sexta-feira, 31 de agosto de 2012

0408 - Soneto piauiense

O delta do Paranaíba, a joia do Piauí

O delta do Parnaíba e seu esplendor
Mostram: Qualidade e quantidade
Não são proporcionais e é verdade
Que o melhor não precisa ser o maior

Diante de tantos litorais onde a cor
Do azul ao verde varia a tonalidade,
O Piauí usou de toda sua humildade
Para, com pouco mar, a eles se impor

Para tanto, tomou um rio de ajuda,
E o fez desaguar nessa faixa miúda
Criando aí um pedaço de paraíso

Assim, o mais interiorano Estado
Do Nordeste tem seu quinhão dado
De beleza num espaço conciso.

Francisco Libânio,
31/08/12, 11:56 AM


Terêncio

"Como você faz isso?"

- Seu Edgar, o Terêncio ligou. – foi o recado que a empregada disse assim que chegou em casa.
- Terêncio? Que Terêncio?
- Não sei, seu Edgar. Sei que ele deve conhecer o senhor. Perguntou se o Branco tava em casa.
Branco, esse apelido que o acompanhava desde criança era quase mais famoso que o próprio nome. Pouca gente o chamava de Edgar. Quem o chamasse assim, certamente, era desconhecido. Até a empregada às vezes se traía e chamava o patrão de Branco. Excesso de intimidade que nem dava pra brigar. Todo mundo chamava assim. Quanto ao Terêncio, ele não fazia ideia de quem fosse. Mas a empregada deu a outra parte do recado:
- Eu disse que o senhor voltava às seis e ele ligava às seis e meia. Parecia muito a fim de falar com o senhor.
Que seja. Deve ser algum amigo de outro tempo que ele não se lembrava. Tinha uma turma grande na escola e era popular na faculdade. Às seis e meia o mistério se resolveria. Mas não se resolveu. Seis e meia o telefone não tocou. Contou pra mulher sobre o Terêncio. Ela foi prática:
- Se queria falar com você, não devia ser tanto assim ou tinha ligado.
No sábado, saiu pra comprar jornais. Quando voltou, foi a mulher que jogou mais lenha nessa fogueira:
- Amor, o Terêncio ligou de novo. Pediu desculpas por não ligar ontem e disse que não pode ligar esse fim de semana. Vai viajar, mas na segunda sem falta. Ficou muito feliz em saber que o Branco tinha casado. Parece um amor de pessoa.
Ora, veja. Parece ser um boa-praça esse Terêncio? Como não me lembro desse sujeito pensou o Edgar. Tentou passar o sábado e domingo sem pensar nisso, mas não conseguiu. Veio a segunda e de manhã foi trabalhar. Por uma folga na sua agenda, conseguiu almoçar em casa. Indo pra casa, encontrou os filhos, mas não a esposa. E normalmente era ela quem os buscava na escola. Como isso?
- Foi o tio Terêncio que trouxe a gente.
O quê? Como assim!
- É, pai. O tio Terêncio é pai do Danilo, colega de sala. Viu a gente na escola e o Danilo falou que a gente era filho do Branco (nem os filhos deixavam de chamá-lo assim. O mais novo ficou surpreso quando alguém perguntou pelo Edgar. “Ele não mora aqui, não”). Ele disse “Deixa que eu levo vocês pra casa”. Veio pra cá conversando e contando história. Um cara muito legal. Disse que te liga às seis e meia sem falta.
Foi ao trabalho querendo que o tempo passasse rápido. Queria estar seis e meia em casa pra atender esse telefonema e matar a curiosidade. Só que o tal Terêncio disse que ia ligar seis e meia na sexta e não ligou. Mas ligou sábado e pediu desculpas. Sinal que costuma cumprir seus compromissos e não gosta de faltar com eles. Além de tudo, parece ser um grande cara. Sua mulher e seus filhos o adoraram. E essa seis e meia que não chega? Quando bateu quinze pra seis, saiu e foi pra casa pensando no telefonema. Faltando cinco minutos pras seis e meia, o telefone tocou. “Ele também deve estar doido pra rever o amigo de outrora” pensou e atendeu:
- Terêncio?
- Branco! Como está rapaz? Finalmente nos achamos, hein?
- Pois é.
- Liguei pra você sexta e sábado sem te encontrar. Disse pra mim mesmo que de segunda não passava. Encontrar seus meninos na escola foi um sinal divino de que ia dar certo.
- Veja você. Mas diga lá, como achou meu telefone?
- Então. Estou procurando uma casa e vi no jornal uma que estava a venda. Endereço, telefone e tudo mais. Passei pra ver onde era. Quando vi que era a casa do Branco, eu fiquei doido. Pô, a casa que a gente passou nossa infância e o Branco vai vender? Pois eu compro.
Casa que a gente passou a infância? Edgar estranhou. Se mudara praquela casa há seis anos vindo da capital. Como assim?
- Espera aí? Você não é o Cláudio?
- Não, meu amigo. Meu nome é Edgar.
- Caramba! Que mancada! É que eu tinha um amigo, o Cláudio. O apelido dele era Branco e ele morou aí desde a infância. Olha, me desculpa por tudo isso e também por ter pego seus meninos na escola. Pode ficar tranquilo que eu sou gente do bem. E manda um salve pra sua esposa. Ela me pareceu uma mulher muito simpática. Mas se eu encontrar o safado do Branco, vou dar uma dura. Como ele vende a casa em que crescemos? Olha, de verdade, me desculpa o incômodo, tá?
E desligou sem esperar pelo imagina nem pelo muito obrigado. Quem manda não ser o único Branco no mundo?

