Fala pouco, mas fala tudo. E bonito!
Foi em 2002. Era 2002? Consideremos que sim e que o encontro
tenha sido casual. Isso foi, eu tenho certeza. Numa livraria. Foi lá que
encontrei Rubem Braga na sua mais perfeita forma: Afiado com suas melhores
crônicas, o que não deixa de ser estranho. Pode uma crônica de Rubem Braga não
ser melhor? Acho difícil. Ninguém
escreve crônicas melhores que Braga. De qualquer forma, esse encontro perdido
no tempo foi breve. Alguns apertos de mão rápidos, pouca conversa e não tive a
decência de convidá-lo pra ir comigo para à casa tomarmos um café e pedir
para que ele mostrasse mais crônicas. Não aconteceu. Não seria o momento?
De lá, nunca mais encontrei Rubem Braga em lugar nenhum.
Sabia onde o encontrar. Livrarias, sebos, mesmo bancas de revistas em que
encontrei vários confrades de Braga, mas nunca o próprio. Ficava meio chateado.
Eu encontrava Rubem Braga com alguma frequência quando criança e adolescente em
livros de escola, apostilas e provas. Os casos contados breves na forma e
profundos na ideia eram qualquer coisa encantadores. Sabia que Braga continuava
frequentando livrarias, que não nos toparmos era mera questão de desencontro.
Confesso que por diversas vezes, eu desisti desse encontro.
- Se ele não está no mesmo lugar que eu é que não é pra ser.
Paciência. – eu me resignava.
Assim passaram quase dez anos em que Braga e eu nos
distanciamos. Nunca mais ouvi falar dele e certamente ele menos ouviu falar de
mim. Fui me enturmando com outros amigos dele, trazendo-os pra casa. Às vezes,
ficava pensando como seria se ele estivesse com todos eles, uma reunião
informal entre grandes cabeças. Mas se Braga não queria estar entre eles, eu
não podia fazer nada. Obrigá-lo, trazê-lo à força. Esse tipo de encontro deve
ser, antes de tudo, espontâneo.
Ano passado, num de meus tantos passeios por livrarias em
São Paulo, após cumprimentos rápidos a alguns conhecidos, Rubem Braga veio num
lapso em minha memória e perguntei às pessoas do estabelecimento se ele estava
lá àquele dia e onde eu poderia encontrá-lo. Devidamente orientado, fui
reapresentado ao cronista que, simpático, me contou uma crônica sua que eu já
conhecia. Lá estava ele de novo com suas melhores crônicas. Seria muito
assunto. Outro breve encontro como aquele primeiro não seria o bastante.
Perguntei se Braga queria tomar um café em casa. Ele anuiu e fomos. À época, eu
morava no litoral e em casa, ele me mostrou várias de suas crônicas, obra
primorosa. Braga continuava um mestre em seu mister. Dificilmente deixaria de
ser.
Hoje Braga e eu dividimos o mesmo espaço. Eu, ele e mais uma
infinidade de seus amigos, que eu já conhecia. Minhas conversas com Rubem Braga
são curtas. Dificilmente passam de duas crônicas por dia. E ainda há os dias em
que não nos falamos ou queremos nos ver. Desagradável? De forma nenhuma!
Acredito que quanto menos eu conversar com ele, melhor conversaremos e as
novidades serão distribuídas por mais tempo. Perdemos muito tempo nesses
desencontros. Quero procurar uma forma de compensar esse tempo. A forma que
achei foi essa, a de conversas rápidas pelo máximo tempo sempre me remetendo
àquele dia num provável 2002. Quem sabe essa conversa sempre cheia de novidades
dure pelos próximos nove, dez anos ou o tempo em que Rubem Braga estiver
lúcido, inspirado e disponível em minha estante.
Francisco Libânio,
27/11/12, 8:31 AM
Um comentário:
Sobre a vida – e principalmente as circunstâncias que cercaram a a morte de Rubem Braga – vale a pena ler este excelente texto do mauro santayana, do Jornal do Brasil:
http://www.maurosantayana.com/2013/01/rubem-e-o-poder.html
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