terça-feira, 31 de agosto de 2010
Vácuo
Eu agradeço pelo que fizeste em minha vida
Que em poucos meses aconteceu como anos
Meteoricamente, criando ideias, dando planos
Enquanto me fazia amado e eu te fazia querida
Eu peço desculpas pelos meus erros humanos
Demais que a persistência tentou pôr perdida
A história mais bonita que foi contigo dividida
E foi bonita e marcante apesar de tantos danos
Eu não falo mais nada, pois minha boca peca
Quando fala de ti. De árvore frondosa faz seca,
Do colorido que nos envolvia só resta o opaco
Acinzentado e árido que é e um invernal vácuo
Em que não se respira, não se olha, não se sorri
Nem deixa provar o amor que ainda sinto por ti.
Francisco Libânio,
31/08/10, 1:52 AM
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Exercício ou tentativa de poema 01
Qualquer dia, meus sonetos escritos e incógnitos,
Por atacado, vivos além do poeta que os escreveu,
Serão lidos por alguém e este alguém que os leu
Crerá que eles são algo mais do que só insólitos
Ou apaixonados demais ou sem algum conteúdo
Ou falsamente rebuscados. Quem os ler sentirá
Que em meu tempo sentimentos existiram e que há
Solução, mas e daí? Até lá terá se acabado tudo
Este poeta que os escreveu sem ser lido sequer
Pela mulher que amou, mulher esta que também
Não existirá mais e que nem poderá se defender
Casos os leitores acusem-na pela alma impiedosa
Por não amar quem a amou. Mas até aí, tudo bem,
O poeta, enfim lembrado, agradece a menção honrosa.
Francisco Libânio,
30/08/10, 7:03 PM
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Das boas intenções
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Na Montanha
O povo se amontoa para assistir um Doutor
Sem instrução, sem diploma, sem nenhuma
Especialização. Apenas espera e se arruma
Para escutar do alto da montanha aquele Orador
Eis que aparece Ele e com simples frases
O povo é agraciado com tantos ensinamentos,
Tanta sabedoria, paz e todos os alentos
Para que aquela gente pacata crie bases
Para uma vida melhor, não mais abastada,
Mas mais rica humana e espiritualmente
E aquela montanha nos legou boas heranças
Ficando para todo o sempre lembrada
Por nós, que sem a sorte daquela gente,
Tivemos escritas dali as bem-aventuranças.
Francisco Libânio,
24/08/10, 12:58 PM
terça-feira, 24 de agosto de 2010
01 - 23-08-10
Que a loucura da cama esteja além dela,
Que a disposição de amar deitados viva
Quando nos levantarmos e esteja altiva
Para quando tivermos medo de perdê-la
Bem como estivermos perdendo o senso
E que sejam esta loucura e esta disposição
Combustível e alicerce para nossa paixão
No momento mais fraco e no mais intenso
Que a loucura e a disposição sejam juízas
De todas as nossas decisões mais sensatas
E provoquem nossas melhores loucuras
Para nos abraçarem com as doces brisas
Dos amores em violentíssimas cascatas
Após vencermos no cotidiano as agruras.
Francisco Libânio,
23/08/10, 1:54 PM
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
77 - Um beijo à noite em meio ao sono
Um beijo à noite em meio ao sono
E o sonho que eu vivia se fazia real,
Mais um e outro e então acabava o mal
Que eu vivia dormindo em abandono
E outro beijo, agora na boca, um estalo
Silencioso, tuas mãos antes nas costas
Envolviam meu corpo a fim de tomá-lo
Depois sobre meu peito estavam postas
O olhar sério, sereno e um pouco moleque
Desafiava o meu que acordava aos poucos
Como se pusesse nosso amor em xeque
Agora era te amar como nunca foste amada,
O sono que acabasse. Recusar era aos loucos
E eu te amei até te ver sobre mim deitada.
Francisco Libânio,
22/08/10, 8:00 PM
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Uma rosa morreu
Uma rosa morreu. Lastima-se o Jardim,
A beleza da rainha das flores é passado,
O presente é uma tristeza que, sem fim,
Deixa-o mais opaco e esbranquiçado
Sobra agora o espaço que era da rosa,
Insubstuível? Talvez. O futuro é incerto,
Mais feio, com certeza, e mais esperançosa
É a previsão do que está em aberto.
Nascerá uma outra rosa assim tão bonita?
Será ela assim, tão rubra e tão perfeita?
Merecerá alguma flor o lugar que era seu?
Não se sabe. Cabe agora velar a proscrita,
O Jardim é o presente com a célula desfeita
E chora, como um peito, a rosa que morreu.
Francisco Libânio,
19/08/10, 7:15 PM
domingo, 15 de agosto de 2010
Soneto para minha Ansiedade
Aquieta-te, minha rebelde Ansiedade,
Não grites que – já disse – não há ouvidos
Para ti, para tua euforia ou teus gemidos,
Para tua mentira ou para tua verdade
Põe-te no teu lugar em meus sentidos
E fica lá quieta, pois tua celeridade
Não ajuda e teu vagar vira maldade
Mais venenosa que teus horrendos ruídos
Acalma-te, Ansiedade, que o que queres,
Sei muito bem e será teu fim infalível
E é o fim merecido para todos os seres
Como tu. Logo chegará meu grande Amor,
Então morrerás e te mostrarás sensível
Dando espaço a algo que ti bem melhor.
Francisco Libânio,
15/08/10, 12:25 AM
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Pra quando chegares
Eu não colocaria coroas de flores na porta de casa nem uma faixa pra dizer o quanto estou feliz em te ver de novo. Porque as coroas de flores me cheiram despedidas e as faixas parecem publicidade, seja comercial seja política. E meu peito não precisa soar como patrocinadores nem como apoios com intenções espúrias.