Francisco Libânio,
01/09/12, 9:08 AM

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

0407 - Soneto pernambucano

A bandeira mais bonita dentre os estados e o frevo. Aqui o site onde achei a bela ilustração.

Meu rio xará faz um cotovelo
Em Petrolina. Rios, na capital,
Ornam-na bem e fazem da tal
Um cenário majestoso e belo,

Além dos rios, tem outro apelo
Que faz de lá lugar sem igual:
O mar mavioso, o azul celestial
Que no horizonte faz seu elo

Com o céu de mesmíssima cor,
Não bastasse o mar, o interior
Tem atrações as quais saúdo,

Tem Caruaru e tem Petrolina,
Tem Garanhuns quase alpina,
Tem Pernambuco, tem é tudo.

Francisco Libânio,
30/08/12, 10:39 AM

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

0406 - Soneto paraibano

Lagoa Sólon de Lucena, em João Pessoa. Uma cidade linda demais

Paraíba masculina? Mulher macho?
Papo é esse? Segura o preconceito,
Se quiser encontrar algum defeito
Procure aí qualquer outro despacho

Até porque o Lua, ao fazer tal taxo,
Disse foi louvando bem esse jeito
Forte sem perder nada de respeito
E nem querendo fazer de capacho

O paraibano, um povo gente boa
E festeiro seja lá em João Pessoa
Ou na forrozeira Campina Grande

E você aí, bobão, e seu mal falar,
Reserve passagem praquele lugar,
Não espere que ele bem te mande.

Francisco Libânio,
29/08/12, 6:19 PM

0405 - Soneto paroara

Círio de Nazaré, a principal festa do Estado do Pará

Paroara ou paraense, qual o certo?
Ambos cabem corretos, caro leitor,
O português aqui não foi opressor
E deixou o termo ao leitor aberto

Também ponha, o leitor, descoberto
O cabedal de atrações, o melhor
Do Pará. Belém de beleza e calor
Com a Ilha do Marajó ali por perto,

Sua cerâmica típica e tudo o que há
De bom, o cheiro, os sons do Pará
Lugar onde o Caribe faz pousada,

Se encanta e troca boa influência
E em meio a isso, da pertinência
De termo, a dúvida resta sanada.

Francisco Libânio,
29/08/12, 12:27 PM

terça-feira, 28 de agosto de 2012

0404 - Soneto mineiro

Drummond, um mineiro itabirano de ferro. Sou fã

Quem conhece Minas não esquece,
Quem não conhece perde demais,
Afinal uma temporada nas Gerais
Contempla bem qualquer interesse

Um lugar que a literatura fornece
Fernando Sabino e dons musicais
Dão Milton, Lô, Ana e outros tais
Um mês inteiro de visita merece,

E o Poeta, que tem ascendência
Mineira, pede com impertinência,
À Carlos Drummond de Andrade,

Que lhe valha o espírito de Minas
Para que tenha as melhores sinas
E enfrente a vida com mineiridade.

