.

Francisco Libânio,
25/06/12, 12:37 PM

0259 - Soneto do goleiro herói


Jogava esquecido, segunda divisão,
No país, ninguém sabia seu nome,
E, por não haver outro de renome,
Fez o técnico chamá-lo à Seleção

Caramba, quem é esse? É zoação?
Pergunta o torcedor que some
Ao ver a lista na TV. Consome
Toda torcida a faminta resignação

Mas acontece. O titular se lesiona,
Vem o anônimo, a vaia se entona
E não é que o reserva fecha o gol?

Virou herói, presidente o recebeu,
O povo o aplaudiu, se arrependeu,
E na segundona ele se aposentou.

Francisco Libânio,
25/06/12, 11:16 AM

0257 - Soneto ao goleiro muralha


O moleque, nascido e criado na base
De um grande clube chegou a titular
Posto de grandes nomes, de Gilmar
A Dida e viveu lá sua aureíssima fase

Ele no gol, não há bola que lhe vaze,
Dedo quebrado o impede de jogar?
Só morto é que lhe tomam o lugar
E pegou tudo. Dele só se lia frase

Positiva. Fera! Craque! É de seleção!
E quando errava ou tinha fraca atuação
No outro jogo punha debaixo do tapete

A crítica do torcedor brabo mais xiita,
Mas foi perder pra Ponte, mera desdita,
Quase foi embora debaixo de cacete!

Francisco Libânio,
25/06/12, 10:22 AM

domingo, 24 de junho de 2012

Após teu último suspiro em meu peito


Após teu último suspiro em meu peito,
Percebi finalmente, o quão te foi boa
A noite e quanto este teu tímido jeito
Desaparece quando o que te afeiçoa

Não é outro tímido ou o que fala feito
Uma matraca. Tampouco uma pessoa
Precisa ser especial para em teu leito
Deitar. Ela precisa fazer é que te doa

Os buracos. Precisa usar da violência
No que se usa chamar de fazer amor,
Precisa fazer que tu peças clemência

Ajoelhada após pedires mais e mais,
Agora em meu colo te refazes da dor
Toda feliz com minhas marcas carnais.

Francisco Libânio,
24/06/12, 1:45 PM

0256 - Soneto da feijoada afrescalhada


Menu para o domingo, um cassoulet.
Diabo é isso? Meu pai que explica
É um prato francês, se classifica,
Uma feijoada fresca. Isso é clichê

Em comida francesa. O que se vê
É um feijão branco com uma rica
Gordura, calabresa... O que sofistica
É o nome. Deve ser bonito na TV.

Não fui com a cara do almoço,
Digo. Almoçarei, mas sem alvoroço,
O negócio não agradou a vista

Mas ao estômago... Ele pede mais.
O prato é bom! Feijões são iguais,
Eu é que com eles sou racista!

Francisco Libânio,
24/06/12, 1:19 PM

0253 - Soneto Ferroviário


E os tempos em que havia trens,
Você se lembra? Nem nascido
Você era. Não imagina o perdido
Por você nesses ótimos vaivens

Calma lá, que nem eu dos vinténs
Sou da época. Tinham quase ido
Eles embora quando num esquecido
Trem viajei. Dá-me os parabéns?

Pois os repassarei ao maquinista
Se achar algum já que há tanto dista
O tempo em que sobre os trilhos

Se viajava. Hoje só metropolitano.
E burro é quem acredita no engano
Que o trem é atraso e empecilho!

Francisco Libânio,
24/06/12, 12:36 PM

0252 - Soneto Aeroviário


Não que eu tenha medo de altura,
Sinta enjoos, sofra de vertigem,
Os céus, na verdade, até erigem
Minha adrenalina e minha loucura,

Mas viajar de avião... Seria uma ruptura.
Nunca estive em um, mas transigem
Meus princípios, eu que, de origem,
Sou do chão, sou da terra fria e dura,

Voaria, sim, sem nenhuma objeção,
Daria a chance à moderna aviação,
Mas desde o chão já dela eu duvido

Claro, só ele para as intercontinentais
Idas, mas cadê paisagens naturais?
Só de ver nuvem, já viajo aborrecido.

