sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A nobre colega

Aquele casal, via-se pelos sorrisos e pela efusão, era recém formado. Há exato quarenta minutos, quando ele do alto do seu carinho e depois de muito analisar e ponderar os prós e os contras do namoro, essa experiência válida para o que pode ser a vida conjugal, encheu o peito e numa praça com pássaros fez o pedido formal para consolidar o que já existia de fato, mas não de direito:

- Denise, namora comigo?

A resposta da Denise em questão foi um singelo sim. A partir dele, o par, agora casal de fato diante de amigos e das famílias, instituía-se como a mais nova célula parceira no mundo. Enquanto você lê esta crônica, alguns sins são dados, uns nãos também, mas no caso específico de Denise e de Marco, o nome do requerente do namoro, o pedido restou frutífero e estava naquele momento em seu primeiro programa oficial juntos: Um suco com petiscos num restaurante consagrado da Gurgel. O namoro parece ter esfriado as coisas, pois já sabiam tudo um do outro. Na verdade, mais ele sabia dela do que o contrário. Mas as mãos dadas e os aviõezinhos com batatas fritas mostravam que o enlace era promissor, pelo menos para aquele dia. O problema era o assunto. Foi quando Denise resolveu abrir um tema qualquer pescado a esmo:

- Marco, me fala sobre as minhas nobres colegas.

Ele não entendeu. Nobres colegas? Ele conhecia as duas melhores amigas dela, achava uma muito bonita e a outra muito chata, mas para a eficácia do futuro namoro nunca comentou. Agora... Colega? Como assim? Ela percebeu a dúvida e explicou:

- Quero saber algo sobre as nobres mulheres que ocuparam meu posto antes de mim, sabe? Aquelas que um dia você chamou de namoradas e te chamaram de meu amor.

Agora a coisa estava clara. Mas perigosa. A impressão que ele teve foi que ela abriu uma porta com um tapete de “Seja bem vindo” cobrindo um fosso de crocodilos. Uma mulher querendo saber sobre as outras? O que dizer sem despertar raiva, desconfiança ou ciúmes de sua nova namorada? Ele começou:

- Antes de você, tive a Anita, a Bárbara, a Bruna, a Camila, a Cecília e a Dani. – era engraçado a lista em ordem alfabética, mas a coincidência do acaso é que esta foi a ordem cronológica das namoradas. - E todas puderam dizer que fui um marco na vida delas.

Denise não riu da gracinha de Marco. Era nobre colega demais pra ela, mas não podia reclamar. Marco era seu quinto namoro sério fora as tentativas frustradas, que eram pra lá de dezessete e os beijos de amostra grátis, que ela nem contava. Insistindo na sua pesquisa, perguntou:

- Alguma era bonita como eu?

Pergunta difícil. Denise era uma mulher bonita, sem dúvida, mas tirando Bárbara, que não condizia com o nome, as outras também eram. Seria arriscado responder que sim, pois ela interpretaria que ele ainda não as esqueceu e seria injusto dizer que não, pois elas não eram feias. Respondeu que cada uma tinha sua beleza e seu chamariz. Mais uma pergunta:

- Qual das minhas nobres colegas te fez mais feliz e como foi isso?

O interrogatório começava a ficar tenso. A falta de sensatez de Denise a saber de suas nobres colegas começava a incomodar Marco. Ele tergiversou, deu algumas voltas e disse que numa visão macro cada uma soube satisfazê-lo da melhor forma. Uma o surpreendia com declarações, outra cozinhava muito bem, uma outra era mais atenciosa e a outra era fogosa na cama, mas no placar geral, havia muito pouca diferença. Denise, pegou uma batatinha e deu na boca do namorado com outra pergunta:

- E na cama? Quem mais te levou à loucura?

Aí Marco cedeu. Disse que Bruna era a mais fogosa, mas que Cecília fazia coisas do arco da velha, sem entrar em detalhes. E que Camila tinha a maior bunda de todas.

Denise pediu a conta e deixou sua parte da comanda. Falar em tamanho de bunda para uma mulher sem muito a oferecer nesse quesito foi o fim. Ela se desligava do cargo de namorada. Suas nobres colegas recusaram-na nessa sabatina informal. E na história de Marco, em que cada uma foi mais em alguma coisa, Denise foi a do namoro mais curto. Uma hora e meia.


Francisco Libânio,

15/01/10, 10:59 AM


Extraído de http://charmeaovolante.uol.com.br/img/mulher/casal_briga.jpg

Um comentário:

Juliana Matos. disse...

Passado é passado, embora se tenham muitas coisas que nos moldam até a a chegada do hoje!
ps: Ahhh (rs) então por que pergunta, não aguenta a resposta, mais vcs homens também..kkk.

Beijos Francisco