sexta-feira, 19 de março de 2010

A Mulher Nua

Essa história começa num bar. O que pode haver de “cronicável” num bar sendo que todo mundo, ou quase, vai a um bar tomar sua santa cerveja, conversar com os amigos, ver gente diferente enfim? O problema é que nesses bares, por diferentes que sejam as pessoas, elas parecem sempre iguais. Mas o que aconteceu com nosso amigo foi, realmente, digno, não de uma crônica mas de uma coletânea de mentiras masculinas não fossem os fatos que se deram no discorrer do caso.

Muito bem, estava lá o sujeito, ao balcão, tomando sua cerveja num bar aconchegante da cidade quando senta ao seu lado uma mulher. Normal, afinal mulheres também freqüentam bares e a situação não seria nada nova se a mulher em questão não estivesse absolutamente nua. O cara olhou os seios abertos da mulher e de cara, antes de cantada, pensou que era uma dessas pegadinhas dominicais. Perguntou alto onde estava a câmera e a moça não deu a menor atenção à procura dele. Ele também pensou que a emissora podia arrumar uma atriz mais bonitinha para o papel. Não que a moça ao seu lado fosse feia, mas esses programas de pegadinha costumam caprichar em mulher gostosa. Alheia a essa parafunça toda, a moça nua pediu um drinque a foi atendida. O moço do balcão nem dava pelos seios nus da morena. Tratava ela como se fosse o outro rapaz e trataria mesmo que fosse um rinoceronte, desde que pagasse a conta no final. E a moça, apesar de estar sem bolsos, estava com carteira.

Quando se deu conta que não tinha câmera nenhuma em lugar nenhum, o cara resolveu voltar ao chão da realidade e fazer o que todo homem faria ao ver uma mulher nua. Perguntar o nome:

- Márcia – respondeu ela sem querer prolongar o assunto.

- Muito prazer, Hélio.

O prazer parecia ser todo dele. Ela tomava seu drinque sem nenhum interesse pelo moço. Moça difícil, ele pensou. Só porque tá aí pelada e bonita, fica sem dar confiança pro mundo. De repente, chega pra ela uma porção de queijo. E a danada sequer ofereceu. Comia um por um com o que ela achava ser classe. Ele resolveu pedir uma porção de presunto pra acompanhar a cerveja. Quem sabe, ela iria se interessar e podiam negociar um queijinho por um presunto, dois presuntos por um beijinho. Nada. Chegou a porção dele e ela nem aí. Ela ficou ali comendo, bebericando. Não tinha ninguém no bar. Algumas pessoas até chegavam, saíam. Algumas a cumprimentaram e não deram por ela estar nua. Parecia normal.

- Oi, Marcinha, tudo bem, linda?

- Oi, Michel, como você está? E a Milena? Manda um beijo pra ela e pras crianças. Tô devendo uma visita.

E o cara, que parecia ser casado, sequer dava uma bolinada nos peitos dela. Era um clima de respeito demais. E não foi o único. Parecia que ele era o único que reparava naquela moça nua num mundo em que roupas são moda e, mais que isso, obrigação. Aposto – ele pensou – que se fosse eu que estivesse aí sem roupa, baixaria um policial aqui e me prenderia por atentado ao pudor. Começou a ficar despeitado em relação à moça:

- Ela não sabe o que está perdendo.

Despeito considerado, o cara não tirava os olhos dela. Tornou-se mentiroso:

- Você não quer dar uma volta no meu Porsche depois que sairmos daqui?

Ela nem olhou pra ele. Passou algum tempo e veio seu lado canastrão:

- Você é muito linda, Marcinha, permita-me chamar assim. A nora que minha mãe pediu a Deus.

Nada, a pelada continuava bebericando seu drinque e pediu outro nem notando a presença do outro, que resolveu lançar-se ao patético:

- Você é a mulher mais linda que eu já vi em minha vida, Márcia. Por favor, me leve com você para onde você for daqui. Topo ir até o inferno se for com você, mas por favor, fique comigo essa noite!

Nada. A situação já tinha passado do ridículo faz tempo quando ele resolveu partir pro lado machista, canalha. Fez que ia ao banheiro e, passando por trás dela, deu-lhe um abraço e apertou os seios da moça beijando sua nuca com uma leve bolinada. A moça saiu do sério e lhe plantou a mão na face, um tapa estalado e sonoro. Tão sonoro que ele acordou. Eram quatro e meia da manhã e ele suava frio. Amanhã procuraria um analista. Até a mulher dos seus sonhos lhe dera um toco.


Francisco Libânio,

16/03/10, 8:29 PM


Foto extraída do blogue Desejos Íntimos

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