Francisco Libânio,
24/03/12, 12:16 PM

0251 - Soneto Rodoviário


Eu penso no país e nas distâncias,
Tipo ir de Porto Alegre a Boa Vista
A rodas, arrumar um bom motorista
E curtir a maior das extravagâncias

Pé na estrada, passa-se estâncias
E metrópoles, passaria em revista
Postos e restaurantes à beira-pista
Conhecer o país e as discrepâncias

Puta que pariu, ô viagem demorada!
Você deve pensar. Vá curtir estrada
Assim no inferno! Que viaje sozinho!

Viajaria, rindo e gozando de prazer,
Seria louco todo esse chão percorrer
E apreciar o que houvesse no caminho.

Francisco Libânio,
24/06/12, 11:58 AM

sábado, 23 de junho de 2012

0249 - Soneto Testamentário


No dia em que eu morrer,
Bom que eu me preocupe
Já, quero que se agrupe
Um grupo amigo a escolher

Entre todos os que eu tiver.
Será escolhida essa trupe
Em prévio. Houver quem apupe
O morto ou o mande se fuder

Ou que diga “Até que enfim!”
Que vá ao grupo mesmo assim,
Será-lhe dado do testamento

O cassetete que foi do meu pai
E o enfiará no cu. Disser nem ai
Leva tudo. Pago é o xingamento.

Francisco Libânio,
23/06/12, 1:24 PM

0248 - Soneto Sedentário


Sábado de sol, comecinho
De tarde. Ótimo pra pegar
As pernas e então esticar
As mesmas, dar um carinho

À saúde. Olha que caminho
Bom de se fazer: Chegar
Ao fim do Parque, lugar
De onde se volta. Rapidinho!

Curtir esse sol de dia frio
Lagartear, dar vazão ao cio
De viver o mundo lá fora

Viver o mundo? Não fode!
Cada um o vive como pode
Quer andar? Pois vá embora!

Francisco Libânio,
23/06/12, 1:08 PM

0247 - Soneto Totalitário


A noite em Assunção foi de medo,
Qualquer fagulha explodia o paiol
Armado pelos que se diziam escol
Política. A tensão vinha de cedo,

O presidente já sofrera o degredo
Imposto e os trabalhados no formol
Ideológico trataram de, um lençol
Democrático, por nesse brinquedo

Democraticamente feita, a vontade
Do povo se cumpre. A verdade
Fora da Casa é o protesto popular

Já se viu muito esse filme antes
Chamam Democratas os ignorantes
E Democracia o golpe a se dar

Francisco Libânio,
23/06/12, 12:58 PM

0246 - Soneto Autoritário 02


Como um presidente eleito
Pelo povo de um soberano
País é destituído de plano
Pelo motivo de ter “mal feito

Seu papel”? Muito suspeito!
Em poucos dias, o plano
De apeá-lo do poder, insano,
Sem justa causa teve efeito

Pobre Paraguai... Não bastasse
A pobreza, vive o impasse
De um impeachment exótico

Mas no fim nada surpreende
Fato feito por Senado que rende
Loas a um general despótico!

Francisco Libânio,
23/06/12, 12:41 PM

0245 - Soneto Autoritário


Fico surpreso com as posições
Dos que falam da Justiça china
Que prende hoje e nem examina
Provas e julga e dá condenações

Amanhã sem ouvir contestações,
Célere, de plano, ela já elimina
O preso. Chamam-na assassina,
Injusta e indústria de execuções

E o processo em tempo razoável?
Ampla defesa o que for aceitável
Pelo povo que a democracia apura?

Estranho, mas aqui no Paraguai
Numa semana se julga e se sai
Um presidente e não é ditadura.

Francisco Libânio,
23/06/12, 8:25 PM

quinta-feira, 21 de junho de 2012

0240 - Soneto beneficiário


Aquela Associação de madamas ricas
Resolveu que nem só de bons vinhos
E banquetes podia viver. Mesquinhos
Seriam seus corações de boas pelicas

Se não olhassem além de suas futricas,
E fofocas sobre elas, ou sobre linhos
Importados. Decidiram doar carinhos
Em forma de arroz, feijão e ovo. Canjicas

De sobremesa. Montaram na praça
Banca e se meteram cheias de graça
Fez-se fila pela boia até um dizer Epa!

