sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

1520 - Soneto do aie-aie

Não é o que você está pensando, peraí!

Bicho estranho era o macaquinho
De Madagascar, Austrália africana,
De fauna exuberante, tanto insana,
Mas esse era estragado, tadinho!

Eis o aie-aie, tão feio, pequenininho,
Na ilha tinha fama diabólica e tirana
E mais: tinha um dedo meio sacana,
Maior que os outros. Esse dedinho

Sendo o médio e, assim avantajado,
Mais soava por desaforo. O coitado
Era xingado e chamado pra porrada.

Caçar larvas? Inventa outra história!
Não bastasse a aparência vexatória,
O agouro, o aie-aie tinha tal maçada.

Francisco Libânio,
26/02/14, 2:00 PM

1519 - Soneto da lêmure

Puta lugarzinho chato aqui...

A lêmure, excêntrico primata,
Ilhado na longe Madagascar,
Via da praia através do mar
A África que muito arrebata

O coração. Vem a intimorata
Ideia de cair na água e nadar
Até o continente, o seu lugar
No mundo e não a ilha chata.

Caiu na água e nadou rumo
À África, só que, sem prumo,
Pra natação, o mar o venceu.

Antes que se afogasse voltou
À ilha e nunca mais se ousou
Ao mar. Amava esse chão seu.

Francisco Libânio,
26/02/14, 8:01 AM

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

1518 - Soneto do chimpanzé

Vai tomar no cu, Darwin!

O chimpanzé parecia bem com humano,
Isso mais o emputecia que o agradava.
O homem, que lá dos tempos da clava,
Já tinha um jeito irresponsável e insano;

Mais procurando provocar maior dano
Ao bando que ajuda-lo. Mais deprava
Que preserva com a arrogância brava.
Pensava a racionalidade ser o engano,

E a inteligência ser um terrível defeito.
O chimpanzé sabia não ser o perfeito,
A criação máxima, mas tinha a certeza:

O homem também não era e esse tal
Darwin devia tomar uma surra de pau,
Macacos, diferente, tem mais nobreza.

Francisco Libânio,
25/02/14, 12:28 PM

1517 - Soneto do mandril

Elegância pura!

Diferente do primo babuíno, o mandril
Queria ficar em cima com seu colorido
Facial e traseiro e o cabelinho lambido.
Enfim, ser o mais bonito que já se viu.

E, vaidoso, valia todo e qualquer ardil
Para ficar lindo e não ser confundido
Com seu primo e ficava todo mordido
Se, por acaso, seu cromado corpanzil

Passasse despercebido. A maldade,
Claro, vinha. Dizia-se da sexualidade
Era levantada e de macaco a veado

O mandril era posto. Mas e daí? Era?
Se fosse, ele estava nem aí pra galera,
Veado pode ser, mas não desarrumado.

Francisco Libânio,
21/02/14, 5:22 PM

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

1516 - Soneto do babuíno

Beijo no ombro pra vocês.

Entre os bichos feios, o babuíno
Pleiteava o prêmio. Bunda pelada
E cara peluda sem combinar nada,
Ele se julgava ser o feio genuíno,

O feio com qualidade, cristalino,
Mas na floresta era bem acirrada
A disputa. Merecia ser empatada.
Mas o macacão se julgava o fino

De feiura. Disputa mesmo, embate
Nunca houve. Seria um disparate
Dar ao mais feio a feia deferência.

O babuíno outorgou, assim sendo,
Seu o louro. Agraciava ser horrendo
E zombava a geral pela desistência.

Francisco Libânio,
21/02/14, 12:09 PM

1515 - Soneto do gorila

Eu sou um cara legal.

O gorila andava muito, muito puto.
Graças ao King Kong, a sua fama
Era a de um gigante que derrama
Violência gratuita sendo um bruto,

O valentão que não guardava luto
Quando matava tocando o drama
Na civilização e raptando a dama
E escalando feroz como resoluto

O Empire State derrubando avião
Que nem mosca. E era um bobão
Na vida real e nem era tão gigante.

Tinha bom coração e era recatado,
Mas já que o mal o fez tão afamado
Usava-o no bando por comandante.