Francisco Libânio,
28/08/12, 1:35 PM

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

0403 - Soneto sul-mato-grossense

Um tuiuiu, a ave símbolo do Pantanal do MS

Desmembrou-se, virou Estado,
Herdou o nome do seu vizinho,
Agregou o sul, fez seu caminho
E ele está bem aí ao nosso lado,

Um rio que ao ser atravessado
Já está aqui. Ou lá. Instantinho
E ficam para trás o ribeirinho
De São Paulo, o Oeste afastado

E estamos já em Bataguassu
E vamos à morada do tuiuiú,
Corumbá? Bonito, espetacular?

Campo Grande capital faceira?
Ou Ponta Porã até à fronteira
E ir ao Paraguai para gastar?

Francisco Libânio,
27/08/12, 11:15 PM

0402 - Soneto mato-grossense

A bela Cuiabá e um dos seus três sóis

O que é continentalidade?
Viva dois dias em Cuiabá
E então você isso saberá
Sentirá o calor de verdade,

Mas estará numa cidade
Agradável, verde e dirá
Do calor, mas verá por lá
E pelo Estado variedade

De muitas belezas naturais,
Tamanha gama de animais
E também cidades pujantes,

Eis o Mato Grosso pantaneiro,
Amazônico, lindo por inteiro
Com temperaturas escaldantes.

Francisco Libânio,
27/08/12, 7:53 PM

0401 - Soneto Maranhense

São Luís, do Maranhão

Da bela ilha de São Luís
Aos lençóis; do reggae
Ao boi-bumbá e pegue
Da costa até Imperatriz

Ao rio todo o chamariz
Do Maranhão e agregue
O estilo francês, o jegue
No interior e toda matiz

Desse colorido tão vivo,
E teremos o justo crivo
De Patrimônio Cultural,

Eis o Maranhão, beleza
A viver com a pobreza
E ter na política todo mal.

Francisco Libânio,
27/08/12, 11:48 AM

0400 - Soneto (que não é) quatrocentão

Petrarca, o mais clássico dos sonetistas

Meu soneto não tem dez
Ou doze sílabas. Só rima,
E está bom. Não há lima
Que o pula. Tem lá o viés

De soneto, logo soneto és,
Digo dando toda estima
Digna de uma obra-prima
Sem enchê-la de rapapés,

E se ainda outros sonetos
Forem clássicos e repletos
Dou, eu, leitura e admiração

Os meus, chame-os modernos,
Vanguarda. Junto aos eternos,
Eles têm a mesma predileção.

Francisco Libânio,
27/09/12, 12:52 AM

domingo, 26 de agosto de 2012

0399 - Soneto da restauração absurda

Sobre o que inspirou esse soneto, ler aqui

Deu que na Espanha uma velhinha
Vendo um Jesus pintado vencido
Pelo tempo, desenho bem corroído
E precisando de uma arrumadinha

Então lá foi essa senhora, sozinha,
Foi dar à tela nova forma e colorido
Renovado. Um Cristo rejuvenescido
Surgiria pelas mãos dessa tiazinha,

O resultado? Oh, o horror, o horror!
Tal Jesus, além de perder seu valor,
Deixou de ser Jesus na sua feição

E disse um humorista com acerto:
Os paroquianos, após o conserto,
Passarão a adorar um mico-leão.

Francisco Libânio,
26/08/12, 10:14 AM

sábado, 25 de agosto de 2012

0398 - Soneto mortuário para Neil Armstrong


Ele, que deu um pequeno passo
Pra ele e grande pra humanidade,
Virou, graças a isso, celebridade
E o era sem qualquer embaraço,

Se Gagarin viu de perto o espaço,
Neil superou longe sua atividade,
Foi à Lua. Questionou-se a verdade
Disso. Viu-se um descompasso,

Duvidou-se. Tudo era mera teoria,
Armstrong esteve na Lua um dia
E virou herói pelo histórico feito,

E ele, que atingiu máximo limite,
Aceitou enfim e acedeu ao convite
De voar ao espaço etéreo perfeito.

