sexta-feira, 23 de abril de 2010

Arturo


Quando minha esposa ficou grávida, a felicidade foi tanta que ela só pensava nos nomes a dar para o futuro rebento. Aliás, os nomes não. O nome. Para quem quer que perguntasse, a resposta era na ponta da língua:

- Arturo!

Sim, Arturo. Ela, assim como sua família, ela adorava ópera e queria que o menino se chamasse Arturo igual ao Toscanini. Sempre que perguntavam a ela, voltavam a mim com a mesma pergunta. E era sabido que eu sempre discordei, afinal nunca fui muito fã desses nomes estrangeirados. Por que chamar de Joshua quando pode ser Josué? Por que se chamar Jean Pierre se pode ser João Pedro? Mesma coisa para Arturo. Podia ser Artur sem problema nenhum. E remeteria a um dos grandes heróis históricos a quem sempre admirei, o rei que presidia a Távola Redonda. Haveria um consenso e uma homenagem a dois admirados. Mas a futura parturiente estava decidida. Queria Arturo, e ponto final. E dane-se que eu era o co-autor do filho e mereceria meus cinqüenta por centro de consideração bem como ter minha opinião igualmente pesada e medida.

Mas, não. A mulher não arredava o pé. Quando soube da gravidez já tinha o nome guardado debaixo do braço. Estava decidida a ser mãe de um Arturo, quisesse o pai ou não. Várias vezes lhe perguntaram sobre a hipótese de sair uma menina daquela barriga. Ela desconjurava. Dali sairia um moleque que se chamaria Arturo. E que não viesse o pai com essa pobreza de chamar de Artur. Se os pais do cantor não o fizeram por que ela o faria? Nossos amigos, volta e meia, procuravam dissuadi-la, não do nome, que também achavam bonito, mas dessa fé inabalável em ser mãe de um menino.

Foram assim os nove meses. Negociar o nome com a esposa foi o maior gasto de saliva e de ideia. Meus sogros, aqueles que adoravam ópera, tomaram partido da minha luta, mas cadê que ela ouvia os pais? Pior eram os planos mirabolantes que ela tinha. Queria que ele fosse cantor lírico também. Achava que o nome poderia atrair o dom, aquelas coisas de mãe novata e tal. Não que eu não desejasse isso ao meu futuro garoto, se garoto fosse, mas penso que nomes e talentos nem sempre se casam. Mas explique isso a ela.

Até que um dia, enquanto assistíamos a um filme, a bolsa da minha senhora estourou e tivemos que correr para a maternidade. Foi o feliz dia em que nasceu Maria, a menina mais linda do mundo que, para ficar ainda no gosto lírico da mãe, homenageia a cantora grega, mas que com cinco anos não suporta ópera. Já disse que quer ser veterinária porque adora bichos.

Essas crianças...


Francisco Libânio,

23/04/10, 12:22 PM


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