Francisco Libânio,
21/02/14, 8:57 AM

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

1514 - Soneto do facoquero

Late que eu tô passando!

O facoquero, porco selvagem,
Javali africano, pobre, era feio!
E tão feio que não tinha floreio
Para amenizar essa mensagem.

E sofria gozação em passagem,
A bicharada fazia dele o recreio,
A diversão sem dó e sem rodeio.
Ele, coitado, sem ter vantagem

De se defender tal seu desgrenho.
Mas aí ele viu o famoso desenho,
O Rei Leão, e ali um coadjuvante,

O Pumba, o facoquero bonitinho.
De lá acabou o que era daninho
E o facoquero anda até galante.

Francisco Libânio,
20/02/14, 6: 47 PM

1513 - Soneto do ocapi

Já tive muito complexo, às vezes fico meio de cabeça baixa.

Parente da girafa, o ocapi
Foi, há pouco, encontrado.
Sobre a família perguntado
Ele disse: Pouco a conheci.

Mas pela pescoçuda, já vi
Que o resto é engraçado.
Falava e parecia magoado,
Pois vivia andando por aí

E só a girafa era a famosa,
E em dada altura da prosa
Perguntaram pelo sumiço

Por esse tempo. Respondeu
As patas que Deus me deu...
Feias. Foi fogo vencer isso!

Francisco Libânio,
20/02/14, 12:27 PM

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

1512 - Soneto do búfalo

Vai reinar lá com as tuas negas!

O búfalo, em sua manada,
Búfalo pra tudo que é lado,
Andava lá despreocupado,
A turma não era incomodada

E quem toparia uma parada,
Correr risco de ser chifrado
Por um búfalo muito irritado?
O leão acha que não dá nada

E segue um perdido bezerro,
Que ao vê-lo, abre um berro
Para azar desse pobre leão

O bezerro é filho do chefe
E o leão vira um mequetrefe,
De rei das selvas a fujão.

Francisco Libânio,
20/02/14, 7:55 AM

1511 - Soneto do elefante

Chateado!

Tamanho contasse, o elefante
Tomaria do leão essa tal coroa
De rei dos animais. E era boa
A ideia. Tratou de levar adiante

Em ser o rei. E propôs diante
De todos um pleito, isso soa,
Ao leão, golpe, mas a patroa,
Dona leoa, o acalma e garante:

Seguirás rei. Deixe que ele fale
E que se vote. A urna que vale.
Votou-se. Vitória leonina e festa!

O que prova, tamanho contasse,
O elefante reinava sem impasse
Tanto no circo como na floresta.

Francisco Libânio,
19/02/14, 7:23 PM

domingo, 23 de fevereiro de 2014

1510 - Soneto do hipopótamo

Motorzinho nãããããoooo!!!!!

O hipopótamo, metido a valente,
E valente, punha medo no leão,
Fazia valer sua fama de brigão
Pois se tinha briga, ia em frente.

O hipopótamo era concorrente
Brabo e gostava de confusão,
Não corria, tudo se fazia razão
Pra arrumar algum oponente.

Mas ele tinha lá um segredo
Guardado como um rochedo
E que ele nunca deu na vista

Mas o brigão, como criança,
Chorava e só fazia lambança
Ao abrir a boca pro dentista.

Francisco Libânio,
19/02/14, 12:02 PM

1509 - Soneto do rinoceronte

Esbanjando charme e matando azinimiga de inveja.

O rinoceronte com o chifre no nariz
Acordou e decidiu ser a tendência
Ter esse chifre. Buscou eloquência
Para convencer como o chamariz

É bonito e elegante; como faz feliz
Quem usa e locupleta a existência
Do vivente. Usou de sua sapiência
Para se destacar nesse showbizz.

Um ou outro bicho até comprou
A ideia e fez do chifre um show
Estético ficando estranho posto

No nariz, mas o tal do sucesso
Esperado foi exatamente avesso.
Os bichos tinham bom gosto.

Francisco Libânio,
19/02/14, 8:17 AM

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Poema de fuga 10

Sempre uma novidade.