Eu comendo isso e a tia lá no caviar?
Também quero! E ouviu Vá trabalhar!
Briga feia, mas eu me servi da xepa!

Francisco Libânio,
21/06/12, 9:04 PM

0239 - Soneto do Mário



Precisa ser muito ingênuo ou tonto
Para cair na piada do Mário manjada,
A pergunta capciosa já vem lançada
E o incauto responde de bate-pronto

Conhece? Não conhece? Desconto?
Não, não dá pra perdoar essa burrada,
Mais um que caiu na velhíssima piada,
Faltou malícia, faltou tudo e ponto!

Mas eu fico pensando: E ele, o cara,
O tal Mário, esse que mete a vara
Atrás do armário? Que disposição!

Mais, que ousadia esse sujeito tem!
Se meter às escondidas com alguém
Que não o conhece e ser o machão!

Francisco Libânio,
21/06/12, 8:44 PM

quarta-feira, 20 de junho de 2012

0236 - Soneto Hebdomadário


Já disse que palavra mais feia
Que panegírico está pra se criar,
Mas se merece o segundo lugar
Esse hebdomadário a ombreia

Nos calcanhares. Mas se é cheia
A língua dessas esquisitices, usar
Essas palavras quero ver prestar,
O caboclo ouve isso e dá na veia:

Vá xingar sua mãe, filho da puta!
Tá com a razão. Ele pouco escuta
E vai achar bonito cagar cultura?

Hebdomadário significa semanal
Que se não é feia ou bonita a tal,
Soa ao caboclo bem menos dura.

Francisco Libânio,
20/06/12, 12:44 PM

terça-feira, 19 de junho de 2012

0230 - Soneto que Sai do Armário


Por não se dar com essa gente,
O Poeta guarda lá um segredo
Que põe num soneto por medo
Da maldita curiosidade insistente,

No armário ele está absolutamente
Seguro, protegido do arremedo
Possível. É lido sempre, de cedo
À noite. Está lá toda uma mente.

Um dia, por descuido do Poeta,
O soneto do armário tira uma reta
E se desenha danosa revelação

Ele plana meigo qual purpurina
Com a receita de rosca natalina
Da família. Ela voa e vai ao chão.

Francisco Libânio,
19/06/12, 9:33 PM

0229 - Soneto Incendiário


Certa vez um meu tio me disse
Invocando na fala um outro tio:
Até os quarenta queima o pavio
Para, então, chegar a velhice,

Aí deixamos de lado a quixotice
Da pedra quente viramos o frio
Vidro no que jogávamos um rio
De fogo e vemos a maluquice

Que fazíamos nós mais novos
Falando palavrões, jogando ovos...
Mal que fazia a não-experiência,

Discordo do tio a quem respeito,
Mais velho serei fogo de outro jeito
Melhor mira na centrada referência.

Francisco Libânio,
19/06/12, 9:12 PM

segunda-feira, 18 de junho de 2012

0226 - Soneto do suposto septuagenário


E Paul McCartney fez setenta anos
Guardando do rock a pura essência
Segue em solo reinando a audiência
Com sucessos novos e os decanos

Seu show, como de outros veteranos,
É disputado, mas tem a excelência
De ser dos Beatles alma e cadência
E sobreviver ao mito feito por insanos

Morreu ou não? Será mesmo este o Paul?
Paul is dead! Isso de lá o acompanhou,
Lorota que cativou alguns defensores

Se morreu, este impostor é dos bons!
Enganou e assumiu pra si todos os sons
Se não, é e será sempre dos maiores.

Francisco Libânio,
18/06/12, 7:24 PM

0001 - Soneto de um despeitado


Deu que num pub na Inglaterra,
A mãe que amamentava seu neném
Foi convidada a sair sem saber bem
No que uma mulher ao amamentar erra

Quer algo mais natural que o que encerra
Numa mãe dar o peito ao filho que vem
E suga o leite materno. Que mal tem?
É a coisa mais normal que há na Terra!

Isso é notícia estúpida como bem é
Quem expulsou a mãe, mais que isso até,
É um sujeito que precisa rever conceitos

Ou arrumar uma namorada cuja valia
Do decote desperte e sacie a fantasia
E deixar em paz os maternos peitos.

