segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Absurdo na Praça


O absurdo se deu na praça. Voltaram-se as cabeças,
Como pode acontecer isso, meu Deus? Quem deixa?
Como se afronta a sociedade quando ela se desleixa
E impinge o lugar público com atitudes travessas?

Pior! Houve quem visse e não desse alguma queixa,
Houve quem achasse normal. Eram pessoas avessas
Aos bons costumes, gente a quem falta algumas peças,
Como pode acontecer isso, meu Deus? Quem deixa?

O absurdo eram dois homens. Homens de mãos dadas!
Que mundo é esse em que gente assim sai à praça?
Daqui a pouco a turma troca carícia, beija e se abraça

Em praça pública. E ninguém fala nada contra, ninguém!
É nossa morte definitiva. O fim das pessoas de bem
Que pensamos ser como o de nossas mentes ultrapassadas.

Francisco Libânio,
27/02/11, 3:30 PM

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Um gênio que se vai


Morreu nessa madrugada, Moacyr Scliar, médico e escritor gaúcho. Um cara que escreveu um dos livros mais fantásticos que já li, A Mulher que Escreveu a Bíblia, uma sensacional história que mistura linguagem bíblica dos profetas do Antigo Testamento com outra que deixaria Nelson Rodrigues sem jeito. Mas Scliar não é só isso. Outro livro de muita fama do homem é O Jardim dos Centauros, que eu não tive a oportunidade de ler ainda. Espero tê-la.
Mas me encantei com Scliar – como se já não tivesse sido cativado pela mulher que escreveu a bíblia – foi com seus contos. Um dia, andando por um dos sebos de Prudente, encontrei um pocket deles, Os Contistas e Outras Histórias. As outras histórias são divertidas, sagazes e gostosas de ler, mas Os Contistas é simplesmente excelente. Um compêndio de situações e estilos. Uma das melhores histórias que já li.
Ano passado, na Feira do Livro de Prudente, um dos poucos eventos culturais envolvendo literatura nessa cidade, o encerramento contava com uma palestra do velho Scliar, um evento único. Como não andava muito bem àquela época, deixei pra lá. Achava que no ano que vem ele voltaria, afinal hoje não há tantos grandes escritores de fama como ele era. Não tem mesmo. E nesse domingo ficamos órfãos de mais um. Quem sabe é um ensinamento para mim. Oportunidades são, mesmo, únicas. Scliar agora só em livros, entrevistas. E sem direito a nada inédito. O mundo tem dessas coisas. E quem sai perdendo somos nós, admiradores da boa literatura. Uma pena.

O texto de hoje vai sem data, Não acho legal datar dias de falecimento. A história fará isso por mim. Eu prefiro me lembrar do evento, não do instante. Dentro de algum tempo vão falar “Faz dois anos, dez, cinquenta que Moacyr Scliar morreu”. Só o fato dele ter nos deixado já é suficientemente triste.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Poeta observa um muro


O Poeta observa um muro como se nada
Houvesse nele. E nele nada há, de fato,
Brancura absoluta como belamente ornada,
Imaculado, o muro é do Poeta o extrato

Perfeito de sua inspiração nada inspirada,
De seu lirismo agora opaco como inexato,
Mas ele espera a hora áurea da revoada
Em que será feito do branco abstrato

Dessa pureza intocada o maravilhoso
Espetáculo de formas e de mil cores
No muro casto ainda virgem do Poeta

Enquanto o muro observa esperançoso
O Poeta a escrever como pintasse flores
Em sua alvura para sua alegria repleta.

