domingo, 3 de abril de 2011

O travesseiro e o beijo


Neste sábado teve o Pillow War Day em São Paulo, um evento que se convencionou chamar de flash mob. Pessoas marcam na Internet um encontro e vão. O de ontem, como o nome indica era uma guerra de travesseiros. Assim, um monte de pessoas se reuniu e começou a trocar travesseiradas uns nos outros. Bobo? Aparentemente, sim, mas é uma brincadeira e não há mal em brincar.
Para os mais velhos, categoria que inclui os da idade do Cronista e os de mais idade, esse tipo de evento não passaria de uma reunião de desocupados, diversão vazia de gente de classe média. Numa análise fria, não deixa de ser isso mesmo. Quando noutros tempos gente desconhecida se reuniria aos montes pra ficar brincando como crianças pequenas? Nunca, mas tantas coisas boas e ao mesmo tempo não se fazia antigamente que fica a impressão que se os tempos de hoje parecem bobos os de antanho parecem chatos.
A Internet apareceu definitivamente na vida moderna e é impossível dissociá-la da mesma forma que a televisão apareceu como aparelho de massa nos anos 60 e 70 com programas que influenciavam a opinião pública. Novelas moldaram comportamentos, seriados criaram heróis. O primeiro beijo na boca de uma novela estarreceu a audiência. A TV Tupi recebeu cartas indignadas com a imoralidade. De lá até cá, a televisão virou peça indispensável em qualquer lar e o hábito de assistir a novelas se incrustou na vida do brasileiro. E as novelas transformaram aquele beijo em coisa tão prosaica, tão normal que hoje somente um beijo não assusta nem indigna mais ninguém.
A comparação até aqui é absurda, mas mesmo torta dá pra desenhar uma noção. A televisão naquele tempo e a Internet hoje entraram na vida das pessoas. Naquele tempo, um beijo revoltou os telespectadores. Hoje, um flash mob deixou perplexa uma camada de pessoas que viu outras se esbofeteando com travesseiros em praça pública. Naquela como nessa época, o beijo e o travesseiro não tinham a finalidade de agredir, de chocar. Um era uma cena no contexto de uma novela e o outro uma forma diferente de se divertir, de socializar. Estão dando travesseiradas e não se batendo com socos ingleses ou cassetetes. O saldo final é muita risada e não contar escoriações.Para muitos de nós mais velhos, a coisa continua sendo, apesar disso, uma tremenda bobagem. Mas é preciso ver por todos os olhares. Claro que um flash mob envolvendo caridade, doação de sangue, ajuda a quem precisa seria algo muito mais nobre que uma mera guerra de travesseiros. E a gente espera que quem teve essa ideia em algum lugar do mundo (é um evento mundial. Aconteceu em São Paulo, mais vinte cidades no Brasil e outras tantas pelo Planeta) use essa sadia criatividade para o bem alheio. Certamente, a semente está plantada. Uma coisa séria após a inusitada diversão.

Francisco Libânio,
03/04/11, 10:35 PM

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