Francisco Libânio,
29/04/11, 7:43 PM,
São Paulo

Esse foi o primeiro soneto da série Mattosianas que venho postando há um bom tempo aqui. Ler o poeta Glauco Mattoso e ver a notícia num jornal de que uma mulher amamentando num pub foi considerada como imoral e exibicionista foram a soma exata para começar a minha série.

domingo, 17 de junho de 2012

0222 - Soneto do fetiche em fatias


Amiga me diz que fez lá um bolo
De chocolate, pegou brigadeiro
Para cobri-lo e recheá-lo inteiro
Ainda ligou a câmera e a tiracolo

Mostrou o danado em seu colo
De bom que estava senti o cheiro
E ela o comia com olhar faceiro
Curtindo a vontade neste polo

Tudo bem, é do bolo que tenho
Vontade, mas agora meu empenho
È para tarefa ainda mais dura

Comer o bolo, sim, mas comer
Com menos gosto que lamber
A amiga cheia dessa cobertura.

Francisco Libânio,
17/05/12, 8:45 PM

0221 - Soneto do Almoço de Domingo


Coisa normal e típica de interior
É o almoço com toda a família
Na casa da avó. Vem a homília
(Ou homília, o que melhor te for)

Dos tios sobre o tempo melhor
Que era antes. Então a mobília
Da casa vira parquinho e a vigília
Para não quebrar nada. Horror!

Quebrou um vaso, o preferido
Da vovó e o primo mais enxerido
Deda o autor e é dedado também,

Mas melhor de tudo a mesa farta,
Os doces que só de olhar enfarta
E a certeza de mais semana que vem.

Francisco Libânio,
17/06/12, 7:52 PM

0219 - Soneto da música brega


Afinal qual é o grande segredo
Dessa turma que toca e encanta
A massa quando pinta e canta
O amor escrachado sem medo?

Por que o Amado com o enredo
Da morte da esposa como santa
A gerar ou o Rossi que espanta
A cornice na cachaça logo cedo

Não saem do inconsciente popular?
Porque esteja no pub ou no bar
O simples diz fundo ao coração

E essa galera que nunca floreia,
Canta o que se quer ouvir na peia,
Toca o nosso lado mais povão.

Francisco Libânio,
17/06/12, 9:18 AM

sexta-feira, 15 de junho de 2012

0217 - Soneto para a música sertaneja


Este Chico, como cria interiorana
E de tais genes muito orgulhoso,
Ainda que ouça com gosto e gozo
De heavy metal à música indiana,

Vai feliz e duas vezes ao nirvana
Se ouve qualquer acorde choroso
De uma viola. Longe, soa saudoso,
Aqui tranquilo, mas veio a goiana

Influência enchendo de dor de corno
O sertanejo fazendo-o via de retorno
Financeiro fácil para biltre empresário

Daí pra diante nem mais de sertanejo
Pode chamar. Era caipira e agora vejo
O nível do ensino com o universitário.

Francisco Libânio,
15/06/12, 9:49 PM

0216 - Soneto da música de rua


Se é funk ou se é rap pouco importa,
São o que o samba era de antanho,
A voz do morro, da rua, era o assanho
De cultura dos que não viam a porta

Da escola. É a voz que nos reporta
O dia-a-dia, a violência sem tamanho,
A crueza, mundo por demais estranho
À gente alheia à realidade e absorta

Com seus happenings e seus saraus
E não permitem neles os de degraus
Abaixo. Preserva-se pura e impoluta

A arte refinada e acham vanguarda
Quando um dos seus simula a parda
Ou preta arte bradando filho da puta!

Francisco Libânio,
15/06/12, 8:58 PM

quinta-feira, 14 de junho de 2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012

0212 - Soneto da vingança sancta


Depois de não pegar nem papel no vento
No doze de junho, decidiu: Chega de seca!
Ou Santo Antônio me arruma ou então neca
De paz pra ele. E seu primeiro movimento

Do dia treze foi pegar o rei do casamento
E colocá-lo ponta cabeça numa caneca
Para ameaçar: Ou me pinta uma xereca
Para ser minha ou firo um mandamento!