Francisco Libânio,
24/05/10, 7:22 PM

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Reunião


Na reunião secreta, em que diversos homens sérios decidiam o destino de outros homens, após propostas aceitas e recusadas, entre proposições sensatas, absurdas, justas, privilegiadas, machistas, sexistas, democráticas e outras mais, um deles, justamente o relator das decisões aprovadas pediu a palavra:
- Sr. Presidente, não acha que estamos falando demais dos homens e nos esquecendo das mulheres? Pode parecer absurdo, mas há várias delas em altos cargos espalhados pelo mundo inteiro. Algumas são presidentes, outras são juízas, outras são ministras e muitas por aí mandam soltar e mandam prender. Poder quase absoluto.
- Eu sei. Por isso mesmo estamos reunidos aqui, esqueceu? Precisamos retomar o mundo dos homens. O mundo em que éramos fortes, mantenedores de família e senhores. Saudades do tempo em que tínhamos a mulher para três finalidades, procriação, diversão e submissão. – soltou um suspiro. Enquanto isso outro no lado oposto da mesa retrucou:
- Eu concordo com tudo o que o senhor disse, mas não estamos subestimando o poder da mulher? Sua inteligência sutil e seu sentido aguçado?
- Balela! – voltou o presidente – Essa coisa que criaram de sexto sentido feminino é invenção da imprensa. Ah, essa maldita palavra, maldita criação. Tinha que ser feminina também. Aliás... Todas as palavras inúteis são femininas, perceberam? A Moda. A Estética. A afeição.
- Tem o amor... – alguém interveio.
- Palavra dúbia! Afeminada. Está decidido. Quando consumarmos a revolução, baniremos todas as palavras femininas dos dicionários.
- O amor fica, certo, senhor presidente?
- De jeito nenhum! Abolidas as palavras femininas, convocaremos filólogos, dicionaristas, conhecedores e usuários das letras e elaboraremos um catálogo de palavras afeminadas a serem banidas também. Amor, que começa com A, será a primeira. Eu mesmo tratarei de sugerir isso.
- Mas o senhor não trabalha com as letras.
- Mas serei o supremo mandatário, pombas! A autoridade máxima!
- E terá uma primeira dama?
- É. Esse mundo será só o mundo dos homens?
- E onde vamos encontrar o cheiro delicioso que só as mulheres têm?
- Vamos mandá-las todas para a Sibéria, a Amazônia, a Patagônia em campos de concentração?
As perguntas pululavam. O Presidente não tinha pensado nisso. A idéia dos campos de concentração não era de toda má, mas era preciso de mulheres para procriação e concepção de novos homens ou o reinado dos machos-alfa morreria à míngua. O presidente refletiu e concluiu.
- Faremos campos de concentração, sim, mas em lugares próximos das cidades. E aos fins de semana, para descansar dos dias de trabalho, os homens terão acesso a esses campos de concentração e escolherá um harém para satisfazer seus desejos e para passar para frente seu gene superior. Enquanto isso, doutrinaremos as meninas para seu real papel na nova e perfeita sociedade. Nos campos de concentração, claro.
- Isso é uma loucura! Não compactuarei com isso! – Gritou o relator!
- Mas que audácia é essa? Não podemos admitir discordâncias exaltadas. Darei parte do senhor. Qual seu nome, seu rebelde imprestável?
- Andréia! – E tirou o terno revelando uma camiseta rosa que cobria um corpo feminino. Também arrancou o bigode postiço e nem precisava mais engrossar a voz Seguiu-se a isso outras revelações. A sala estava repleta de mulheres disfarçadas. O Presidente ficou atônito.
- Espiãs! – E foi tudo o que pôde dizer. As mulheres prenderam-no. Deram parte dele à delegada, foi julgado e condenado como subversivo. Mais um desses que queria romper com a ordem estabelecida em que o poder masculino era tolerado. Às vezes, as radicais tinham razão. Melhor mesmo era destituí-los de tudo. Foi condenado à prisão perpétua. Lavaria pratos até o fim da vida.

Francisco Libânio,
25/02/11, 11:55 AM

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Das coisas imutáveis


Se é físico e natural que tudo se transforma,
O que for rijo demais ou insensível a isso
Presta à natureza um enorme desserviço
Provocando caducidade sendo inútil sua forma.

