sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Resoluções

Extraído de https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjktNbcv_joKDLE3gLPJRPIjbhUHu3cOjXn5ajdNOSeKuhTbCpnzLiy4q13fMP1rBc1TruDXwoCvo3KW-bwi2frgW-BmrVFQdsNatgAaiTQV-QVyhBN5BilLBR6uIJ9oeA5C5M0yKqvxLY/s320/1210313.casal_briga_ig_estilo_224_299.jpg


- E neste ano, eu vou parar de fumar, beber menos, fazer mais exercícios e tentar ser menos explosivo.

- Eu vou me esforçar para ser uma esposa melhor, ser mais controlada nos gastos e evitar comprar tantas coisas que eu não precise.

As resoluções eram feitas por aquele casal a vinte minutos do relógio completar a última volta do ano. Quiseram passar o réveillon mais intimista que podia haver. Aproveitaram que o filho tinha ido acampar com os amigos e a filha passaria o dia de ano com o namorado no sítio da família dele. Disseram aos amigos que iriam passar o dia num hotel fazenda, pois não queriam receber visitas. O casamento não andava mal, mas aquela coisa de todo ano se reunir em família e fazer uma continuação da ceia de natal já bastava. Quando era na casa deles, o povo ia embora quinze minutos depois dos fogos e dos abraços e deixava a bronca e a sujeira toda para eles. Quando era na casa dos outros, ele terminava se encharcando de champanha, o que fez a esposa sugerir uma diminuição no consumo.

Na verdade, as resoluções de ano novo daquele casal já vinham sendo tomadas desde novembro. Ele, que fumava bem, foi diminuindo os cigarros até conseguir fumar três depois de dez dias. Quanto à bebida, ele também a diminuiu, dando apenas concessão à cerveja da sexta-feira à tarde com os amigos. Mas diminuindo também. Antes eram duas garrafas, naqueles meses antes do fim do ano foi uma latinha e meia. Quanto aos exercícios, ele achava realmente que ir até ao mercado e até à padaria a pé já era um bom começo para entrar em janeiro andando seis quilômetros por dia.

- É preciso ir aos poucos pra eu não ter nenhum problema.

E a mulher anuía, afinal não estava disposta a entrar em rota de colisão com o irascível marido. Mas ela também fez uma pré temporada de resoluções. A começar por não bater tanto de frente com ele. Quanto aos gastos, ela conseguiu segurar bem as pontas. O Natal foi o teste mais duro para seu consumismo. Comprou os presentes para os filhos, o futuro genro e para seus irmãos. Para os cunhados, ela daria vinhos mais em conta (e bons, ela assegurava) e para os sobrinhos, como tia zelosa que era, vinte reais pra cada um, o que era bem menos que os presentes caros que lhe feriam as contas.Para melhor sucesso em seu projeto de ser menos consumista, ela tomou outra resolução. Evitar a todo custo as lojas de variedades e andar pelos shoppings só em último caso, assim evitaria o canto sedutor das vitrines.

Quando o relógio bateu a meia noite (estranhamente dois minutos depois do horário “oficial” e dos fogos da TV), eles resolveram fazer uma última despedida do que iriam abrir mão. Ele fumou seus últimos dois cigarros e tomou a última dose do seu uísque doze anos daquele ano. Agora seria só cerveja. Nada de bebidas fortes e destiladas. A mulher, que não tinha nenhuma loja pra fazer uma despedida, apenas não brigou com o marido pelo visível exagero. Dois cigarros de uma vez? Virado o ano, deram um beijo, leram os torpedos dos filhos e foram dormir. Acharam estranho que dessa vez não havia nenhuma bagunça esperando ser arrumada.

Durante quinze dias mantiveram em pé as promessas. Ele diminuiu drasticamente o cigarro e o álcool bem como foi mais compreensivo, menos irritadiço e até cavalheiro com ela. Por sua vez, a esposa vinha do trabalho direto pra casa. Evitava olhar tudo que fosse vitrine. Os saldões de começo de ano ela nem queria saber. O marido nem falava de promoções perto dela para não provocar lembranças nem vontades. Os filhos ficaram cientes das resoluções dos pais e colaboravam até aquele fatídico dia.

O aniversário do marido seria ao vinte de janeiro e a esposa, querendo seguir aquilo de ser uma boa esposa resolveu também voltar á ativa nos seus papéis conjugais íntimos. Perguntou à filha como poderia fazer isso e ela lhe apresentou uma linda camisola que não era barata, mas o marido merecia. Quando ele chegou em casa pelas tampas com o dia na repartição e viu a camisola e a etiqueta, mandou pro espaço toda sua finesse e a promessa. Soltou os cachorros pra cima dela dizendo que se ela não cumpriu a resolução dela, ele não tinha porque cumprir as dele. Nervoso, matou meio maço naquela noite e várias latas de cerveja. A mulher, irritada com o nervosismo do marido, mandou-o ao inferno, foi afogar as mágoas no shopping e, por vingança, levou o cartão de crédito dele pra passear. Serenados os ânimos, prometeram tentar tudo de novo no ano que vem.


Francisco Libânio,

01/01/10, 10:10 AM



Um comentário:

Nós disse...

isso é típico de nós seres humanos.