E Antônio, enquanto santo que é, anuiu,
Apareceu a mulher mais linda que já viu
Ficou felizaço! Melhor êxito não se logra!

Mas como tudo que é bom logo acaba
E vingança existe, a anja trazia uma diaba
A reboco com o doce apelido de sogra.

Francisco Libânio,
13/06/12, 5:39 PM

terça-feira, 12 de junho de 2012

0211 - Soneto dos sem-namoro


E quem não namora, como faz
Para sobreviver nesse dia doze?
A menos que o tanto de glicose
Emocional que o clima nos traz

Não afete, vive-se em boa paz
Sem a necessidade de simbiose
Romântica ou a de fazer pose
Tem-se uma tranquilidade eficaz

Mas àqueles a quem dói fundo
Estar só sendo o fim do mundo
Nada no dia parece coisa boa

E vão afogar mágoas na Internet
Ficar onde a nada disso se remete,
Abrem o Google. Nem ele perdoa.

Francisco Libânio,
12/06/12, 10:12 PM

0210 - Soneto do namoro delas


E quando duas mulheres, mãos dadas,
Andam pela rua, já viu? O que se pensa?
Antes era normal, amigas, uma imensa
Amizade. Afeições bem demonstradas

Num gesto simples. Hoje, se topadas,
Vem julgamento, é maldade, é doença!
Vem malícia, vem a fantasia pretensa
De tê-las na cama famintas e peladas

E às vezes nem é nada disso, otário!
Mas que seja. Tomemos por um vário
Tipo de namoro entre essas mulheres

Que bom que namoram. Haja respeito
Sempre e um relacionamento perfeito
Terão como quaisquer outros seres.

Francisco Libânio,
12/06/12, 9:44 PM

0209 - Soneto do namoro deles


Chegou ao pai lá sério com o jornal,
Cachimbo na boca, já sacou o tipo...
Nem precisava dizer, mas antecipo
O homem era um último Neandertal

Chamou a atenção para si. Nada mal,
O pai frisou a camisa justa, o logotipo
Rainbow flag! Oh, que não participo
Dessa palhaçada! E quem é o bagual

Que te segura a mão e te abraça, filho?
É o Jeff, papai, é com quem partilho
A cama e logo me casarei noutro país.

O pai quis morrer, o que diriam a família,
Os amigos? Repensou... Se essa é a trilha
Escolhida, filho, pois que sejas feliz!

Francisco Libânio,
12/06/12, 9:24 PM

0208 - Soneto do namoro dele e dela


Eles namoram, casam e, às vezes,
Se separam. Aí namoram de novo,
O máximo é cair na boca do povo
Ele o fodão e ela sofre os revezes,

O pior é encontrar os descorteses,
Invejosos e boca a dizer ‘Aprovo!”
Ou “Reprovo” ou “Oh, me comovo!”
Ou “Alguém novo todos os meses...”

Ah, essa maldita boca de Candinha,
Povo desocupado, chata ladainha
E cuidar da vida que é bom, nada.

Dane-se a rua! Enquanto o namoro
Durar e for bom, ao inferno o coro
E ao paraíso namorado e namorada.

Francisco Libânio,
12/06/12, 9:02 PM

segunda-feira, 11 de junho de 2012

0204 - Soneto femenista 02


Quanto a mim, um mero sonetista
E sabidamente de seios admirador,
O que tenho a dizer? Vou me opor
A isso ou concordar todo sexista

Com os peitos loiros assim à vista?
Não sei. Meu lado macho vê primor
Em gostosas a, gratuitamente, expor
A peitaria e pede me põe na pista

E protesto com elas causa que seja,
Mas meu lado homem pestaneja
E ao vê-las peladas não entende

Como um par de seios se relaciona
Com uma causa, mas a fanfarrona
Grita pelada, pelo quê independe.

Francisco Libânio,
11/06/12, 9:50 PM  

0203 - Soneto femenista


Essas mulheres do FEMEN, que querem elas?
Mostrar a força feminista metendo os peitos
Literalmente? Acho válida a luta pelos direitos,
Os protestos, as causas, mas já defendê-las

Ficando nuas, mostrando as peicholas delas?
Essas mulheres tiram disso quais proveitos?
Sim, há a liberdade contra os preconceitos
De usar como quiser seus corpos, mas vê-las

Peladas num frio caucasiano em plena Ucrânia
Gritando por suas causas plantando cizânia
Pergunto se dá camisa a alguém a esquisitice,

Bem, camisa é o que a FEMEN menos precisa,
E menos ainda a homarada que, ao vê-las, catalisa
A ânsia de trepar com elas antes que o pau enguice.