Francisco Libânio,
25/08/12, 10:17 PM

0397 - Soneto Heterofóbico


Diz-se por aí. Há heterofobia!
Sejamos heterofóbicos então,
Sem piedade metamos a mão
No casal que, em paz, se sacia,

É homem-mulher? À porradaria!
Bem daremos um sonoro “não”
Ao casal hetero, essa aberração,
Que, em público, tiver ousadia,

De se beijar e abraçar. E a família?
Mantenhamos, pois, essa vigília
E extirpar a praga heterossexual

Já que as lésbicas e os gays,
Honestos e em dia com as leis,
Não sabem o que é isso, afinal.

Francisco Libânio,
25/08/12, 7:12 PM

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

0396 - Soneto mentolado


Uma bala estrategicamente posta
E um convite: É sua, vem pegar!
Como vou desobedecer, recusar?
Vacilo... Tá com medo? é a resposta

À indecisão. Sei que você gosta.
Ela provoca. Vou. Lá fico sem ar
Tiro a bala com a língua do lugar,
O sabor forte diz: Estou disposta!

E o gosto de mulher e de menta
Me enche de desejo e esquenta
O forte do sexo mais o frescor

Da bala convida. Vou outra vez
À casa da bala, gosto a acidez
Sem me enjoar daquele sabor.

Francisco Libânio,
24/08/12, 8:53 PM

0395 - Soneto goiano


GO ao mineiro é “goinorante”,
Desplante é a piada de linda,
“MG é Mais Goinorante” finda
O goiano com ar de triunfante

Mas de Minas pouco distante,
Goiás com as belezas brinda
Que são ou mais mineiras ainda
Ou tem encanto seu bastante,

Flor do Cerrado, do Planalto,
O goiano vê desse seu alto
Tudo que está ao seu redor

Produzindo dupla sertaneja
De monte, mas pense, veja:
Quer mais cara de interior?

Francisco Libânio,
24/08/12, 4:45 PM

0394 - Soneto do casal a três



Sobre o caso que inspirou esse soneto, ler aqui

A Justiça decretou aceita
A união de duas mulheres
E um homem. Três seres
Vivendo harmonia perfeita

Mas vem lá quem despeita
E chega cheio de quereres
Exigindo pra si os poderes
De se impor ao que rejeita,

Cale-se e deixe-os no conjugal
Ménage, está tudo normal
Nesse excêntrico conchavo

Mas ele é dos valentões,
Duas sogras e pensões?
Esse sujeito é um bravo!

Francisco Libânio,
24/08/12, 4:34 PM

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

0393 - Soneto rodrigueano


É que ler o velho Nelsão
Mistura nojo com prazer,
Suas damas a se perder
Na completa devassidão

E em casa, toda correição,
Pudicícia que dá pra se ver,
E dentro, tal tipo de mulher
Queremos por possessão,

Maldito Nelson boquirroto,
Conservador, velho escroto,
Se achava homem de bem

A defender costumes morais
E conhecia das perfídias tais
E todas melhor que ninguém

Francisco Libânio,
23/08/12, 10:48 AM

0392 - Soneto Capixaba


Parte esquecida do Sudeste,
Estão nesse Espírito Santo
Belezas de tamanho encanto
Que não há quem conteste,

Praias lindas num azul celeste,
E beleza serrana noutro tanto
Do estado. Causaria espanto
A quem conhecesse. Teste,

Então, o poder de desvendar,
Conheça lá o morro e o mar,
Deixe-se seduzir com as tais

Belezas do lugar pouco falado,
Aventure-se por aquele lado,
Dê razão aos turistas das Gerais.

Francisco Libânio,
23/08/12, 10:30 AM

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

0391 - Soneto folclórico


Você de vampiro, eu de curupira,
Você vai de duende e eu de saci,
Pretinho, perneta e que sai por aí
Pintando o sete. Há quem prefira

O misticismo alheio, quem adquira
Outra mitologia, mas eu aprendi
Que como lá fora, temos bem aqui
Nossa cultura e em torno dela gira

Minha reverência dando respeito
Ao que é de fora, de lá bem feito
Mas esse sou eu, ficamos assim:

Eu aqui com meu dia do folclore,
E você que espere e comemore
Essa babaquice de halloween.