Eu não diria que estava com saudade nem recitaria um versinho. A saudade existia até eu saber que virias e o versinho poderia soar piegas ainda que fosse um soneto de Vinicius. Além do mais, tudo o que devia ser escrito sobre amor já foi. Eu não saberia ser novo, não saberia ter o impacto necessário pra deixar o momento mais especial.
Por isso, estarei à porta de casa de mãos nuas, boca fechada, mas coração cheio. Quando eu te vir virando a esquina, apenas curtirei a curtíssima eternidade que nos separa até o beijo que selará a tua volta. Como foi ontem e como será amanhã. Mais um dia acabou e outro dia virá.
E amanhã estarei com as mesmas dúvidas sobre como te receber bem e o que fazer pra quando chegares.
Francisco Libânio,
13/08/10, 9:36 PM
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Hai-kai de improviso
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Soneto de Monotonia
As horas passam... Que passem porque não faço conta
Do que elas fazem. Isso é problema só delas,
Exclusivamente. Eu fico aqui somente a vê-las
E isso me alivia ao tempo que me desaponta
Alivia porque se elas passam por mim à tonta
É sinal que estou vivo a ponto de entretê-las,
Mas desaponta, pois ao mesmo tempo que elas
Passam, grão a grão minha vida se desmonta
Eu estou aqui, sem fazer nada sem dar sentido
À minha vida e as horas, que comigo têm vivido
São menos as úteis do que as que foram ociosas
E enquanto as horas passam, uso me fazer poeta,
Até escrevo para essas horas vadias. Isso completa
Minha existência enquanto elas se crêem vitoriosas.
Francisco Libânio,
09/08/10, 6:02 PM
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
76 - Não queiras resolver as complicações humanas
Não queiras resolver as complicações humanas
Porque és apenas de todas elas mísera parte
E, mesmo elas vivas em tuas horas cotidianas
Resolvê-las não fará de ti nobilíssimo baluarte
De sabedoria. Discute, fala, retruca, pede aparte,
Mas não tomes as rédeas dessas espartanas
Missões. Tu sozinho, é mais um e de fácil descarte
Se enfrentares de peito as resoluções tiranas
Das mentes humanas. Abandona as revoluções,
Abdica da grandiosidade, põe-te ao pé do chão
E olha pra cima, mas toma as tuas pretensões
E põe elas aos teus olhos que elas irão crescer,
Farão exemplos e vão arregimentar uma multidão
Que, ao fazer o mesmo, ajudará a tudo resolver.
Francisco Libânio,
09/08/10, 5:19 PM
domingo, 8 de agosto de 2010
Paternidade
Um homem só sabe o que é eternidade
Quando ela tem começo e fim, prazo
Contado. A espera segue a velocidade
Da paz, que da pressa não faz caso
Enquanto o homem já reclama o atraso,
O tempo se cumpre com tanta fidelidade
Que o homem já espera a mão do acaso
Para um atalho até a plena felicidade
Mas nem mesmo o acaso ajuda. Passam anos,
Séculos nessa espera em que o eterno
Não acaba, mas tem hora para acabar
E o homem usa esse tempo para planos
Acariciando o ventre cultivado tão terno
Esperando ansioso o filho que irá chegar.
Francisco Libânio,
08/08/10, 12:27 AM
sábado, 7 de agosto de 2010
As mãos percorriam meu corpo com tamanha
As mãos percorriam meu corpo com tamanha
Devassidão que não havia como dizer nada
Que ousasse te parar. E se dissesse, calada
Seguirias surda a mim e fiel só à tua sanha
De querer ter e de me dar prazer. Tal tua manha
E o dom para a luxúria de tuas mãos que cada
Toque de teus dedos deixava a pele arrepiada
E tinhas a certeza que nossa noite estava ganha
Depois de tuas mãos, o roçar dos teus mamilos
Em meu peito e de tua boca à minha beijando
Domou meu amor e instinto pondo-os tranquilos
Este por que estava ansioso para te consumir,
Aquele porque se achou em doce paz quando
Teu corpo com o meu estava louco a fremir.
Francisco Libânio,
07/08/10, 8:56 PM
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Simplicidade
Simplicidade é uma flor branca num jardim colorido
Todas as outras flores vestidas de gala, de modelos
Diversos se esforçando para que possam vê-los
Enquanto o branco poderia passar despercebido
Mas não passa. Este branco envolto de tanta pureza
Atrai olhares e deixa de lado o colorido das flores
Faz ser menor todo o arco-íris e todas as cores
E tonalidades somem diante da simples beleza.
Assim é meu amor. Nem as cantigas nem as poesias
Rebuscadas de palavras pomposas que não conheço
Tem em sua erudição um fiapo do meu apreço
Posto no eu-te-amo que te dou todos os dias.
Francisco Libânio,
06/08/10, 12:07 PM
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
75 - Coisa mesquinha que é isso chamado saudade!
Coisa mesquinha que é isso chamado saudade!
Mais que isso, ela é manipuladora e oportunista
Porque faz de tudo de bom que alguém conquista
Uma tristeza distante. E com requinte de crueldade,
Ela ainda faz com que tudo o que nos faz bem
Seja objeto de aversão. Então põe tal lembrança
Misturada com todo o medo e toda desconfiança
E o resultado dessa mistura nos leva nunca além
De tudo o que não queremos sequer imaginar. Lá
A mente se debate contra tudo o que de pior há
E a saudade nos vence, mas sua maior fraqueza
Está aos nossos olhos. Ela é infinitamente inferior
Às nossas lembranças e baixinha. Então basta pôr
Todas elas ao alto e não lhes alcançarão tal vileza.
Francisco Libânio,
02/08/10, 8:09 PM