Estou no ônibus, voltando pra casa. São algo como nove e meia da noite quando o carro para numa das avenidas mais movimentadas de Prudente e sobem duas mulheres, mãe e filha, negras, bonitas. Uma aparenta ter seus trinta e tantos anos. A mãe aparenta ter cinqüenta, sessenta, mas sempre com o fisionomia de alguns anos menos que a melanina preserva. Sentam-se à minha frente e, num ônibus vazio e noite sem trânsito, fica fácil ouvir a conversa. A filha conta à mãe de um rapaz com quem esteve há pouco. Se namorado ou um amigo não saiu. E conta de uma boa conversa que tiveram até a mãe chegar. Parece que elas sem encontrariam, iriam fazer compras e voltariam pra casa. A mãe pergunta alguma coisa sobre o moço (devem ser só amigos mesmo) e é respondida. Mas só trivialidades, coisas cotidianas, aquelas de pessoas que se conheceram no carrinho de bebê enquanto as mães conversavam na praça. Aí a filha pergunta algo sobre a mãe, onde ela estava antes de se encontrarem.
- Fui ver meu preto. – Responde a mãe com um sorriso de lado a lado.
E a filha solta aquele olhar cúmplice de “A senhora, hein?”. Pode parecer impressão, mas o que ficou é isso. A filha, mais jovem, mais bonita – que deu a entender na conversa ser solteira, mas não à solta – poderia até ter lá seus namoros, mas não foi o que ela foi fazer àquela hora. A mãe, senhora de mais idade, óculos, jeito de ser recatada e carinha de avô bonachona que adora pegar neto no colo, estava namorando e estava toda pimpona com o encontro. Gerações distintas de comportamentos inversos? Não. Mulheres corretas, discretas e satisfeitas cada qual com seu encontro com um homem. Mãe e filha contentes por ver uma à outra que a tarde que tiveram foi muito bem aproveitada.
Francisco Libânio,
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