segunda-feira, 29 de setembro de 2008

01 - 09-09-08


Escrevo uma canção descompromissada,
Desnuda de amores e de promessas,
Livre da intenção tão ensimesmada
De dar a quem lê pretensas peças

Sobre moral ou sobre a escalada
Dos problemas sociais. Todas essas
Preocupações da gente amante e engajada
Distanciam o que é sério das cabeças

Mas como? – Dirão os que conhecem o poeta –
Como ele muda subitamente seu caminho
Olvidando o coração e o que o fez formado?

E digo que não escrever é a mais correta
Decisão pro amante que está sozinho
E pro idealista que está desapontado.

Francisco Libânio
09/09/08
10:31 PM

domingo, 28 de setembro de 2008

01 - 14-04-08


Como eu queria que fosses quem não és
E nem serias ainda que muito eu quisesse,
Terias de voar para chegar àqueles pés,
Teu jeito com o que quero de longe se parece

Mas não é tua culpa. És o que és somente,
Teus defeitos e virtudes não roubaste,
São teus, nascidos e adquiridos, és diferente,
Como o é o jeito humano que tu criaste

És bela, não a beleza que amo, mas és bela
O bastante para cativar. Este teu encanto
É próprio e não há quem por ti não se encante

Não és minha musa amada, mas para sê-la
Não serias tu. Só se parecem e portanto
Sê o que és e serás para mim o bastante.

Francisco Libânio
14/04/08
9:23 AM

Soneto do ócio



Assim, ao léu, em deriva absoluta,
Nem os versos me são visitas.
Quando são, colho-os como pepitas
Espalhadas como rocha bruta

Lapidá-las cansa, amarro-os com fitas
Frouxas. Perco-as quando não há permuta
Delas por comida refinada ou uma fruta
Frugal, mas não as faço palavras escritas

Se fui poeta, esqueci-me completamente,
Hoje sou um desocupado, um mero ocioso
A quem não ocorre nenhuma lembrança

E o verso que nasce aqui alcança
A vida contra o poeta e, vitorioso,
Fez do ócio aliado que era oponente.

Francisco Libânio
03/08/08
11:41 PM