sábado, 23 de fevereiro de 2013

A vizinha do prédio ao lado

Observa, espia...

Sempre quis morar em edifício. E morando em edifício, adoraria viver uma das ideias de fetiche clássicas: Aquela em que se observa através de binóculo ou, mesmo, a olho nu a vizinha do outro prédio tomando banho, de janela aberta e toda permissiva ciente do espetáculo que oferece.
A partir disso, do meu quarto térreo, me teletransporto até um prédio eventual. Agora estou num sétimo andar e minha janela dá de frente para o banheiro de uma morena nada espetacular, mas ainda de beleza notável e corpo atraente. Ela entra no banheiro, abre o chuveiro e o barulho da água é audível para mim. Ela tira a bermuda primeiro e uma camiseta azul claro depois. O conjunto preto é tirado em ordem inversa, sutiã e calcinha. O corpo da moça se revela e é realmente válido de ser visto.
Quando ela está para entrar no chuveiro, espanto uma mosca e isso me distrai do festival voyeur que eu tinha. Retomada a atenção, noto que ela também está usando um binóculo e olhando justamente para cá. Uma cena exótica, uma mulher nua pronta para o banho resolve voyeurizar um homem vestido que a estava observando. Se eu perguntar, será que ela me escuta? Vou tentar. Pergunto num tom mais alto se ela me ouve. A resposta é afirmativa, em resposta dois tons mais alta que a minha.
- Por que você está me observando? – pergunto. Bela forma de puxar assunto!
- Era justamente o que eu ia te perguntar. Perdeu alguma coisa por aqui? Quer que eu ajude a encontrar? – ela me responde.
- Desculpe, mas é que eu sempre quis viver essa fantasia de observar uma mulher no prédio ao lado. Já vi isso em filmes, em revistas. Achava que podia trazer para o mundo real.
- Você sabe que isso dá confusão, né? O marido da mulher observada não gosta, vai tomar providências em relação ao assunto e não hesita em usar da violência para resolver isso. Essa parte você também deve saber, certo?
- É verdade. Desculpe. Não conte nada disso ao seu marido. Nem que tivemos essa conversa.
- Fique tranquilo. Não sou casada. Nem namorado tenho. Eu apenas estranhei ser observada por um vizinho enxerido. Sempre, também, quis viver a situação de alguém me ver tomar banho. Meu psiquiatra diz que eu tenho prazer em ser observada. Tive medo disso, mas hoje encaro com naturalidade. Está gostando do que vê?
Tudo bem, a história está correndo toda numa espécie de realidade paralela, mas a coisa está subvertida. E do nada, a mulher que devia me proporcionar um show de nudez e indiscrição me abre parte da sua psique. Isso está errado. Ela para de falar porque notou que eu afastei meus binóculos dela. Quando volto a ela, outra vez se vendo atriz principal, continua:
- E eu resolvi meter um elemento a mais nessa tara de ser observada: Observar. Adoraria ver como se sentiria aquele que me invade a intimidade no papel de invadido. E vou te contar: Você precisava ver a sua cara quando deparou comigo. Não dá pra descrever. Só vendo e rindo. Qual seu nome, bonitão?
A mulher é maluca. Mais maluca que eu, que estava bolando a cena inicial. Primeiro ela se insinua – certamente sabia que tinha alguém a vendo – e depois reverte o jogo. Aí, então, ela me conta algo de si para depois se apresentar? De qualquer forma, digo meu nome a ela  e ela diz o seu. Frisa que não namora, que gosta de se sentir observada e desejada, que vinha tratando isso como algum desvio, alguma perversão, mas entendeu que sem certas loucuras a vida não tem graça. O papo se estende e o banho não acontece. A certa altura, a moça veste um roupão (“Não se incomode, não quero tomar friagem”) e praticamente decreta o fim do festival de nudez ao qual eu tinha me proposto. Continuando a conversa, ela solta mais uma:
- Se você tem seus fetiches, eu também tenho os meus. Sabe aquela história da vizinha ir ao apartamento ao lado, pedir uma xícara de açúcar? Adoraria vivenciar isso, mas meu prédio é praticamente vazio. Fico aqui porque esse apartamento era do meu pai e não quero vender. Mas o lugar não é valorizado, ninguém quer vir pra cá. Logo, acho muito difícil acontecer.
Nesse momento, alguém bate à minha porta, tira-me da minha abstração. É apenas um amigo meu me chamando para jogar bola. Quando vamos ao carro, um caminhão de mudança está na frente da casa ao lado e uma morena olha para nosso carro com olhar tanto curioso.

Francisco Libânio,
23/02/13, 10:06 AM

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