Francisco Libânio,
24/02/11, 7:30 AM

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Soneto de contrição do poeta ante aos belos seios da musa


O poeta, qual escultor ante à modelo,
Mais que fitar, contempla a forma bela
Da musa. Faz mais. Interioriza-se nela,
No corpo perfeito e passa a escrevê-lo

E num transe, ele cioso, enche de zelo
Esta mulher, sua amante, sua estrela,
Corpo esplêndido que a ele interpela
Se há no mundo outro corpo mais belo

Não há, ele responde enquanto esquadrinha
Cada detalhe até chegar àqueles seios
Maravilhosos, porto onde se aninha

A atenção do poeta, que tenta e tenta
E não consegue louvá-los. Secam os veios
De sua verve e a poesia fica sedenta.

Francisco Libânio,
22/02/11, 11:31 PM

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Nossos tiranos


Em minha rua, eu reflito sobre o que se passa,
Lá no outro lado do mundo morre muita gente,
Um ditador escolhido numa eleição de trapaça
É protestado pelo povo que pede por urgente

Sua saída do poder e que uma eleição se faça
Enquanto isso, o déspota, democraticamente,
Abre fogo contra seu próprio povo. Usa um caça,
A polícia, o que tiver à mão e for eficiente...

Quantos ditadores como esses em nossa vida,
Nossos vícios e nossos defeitos empossados
E ficam em nós, mandando sem olhar aos lados

Enquanto queremos nossa vida a nós restituída
Dos que nós mesmos criticamos, mas elegemos
Como um mal necessário e aí os combatemos.

Francisco Libânio,
22/02/11, 2:21 PM

Se somos humanos, sujeitos ao erro,


Se somos humanos, sujeitos ao erro,
Toda nossa ação cheia de vontade
Tem uma dose de acerto até a metade
E uma hora certa para lhe dar o enterro

Pois, se humanos, temos vida e morte,
Como também têm as nossas ações,
O poder, o saber, as lutas e as revoluções
Seja a ideia mais sábia ou ao mais forte

Mando de quem quer que seja. Chega
A hora em que se faz necessária a mudança
E ela será mais inclemente quanto mais cega

For a mente a que a ela se negar. Não há motivo
Que faça perdurar. Ela se ocara e a liderança
Tombará com o motivo que não seguirá vivo.

Francisco Libânio,
22/02/11, 10:43 AM

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Rito


Do confronto entre nossas diferenças
Saiu faíscas e nasceu um certo atrito,
Ao viver a dois criamos, um nosso rito
Que fazia nossas tensões menos intensas

E amainava um pouco nosso conflito
Além de quase zerar nossas desavenças
Também, por horas nos unia as crenças
Transformando-nos num casal estrito

E coadunado. Esse rito que se fazia
A dois, deitados envolvidos num abraço
Melhorou nossa vida até que um dia

Resolvemos praticar esse rito num espaço
Além da cama que pacificava e entendia
E fomos casal unido e amante sob um laço.

Francisco Libânio,
21/02/11, 8:04 PM

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Evoé


Evoé aos homens de vida pregressa
Que amam outros homens também,
Que amam mulheres às dez, às cem
E que vivem a vida com toda pressa

Evoé às mulheres que, nesse homem,
Vêem senão uma forma mais travessa
De amar, que se desfazem peça a peça;
Toque a toque até que se sintam bem

Evoé ao vinho que os faz assim devassos,
Evoé aos despautérios e aos abraços
Evoé a Baco a quem professam sua fé

Evoé meu que sonhei em ser assim igual
A vocês, mas que temeu antes o mal
A locupletar-se nas delícias, enfim, evoé!

