terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Caso de Festa

Pode ser ou tá difícil?

Eu sempre me achei o rei da distração e o príncipe das gafes. E quem me conhece sabe que só tenho essa cabeça porque ela está grudada ao pescoço. Não fosse isso, eu a teria perdido em algum lugar desde 1995. Mas devo admitir que perdi o trono ao saber da história de um amigo meu.
Assim como eu, ele também não é de festas ou baladas, mas tanto fez um outro amigo dele que, tá bom, vai, vamos a essa festa que você quer ir.
- Você vai curtir, tenho certeza. – o amigo o entusiasmava.
Não sei que festa era essa. Só sei que era num condomínio aqui de Prudente. Coisa fina. Só os figurões. Quem promovia a festa era um colega do amigo que chamou o meu amigo esquecido. Cardápio só com iguarias. As conversas rodavam os mil, não raro milhões, de reais. Meu amigo distraído foi apresentado para o dono da casa Feitos os rapapés, meu amigo contou que apesar de todo ouro e prata da festa, ele se sentiu deslocado. Além de não gostar de aglomerações (que, para meu amigo, são mais de três pessoas numa sala), o negócio estava um grande pé no saco, com o perdão do meu francês. Meu amigo não conhecia ninguém no recinto e o amigo dele tinha que fazer o cordial, o profissional frente a uma turma com que, notava-se, ele não simpatizava.
Meu amigo deu uma volta, outra e mais outra. Comeu um camarão, tomou um coquetel e depois bebericou um uísque. Vinha um puxar papo, mas a conversa era um porre que só Jesus. Nada salvava na festa. O amigo bem que tentava o enturmar, mas a conversa caía nas cifras e aí já viu. O anfitrião vinha e perguntava qualquer coisa e ele dava aquela resposta padrão, sem querer estender. Enfim, o negócio parecia nunca acabar.
Quando meu amigo chegou discretamente no amigo dele pra dizer que já deu, o outro estava muito bem encaminhado com uma daquelas moças em que Deus fez com toda a inspiração. Ou seja, se ele quisesse ir embora, que arrumasse um táxi.
Fazer o quê? Ligue-se para um táxi e acaba logo com isso. Quando estava no seu celular, meu amigo ouve seu nome sendo gritado de forma eufórica. Ele não podia acreditar. Finalmente aparecera alguém que ele conhecia. Era a Nandinha, que ele conhecia dos tempos de colegial e não via há muitos anos. A noite começava a melhorar. E melhorava bastante. Os dois colocaram a conversa em dia. E a coisa estava, realmente, melhorando. A moça, que ainda tinha a beleza que deixava a molecada toda eriçada no colégio, começava a dar um ponto descarado para meu amigo que, solteiro, não via por que não corresponder. Assim, a coisa fluía bem e a moça que, diga-se, era receptiva, mas não oferecida, curtia a corte que meu amigo fazia. Foi quando meu amigo resolveu mandar a cartada decisiva:
- Poxa, Nanda, a conversa com você tá excelente. Você salvou minha noite. Vim pra cá porque meu amigo insistiu pra caramba, mas você me conhece. Nunca fui muito a fim de festa e essa grã-finagem toda, vou te contar, menos ainda. Festa chata pra demais. Me arrependi de ter vindo. Vamos pra algum lugar mais divertido, sem tanto smoking, sem essa coisa toda.
Nandinha agradeceu, mas recusou. Queria muito estender a noite em algum outro lugar, mas não podia:
- Sou esposa do dono da casa.

Francisco Libânio,
08/01/13, 9:03 PM

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