Abre e ouve o que eu tenho a te dizer!
Bateu à minha porta e quando abri, eu o vi. Nada me disse
que não fossem aquelas duas palavras.
- Vais morrer!
O sujeito não estava armado. Nada de coldre com arma ou uma
faca na cinta. Também não tinha jeito de saber nenhuma arte marcial capaz de
dar cabo de um homem e parecia tão moloide, tão desengonçado que, no caso de
nos metermos numa luta corpo-a-corpo, eu, nada atlético nem hábil, poderia com
ele sem grandes problemas.
Mas luta corpo-a-corpo não teve. Nenhuma ameaça ou
violência. Apenas disse “Vais morrer!”, virou as costas e sumiu. Nunca mais o
vi. Mas a ameaça me assustou. Um assassino educado, mesmo um emissário, merece
que as devidas providências sejam tomadas. Não posso dizer que minha casa fosse um lugar
seguro, ou não teriam esse acesso fácil à porta. Tratei de cuidar disso. Subi
um muro mais alto e um portão eletrônico. Quisessem falar comigo doravante, que
fosse via interfone.
Também não permiti que esse muro fosse alto o tanto que nada
eu visse da rua. Para me precaver, também instalei uma câmera em minha casa.
Qualquer movimentação estranha seria sabida por mim.
Quando soube de assaltos nas proximidades da minha rua, o
medo tomou conta. Era uma câmera, viraram três. Nenhum dos assaltos terminou em
morte. Queriam dos meus vizinhos os bens, mas só de mim, um estranho com
hombridade queria a vida, tanto que me avisou disso. Eu morreria. Pois então
que eu me cuidasse.
Foi quando percebi que não era só em minha casa que eu
deveria ter cuidado. Quase caí pra trás quando soube que desde então passei um
arriscado período sem me proteger. Blindei meu carro e tive aulas de direção
defensiva. Sabia como me portar em uma situação de perigo no carro. Por via das
dúvidas, também tomei algumas aulas de tiro e sempre uma arma no carro para
qualquer eventualidade. O assassino até poderia me matar, mas, certamente, iria
junto comigo.
Logo descobri outro vacilo da minha parte: a rotina. Para ir
ao trabalho, eu sempre usei o mesmo e manjadíssimo caminho. Passei a
diversificar as rotas. Nunca o mesmo trajeto por duas vezes seguidas. Um amigo
me sugeriu, não sei se de gozação, que eu variasse os carros também. Considerei
isso, mas logo todos os carros que eu tivesse ficariam marcados. Para evitar
isso, procurei ir ao trabalho a pé ou de ônibus. Seria muito risco me expor
assim, mas saberia como me portar caso algo acontecesse.
Nunca aconteceu. Minha casa nunca foi violada. Durante as
idas ao trabalho, o máximo que acontecia era alguns garotos lavarem meu vidro
atrás de uns trocados, que nunca dei. E quando me sentia ameaçado, acelerava os
assustando. Certamente não seriam eles que me matariam. Nem mesmo na vez que me
meti, com toda a coragem do mundo, a viajar de férias aconteceu um problema.
Pensei encontrar minha casa incendiada na volta. E eu a encontrei tão ilesa quanto
a deixei.
Do dia em que recebi aquela temerosa visita até hoje em que
escrevo essas linhas, passaram-se quarenta e três anos. Não acredito que o
homenzinho que tenha me ameaçado tenha durado esse tempo todo. Não aparentava
boa saúde e parecia ter certa idade. Não vou mais ao trabalho, me aposentei.
Hoje meus dias são tediosos. Por conta do ocorrido, evitei contato com muitos
estranhos, mulheres inclusive. Logo não tenho esposa ou filhos. No fim das
contas, acho que aquele salafrário veio me avisar de algo que eu sabia desde
sempre que ia acontecer: Eu morrerei, um dia. Mas graças a esse grande animal,
eu me apavorei, tomei providências exageradas e me recluí do convívio social.
Deixa estar. Quando eu realmente morrer, onde estiver esse cretino, pegarei pelo
pescoço e ele morrerá como me disse um dia que eu ia morrer. Mesmo depois de
morto, porque se ele fala, eu faço!
Francisco Libânio,
17/01/14, 9:01 PM
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