Francisco Libânio,
26/11/10, 8:53 PM

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

As mulheres normais


Ramiro viu numa propaganda uma paradisíaca praia no Nordeste com mulheres lindas e perfeitamente desenhadas, algumas de topless. Solteiro, descompromissado e atrás de aventuras, Ramiro sangrou seu orçamento, mas viajou até o tal recanto. Tudo o que encontrou foram mulheres normais, iguais à da sua rua e diferentes das sereias do cartaz. De topless viu duas ou três, uma das quais a Saúde Pública devia proibir de tirar a parte de cima do biquíni. Pensou ser golpe de azar e voltou no ano seguinte.
A situação era a mesma. Mulheres sem a beleza televisiva ou os chamarizes dos reclames e os topless sem atração. A mesma mulher do ano anterior com os seios de fora estava presente. Insistente, Ramiro tentou ainda uma terceira vez. Mesma paisagem, mesma mulher sem a parte de cima.
Hoje, Ramiro é casado com a mulher que achou três vezes, ama incondicionalmente seu corpo normal com estrias e, desiludido com propagandas, agora só passa as férias na montanha ou no campo.

Francisco Libânio,
19/04/10, 6:57 PM

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Hai-kai 01


Absorto em meus infames pensamentos
E em sonhos a serem realizados
Perdi inúmeros dos meus momentos.

Francisco Libânio,
17/02/11, 10:46 AM

Qual de ti, mulher dúbia e misteriosa


Qual de ti, mulher dúbia e misteriosa,
É a tua face própria e a verdadeira?
Se a mulher casta, doce e virtuosa
Ou esta impudica, impura e rameira

Que me faz na cama farta e orgulhosa
Realizando loucuras a noite inteira
E depois se deita e como uma esposa
Acaricia, beija, abraça e aí, à beira

Da cama se veste para vir se deitar
E dormir o sono das moças inocentes
Agarrada em mim como prendendo?

Não sei me responder, mas entendo
Que elas, complementares e competentes,
Me surpreendem e eu adoro adivinhar.

Francisco Libânio,
17/02/11, 10:22 AM

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

História


Conheceu a mulher da sua vida num antiquário
Eles gostavam de coisas antigas e encantadoras
Ela, mais velha que ele, mais vivida e conservada,
Ele, experimentado em amores e vida desregrada,
Curtiu momentos ótimos com ela passando horas
Inteiras amando e aprendendo Montou um relicário

Com todas as novas experiências, o casal casou,
Teve filhos, teve netos e o programa dominical
Da família era uma visita ao antiquário. Obrigatória!
E sempre que iam lá relembravam toda história,
Os mesmos gostos e celebravam com um beijo, afinal
Entre antiguidades foi onde um amor novo começou.

Francisco Libânio,
15/02/11, 9:06 PM

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Bilhete para São Valentino


Ó Santo dos amigos e dos apaixonados,
Não te peço aqui a mulher da minha vida
Ou uma alma que compartilhe o que é meu,
Amigos, o que eu tenho me bastam,
Amores... Os que tive foram tão complicados,
Que venho pedir que seja compreendida
Minha alma pelo meu mais íntimo eu
E que nos conciliemos, que sejamos um par
Assim, se uma outra alma vier nos encontrar
Venha a acrescentar e sejamos um trio casado
E que esta alma, com seu íntimo aceito e entendido,
Possa estar para sempre ao nosso lado.

Francisco Libânio,
14/02/11, 5:12 PM

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A um desenho de mulher


Esta mulher que aos poucos se desenha
É disforme, boca indefinida e diferentes
Cores de cabelo e de pele. Seus dentes
São a única percepção visível da resenha

O tipo físico oscila entre a quente Sardenha
E a fria Escandinávia. As cores quentes
Das roupas trucam com o recato das gentes,
Mas essa mulher vem aos poucos. Que venha!

Passa-se o tempo, nem dou pelo que se passa
Com esta mulher. Ela que lá se faça
E chegue se tiver que chegar a mim algum dia

Eu só sei que se ela vier estarei de braços abertos,
O desenho estará feito, os destinos estarão certos
E o desenho vivo dela será recebido com alegria.

