E numa enxurrada de reminiscências, eis que surge, do nada,
absolutamente surpreendente, o rosto fino e alvo de Monique.
Nunca falei de Monique porque não gosto de desfiar em
crônicas experiências pessoais e, menos, as personalíssimas. Monique apareceu
num momento em que eu não esperava. Num momento de tanta alegria, tanta
felicidade e tanta dedicação em meus estudos que me deixou, confesso, triste.
Inclusive, se eu pudesse preferir, não me lembraria de
Monique. Que ela ficasse no recôndito de meus pensamentos, no íntimo das
lembranças, naqueles vãos memoriais onde até eu evito circular pelo simples
medo de ou não saber sair de lá ou de algo de que eu tenha me arrependido
amargamente.
Só que Monique não faz parte dos arrependimentos. Não posso
ser injusto com ela. Pelo contrário. Puxada por ela, veio uma batelada de
lembranças com Monique. Nenhuma delas me trouxe dissabor ou desagrado. Nada
entre elas era pesaroso. Não havia um ponto negativo sequer. Monique, da forma
que veio e junto a tudo que veio, era espetacular e foi uma parceira perfeita.
A mulher ideal para seguir durante toda uma vida. Mas a lembrar de Monique não
era bom. Tantas alegrias, no computo geral, tinha um sabor amargo.
Um amargo diferente do doce que foi, por exemplo, nosso fim
de semana no Rio de Janeiro. A primeira vez que eu conhecia a tal Zona Sul das
novelas. Monique era da mesma cidade que eu, mas tinha parentes no Rio e amigos
na Zona Sul. Em Copacabana especificamente. Um desses amigos emprestou a ela um
apartamento para que fizéssemos sede nesses dias. E foi quando andamos na
praia, comemos camarão e víamos as pessoas se deleitando no mar ou esparramadas
na areia. Gozadora como era, Monique sempre chamava a atenção para alguma
mulher bonita que passasse. Reconhecia a beleza da transeunte e repreendia
divertida se eu reparasse demais. Mas havia uma grande sintonia entre a gente.
À noite, fomos a um restaurante, trocamos algumas juras e ela disse que nunca
me deixaria. Devolvi a promessa. Não teria porque deixar Monique. E não nos
deixamos.
Uma outra passagem nossa, estamos os dois em nossa cidade
numa apresentação de dança. Nunca gostei de dança, mas não me custava fazer
esse agrado à Monique, que nunca me negava nada. Devo admitir que esse programa
foi muito bom. A presença de Monique e sua paciência em me explicar coisas que
nunca procurei saber transformaram algo que eu sempre achei chato numa atração
de muito bom gosto. No fim das contas, para premiar minha paciência e o
“sacrifício” (assim ela definiu eu ter ido a um programa que não me agradava),
Monique pagou uma pizza para nós dois, com direito a um vinho dos bons. Não
poderia haver nada de errado. Monique sabia me conquistar sempre e me convencer
àquilo que não me agradasse, pois o simples prazer de estar ter minha presença
já fazia o que era do agrado dela melhor. E ser presente naquilo que eu não
gostasse, acreditava ela com razão, dirimiria meu enfado.
Esses dois episódios pinçados a esmo são amostras de como
Monique e eu tínhamos a identificação. Há outras tantas histórias igualmente
agradáveis em que um casal tão enamorado quanto cúmplice. Éramos o casal ideal.
São tantas coisas boas, tantas felicidades que eu me pergunto por que Monique e
eu não estamos mais juntos. O que fez terminar essa lua-de-mel?
Eis que me lembro. Tudo começou num momento em que todas as
minhas reminiscências vieram em enxurrada, uma delas apareceu intrusa, trouxe o
nome de Monique e fantasias nunca vividas, mas desejadas. É o que me
entristeceu sem saber o que era. Na verdade, ela nunca existiu e foi a única
coisa boa em todo esse processo. Amei Monique e nossa história e desejarei, com
todas as minhas forças que ela apareça em minha vida e todas as delícias
lembradas com ela aconteçam um dia.
Francisco Libânio,
12/09/14, 5:12 PM
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