Francisco Libânio,
11/06/12, 9:26 PM

domingo, 10 de junho de 2012

0202 - Soneto de praga de mãe


“Não coma o doce que ainda está quente!”
Diz a mãe ao filho que à iguaria recém feita
Namora como se quisesse dar à empreita
Culinária um relacionamento sério e decente

Mas a sogra do filho já antevê e pressente,
Que o enlace entre ele e sua última receita,
Por ora, não é coisa boa e nada se aproveita,
Isso vai dar merda! diz a mãe de experiente

A proibição não é eterna, mas apenas liminar,
O namoro entre o filho e o doce terá lugar,
Na hora certa e na oportunidade propícia

Mas o guri põe o carro na frente dos bois,
Se esbalda, se divorcia no banheiro depois
E culpa a mãe pela mandinga alimentícia.

Francisco Libânio,
10/06/12, 8:38 PM

0199 - Soneto escrito à máquina


Acho entre minhas coisas uma preciosidade,
A antiga máquina de escrever de meu pai,
Há quanto tempo um papel por lá não vai?
Estará ainda campeã sua funcionalidade?

Só saberei se a puser para sua finalidade,
Pois rodo lá um papel. Esse barulhinho, ai!
Saudade de um tempo que há muito se esvai,
Fita ok, teclas em ordem... Mate-se a vontade!

Não digito, datilografo. Existe esse verbo
Ainda? Recrio-o. Me sinto muito soberbo
À máquina, um gostinho da minha infância

Um guri que me vê no tec-tec não acredita:
“Caraca! Ela já imprime o que você digita!
Puta tecnologia tio!” Puta é a sua ignorância!

Francisco Libânio,
10/06/12, 11:59 AM

sábado, 9 de junho de 2012

0197 - Soneto para Angélica de Alvarenga e Ranchinho


Esta é uma das letras melhor construídas,
De rimas rápidas, figuras bem elaboradas
Além de quase todas palavras acentuadas
Proparoxítonas engastadas e escolhidas

E assim é Angélica, moça de medidas
Feições, mas de atitudes malvadas,
Vítima de uma das mais malfadadas
Irresponsabilidades, troca de bebidas

Medicinais. Sobreveio uma trágica morte,
Mas lhe rendeu homenagem de porte
Primeiro a música e depois a artística

Perda para o pai que, ficou perplexo,
Ganho para a música. História de nexo,
Pena que pouco conhecida sua mística.

Francisco Libânio,
09/06/12, 1:23 PM

Em tempo, o autor julga, talvez num arroubo de pedantismo sobre o conhecimento dos leitores no tocante à música caipira, que de todas as músicas essa seja a mais desconhecida e a mais estranha de todas. Por isso, ele deixa o link com o vídeo dessa história e dessa letra que é quase uma Construção (ao menos é anterior à pérola do Chico Buarque) não fossem três ou quatro palavras que fogem da regra proparoxítona. De qualquer maneira, a música é muito boa.

0196 - Soneto para a Maria Alice do Ritchie


Um belo dia conheceu-se Maria Alice
De olhos tristes a chamar a atenção,
Claro, a tristeza causa certa atração
E ela espera para que ao outro se atice

Foi isso o que deu. Tanta casmurrice
Fazia de todo mistério única solução,
Mas o cara viu nos olhos a perdição,
Ficou doido, tomou-lhe a maluquice!

E ele descobriu que aquele olhar triste,
Bem como a Maria Alice, não existe,
Tudo não passava de um jogo cênico

Aí é que residia sua mais dura parada
Ou Maria Alice era uma dissimulada
Ou ele era um estranho esquizofrênico.