Francisco Libânio,
07/01/10, 10:00 PM

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Amigos reais


Era estranho que ninguém conversava com ele. As pessoas passavam e era como se ele fosse invisível. E era mesmo. Ninguém o via, ninguém falava com ele na escola, no inglês e mesmo no almoço de domingo, poucos primos seus, que eram muitos, falavam com ele. Seu círculo, como ele, era todo invisível também. Sua diversão, então, era ler livros. Conhecia, mesmo aos oito anos, muita da obra de Machado de Assis, alguma coisa do José de Alencar, obras adaptadas de Victor Hugo, mas era fã, mesmo, do Trevisan, que leu um dia à toa na casa do seu avô. Sua entrega aos livros preocupava muito seus pais, mas não tomavam providência nenhuma. Era um exemplo de comportamento, uma criança adorável, educada e isso despreocupava seus pais.
Um dia, deu a falar sozinho pela casa e, aí sim, passou a preocupar pais e familiares. Criara um amigo com quem discutia os livros que lia. Com o passar do tempo, criou um verdadeiro círculo social invisível aos olhos dos seus. E eram verdadeiros debates acalorados. Seus pais perguntavam sobre isso e ele dizia coisas incompreensíveis. Como não queriam um filho maluco na casa, levaram-no para o melhor psicólogo e para o melhor psiquiatra do mundo invisível para que ele fosse analisado e, lógico, curado. Algumas sessões e os doutores chamaram os pais para passar o diagnóstico:
- O filho de vocês é uma criança perfeitamente normal, sadia, esperta e criativa. Um tanto tímido, mas é normal.
- E as conversas sozinho? – perguntaram os pais aflitos.
- Absolutamente compreensível. Algumas crianças fazem isso. Ele tem seus amigos reais, pessoas com formas definidas, corpos tangíveis, cores e um negócio chamado pele. Só que não conseguimos vê-las. Há quem diga que são anjos que aparecem pra dar alegria à vida das crianças. Fiquem tranqüilos.

Francisco Libânio,
11/02/11, 9:28 PM

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Das amigas aniversariantes


Para Josy

A gente agradece a Deus pela graça recebida
De uma pessoa especial que nossa vida verdeja
E quando ela fecha mais um ano de vida
Felicidade parece pouco, mas mesmo assim deseja.

Francisco Libânio,
10/02/11, 10: 43 AM

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Dura liça


Todo dia quando acordo, eu me prometo
“Não irei pecar! Ficarei longe da maldade
Do Mundo, seguirei do vício teso e ereto!
Serei caso de virtude, exemplo de bondade!”

E me levanto ao mundo que está repleto
De tentações a me espreitar. Vontade?
Esta não me falta, mas enquanto quieto,
O desejo na forma de mulher me invade

Ela, provocante e erotizada, me atiça,
Quando não é esta mulher é o vício
E o costume que faltam a me seduzir

Então uma fala ou um ato fazem cair
Minha intenção. Resigno, volto ao início
E tentarei ser limpo outra vez. Dura liça.

Francisco Libânio,
09/02/11, 9:48 AM

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A um homem alfa


Vês que o mundo agora não é mais aquele,
Aquele em que sonhavas único provedor,
Aquele em que te crias de tudo o senhor
E vês que mudou e não tens espaço nele

Este mundo que agora te reprova e te repele
É o que permite nuances da mesma cor,
Dá às tuas fêmeas poder para sobrepor
Voz aos teus comandos e te sentir na pele

Que és homem macho, mas aos outros igual,
Que tens voz, mas ela não é a preferencial
E que outros machos podem até abrir mão

De serem machos para serem os homens
Livres com os mesmos direitos que tens
Livres da tua ignorância e da tua repressão.

