sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Monique

E numa enxurrada de reminiscências, eis que surge, do nada, absolutamente surpreendente, o rosto fino e alvo de Monique.
Nunca falei de Monique porque não gosto de desfiar em crônicas experiências pessoais e, menos, as personalíssimas. Monique apareceu num momento em que eu não esperava. Num momento de tanta alegria, tanta felicidade e tanta dedicação em meus estudos que me deixou, confesso, triste.
Inclusive, se eu pudesse preferir, não me lembraria de Monique. Que ela ficasse no recôndito de meus pensamentos, no íntimo das lembranças, naqueles vãos memoriais onde até eu evito circular pelo simples medo de ou não saber sair de lá ou de algo de que eu tenha me arrependido amargamente.
Só que Monique não faz parte dos arrependimentos. Não posso ser injusto com ela. Pelo contrário. Puxada por ela, veio uma batelada de lembranças com Monique. Nenhuma delas me trouxe dissabor ou desagrado. Nada entre elas era pesaroso. Não havia um ponto negativo sequer. Monique, da forma que veio e junto a tudo que veio, era espetacular e foi uma parceira perfeita. A mulher ideal para seguir durante toda uma vida. Mas a lembrar de Monique não era bom. Tantas alegrias, no computo geral, tinha um sabor amargo.
Um amargo diferente do doce que foi, por exemplo, nosso fim de semana no Rio de Janeiro. A primeira vez que eu conhecia a tal Zona Sul das novelas. Monique era da mesma cidade que eu, mas tinha parentes no Rio e amigos na Zona Sul. Em Copacabana especificamente. Um desses amigos emprestou a ela um apartamento para que fizéssemos sede nesses dias. E foi quando andamos na praia, comemos camarão e víamos as pessoas se deleitando no mar ou esparramadas na areia. Gozadora como era, Monique sempre chamava a atenção para alguma mulher bonita que passasse. Reconhecia a beleza da transeunte e repreendia divertida se eu reparasse demais. Mas havia uma grande sintonia entre a gente. À noite, fomos a um restaurante, trocamos algumas juras e ela disse que nunca me deixaria. Devolvi a promessa. Não teria porque deixar Monique. E não nos deixamos.
Uma outra passagem nossa, estamos os dois em nossa cidade numa apresentação de dança. Nunca gostei de dança, mas não me custava fazer esse agrado à Monique, que nunca me negava nada. Devo admitir que esse programa foi muito bom. A presença de Monique e sua paciência em me explicar coisas que nunca procurei saber transformaram algo que eu sempre achei chato numa atração de muito bom gosto. No fim das contas, para premiar minha paciência e o “sacrifício” (assim ela definiu eu ter ido a um programa que não me agradava), Monique pagou uma pizza para nós dois, com direito a um vinho dos bons. Não poderia haver nada de errado. Monique sabia me conquistar sempre e me convencer àquilo que não me agradasse, pois o simples prazer de estar ter minha presença já fazia o que era do agrado dela melhor. E ser presente naquilo que eu não gostasse, acreditava ela com razão, dirimiria meu enfado.
Esses dois episódios pinçados a esmo são amostras de como Monique e eu tínhamos a identificação. Há outras tantas histórias igualmente agradáveis em que um casal tão enamorado quanto cúmplice. Éramos o casal ideal. São tantas coisas boas, tantas felicidades que eu me pergunto por que Monique e eu não estamos mais juntos. O que fez terminar essa lua-de-mel?
Eis que me lembro. Tudo começou num momento em que todas as minhas reminiscências vieram em enxurrada, uma delas apareceu intrusa, trouxe o nome de Monique e fantasias nunca vividas, mas desejadas. É o que me entristeceu sem saber o que era. Na verdade, ela nunca existiu e foi a única coisa boa em todo esse processo. Amei Monique e nossa história e desejarei, com todas as minhas forças que ela apareça em minha vida e todas as delícias lembradas com ela aconteçam um dia.

Francisco Libânio,
12/09/14, 5:12 PM

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