Cada verso meu,
Acho sempre...
Alguém já o escreveu,
Mas se nunca o li
Como o outro poeta,
No papel,
Eu já o existi.

Francisco Libânio,
30/12/13, 10:36 PM

1508 - Soneto do gnu

Bora pegar uma praia e curtir as gostosas, moçada!

O gnu saiu em manada. Milhões
De gnus a flanar naquela savana
De meu deus, a pradaria africana,
Enfrentando temíveis situações.

Passam pelos rios a mergulhões,
Pisam em crocodilos com a gana
De sobreviver e seguir a caravana
Pela aí a desbravar esses rincões.

É certo que o gnu viva em bando,
Mas tantos! Fico cá eu pensando:
Deve ser porque são muito feios!

Imagina separado, achar parceira
Pra copular. Tem solução caseira
No bando para dar aos galanteios.

Francisco Libânio,
18/02/14, 7:32 PM

1507 - soneto da girafa

Eu, me preocupar?

A girafa comia dos arvoredos
Só as folhas altas e, altaneira,
Sobrevivia à incansável zoeira
Dos baixinhos, os arremedos

Dos chatos que, tão azedos
Em comer a refeição rasteira,
Desejavam a ela a caganeira
Pior. A girafa, sem ter medos,

Seguia comendo em boa paz,
Não olhava pra baixo, pra trás
Nem pro lado e, sem desacato,

Se a enchiam demais, a girafa,
Lembrava o desejo sem estafa
E cagava na cabeça do chato.

Francisco Libânio,
18/02/14, 12:09 PM

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

1506 - Soneto da zebra

Presidiária o cacete! É meu pijama, caramba!

Sempre chamada de presidiária,
A zebra achou que já tinha dado
A brincadeira e algo foi mudado,
A pelagem preto-branca binária

Pensou numa coisa mais operária,
Séria, um marrom algo desbotado,
Sem listras, sem nada intercalado
E foi tratar da nova indumentária.

E voltou à roda tão irreconhecível
Que cessou o apelido de horrível
Que julgou a neozebra sem pôr fé,

De um listrado que valia gozação,
Mas era dela o charme e atração,
Ficou pior que qualquer pangaré

Francisco Libânio,
18/02/14, 8:03 AM

1505 - Soneto do guepardo

Vem aqui me chamar de chita!

O guepardo era um puta atleta,
Corria cem metros pondo aflita
A caça com a rapidez inaudita
E a concorrência toda inquieta.

Merecia Olimpíada ou, já direta,
Uma medalha, mas lá a maldita
Antitorcida o chamava de chita
E esse nome pegou. A etiqueta

Estava Chita. Ele ficou uma fera
E em vez de rugir qual se espera
Dum felino, ele latiu. Risada geral!

Pois quem riu teve que ter perna
Pra fugir do guepardo na baderna.
Pois quem riu e ficou se deu mal.

Francisco Libânio,
17/02/14, 8:49 PM

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

1504 - Soneto do leopardo

Nem aí pra esses papos.

Enquanto isso, em sua terra,
O leopardo é um terrível vilão,
Mata sem piedade e perdão
E toca o terror quando berra.

Acha que, pronto pra guerra,
Ele vai ter inveja? Ora, atenção!
Ser bad boy dá mais emoção
Do que tempo que se emperra

Achando pelagem mais bonita,
Quem é mais foda, quem imita
Quem e mandou dizer à prima

Sul-americana que deixe pra lá
Quem diz que imitação aqui há,
Ou melhor, a essa turma oprima.

Francisco Libânio,
17/02/14, 12:00 PM

1503 - Soneto da onça

Aqui mando eu!

A onça, segundo a bicharada,
Invejava ao imitar o leopardo,
Seu primo, e isso era o fardo
Para ela. Ele, lá na afastada

África, muito pouco ou nada
Se falavam. Ela, no aguardo
De notícias, só via o petardo
Da tal inveja da igual pintada

Pele do primo. E tinha inveja?
Não tinha nada. Pois, ora veja!
Ele é que tem inveja de mim!