Francisco Libânio,
08/02/11, 12:34 PM

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Ressurgir


A alegria de um povo, de um ano inteiro,
Trabalho com alma, com amor e devoção,
Trabalho que anima e que nenhum dinheiro
No mundo paga por isso. A gratificação

É ver o espaço colorido, é a empolgação
Vibrando na avenida, é o povo alvissareiro
Deslumbrado com tudo indo à comoção,
Comoção esta que choca ao ver o braseiro

Em que foram tornados o sonho e o trabalho
Numa manhã de chamas como um vergalho
A dar em tudo o que era colorido ao consumir

Fantasias, adereços, maravilhas e alegrias
Não só a esperança de sacudir e em alguns dias
Devolver a beleza e outra vez fazer sorrir.

Francisco Libânio,
07/02/11, 12:01 PM

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um dia na vida


Era pra tentar entender o que ele estava fazendo no meio da rua com uma bermuda na cabeça. O bairro parou pra ver a cena. Seu Dantas, homem pacato de hábitos comuns e pontuais, resolveu despirocar e viver um dia diferente. Bermuda na cabeça, uma meia de cada cor, pé calçado e pé descalço e camiseta com um rasgo transversal. Mas a bermuda na cabeça assustava mais ainda, talvez porque todo o resto, ainda que de forma absurda, estava vestido nos conformes.
Seu Dantas não respondia a ninguém o porquê da bermuda na cabeça. Não queria dar explicações. Ele dava várias todos os dias e hoje, logo hoje, não daria nenhuma satisfação. A rua que parasse, tirasse foto, chamasse a Polícia, o manicômio. Fez o trajeto da sua casa até o Centro vestido dessa forma bizarra e chamou a atenção de todos, inclusive da televisão. Foi ao banco, foi à farmácia e comprou algumas revistas antes de voltar pra casa. Atrás de si, seu Dantas juntou verdadeira leva de curiosos, detratores e, sobretudo, admiradores. Quando ele entrou em sua casa e não saiu mais, o assunto do bairro e adjacências foi o modelo que seu Dantas saiu. Esperavam algo assim para amanhã, uma nova moda, um outro grito de rebeldia.
Não aconteceu. Seu Dantas saiu de casa todo na estica, terno e gravata na medida, cabelo penteadíssimo, cara sisuda como sempre e falando apenas o necessário com a vizinhança. A quem perguntasse sobre o que tinha se passado ontem, ele saía pela tangente, não dava assunto. Todos ficaram sem entender o que levou um sujeito tão careta quanto seu Dantas a ter um dia daqueles. E entenderam menos ainda, os seus admiradores, quando, contagiados pela moda lançada, foram criticados duramente por ficarem se vestindo que nem malucos com uma bermuda na cabeça. Seu Dantas considera seriamente a hipótese de se mudar, pois não quer morar com malucos.

Francisco Libânio,
04/02/11, 9:16 PM

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Hai-kai de incompreensão


As coisas quando tem de acontecer,
Acontecem sem nenhuma explicação
E eu só queria entender.

Francisco Libânio,
03/02/10, 8:43 PM

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Iemanjá


Quando ela vem saindo do mar,
Seu manto azul vivo e reluzente
A confundir com a água do mar
Tomando as flores jogadas
Dadas de presente,
Flores entregues ao sabor do mar
Iemanjá se agrada e agradece
Aos seus devotos na beira do mar
Ela fica ali escutando as preces
Dos fiéis que molham os pés no mar
E louvam o dois de fevereiro,
O dia santo da rainha do mar,
Dia em que se pede graça
Para o ano inteiro
Numa fé que se renova
Como as ondas do mar.

Francisco Libânio,
02/02/11, 12:44 PM

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Motagem


Cada poema que eu escrevo
É um pouco de mim que se perde
E quem me lê no papel me acha
Mas não me encontra como um todo

Porque há muito de mim ainda
A ser escrito.
A ser achado
A me encontrar
A me ser.

Francisco Libânio,
01/02/11, 8:26 PM