Francisco Libânio,
09/06/12, 11:43 AM

0195 - Soneto para Débora do Zeca Baleiro


Víbora, vagaba, pilantra, traste... Eh, mana,
Quantos nomes bonitos você merece!
É das que quem vê nunca se esquece
E quem não conhece muito se engana,

Seu nome é bonito demais, mas tirana
Que você é, passa o rodo se te apetece
Leva tudo, destrói e sequer desaparece
Da vida do babaca que te viu. Sacana!

Pior, tem a audácia de dizer do exangue
Que ele é o crápula bebedor de sangue,
Isso é coisa que se diga para e de alguém?

Mas nessa desse trouxa não levou algum,
Ele se livrou de você e foi pra Cancun
Enquanto você, sua fístula, entrou bem.

Francisco Libânio,
09/06/12, 11:19 AM

0194 - Soneto para Caroline do Raça Negra


Que ela é fruto do amor mais bonito,
Que ela veio para fazer alguém feliz,
Que ela é tudo que sempre se quis
E que se vai amá-la até o infinito;

Que se tem por ela um querer irrestrito
E é lindo e perfeito o que ela faz e diz,
Disso já se sabe. É quase uma diretriz
Dos pagodes tal amor e é um quesito

Impreterível que se acabe e se derrame
Elogios infindáveis à amada sem vexame,
Ao menos, aos antigos, assim se define.

Pois essa era, do Raça Negra, a Carol
Resgate nostálgico deste feito em prol
E por sugestão de uma amiga Caroline.

Francisco Libânio,
09/06/12, 10:49 AM

0193 - Soneto para Amanda do Taiguara


Vencido no castigo, faz-se tudo para ficar
Tranquilo. Traz-se a paz, refaz-se os traços,
Procura-se insistente no calor dos abraços
Aquele que é o seu único e o melhor lugar,

Ainda se pela viagem foi perdida a basilar
Coragem, as forças, recolhe os pedaços,
Toma-os e os acolhe todos em teus braços
Ternos para deles nunca mais se apartar

E mesmo que na viagem perca o que se é,
É nos braços que se certificará e terá fé
De que não há, que eles, mais acalentador

Lugar. Lugar que vale a dita inútil liberdade,
Lugar em que mais se está, mais vontade
Se tem para poder enfeitar todo de amor.

Francisco Libânio,
09/06/12, 10:10 AM

sexta-feira, 8 de junho de 2012

0192 - Soneto para a Cristina do Tim Maia


O encontro promete ser excelente,
Vai-se pra longe e não terá volta,
A coisa toda vai ser boa e envolta
Num astral que parece ser quente

Lá vai seguindo sempre em frente
Guiado pela estrela amiga e solta
Se faz a asa presa. Bela escolta!
E por lá vai ele com ela em mente

E de lá de cima sangra um peito
Cobrindo cá as flores de tal jeito
Vermelhas-amor, cor que ajardina

Com cores fortes essa estrada,
Mas segue voando pela madrugada
O doidão pra ver a tal da Cristina.

Francisco Libânio,
08/06/12, 12:07 PM

0191 - Soneto para Dani do Biquini Cavadão


Quando ela está por perto que se dane
Mundo, vida, futebol, passado e futuro,
À vala se o dia é de chuva, claro, escuro,
Que só a presença dela venha e emane;

Quando ela sorri, sana-se tudo que é pane,
Com ela por perto, rompe-se o que é duro,
Tudo vira felicidade, tudo fica bom e puro,
Assim, dane-se tudo quando houver Dani!

Essa é a relação gostosa entre a moça
E o namorado cuja vida toda se adoça
Com a simples e única presença dela

Feliz o rapaz com mulher tão maravilhosa
Que do olhar e do sorriso só ele goza
E não conhece outra igual à sua Daniela.

Francisco Libânio,
08/06/12, 8:22 AM

quinta-feira, 7 de junho de 2012

0190 - Soneto para Maria Betânia do Nelson Gonçalves


Aquela voz fez dela a senhora do engenho,
Mesmo engenho que fez com sem igual arte
O homem de voz não só bela, mas baluarte
Entre as vozes divinas que com empenho

Cantou a beleza e a tristeza com um cenho
Que se vê na letra. Vê-se a hora que parte
A mulher dos sonhos e quando se reparte
O casal. Nota-se o arrependimento ferrenho

Em perder a mulher que vivia no coração,
Enumera as lembranças numa bela visão
E a Maria Betânia nem aí. Que viva na dor.