Francisco Libânio,
22/08/12, 10:05 AM

terça-feira, 21 de agosto de 2012

0390 - Soneto candango


No meio de um Planalto vazio
Brotou uma cidade qual avião,
Asas Sul e Norte, localização
Estratégica com o bico ao Rio,

Era a Novacap. Por anos a fio,
A cidade foi alvo de imigração
Depois foi sede da Revolução
E aí viveu um período sombrio,

A democracia voltou à capital,
Presidentes foram ao pedestal
Bem como mil parlamentares,

Até hoje só não teve mudança
No hábito que faz a má pujança
Do roubo. Serão os secos ares?

Francisco Libânio,
21/08/12, 4:40 PM

0389 - Soneto para uma frase chata


“Toca Raul”, já disse o Baleiro,
É a frase mais chata que existe
Pra quem toca e quem assiste
Tem o risco de sair um merdeiro

Enxovalhando o maior roqueiro
Do país numa interpretação triste
Se quiser fama que a conquiste,
Crie, cante, ganhe seu dinheiro,

Seja você mesmo e deixe em paz
Os grandes. Se você for capaz,
Fará algo só seu, bom e bacana,

Por outro lado, vale bem refletir...
Que seja chato, mas prefiro ouvir
Toca Raul a Toca Luan Santana.

Francisco Libânio,
21/08/12, 4:13 PM

0388 - Soneto cearense


Da linda praia de Iracema
Em Fortaleza até o Horto
No Juá, digo no conforto,
Há no Ceará por emblema

A Natureza que, já foi tema
De Alencar e o mui absorto
Credo na fé no padre morto,
Santo ou não? Eis o dilema.

Mas tirando dessa reta o pé,
Vai-se a Jeri ou vai a Canindé,
Cuja procissão só é menor

Que a de Assis do meu xará,
Coisas que só tem no Ceará
Terra de fé, praias do amor.

Francisco Libânio,
21/08/12, 9:33 AM

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

0387 - Soneto baiano


Entre o binômio Pelô-Carnaval
Há ainda um e outro grupo de Axé,
Um inzoneiro a dizer no pé
E o Farol para iluminar o luau,

Mas a Bahia transcende o tal
Estereótipo. A tábua de acarajé,
A baiana, a escadaria pela fé,
Bonfim, capoeira e berimbau

Guardam muita baianidade,
Mas o Estado fica à vontade
Em deixar um espaço aberto

Para preencher de caetanos,
De rauls, gils e novos baianos
E arrematar com João Gilberto

Francisco Libânio,
13/08/12, 9:43 PM

0386 - Soneto amazonense


Entre a floresta e o boi-bumbá
Existem milhares de segredos
E ligações. Nesses arvoredos
Quantas minúcias nos contará

O caboclo, o índio ou o que há
Nesse Brasil que os arremedos
Contam ter mato e os enredos
Da Iara, do Saci ou do Boitatá

Entre tantas matas e tantos rios
O Estado guarda imensos vazios
E uma grande cidade por capital,

A gente mestiça, o embate celeste
E rubro que, tão longe do Sudeste,
Encanta com sua beleza sem igual.

Francisco Libânio,
13/08/12, 9:21 PM

sábado, 11 de agosto de 2012

0385 - Soneto amapaense


Do longínquo Estado do Amapá,
Onde a linha do Equador passa
E o pouco Norte o Sul abraça,
Além disso, o que mais sobre há?

Não sei. Eu mesmo nunca lá
Estive, mas me agradaria a graça
De conhecer e expandir a escassa
Informação. Conhecer Macapá,

Andar sobre a tal imaginária linha
E me divertir numa brincadeirinha
Pular do Sul ao Norte e aí voltar

Inúmeras vezes repetindo a peça
E ir a Oiapoque, de onde começa
O país e até a outra ponta andar.

Francisco Libânio,
11/08/12, 9:08 PM

0383 - Soneto alagoano


Se há lindas praias em Maceió,
Falta água em parte do sertão,
Beleza e miséria, contradição,
E demais, para um estado só

Um e tão pequeno que dá dó,
Alagoas tem no litoral a atração
Um mar e além dele linda visão
E música muito além do forró,

E se o estado tem lá a miséria
Isso não lhe é exclusiva matéria
E, ainda que pareçam eternos,

Os culpados por isso sabemos
Quem são. Um nós o elegemos
Lesados pelos tempos modernos.

Francisco Libânio,
11/09/12, 8:38 PM

0382 - Soneto acreano


Nascido no Acre é acreano
E dane-se a nova ortografia
Porque Acri é uma fantasia,
Logo não existe o tal acriano!