Ele lá na África é outro felino,
Eclipsado pelo charme leonino
Aqui mando eu nesse jardim.

Francisco Libânio,
17/02/14, 8:14 AM

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

1502 - Soneto do tigre

Vai gozar a mãe!

E o tigre, de dourado amarelo
E listras negras, sem ter igual
Botava banca e era o maioral
E, fortão, quem iria rebatê-lo?

Jactava-se da beleza do pelo,
Do desenho, do disfarce fatal,
Da inteligência, o charme e tal
E, de fato, ele era muito belo,

Aí um bicho sem amor à vida
Ou a tendo mui bem garantida
Tacou essa paz a la Genebra,

Esse silêncio e o medo no lixo,
Mandou um nome no capricho
E agora o tigre é o gato-zebra.

Francisco Libânio,
16/04/14, 1:04 PM

1501 - soneto do leão

quem é contra meu reinado aí?

O leão, rei da selva e dos animais,
Juba por coroa, vez foi interpelado
Por certo grupo um tanto revoltado
Entre tantos bichos que tem, quais

O tornaram rei. O grupo pediu cabais
Provas e queria auditar o resultado,
Pois se o leão foi, assim, aclamado,
Os tempos eram outros e não mais

Cabiam aclamações feitas à revelia
Do povo. Até mesmo a monarquia
Pedia densa e refletida discussão.

O rei acedeu, pediu uma embaixada
Entre eles, plenária e hora marcada
Na qual ele fez uma ótima refeição.

Francisco Libânio,
16/02/14, 9:34 AM

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

1500 - Soneto com país novo

Ensinaram tudo errado pra vocês!

Descobriu ou achou, o Cabral,
Um país, uma ilha e uma terra
Esse chão novo que encerra
Tendo nome de nobre vegetal?

Ensinaram que um vendaval
Trouxe os lusos e nisso erra
A velha docência e se ferra
Quem aceitou isso como tal

Foi dito. Diz-se que já sabia,
A Coroa, que cá bem existia
Novas terras e vieram, e daí?

O Brasil quedou aqui largado;
Descoberto, achado e de lado
Posto. Novidade vaga pela aí.

Francisco Libânio,
16/02/14, 9:18 AM

Ela queria tudo na boca

Se ela quer...

Ela queria tudo na boca, e da boca
Fazer um templo máximo do prazer.
Dela e do seu amante a se derreter.
Ela aceitara de bom grado a troca

Dar a ele o prazer que vinha da toca
Dela e dele tal prazer fluido receber.
Tivera medo, mas já virava seu lazer
Esperar e forçar para si a pororoca

Do homem que era o seu escolhido,
O macho que a possuía e, possuído,
Fazia parceiro perfeito para a dança.

E eis que chegava e ela já satisfeita
Com tudo a esse prazer, deles, aceita
Como entregava a ele sua confiança.

Francisco Libânio,
15/01/14, 11:26 AM

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

1499 - Soneto com abstinência

Outro soneto ruim? Não acredito!

Vontades são tantas que se tem
Que uma que não for satisfeita
Parece que ela sofre tal desfeita
E as outras, atendidas, também.

Aí elas se juntam em turma, vêm
Querendo resolver com perfeita
Desordem mas a turma se sujeita
Ao vexame. O que se estava sem

Não é a porrada que vai conseguir.
Mas que as administra vai convir,
Faltou com elas alguma ditadura,

Eu não escrevo soneto que preste
Há tempos e não será uma peste
Que melhorará, tampouco loucura.

Francisco Libânio,
15/02/14, 6:16 PM

1498 - Soneto com olhar pro futuro

Acho que dá pra chegar lá.

O futuro que está aí, o amanhã,
É o próximo minuto e já não o é
Mais futuro, já nos deu plena fé
De ser passado e de forma vã

Foi utilizado. E outra rima em ã
Fez do futuro e pra isso deu pé,
Passado agora, fica ao rodapé
Do soneto  chorando esse afã

Perdido de ser único, marcante
E não foi. O soneto vai adiante
E faz desse futuro o passado.

Num futuro distante, eu espero
Que este soneto sem o esmero
Certo seja, ao menos, apreciado.

