Meu Deus, o que eu faço?
Foi elevado a chefe pelo seu antecessor, homem que, mais que
marcar seu nome na História, praticamente a escreveu. A repartição se dividia
em Antes e Depois do Chefe. Mas a peteca agora estava com ele. Era o primeiro
de um novo tempo, mas se via pequeno para preencher tal lacuna. Julgou
imprescindível abrir o seu reinado com um discurso. Mas o que diria? Que
palavras? O Chefe, quando da despedida, num bar e já sob domínio do uísque, foi
breve, mas preciso. Nem falou do sucessor. Talvez quisesse fazer uma surpresa.
De toda forma, surpresa já não havia. Todos sabiam. E era preciso marcar
território, deixar o esboço do seu nome para preenchê-lo com o tempo. Passou a
noite pensando nisso. Queria ser grande como o Chefe, mas não ousava.
Intimamente, queria pôr o outro no chinelo, fazer esquecê-lo. Só não sabia
como. Debateu-se com seu discurso. Como queria ser espontâneo como fora o
Chefe! Não conseguiria. O improviso nunca foi seu forte. Falasse na hora ia se
embananar e ninguém o respeitaria. Ririam dele. Ter algo de antemão,
previamente bolado era preciso. Mas nada saía. Folheou livros atrás de um
pontapé inicial, mas não achava nada. Temeu parecer pedante. O chefe nunca
usava citações. Produzia-as. O tempo corria e o discurso não vinha. Café e mais
café noite adentro. Não resistiu. Sucumbiu ao sono e dormiu e perdeu a hora e
não foi trabalhar.
Na repartição, a ideia era unânime. O novo chefe é um
inepto. Por ser puxa-saco conseguiu a chefia. Falta logo no primeiro dia, o que
esperar além disso? Previam-se tempos tenebrosos, uma era pra esquecer.
Francisco Libânio,
09/01/14, 10:06 PM
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