A história na voz do Nelson é maravilhosa
E tocante é a descoberta mais desastrosa
O sujeito não sabia nem conhecia o amor.

Francisco Libânio,
07/06/12, 9:51 PM

0189 - Soneto para Helena, Helena, Helena de Taiguara


Foi um dia, não mais que isso um dia,
Quando Helena se entregou sabe-se lá
Quais suas razões, ela nunca as dirá,
E foi amante por descuido ou fantasia

Hoje talvez por não dizer que se a queria,
Helena, que se foi, passa e sequer dá
Bom dia. Dela um adeus é tudo o que há
E fica agora esse triste amor à revelia

Enquanto isso, ela circula pelas rodas
Mais altas em mil braços e por todas
As camas e nisso garantiu seu destino

E quem a canta nutre ainda ter sua mão
Sem desconsiderar talvez ser em vão
Tudo isso culpa de seu próprio desatino.

Francisco Libânio,
07/06/12, 12:38 PM

0188 - Soneto para a Gabriela de Tom Jobim


Morena, cor do pecado, cravo e canela,
Pretinha, delícia, monte de lugar-comum,
Comparar a pele e as penas do mutum,
Noite de lua branca, negror a envolvê-la...

Fato é: a morenice trigueira de Gabriela
Ou ficou batida ou não traz novo algum.
Por isso o grande Tom Jobim do jejum
De ideias decretou o fim com uma bela

Letra fazendo jus ao baiano Jorge Amado
E à personagem de sem igual rebolado
Tirando Gabriela da figura de Sônia Braga,

Indo além da batida música da Gal Costa
E ainda assim, a imagem já bem posta
Da morena sensual, o maestro não apaga.

Francisco Libânio,
07/06/12, 11:51 PM

0187 - Soneto para a Aline dos Los Hermanos


E eu que não gosto do quarteto barbudo,
Ouvi a música e foi a mão à palmatória.
Eis uma que é boa, a primeira da história
Não eram vozes boas como um veludo

Mas não aquelas pastosas que a tudo
Estragam. A canção com dedicatória
À Aline é muito boa e põe por notória
Eternamente a paixão e seu conteúdo

Não é rasteiro. É bem isso que merece
Uma mulher amada e é o que enobrece
Um homem. Amá-la ou viver a solidão

Muito bem. Feliz é o olhar que sustenta
Esse amor e que inspira e incrementa
Um grupo sofrível falar sobre a paixão.

Francisco Libânio,
07/06/12, 10:55 AM

0186 - Soneto para Aline de João Mineiro e Marciano


O que não faz a saudade misturada com o mar!
O cara ouve nas ondas o riso da mulher amada,
Vem uma onda, molha-lhe os pés, não traz nada,
Nem uma Aline que ria. Só uma onda a molhar.

Aí, ele chega da maré afastado, escolhe um lugar,
Desenha o seu lindo rosto e capricha na risada
Que podia ser para ele ou dele. Vem a danada
Da onda e leva a Aline com ela ao tudo apagar...

Foi essa a madrugada até a badalada matinal
Dos sinos ao longe. A vida segue assim normal
Menos para o apaixonado. Não há o que o atine

Porque ele ainda chama, chama, um mar chora,
Fica na praia à espera nem pensa em ir embora
Até que as ondas tragam finalmente sua Aline.

Francisco Libânio,
07/06/12, 10:25 AM

quarta-feira, 6 de junho de 2012

0185 - Soneto para Amélia de Mario Lago


Que Amélia era mulher de verdade
Já se disse e tantas vezes repetido
Foi que isso já é mais que sabido
Como sabida é dela toda saudade

E a outra lá? Rainha da futilidade,
Só pensa em luxo, riqueza, vestido
De grife sem ver que o desvalido
É um pobre rapaz. Ser sem bondade!

Amélia, sim, resignada, parceira,
Encarava até a fome de maneira
Tranquila. Meu filho, o que fazer?

Fica a pergunta que não se cala,
Se era isso tudo, por que deixá-la
Pela outra? Tava a fim de sofrer?

Francisco Libânio,
06/06/12, 1:30 PM