Francisco Libânio,
15/02/14, 2:51 PM

domingo, 16 de fevereiro de 2014

1497 - Soneto com ré esperança

Nem vem com esse dedão. Faz o seu!

Mas a culpa de tudo isso foi dela,
Da Esperança que me deu uma luz,
Um insight de sucesso pondo nus
Os desejos de, qual louco, acedê-la.

Se cri uma vez que voava, foi ela
Que encheu a cabeça e um capuz
Nela vestiu me levando para a cruz
De onde não ressuscitei e nem trela

Lá ela me deu. Que eu sangrasse
E ponto. Acuso-a por esse impasse
E meu insucesso, eis a acusação.

Ela se defende, diz ser do tamanho
Dela, não o que acham meu assanho
E ímpeto. E ela vence a reconvenção.

Francisco Libânio,
15/02/14, 1:23 PM

1496 - Soneto com re-esperança

Levanta, sacode a poeira...

Depois do tombo, o choro
Até é válido, mas demorar
Nele, usar tempo a chorar
Não levanta e nem é soro

Contra queda, o desaforo
Para o tombo é se levantar,
Bater a poeira e o desafiar:
Para a briga com o sonoro

Xingamento. Ele vem durão
Para repetir a dose ao chão,
Mas repetirá o golpe anterior,

E como ele ataca já se sabe.
Agora que o tombo desabe
Por ser contra mim um amador.

Francisco Libânio,
15/02/14, 10:01 AM

1495 - Soneto com desgosto

Quando escrever desanima...

Objetivos para serem alcançados,
Fama para ter e ser reconhecido,
Força para levantar após ter caído
E foco para não olhar aos lados.

Obstáculos a serem superados,
Fé para quando se sinta perdido
E aí não se tem fé e o ocorrido
Deixa a Fé e eu mais apartados.

Sonetear sem fé e desanimado
Empobrece a rima e faz enfado
No que sempre tive por prazer.

Quando é assim nem irreverência
Anima. O poeta mata a paciência
Como algo bom em si ao escrever.

Francisco Libânio,
14/02/14, 12:06 PM

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Poema de fuga 9

Jamais eu seria Leminski.

Eu nunca seria
O poeta
Que nunca fui
Um dia.

Francisco Libânio,
30/12/13, 10:35 PM

1494 - Soneto com toque de realidade

Eu tô de boa, pode ficar tranquilo.

Poeta, e esses sonetos cheios
De sentimento, como tá o peito?
Está bem, eu é que tenho feito
Sonetos sem pôr tantos arreios,

Pôr doçuras e outros recheios
Para ser soneto mais perfeito
E ficar um pouco mais estreito
Com o passado, mais floreios

Sentimentais, nada que em mim
Se passe. E com isso dou fim
À explicação da minha atual lira.

Quem me pergunta se contenta
Com a resposta e nem comenta
Nada. Sabe que isso é mentira.

Francisco Libânio,
13/02/14, 9:08 AM

1493 - Soneto com desespero

 
O tal Jó conseguiu absorver tudo.

Porque quando some paciência,
Aparece rápido dona Ansiedade
Dando o ar da graça à vontade
E sendo chata com experiência.

O problema é que na ausência
Dela, ao querermos vacuidade,
Não acontece. Aí a extremidade
Máxima surge sem clemência.

A pessoa se estertora, a espera
Sufoca. Admite-se. Jó foi a fera
E aguentou quietinho a porrada.

Já eu não sou Jó e esse soneto
É um Prozac pra me pôr quieto
E afogar essa espera angustiada.

Francisco Libânio,
13/02/14, 8:44 AM

1492 - Soneto com novas terras

Outro continente? Olha minha cara de quem acredita nisso!

Que o mundo ia além da Europa
Era sabido, pois já havia o Leste,
A China, a Índia da seda da veste
Dos nobres. Mesmo assim topa,

O nobre, a mandar povo e tropa
Para ir rumo a China pelo Oeste.
E vai Colombo enfrentar o teste
De sua tese e mete proa e popa

Ao mar, dá em terra como espera.
O mundo seja algo tipo esfera,
Talvez, como ele tinha em mente.

