Que não demore a acontecer...
Chegou uma amiga minha passar uns dias comigo.
Fui buscá-la no aeroporto. Segundo ela, a viagem foi
tranquila apesar de acordar cedo. O voo até São Paulo não teve problemas, o que
ela achou muito bom. Viu na TV que o tempo pela Pauliceia estaria carregado,
mas chuva mesmo ela só viu no aeroporto, e foi pouca. Enquanto esperava o avião
para cá, leu um livro sobre mitologia nórdica (que me mostrou e disse que eu
iria adorar ainda que o tema não seja lá um dos meus preferidos). De Sampa pra
cá, tudo correu bem e, tão rápida a viagem que ela nem notou que tinha voado.
Logo ela estava comigo num táxi indo pra minha casa.
Ao chegarmos, apresentei-a aos meus pais. Já tinha falado
sobre ela algumas vezes. Ela se interessou, certa vez, pelos artesanatos de
minha mãe. Gostou de uma e outra bolsa e queria uma. Minha mãe, meio
resistente, acabou prometendo fazer uma, e fez. Depois, fomos tomar um café.
Era o meio da tarde. Achei que minha amiga não fosse gostar de coisas mais
simples como um café com leite e pão. Sempre a vi como uma mulher muito
animada, doida por festas, boa bebedora. Para minha surpresa, ela se mostrou
muito afeita a tudo o que estava na mesa. Não tomou leite, mas caprichou numa
sanduíche de queijo. Mineirices. Continuamos nossa conversa como amigos que se
falam todos os dias mesmo não sendo assim. Pouco a tenho encontrado na Internet
nesses últimos dias. Não a culpo totalmente. Eu mesmo ando meio afastado das
diversões virtuais atrás de melhoras na minha vida e replanejando projetos.
Ela, bem sucedida em seu trabalho também pouco para na Net para papear
amenidades. Trabalha demais e quando para ou dorme ou curte a vida.
Somos diferentes e nossas presenças mostram isso da forma
mais evidente possível. Como podemos ser amigos sendo tão opostos e em pouco
contato? Não sei. Sei que no pouco que conversamos, apesar de nossas diferenças
de vida e preferências, surge uma empatia muito grande, algo sincero e,
realmente, interessante. Sempre a admirei, mas nossas conversas nunca se
enveredaram por temas mais densos. Não porque eu a subestimasse, mas por não me
sentir capaz de me sustentar num assunto menos íntimo para mim e de total
domínio para ela. Sei que seriam oportunidades ótimas para aprender mais e
conhecer coisas novas. Sempre fui muito aberto a novidades e nunca me privei de
certos conhecimentos engrandecedores. Só sei que no momento, nossa conversa
ficou cabeça demais. Satisfeita com o café, ela me pergunta onde pode se
instalar. Levo-a ao quarto de visitas. Avisei de antemão que ele não estava
exatamente habitável e ela disse que não tinha problema.
- Quartos, para mim, são onde passo a menor parte do tempo
embora costume fazer coisas muito gostosas neles.
E quando me diz isso solta um olhar malicioso e convidativo.
Isso estava no programa? Sei que ela não tem nada contra o tal do sexo casual,
desde que feito responsável e conscientemente. Atrevo um passo em sua direção,
mas vacilo. Quero sem muita convicção o que ela quer. Pode ser que aconteça e
seria ótimo que e se acontecesse. Dou uma desculpa:
- Você deve estar cansada. Quer dormir um pouco?
- Não. Se eu dormir agora não durmo à noite. O que você quer
fazer?
Boa pergunta. Naquele dia ficamos conversando. Nos outros,
levei-a ara conhecer grandes lugares de Prudente. A Universidade onde estudei,
o Shopping onde costumo estudar e beliscar alguma coisa, o Centro Cultural
Matarazzo (ela se encantou com os filmes alternativos que assistimos), a casa
de alguns amigos meus e só. Para uma moça nova que vive numa das cidades mais
animadas do Brasil (ela me conta que Belo Horizonte tem o maior número de bares
por habitantes do Brasil), a vida numa cidade interiorana pode soar meio chata.
Fico meio borocoxô por não oferecer algo a mais para ela. Ela percebe que tento
agradá-la e diz:
- Tenho adorado sua companhia. É o que tem de melhor em
Prudente.
E me diz isso com o mesmo olhar guloso do primeiro dia em
que chegou. Tenho o pé atrás em me envolver com ela sabendo que estamos longe e
manter isso será muito difícil. Por outro lado é difícil resistir. Amanhã ela
vai embora. Peço desculpas a toda e qualquer culpa que eu venha sentir mais
tarde e nos entregamos um ao outro. Foi uma tarde deliciosa a que passamos no
motel. Saímos de lá e fomos ao shopping jantar juntos. No outro dia, levei
minha amiga ao aeroporto. Oxalá todas minhas amigas, sexo casual à parte,
fossem como ela. Eu teria uma vida social mais enriquecedora.
De fato, de fato, essa
história não aconteceu. Tenho, realmente, uma amiga de Minas, mas ela não veio
me ver. Por várias vezes, já combinamos de nos encontrarmos, mas dificilmente
dá certo. Esse ano mais uma vez não deu. Ela tem vontade de conhecer Prudente
e, claro, vir me conhecer. Não sei o que aconteceria desse encontro e não
costumo pensar muito nisso. Só sei que, apesar de nossas diferenças etárias e
de gostos, nos damos bem e certamente um encontro mudaria nossas vidas. Valeria
muito a pena, mesmo que não acontecesse nada disso que escrevi, apenas uma
crônica a mais.
Francisco Libânio,
30/12/12, 2:40 PM
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