segunda-feira, 7 de março de 2011

GRES Unidos do Caixão


Este cronista não é fã de carnaval, não torce pra nenhuma escola de samba – embora simpatize com a Mangueira, a Portela e o Salgueiro, mas não vibra desesperadamente por nenhuma –, não sabe o que significa evolução no contexto carnavalesco, mas gosta de assistir aos desfiles pela televisão. É um festival de cores e de criatividade que encanta. Perdeu muito do encanto inocente de outros tempos, é verdade, mas se tornou apenas um produto do seu tempo, como tudo o que nos cerca.
Mas no Carnaval desse 2011 em que funks pululam, melozinhas grudentas espreitam incautos que se vêem cantando por osmose, os desfiles têm sido interessantes e menos empestados de seios gratuitamente nus ainda que infestado de próteses de silicones, outro produto do tempo em que vivemos. Paciência.
Assim, nessa madrugada, assisti ao desfile da atual campeã, a Unidos da Tijuca cujo carnavalesco, Paulo Barros, tem seu trabalho muito elogiado e é posto à frente dos outros. Não sei diferenciar trabalhos destes profissionais, mas gostei do que vi. Digno de todos os elogios com todos os efeitos, os carros, o tema, tudo. Na minha ignorância dentro do assunto, minhas notas seriam dez a dez, começo ao fim.
No entanto, o que mais gostei foi a homenagem que a escola fez ao cineasta José Mojica Marins, o famoso Zé do Caixão. O jornalista André Barcinski falou bem sobre o homem, que para muitos se funde com o personagem. Mojica é cineasta e Zé do Caixão sua criação. Algo como Charles Chaplin e Carlitos. A diferença é que Mojica flertou com o suspense, o terror, o sangue, o medo. Medo que foi tema da Unidos da Tijuca que, por sua vez, resolveu homenagear o cinema nacional com menção especial a Mojica.
E juntar o colorido do Carnaval com o negro que povoa os filmes de Mojica, tão longes da alegria que a festa propicia, de forma tão coesa e coerente como Paulo Barros fez essa noite soou sensacional. Por trabalhar com um filão pouco simpático ao grande público, ainda mais ao brasileiro, Mojica sempre ficou à margem quando o assunto é cinema nacional restando a ele o trash, o paralelo, o alternativo, o underground. Nada disso afetou o cineasta, coerente com seu trabalho, que foi melhor reconhecido fora do Brasil e, mais tarde, visto com alguma reverência, mas ainda muita desconfiança por aqui. A homenagem que ganhou da Tijuca hoje é merecida. Mojica é tão grande cineasta quanto Babenco, Meirelles ou Walter Salles com uma diferença: Diferente deles, não recebe verbas polpudas, públicas ou privadas, e mesmo assim, no peito, leva a um público fiel um trabalho de respeito. Fez muito bem a Unidos da Tijuca.

Francisco Libânio,
07/03/11, 7:18 PM

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