Mas o que Colombo não sabia
Nem aceitava, achava aleivosia,
Era sua Índia ser outro continente.

Francisco Libânio,
12/01/14, 12:15 PM

1491 - Soneto com silêncio

Daqui sai um soneto, hein?

Fecho-me em copas e aquieto
Meu coração para que eu redija
Mais um soneto. O barulho alija
Minha paz, por isso este veto.

Mas o silêncio nada traz. Soneto,
Rima, ideia. Está vazia a botija
De onde sai o que me regozija
Em sonetos. Um silêncio repleto

De gritos inaudíveis. Que bosta!
Achei que o silêncio fosse aposta
De júbilo, meditação inspiradora.

É nada! Desisto dessa quietude!
Meto um rock mudando a atitude,
Toro tudo e o soneto sai na hora!

Francisco Libânio,
11/02/14, 6:15 PM

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

1490 - Soneto com adoção

Porque se adotar uma anta que nem essa, o IBAMA multa.

Defende bandido, te sugiro:
Leva um pra casa e o adote
Aí o aprendiz de sacerdote,
De gratidão te dará um tiro.

Isso me diz um que inquiro
Ao defender pau e chicote
Para tratar com o molecote
Que do mal está a um giro.

É como ele pensa de cristão
Que diz ser e tendo a opinião
Cristã apoiando matar e bater.

E grande não é sua surpresa
Quando falo sobre a gentileza
De Jesus adotar um ao morrer.

Francisco Libânio,
11/02/14, 12:56 PM

1489 - Soneto com interesse demais

Porque amor real desvaloriza e é de terceiro mundo.

Posso gostar de você e se gosto,
Será sincero como será voluntário,
Será algo empático como solidário,
Um ao outro se colocará disposto

A ajudar e que nada seja imposto.
Ter que ajudar, abrir o calendário
Ao outro, negócio quase autoritário
Que de amigo vira o pior encosto,

De companhia vira uma penitência
Como você pra ele vira referência
De algo com quem quer a amizade.

Você nessa é intermediário, é meio
Para o fim, enfim é um prato cheio
Para quem diz ter e falta qualidade.

Francisco Libânio,
11/02/14, 12:26 PM

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

1488 - Soneto com desinteresse

Sério que você não gostou? Que pena, hein?

Não, não quero nada, somente
Nada. Talvez este meu soneto
Seja um desleixado completo
Sem querer nada e realmente

Não está nem aí e é coerente
Ao se espraiar neste quarteto
Olhando o leitor, aqui e quieto,
A esperar ler algo contendente

Que não vem. Oras, seu azar!
Esse soneto não veio ensinar,
Veio só encher espaço e papel.

O poeta, a quem o leitor pede
Solução, está de boa na rede
E é do soneto o escudeiro fiel.

Francisco Libânio,
10/02/14, 12:24 PM

1487 - Soneto com letra a mais

Desculpa, amor, hoje não vai rolar.

Digo que estou muito tenso
E escrevo sobre tal tensão,
O leitor, dislexia ou gozação,
Fala sobre o prazer imenso,

Esse lance sexual e é denso
Em sua tese. Fez confusão,
Tirou uma letra e teve tesão
E seu discurso eu dispenso.

Tenho desejo e trato a libido
Como merece, mas, abatido,
Nada sobe e não tem musa

Negra e gordinha que dê jeito.
Há uma dor dentro do peito
E assim, até deusa ele recusa.

Francisco Libânio,
10/02/14, 10:28 AM

1486 - Soneto com meditação

Oooooomeeerda!

O sol da manhã é um aviso
De nova vida que começa.
De uma esperança expressa,
De fé e de novo improviso.

A manhã é o instante preciso
Para poder arejar a cabeça,
Ter cinco minutos sem pressa
E afastar de qualquer siso.

O dia começou e a semana
Também e a luta pela grana
Que não tem, ônibus lotado,

Encheção de saco do patrão,
Aquele cretino sem educação
E você vê e já está atrasado.