Assim sendo e do engano
Longe é de longe que espia
O Estado do qual a aleivosia
Riu e que a inteligência nano

Decretou boba: Não existe!
Não existe é você, oh triste
Criatura de cérebro manco!

Você, ilhado pela ignorância,
Visse a beleza, vencia distância
E se mudaria pra Rio Branco.

Francisco Libânio,
10/08/12, 11:04 PM

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

0381 - Soneto para o segundo terceto


E eis que chega o fim, afinal,
Do soneto. Três versos, já era!
Mas senta, acalma e espera,
O soneto exige um bom final,

Os versos exigem uma total
Consonância. Assim impera
Reler tudo o se que escrevera
Mais repraticar todo o ritual

Mas se o soneto chegou aqui,
E se onze versos saíram daí,
Vale a pena o último esforço

Escreve atencioso este terceto,
E conclui tranquilo o soneto
E some medo, culpa e remorso.

Francisco Libânio,
10/08/12, 8:31 PM

0380 - Soneto para o primeiro terceto


Aí o poeta, todo lindo e folgazão,
Pensa “É como escrever hai-kai!”
Tá bom, bonitão, assim você cai
Certinho. E mais duro que o chão

É ver que o terceto tem a função
De remeter ao final que logo vai
Vir e ao menos esperar ele se esvai
E não se falou o que era intenção,

É, nego, eis o nosso amigo terceto,
Te dá a mão e acha lindo o soneto,
Mas é um belo fura-olho o safado,

Então não o veja como um versinho,
O terceto é convite ao descaminho
E será um desastre se mal usado.

Francisco Libânio,
10/08/12, 10:54 AM

0379 - Soneto da segunda quadra


Do começo do soneto distante,
Mas da outra margem ainda
Longe, a outra quadra deslinda
O soneto. Deve levá-lo adiante,

E entregá-lo belo e triunfante
Aos tercetos, mas na berlinda,
O verso que as quadras finda
Sente que a tarefa é bastante

Árdua, mas o faz. Corretamente,
A segunda quadra põe a frente
Na escrita e depois descansa

Agora é com vocês aí, os seis
Finalizadores. E eles como reis
Entram firme para essa dança.

Francisco Libânio,
10/08/12, 10:25 AM

0378 - Soneto da primeira quadra


Abre-se o soneto. Tome um verso
E outro. E forma-se a quadrinha,
E até lá em quantas se definha
Uma boa ideia. Já fiquei disperso,

Já desisti, fiquei horas submerso
Até chegar o final da quarta linha,
E já teve vez que ela nunca vinha
E virava um jogo triste e perverso,

Mas, em geral, na primeira quadra
O soneto se apresenta e enquadra
O que vem por aí. Precisa seduzir,

Precisa prender usando o encanto,
O poeta bem sabe disso, entretanto
É essa a parte mais difícil de sair.

Francisco Libânio,
10/08/12, 10:11 AM

terça-feira, 7 de agosto de 2012

0373 - Soneto para a esgrima


Nenhum esporte lembra mais
Tempos idos com constância
Nem traduz deles a elegância
Ou remete a clássicos arsenais

Que a esgrima. Lá, dois iguais
Vestidos com toda circunstância
Medem-se, tomam-se à distância
E encaixam golpes tidos fatais,

E além disso, olha que elegante!
O juiz fala em francês e adiante!
Pura classe pra quem ouve e vê,

Se é florete, sabre ou espada,
Pouco importa, vale a pensada
Estratégia, a investida e touché.

Francisco Libânio,
07/08/12, 9:34 PM

0372 - Soneto para a luta greco-romana


Tome-se dois sujeitos taludos,
Aí meta neles uma malha justa
Que nos apolíneos peitos ajusta
E façam os tipos carrancudos,

Depois, como lordes classudos,
Deixe-os lutar uma luta augusta,
Dê à modalidade posição vetusta
E dê muito garbo aos graúdos,

Agora temos a luta greco-romana,
Que lembra e alude a algo sacana,
O que é coisa do seu preconceito,

Mais soa um combate não violento
Que o clássico embate sangrento
E se não conhece, ofereça respeito.

