sexta-feira, 30 de abril de 2010

Uma questão de pegada

Andando pelo calçadão da Maffei, paro numa das tantas lanchonetes do lugar para comer alguma coisa e beber algo que rebatesse o terrível calor que faz nesse lado oeste do Estado. Quando me ajeito depois de pedir uma limonada e uma coxinha, esquadrinho o lugar e dou com uma amiga que há muito tempo eu não via. Ela me reconhece e me chama pra conversar, o que faço contente:

- Ei, Mariana, como você está, moça?

- Tô meio chateada. Odeio quando o passado me persegue.

E aí ela me conta que está namorando, super feliz, mas que o ex-namorado anda cercando sua vida. E que ela anda numa certa dúvida:

- Eu gosto do meu atual namorado. Ele é legal e me faz feliz, mas é que o ex tem uma pegada que eu vou te contar.

- Mas num namoro tem outras tantas coisas que você precisa avaliar além disso. – expliquei – Se ele é legal, se ele te faz feliz, te compreende e gosta de você.

- Você não entendeu. Meu namorado atual tem tudo isso. Mas a pegada do ex... Nossa! É uma coisa sem igual. Se você sentisse a pegada dele, ia concordar comigo.

Silêncio geral. Creio que foi uma frase extremamente mal colocada. Ok, a moça está indecisa entre o atual e o antigo amor. Dou-lhe uma prensa a saber se ela, por acaso, andou provando sabor já conhecido enquanto já tinha seu prato. Ela diz que não porque isso de relembrar momentos não é com ela. Ou tá com um ou tá sem ninguém. Trair namorado é que ela não ia. Depois parou, refletiu e terminou:

- Mas tá difícil, viu? Ah, aquela pegada!

- Mas e seu namorado atual? Ele também não tem pegada? – pergunto já irritado com essa nostalgia pontual.

- Tem, ele também não me deixa a desejar em nada e me satisfaz em tudo. Até fora desse assunto. Mas o ex... Sempre que penso nele, só penso nessa pegada que ele tinha. Era uma coisa enlouquecedora. Não dá pra explicar.

- O que não dá pra explicar é você ficar toda saudosa de uma coisa que passou e ficar aí pensando nele. Se era tão bom, se a pegada era tão boa, por que terminaram?

- Porque ele era um atraso na minha vida. Ciumento, machista. Ficava todo nervoso quando eu estava com meus amigos. Um babaca. Por isso terminei com ele. Hoje, meu namorado e eu resolvemos tudo no diálogo. Antes, eu era a última a falar.

- Então nem só de pegada vivia o namoro.

- Mas a pegada dele era uma coisa só dele. Você não entende. Um dia ele vai pegar você e aí você vai concordar comigo. Aquele homem era tudo!

Nisso eu ouço alguém gritando:

- Mariana, quem é esse sujeito?!

Era o ex. O cara veio batendo duro até nossa mesa. Chegou que nem touro brabo. Perguntei o que ele tinha a ver com a vida dela se era um ex. Ela ficou muda e ele esperava alguma explicação. Do nada, o maluco me olhou e disse:

- Saia correndo daqui ou eu te pego, seu miserável!

Paguei minha conta e saí calmamente. Se era essa a pegada a qual minha amiga se referia, nem ela nem qualquer que fosse me interessaria conhecer.


Francisco Libânio,

29/04/10, 3:43 PM


Extraída de https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8owD8XIxk6KSkTrY1HJV3D-VCDvCMUIn1Wi4qbUljRGikFSa993Vp3EjloLdkiZnZntDXW4-CdJIRl7O7ynqK-xH5vnYFOj391Fv7hCvx6uBU2IjfsO5TpaggbPA_tZfJjFgTviMNTHw/s400/pegada.jpg

Um comentário:

Emilene Lopes disse...

O se humano é totalmente insatisfeito...Tem tudo e quer trocar por menos de meia dúzia...
Bjs
Mila