Francisco Libânio,
10/02/14, 8:18 AM

1485 - Soneto com serenata

Prepara!

Um hábito bonito, mas em desuso,
É a serenata para a mulher amada.
Cantava-se e ela ouvia da sacada.
O beijo ao seresteiro não é incluso

No pacote. Esse romântico abuso
Hoje decaiu. Quero ver a namorada
Atual curtir música que era cantada
Em serenata. Achará muito obtuso,

Coisa de velho, como até a serenata.
Pra ela vale algo que pouco se recata
E se for pra ser na rua, seja pra geral!

Abaixo a serenata, toca o baile aí, DJ!
Violões, calem-se! A batida virou a lei!
Vou procurar onde queiram meu recital.

Francisco Libânio,
09/02/14, 9:35 PM

1484 - Soneto com toque de amizade

O lance é estar do lado!

Pessoas especiais estão bem acima
De meras amizades, de ter afinidade,
De se identificar. Há algo de verdade,
Mesmo em briga, que une e sublima

As duas partes e garante bom clima.
Na falta de outro nome, usa amizade
Para chamar o que passa da lealdade
E do amor e deixa no chão a estima.

Pessoas especiais são sensacionais,
Pessoas especiais são tão especiais
Que me fazem ficar muito apaixonado.

O soneto que tem amizade em toque
Põe nela um ultramerecido enfoque,
Mas ela é um nada nesse misturado.

Francisco Libânio,
09/02/14, 12:51 PM

1483 - Soneto com eu misto

Ora, deixa o cara!

E se eu quiser as duas opções,
Homem e mulher, ou nenhuma?
Zero sexualidade, mais de uma?
Uma e outra serão aberrações

Sair por aí trocando as posições
Ou não. Fazer do sexo espuma,
Soprar e não ter seria, em suma,
Pecado, o pesadelo das religiões,

Dos normais e de quem não tem
Um pensamento que corra além
Do que é só porque tem que ser.

Deixo que aconteça. E se rolar,
Perfeito e se não nada de brigar.
Dia quero nada, amor ou prazer.

Francisco Libânio,
09/02/14, 12:05 PM

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

1482 - Soneto com eu feminino

E se eu me visto assim, sou puta? Ora, vá se...

Apaixona-se por homem e o pai fala,
Recomenda cuidado, ter pé no chão.
Pode ser um safado atrás de diversão
E chega para a gente cheio de gala.

Vem, corteja, paquera e se acasala.
Depois some e perpetua a situação
Mas que não fosse eu, mas o varão,
A fala seria outra. Aí o pai assinala

O filho que passa o rodo sem ter dó,
Que cobre várias como o galo carijó
No terreiro, pois quanto mais melhor

Pra homem. Já eu, testar sexualidade,
Escolher parceiro, saciar uma vontade,
Serei puta. Serei a vergonha, o terror!

Francisco Libânio,
09/02/14, 11:54 AM

1481 - Soneto com eu masculino

é mais pra foto, moçada.

Um homem que é homem, e macho,
Não pensa duas vezes, cai matando,
Vai pra cima sem porquê ou quando
Atrás de uma foda, um pega, cacho

Que beba a libido, sossegue o facho
E ao reunir com outros em seu bando
Recita com orgulho cada memorando
E compara com tamanho cambalacho

Se por acaso ouve que seu despojo
Foi de outro macho. Mede-se arrojo,
Atuação e vagabunda fica a parceira

Que deu pra dois. Quer exclusividade!
A turma solidariza, só que, na verdade,
Ninguém comeu, ficou papo e besteira.

Francisco Libânio,
07/02/14, 1:19 PM

domingo, 9 de fevereiro de 2014

1480 - Soneto com demonstração

E não se esqueça mais.

Este para algo que está perto
E esse se isso estiver o tanto
Mais longe, só que, entretanto,
Está com quem fala. O acerto

Se faz com a pessoa, é o certo.
Este e esse e lá no outro canto,
Longe, o aquele dá seu encanto
Afastado, longe só que esperto.

