sábado, 20 de julho de 2013

Sem neuras

Meu brother, doutor!

- O senhor está me dizendo que esse homem que seus vizinhos pegaram é conhecido do senhor?
- Sim, delegado. Amigo da casa.
- Mas, então, por que ele forçou a porta?
- Ele tem a chave dessa casa, doutor. Certamente, precisava entrar urgente. Devia ter motivo, mas deve ter esquecido a dele.
- Vontade de ir no banheiro. – o capturado falou, mas foi calado a tapa por um halterofilista que o rendia. O delegado coçou o queixo e perguntou:
- Mas ele trazia uma televisão no saco que levava. Como pode?
- Delegado, sem neuras. A TV da casa dele deve ter ido pro saco. Ele sabe que pode contar com o irmão aqui.
- Que irmão! Além da TV, levava joias no pacote.
- Doutor, essas joias devem ser da senhora dele. Minha mulher vive pedindo emprestado e a patroa do meu camarada não dá de egoísta. Tá tudo na regra.
- E o que o senhor tem a dizer da arma?
- Que arma?
- Essa arma, meu amigo! Seu “irmão”, quando se viu cercado, brandiu o ferro. A sorte é que nosso amigo ali – e apontou para o halterofilista – imobilizou o gatuno e a turma o desarmou. Pense a tragédia que seria.
- Ó, doutor, meu amigo é gente do bem, tá ligado? Esse lance de arma aí, ele deve ter comprado pra se defender. O homem é boa praça, não é de violência. Quando viu todo mundo, deve ter assustado, pegou a arma, mas como não mata nem mosquito, ficou sem jeito. E tem mais. O doutor vai concordar que quatro contra um é covardia, inda mais com um mastodonte desses.
O delegado deu uma golada no seu café e tomou o nome de todos na cena até chegar na vez do meliante:
- Rodolfo dos San...
- Rodolfo?! – perguntou o outro – Escuta, você não é o Jeremias?
- Diabo Jeremias! Sou Rodolfo desde que nasci!
- Mas com esse cabelo... Você tá a cara do compadre Jeremias.
Apresentados, o assaltado assinou o boletim de ocorrência, xingou o assaltado e foi da delegacia para um oftalmo. Bem que a esposa vinha falando que os óculos estavam velhos.
  
Francisco Libânio,
22/12/10, 12:23 AM

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