sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Amor Virtual


Num barzinho:

- Por favor, você é o Estevão?

- Adriana?

As interrogações eram compreensíveis. Depois de oito meses de conversa nos messengers da vida, resolveram se conhecer. Moravam na mesma cidade, mas ela nas imediações da Raposo Tavares e ele na Zona Norte, quase chegando nos distritos. Distância vencível, mas o melhor era um campo neutro para a estréia. Houve alívio e surpresa. Ela, como é hábito das mulheres, estava atrasada. Dez minutos, algo tolerável, mas atraso é atraso. Adriana puxou uma cadeira e Estevão pediu um chope.

- Mas você não bebe. – lembrou Adriana.

- Pra rebater a ansiedade. – explicou – Achava que você nem viesse mais.

- Seu bobo. Quis escolher a melhor roupa. Tive medo de parecer vulgar.

Estevão sabia dessas nóias dela. Quantas vezes, ela contou de constrangimentos pessoais que teve. Era uma moça bonita, corpo tornadinho, bem ao gosto do homem moderno, mas tinha receio do decote parecer escandaloso ou do vestido não ser aprovado por algum aluno da Uniban. A aprovação do rapaz em dizer que a demora valeu a pena e que ela estava perfeita acalmou o âmago da moça. Chega o chope dele e ela pede um.

- Você sabe que eu gosto de um chopinho no fim de semana, mas hoje a ocasião pede que eu saia da regra. – era quinta-feira.

Chega o chope dela e eles conversam. Os dois se entendem perfeitamente. Já sabiam bastante um do outro desde o primeiro papo e o segundo email. Ele trabalhava na prefeitura e ela era dona de uma pequena loja de roupas no Calçadão da APEC. Não tinham filhos, mas ele era divorciado e ela vinha de um noivado rompido há alguns meses. Beliscaram uma porção de queijo quando ela saca uma cigarreira.

- Mas você disse que não fumava...

- Nervosismo. Andei tendo problemas na loja e desde que saí com umas amigas comecei a fumar. Faz pouco. Só quando estou tensa.

- Mas você trouxe sua tensão pro nosso encontro?

- Eu não trouxe. Ela que me achou. E agora a danada não quer ir embora e está quase puxando uma cadeira.

Pra ele a idéia de um beijo foi pro espaço. Ele não fumava. Não suportava cheiro de cigarro. Ela pescou a frustração.

- Prometo que vai ser só esse, tá? – contemporizou. Para mostrar sua intenção de armistício por conta da gafe, pediu uma cartela de dropes. – Mas me fala de você. Por que o casamento não deu certo?

Silêncio fúnebre. Ele não gostava de tocar nesse assunto, de falar que a ex-esposa era uma fada que virou uma víbora assim que tirou o véu na lua de mel. Nem que ela o sufocava e ligava no celular até quando ele ia comprar pão. Ele deu rápidas pinceladas sobre tema tão incômodo e ela percebeu que era melhor ficar de boca fechada. Mais silêncio e ela resolveu, digamos, partir pro ataque já que ele era mais quieto e a história do cigarro fê-la perder alguns pontos. Ao chupar um dos dropes, foi bem provocante e lançou aquele olhar metralhante que só as mulheres sabem. Estevão ficou sem graça e variou do vermelho pro roxo, mas respondeu com suas mãos nas mãos dela e um beijo nelas. Até pensou em convidá-la pra ir para sua casa, mas parou antes. Podia ser afoito demais. Adriana viu que seu primeiro ataque surtiu efeito e resolveu partir para uma segunda investida cutucando-o com os pés debaixo da mesa. Foi quando ele se contraiu e, mais uma vez, o silêncio se fez entre eles. Ele vacilou, e lhe deu um beijo nas mãos e foi percorrendo o braço dela. Aí o fator que ele não sabia. Ela tinha cócegas. Muitas cócegas no braço e o tirou. Mais vermelhidão. A conversa rendeu a noite toda e se despediram num abraço apertado. Ela teve medo de parece vulgar com suas pernas cutucando. Ele temeu ter sido atirado. Mas depois do terceiro encontro, o namoro rendeu. Hoje, eles têm dois filhos e vão fazer mais um ano de casados.


Francisco Libânio,

26/11/09, 10:40 AM

Um comentário:

Anônimo disse...

queria que fosse assim com você.