Francisco Libânio,
07/08/12, 9:14 PM

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

0370 - Soneto para o boxe


Nobre arte? Eu dou outro nome:
Sobrevivência, mais: Instinto
Há muito o homem, se faminto,
Briga para saciar sua fome,

Se contrariado ou atrás de renome
Contra o outro forma um sucinto
Embate. Vencer faz dele distinto,
E distinto melhor procria e come,

Vem de lá a natureza do boxer
E aquilo queria, hoje ele quer
A glória na luta agora esporte,

E comparado com a vil crueza
Dos ultimates, realça a certeza
Do boxe ser nobre e ter porte.

Francisco Libânio,
06/08/12, 9:55 PM

0369 - Soneto para o badminton


Dizem que em popularidade
É o segundo, o que é claro...
Numa partida em que encaro
Um chinês da modalidade

Fera contra outra sumidade
Indiana não me parece raro
Que tal jogo chame o faro
De pouco mais da metade

Dos viventes. Vou assistir
Também. Dá vontade de rir
Desse tênis com peteca

Mas vem um dado momento
O jogo fica bom, eu aguento
E adio uma prevista soneca.

Francisco Libânio,
06/08/12, 9:37 PM

0367 - Soneto para o atletismo


Não há esporte que melhor teste
O homem e por isso a excelência
Do nome. Prova-se a eficiência
De pernas e braços. O atleta investe

Contra o tempo e tem apenas este
Como aliado e inimigo. Incoerência?
Se a marca foi única competência
Dele haverá algum que o conteste?

Sim. Na raia ao lado, o adversário
Mete contra o tempo qual corsário
E tira dele um centésimo precioso

Agora o tempo precisa ser roubado
Outra vez. E o atleta mais capacitado
Ao fazer fará o esporte mais honroso.

Francisco Libânio,
06/08/12, 9:00 PM

domingo, 5 de agosto de 2012

0365 - Soneto olímpico para Maurren Maggi


Entre ela e a caixa de areia
Há um invencível universo,
Um caminho reto e adverso
Que em quilômetros margeia,

Mas aí vem ela e o permeia
E o que parecia vira o inverso,
Milhar em metros converso,
Aquele universo todo vira meia

Rua, fácil para qualquer um,
Correr e saltar, problema algum,
Mas pra isso precisa ser ela,

Precisa se depurar das falhas,
Precisa ir além das medalhas
E ser inigualavelmente bela.

Francisco Libânio,
05/08/12, 1:37 PM

0364 - Soneto olímpico para as irmãs Williams


Venus, Serena, há até quem estranhe
Duas negras empunhando raquetes?
O tênis em que surgem ramalhetes
De cem brancas. Há que se assanhe

E, ignorante, duvida que a dupla ganhe
Mas quem duvida, ao ver suas vedetes
Alvas sofrendo e perdendo. Os topetes
Caem. A dupla negra vence. Acompanhe,

Pois, e veja que as ebenáceas musas,
Que aos olhos desses soam intrusas
No mundo branco, endinheirado e elitista

Do tênis são panteras fenomenais,
Jogam muito e são lindas demais,
Porrada feia na mentalidade racista.

Francisco Libânio,
05/08/12, 10:54 AM

0363 - Soneto olímpico para Isanbayeva


E com os olhos azuis, ela mira
Estão lá pista, sarrafo e altura;
E o que seria uma tarefa dura
Para ela brincadeira trivial vira,

Então, ela se concentra, respira,
Analisa o vento, parte e apura
O momento, toma envergadura
E ela salta e logo ela se estira

Do outro lado vinda do alto
Após estar lá em breve assalto
E de trazer de lá uma vitória

Recorde? Talvez ele também,
Venha, mas se não, tudo bem,
Ela já se sublinhou na história.

Francisco Libânio,
05/08/12, 9:52 M

0362 - Soneto olímpico das belas mulheres


Seja atletismo ou vôlei de praia,
Seja no hóquei ou no handebol,
Ou uma ou outra no basquetebol
Em tudo há beleza que atraia,

Lá corpos torneados numa raia
A correr ou na areia sob o sol
Douradas um novo nome no rol
De deusas seja ela paraguaia

Ou russa, brasileira ou americana
E (por que não?) seja africana
Não lhe importa a nacionalidade,

A beleza atlética é dom universal,
Os jogos trazem o motivo opcional
Caso o esporte não dê vontade.

Francisco Libânio,
05/08/12, 9:24 AM