Este, esse, aquele e as pessoas;
Isto, isso, aquilo com dicas boas
Pra demonstrar esse tal pronome

Demonstrativo. Um soneto a mais,
Sem tema, mas de macetes legais
Para um negócio que fácil some.

Francisco Libânio,
07/02/14, 9:48 AM

1479 - Soneto com seu devido momento

Hoje tá difícil!

Este instante em que escrevo
Outro soneto, a hora é só dele,
A atenção. Deixo que modele
Um ao outro com o bom relevo

Que merecem. Eu apenas levo
Um ao outro e aí que se revele
Recíproco o tal negócio de pele
Sem ter pele. Faz-se o enlevo,

Casam-se comungando bens
E é quando dou os parabéns
Pelo feliz e propício consórcio.

Mas este aqui, já vi tudo. Veio,
A identificação foi um pau feio.
Na lua-de-mel se deu o divórcio.

Francisco Libânio,
07/02/14, 9:09 AM

1478 - Soneto com qualquer coisa

Nem vem!

O dia amanheceu quente, um calor
Horrível, insuportável, coisa doída!
Qualquer coisa a fazer será renhida,
O sol não deixa a nenhum dispor.

Escrever, a gente escreve com suor,
E é literal. Espera-se uma arrefecida
Na quentura, mas cada gota caída
De suado e cada baforada fica pior.

Querer um tema ao soneto é exigir
Demais. Não basta o clima a frigir?
Seja ele o tema e não se fala mais!

Até porque chamego, colo, abraço
Nesse calor é mais trocar mormaço
E eles seriam, assim, muito brutais.

Francisco Libânio,
06/02/14, 12:08 PM

1477 - Soneto com medo de escrever

Um vai vencer.

Sento-me para mais um soneto,
Na verdade, duelo a valer a vida.
O soneto dá a primeira investida
Um golpe certeiro com quarteto.

Acerta, mas assimilo e lhe meto
Outro quarteto. Guarda distraída,
Acerto também. A ideia atingida,
No entanto, em muito eu excreto

Inspirações. Um terceto me pega
E é esse golpe que me sossega.
Faço dele trampolim para a vitória.

Mando à merda o soneto. Tema?
Ele mesmo e esse seu problema
Em não contar com ideia aleatória.

Francisco Libânio,
05/02/14, 6:35 PM

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

1476 - Soneto com saia no calor

Protestar com bom humor. Olha aí como se faz.

Num começo de ano tão quente
E com o uso de bermuda vetado,
Um rapaz acha o jeito bem azado
De driblar a interdição no batente.

Já que bermuda não pode, o ente
Veste uma saia, o que é tolerado,
E ele, sem ser escocês ou viado,
Deu seu recado bom e irreverente.

Porque mulher pode ir de bermuda,
De saia e homem não? Que muda?
As pernas delas são mais bonitas,

Eu sei, mas num ambiente laboral,
É preciso ser razoável e racional
E, no calor, ter igualdades irrestritas.

Francisco Libânio,
05/02/14, 10:37 AM

1475 - Soneto com tesão

Quando vem ninguém segura!

Difícil é manter ileso
Nosso lado racional
Se a malícia toma tal
Hora, ataca em peso,

Induz, põe tudo teso.
Como ocultar o fatal
E muito faminto pau,
Dizer que tá defeso

Esse manifesto claro
Do mais sujo descaro,
Que aqui não é motel!

O desejo refreia e dói
E a luxúria nos corrói
Nesse geena dita céu.

Francisco Libânio,
04/02/14, 12:31 PM

1474 - Soneto com um pé no samba

Problema com ela nenhum. Agora com você...

Por que essa coisa quanto a cor
Se me veem com moça mulata
Ou negra? Vem um e já empata
Metido a querer ser o historiador,

O sociólogo ou, pior, o censor.
Não dou papo. Se der, é batata!
Vai rolar uma continuação chata
Após um dito que é conciliador,

Pessoa tem nada de preconceito,
Mas casal misto não lhe dá jeito
De agradar. Pois que ela se dane.

Curto a cor, mas curto a mulher,
E a pessoa que fale que quiser
E que seu julgamento dê pane.

Francisco Libânio,
04/02/14, 8:45 AM