sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Arte da crônica

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Sempre que me sento pra escrever uma crônica é uma tarefa hercúlea pra mim. Algo assustador porque, quase sempre, não sei como começar. E quando sei não sei como ela vai terminar. E isso me inibe.

Veja só esta crônica que você está lendo. Ela já teve um parágrafo que eu pensei de antanho. Fora uma perfumaria ou outra, o sentido dele é esse mesmo. Mas não sei como vou chegar ao próximo. Aliás, não sei nem como já escrevi tanto neste. É preciso um mote, uma sobrevida para esta crônica porque ela, até aqui, não é sobre nada que não seja ela mesma. E não é muito legal ficar escrevendo algo que olhe pra si.

Pronto, findei mais um parágrafo pra começar outro. Estou indo bem. O primeiro parágrafo com uma idéia definida – a dificuldade de escrever crônicas – e o segundo esticado pra dar uma dissecada no outro. Este terceiro é um degrau a mais abaixo. O problema vai ser na hora de voltar por essa escada e de repente, uma avalanche soterrar o buraco que estou cavando. Para um cronista é tudo que ele precisa: Ser soterrado por algo que ele mesmo resolveu inventar. Para a ciência isso pode ser encarado como dar a vida por uma experiência na qual o cientista morreu acreditando. Para o cronista é a prova máxima de sua própria incompetência.

Caraca, quarto parágrafo! Pelo menos no terceiro, mais que enrolar, desenvolvi uma idéia. Muito vaga, daquela sem a qual a literatura universal viveria muito bem, mas foi uma idéia. A crônica vai se formando e criando corpo. Aos solavancos, consigo dizer algo. Não sei muito bem porque escrevi essa crônica. Era a vontade de desenvolver algumas frases ao invés de versos. Faltou combinar com a idéia. Mas as idéias e eu somos assim: marco delas virem me visitar e elas não vem. Aí resolvo escrever assim mesmo. Elas que se lasquem. Mas quando me vêem fazendo algo que julgavam fosse eu incapaz, cedem e ajudam. Não com aquela disposição voraz para tal trabalho duro, mas antes uma meia ajuda que nenhuma. E assim, pobremente ajudado, contrariado, mas resignado com a importância da crônica, toco-me a escrever. Não tem tema? Azar. Não sabe como começar? Enrola-se, fala-se do tempo, do jogo de ontem, enche a primeira linha de xxxxxxxxxxxxxx e a folha em branco deixa de estar em branco. O resto se arruma depois.

Assim, a crônica, não aquela braguiana que de tão lírica vira um poema em frases, mas a crônica dos homens normais se constrói. Tudo bem. Os homens normais são anônimos, têm dificuldades não só em escrever, mas com agruras do dia-a-dia. Rubem Braga, não. Esse podia até ser homem, mas como cronista, era uma espécie de Hércules, de Arjuna, de São Francisco de Assis. E ao quinto parágrafo, junto com o fim dessa crônica, leguei uma comparaçãozinha ridícula.


Francisco Libânio,

21/09/09, 5:36 PM


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